CAPÍTULO 14

Uma luz no fim do túnel... e um porão no final do corredor

Moody manteve ambos os olhos fixos em Harry, o mágico e o normal.

-A história do Manual das Trevas se espalhou grandemente há muitos e muitos anos atrás. Um grupo de bruxos medievais começou a praticar feitiços em segredo. Novos feitiços, mudanças dos antigos, novas poções... Queriam revolucionar o mundo da magia. Porém, nem todos os feitiços que eles criaram eram tão bons quanto pareciam...

"A maldade sempre existiu, Harry, sempre, desde os tempos mais antigos, antes de Voldemort. Naquela época, um grupo de bruxos malvados ficou sabendo da existência do livro com todos esses feitiços desconhecidos. Tratava-se de um manual. Os bruxos que criaram os feitiços ficaram em pânico. Muitos podem pensar que a primeira medida que tomaram foi esconder o manual, mas não foi... Bruxos sábios eram aqueles... Ao invés de simplesmente esconderem, eles fizeram uma seleção".

"Separaram os feitiços que existiam no único manual, tudo no mais absoluto sigilo. Os classificaram, vendo quais seriam capazes de produzir o mal e a destruição e quais poderiam ser realmente úteis".

-No que isso poderia ajudar? – perguntou Harry, coçando a cabeça. – Por que separa-los?

-Não só para confundir os bandidos como para estragar os planos deles, isso se corresse tudo bem.

-Estragar? Como poderiam estragar?

-O outro manual não trazia apenas os feitiços e poções que poderiam ser utilizadas para o bem. Trazia também as reversões para todos os feitiços e poções do outro manual.

Harry sentiu uma sensação de emoção tomar conta do seu peito. O feitiço que atingira Estelle saíra do Manual das Trevas, portanto a reversão para o feitiço, a reversão que poderia reviver a sua filha se encontrava no outro manual...

-O Manual Do Contra – falou Moody. – O manual secreto. O manual que só foi conhecido por aquele seleto grupo de bruxos. Um segredo guardado a sete chaves. E precisava mesmo ser.

"Eles tinham consciência de que, caso encontrassem o Manual das Trevas, o perigo seria enorme. Os feitiços eram realmente perigosos. A única esperança seria o Manual Do Contra. Era um manual que precisaria ter a existência mantida em segredo total".

"Por isso mesmo, o Manual das Trevas tornou-se conhecido, mas o Do Contra, não. Você nem pode imaginar como os pergaminhos do Do Contra eram valiosos, Harry. Formou-se um segredo entre os bruxos que o fizeram, de passar o segredo da existência do manual apenas para os seus descendentes de sangue. Seria um segredo guardado sempre por aqueles sobrenomes".

-Então, você...

-Sim. Sou descendente de um dos integrantes do grupo que criou os dois manuais.

Harry concordou com a cabeça, enquanto sua mente rapidamente formulava uma pergunta.

-O segredo foi guardado e passado para as gerações seguintes... Sei que o Das Trevas tornou-se uma lenda, tem a existência conhecida, esse não, mas... Moody, o local onde os manuais se encontram... Também se tornou conhecido ou foi um segredo guardado pelos descendentes?

-Somente pelos descendentes.

-Isso quer dizer que o bandido que encontrou o Manual das Trevas e atingiu Estelle é descendente de algum membro daquele grupo?

-Sim.

-Então não adianta ter esperança, Moody! O pai ou avô dele deve ter falado sobre o Manual Do Contra. Você acha que ele deixaria as reversões dos feitiços no mesmo lugar?

-Deixaria. Se a minha hipótese se confirmar...

-Como?

-Harry, você acha que os bruxos das trevas descobriram o trabalho sigiloso do grupo do nada? Claro que não! Houve um traidor nessa história...

-Que pode ser o antepassado desse bruxo malvado?

-Isso. O traidor, chamado Jonathan Wells, foi desmascarado por um feitiço que ele próprio ajudou a criar, antes da reunião que decidiria sobre a criação do Manual Do Contra. Eles precisavam descobrir quem os traíra, sabiam que devia ser um deles que revelara aos outros bruxos o local onde eles se reuniam e a existência do primeiro manual... Bom, o feitiço foi lançado em cada um dos integrantes, até se encontrar o traidor. Wells, ao ser desmascarado, teve a memória apagada e foi banido do grupo.

-Então ele nunca soube do outro manual?

-Nunca. E quando o filho dele tentou invadir o nosso local de encontro, que também era sigiloso, não encontrou mais ninguém. Nem nada. Furioso, ele derreteu um pobre bruxo que mendigava ali perto. Foi, aliás, uma noticia terrível da época, pois ninguém entendia como o bruxo morrera... Mas Ben Wells, filho de Jonathan, e seu grupinho não foram muito longe. Todos foram presos, mas Ben, não; ele desapareceu. Como se vê, teve filhos, que tiveram filhos, até chegar nesse bruxo que atacou sua filha...

-Mesmo assim, Moody, não se pode afirmar que ele é descendente dos Wells, porque...

-Harry, junte os fatos – o bruxo estalou os dedos. – Como eu disse, Ben derreteu um bruxo. Derreteu. Assim como derreteu mais dois inocentes. Derreteu. Era a única coisa que ele sabia fazer.

-E daí?

-Daí que nunca mais se ouviu falar num caso de derretimento, até uns cinco anos atrás...

Finalmente Harry pareceu compreender.

-Então, Wells passa para as próximas gerações o único feitiço que conhece... Há cinco anos atrás, alguém o pratica, e só pode ser o bruxo que atingiu Estelle, mas sem o Manual.

-Isso.

-É, agora tudo parece realmente levar ao Garganta – o olho de Moody se franziu. – É o apelido desse maluco – explicou Harry. – Se for assim, pode ser que ele não tenha encontrado o manual das reversões... Não sabia nem da existência... Mas como encontrou o das trevas? Se algum parente sabia, por que nunca foram buscar?

-A lenda do Manual das Trevas dizia que os manuscritos estavam escondidos no pico de uma montanha de um lugar chamado Stipp Hills. A localização exata dos pergaminhos foi o único segredo não passado para as gerações seguintes. O único segredo que foi sepultado com os criadores dos manuais. Só se sabia qual a montanha. Buscas foram feitas, obviamente, ao longo desses anos. Algumas expedições terminaram em morte, outras sem sucesso... Pelo que vemos, o único que conseguiu localizar os pergaminhos foi esse tal Garganta... Que apelido ralé, não acha?

-Com certeza – Harry surpreendeu-se sorrindo. Após dias de amargura e desesperança, ele finalmente sentia a felicidade bater forte, em conjunto com as batidas do coração, um ritmo gostoso, suave, que fazia a vontade de viver retornar. Junto com ela, a vontade de sorrir.

-O único problema é saber exatamente qual a localização exata do manual... – alertou Moody.

-Pelo que você disse, um segredo que foi sepultado – a felicidade de Harry murchou um pouquinho ao dizer aquilo. – Se o Manual Do Contra está escondido perto do outro, só Garganta mesmo para entregar, e eu realmente não consigo vê-lo entrando pela porta da minha sala e dizendo "Quer dar uma espiada no local em que encontrei o Manual das Trevas?".

-Só se você o capturasse...

-É o que eu mais quero, Moody. Mas não vai dar tempo de captura-lo e obter a resposta. A Poção da Vida foi cancelada, em dois ou três dias o efeito da última dose vai acabar e Estelle morrerá... E pensar que eu lutei para que a poção fosse cancelada...

-Mas você não sabia que tinha uma esperança – disse Moody. – Sua filha já estava praticamente morta... Agora é diferente. Harry, você pode trazer de volta a vida de sua filha.

-Tenho que encontrar esse Manual Do Contra de qualquer jeito... – falou, decidido. – Provarei que todos aqueles bruxos estão enganados. Que não sou um insensível. Que eu amo a minha filha. Que, se há forma de vê-la viva novamente, eu lutarei por ela.

-Pensarei em um jeito de você encontrar o manual...

-Eu também, Moody. E vou encontrar... Pode ter certeza disso.

Ele agradeceu ao bruxo e se despediu. Indo embora, Harry pensou que uma luz no fim do túnel finalmente havia surgido. Bastava alcança-la, para que tudo se iluminasse novamente. Não via a hora de aquele longo túnel terminar e tornar-se apenas uma lembrança. Uma triste lembrança. Não via a hora de alcançar a luz, deixando a escuridão do longo túnel para trás.


A porta do gabinete do ministro se abriu com força. Fudge arregalou os olhos para o funcionário, que tinha os olhos arregalados e as vestes, os cabelos e o rosto totalmente molhados. O corpo do funcionário derrubava gotículas de água, manchando o imaculado carpete.

-Que isso? Ficou maluco? – perguntou Fudge, ríspido.

-Desculpe, Sr Ministro – falou o bruxo, inquieto. – Mas é que... Está havendo uma confusão dos diabos!

-Que confusão? – perguntou Fudge, subitamente alerta.

-Uma manifestação. Uma grande manifestação... Com temporal e tudo... Faixas, gritos... A imprensa enlouquecida, tirando foto adoidado...

-Manifestação?

-Exatamente. As ruas de Hogsmeade estão lotadas, tomadas por bruxos revoltados com a decisão do Ministério de cancelar a Poção da Vida da menina Potter.

Fudge revoltou-se, jogando com força o pergaminho que tinha nas mãos.

-Manifestação, é? Hunf... Vamos ver se essa meia dúzia de bruxos desocupada não arranja outra coisa para fazer além de segurar faixas debaixo de chuva...

Fudge apanhou a varinha e a capa.

-Mas...

-Nada de "mas". Convoque uns dois guardas para me acompanharem. Vou pessoalmente dar uma espiada e terminar com essa palhaçada...

-Não são meia dúzia...

-São quantos? Menos?

-N...

-Que bom... Mais fácil... Essa Gina Weasley... Tão insistente... E ainda acha que vai conseguir reunir pessoas para ajuda-la... Garanto que só foi a família e olhe lá, menos de seis...

-Nã...

Mas o funcionário não conseguiu concluir. A porta foi batida a menos de um centímetro de seu nariz. Para a madeira, ele concluiu:

-Não, Ministro, não tem meia dúzia... Tem umas mil dúzias, isso sim.


Cornélio Fudge, acompanhado de dois guardas, aparatou em Hogsmeade. Aparatou num lugar pouco confortável.

O Ministro e seus dois guardas saíram no meio da multidão. Fudge viu-se espremido entre vários corpos, impelido a caminhar, a chuva molhando o chapéu-coco. Começou a ficar sem ar, por mais que chovesse o calor ali no meio era infernal.

Olhou ao redor. A visão que tinha ali no meio não era tão boa, mas ele podia perceber que havia milhares de bruxos acompanhando a manifestação. Olhou para o lado e viu lampejos ofuscantes de luz; flashes de máquinas fotográficas, muitos flashes. A imprensa estava cobrindo todo o acontecimento.

Assustado, sem querer saber o que aconteceria com ele se alguém da multidão o reconhecesse, Fudge desaparatou. Os guardas também.

Aparatou em seu gabinete, ainda sem fôlego. Balançou as mãos, tentando produzir um ventinho refrescante. Enquanto retomava o ar, seus olhos pousaram no funcionário, que continuava parado junto à porta, roendo as unhas.

-SEU INCOMPETENTE! DISSE PRA MIM QUE NÃO TINHA NEM MEIA DÚZIA!

-Desculpe, Sr Ministro – lamentou-se o funcionário, quase aos prantos. – Lamento... Eu tentei dizer que não tinha meia-dúzia, tinha m...

-CALE A BOCA – vociferou Fudge, jogando o chapéu na mesa. – Ridículos... Perdendo tempo... Estão perdendo tempo! Nunca que eu voltaria na minha decisão. Se eles estão pensando que podem mudar alguma coisa, ah, estão muito enganados...

-Mas a imprensa está cobrindo o acontecimento – intrometeu-se o funcionário. – Isso vai tomar proporções gigantescas...

-Que se danem! Não volto atrás de jeito nenhum!


A manifestação chegou ao fim quando todos ficaram exaustos e sentiram que já era o momento de terminar. O temporal já havia acabado; as nuvens escuras começavam a se dispersar, e o céu do fim de tarde ia se abrindo aos poucos.

Os Weasley, Hermione e Peterson largaram a faixa no chão e desaparataram, indo parar na Toca. A Sra Weasley os aguardava ansiosamente. Ao chegarem ela tomou um certo susto ao ver que todos estavam molhados dos pés à cabeça; não haviam tido o trabalho de criar um campo impermeável. Mas logo sorriu, explicando em seguida o motivo da alegria:

-Não se fala em outra coisa! – exclamou. – Na rádio só falava sobre a manifestação... Querida – ela se aproximou da filha, tomando-lhe as mãos. – Depois dessa é muito difícil o Ministério não voltar atrás... Acredite! Espere pra ver.

As duas se abraçaram, emocionadas. Fred interrompeu.

-Vamos deixar dessa lengalenga – brincou ele, embora sua voz tivesse um leve tom emocionado – e tratarmos da comemoração.

-Comemoração? – perguntou Rony.

-Sim! Logo que sair a decisão do Ministério, faremos uma festança para comemorar!

Todos aplaudiram a idéia, crentes de que conseguiriam reverter a situação. Peterson bocejou, se espreguiçando.

-Acho que vou pra casa descansar... E tomar uma poção contra gripe e resfriado... Depois dessa chuvarada todos devemos nos prevenir.

-Com certeza – concordou a Sra Weasley. – Obrigado por ter participado da manifestação, Peterson. Você foi reconhecido e seu nome entrou em destaque na notícia sobre a manifestação. Garanto que sua presença nos ajudou muito.

-Celebridades sempre conseguem o que querem – comentou Fred.

-Além de darem um brilho a mais – debochou Jorge.

-Espero mesmo ter ajudado – disse Peterson, sorrindo. Em seguida, olhou para Gina. – Qualquer coisa, qualquer festa – ele riu para os gêmeos – por favor, me comuniquem. Virei comemorar com vocês a nossa vitória.

Gina balançou a cabeça em sinal de afirmação. Depois que ela agradeceu, Peterson desaparatou.


Aparatou na sala. No enorme aposento encontrou a mãe e o pai sentados no sofá e, para sua surpresa, Joey novamente, em pé, encostado na parede próxima à lareira.

-Joey? Aqui novamente? – Peterson não escondeu o espanto.

-Pois é... – sorriu Joey, sem graça. – É que ouvi sobre a manifestação no rádio, e também ouvi o seu nome ser citado... Brother, que loucura... Se meter no meio daquele povão... Se toda aquela multidão fosse te abordar você tava frito!

-Ninguém me abordou – falou Pet tirando a capa ensopada. – Estavam todos muito ocupados e concentrados na manifestação... A vida da menina é mais importante do que ver um cantor de rock.

-Perda de tempo – resmungou a mãe. – Duvido que o Ministro volte atrás na decisão...

-Nós pensamos o contrário – respondeu Pet. – Tanto que já marcamos uma festa na hora em que o Ministro voltar atrás... Aliás, bem que podíamos fazer a festa aqui, o que vocês acham?

Naquele instante, uma idéia magnífica invadiu a mente de Joey.

-Extraordinário! – exclamou, entusiasmado, antes que o Sr Tribbes respondesse a pergunta do filho.

Todos olharam para ele, sem compreender o entusiasmo.

-É uma ótima idéia – Joey tentou disfarçar. – Comemorar a vitória da manifestação... E estou doido para participar de uma festa, andei meio deprimido esses tempos aí... Brother, essa idéia foi show!

-Não foi? – falou Peterson. – Mas vai ser uma festa sem muitas frescuras, sabem, uma comemoração simples... Nem precisa decorar o salão de festas. Saber que a pequena Estelle continuará tomando a poção já será a maior alegria!... Agora vou subir para tomar um banho quente e já desço.

Peterson subiu as escadas às pressas.

-Esse meu filho... Sempre se preocupando mais com os outros do que com ele mesmo... Onde está aquele elfo que não trás o meu chá? Roire! Roire! – ela saiu em direção à copa.

Só foi o ruído dos passos da Sra Tribbes desaparecerem para Joey sentar-se ao lado do Sr Tribbes e abaixar a voz, parando num tom de cumplicidade.

-Tive uma idéia excelente quando Pet falou sobre a festa... – começou.

-Qual é?

-Primeiro: preciso saber se você conhece algum feitiço anti-aparatação.

-Sim, sei sim – confirmou Tribbes, com a testa franzida.

-Então está tudo certo... – disse Joey, mexendo no piercing.

-Tudo certo?... Quer fazer o favor de me contar logo o que a sua mente sórdida está tramando?


Cornélio Fudge estava muito inquieto em seu gabinete, andando de um lado para outro, sem parar de falar as mesmas frases:

-Eles pensam que podem me dobrar... Estão muito enganados!

-Cambada de desocupados...

-Perderam tempo...

Mas algo nessa inquietação dizia que Fudge não tinha muita certeza disso. Estava nervoso, proclamando essas frases enquanto torcia a aba do chapéu-coco verde-limão.

Quando a porta do gabinete se abriu, ele deu um salto.

-O que houve?

-Edições extras! – exclamou o funcionário, entrando desajeitado, carregando uma pilha de jornais. – Todos os jornais com edições extras de fim de tarde!

O queixo de Fudge caiu. Apenas notícias de grande apelo popular mereciam edições extras de todos os jornais bruxos. Ele apanhou um exemplar do primeiro jornal da pilha, o Profeta Diário. A foto de abertura era uma imagem da manifestação, e o título da matéria não era nada animador: E AGORA, MINISTÉRIO?

Ao abrir o jornal, Fudge constatou que a edição era totalmente dedicada a manifestação, trazendo detalhes, colunas de protesto ao Ministério da Magia e a foto de um cantor famoso que participara do movimento.

-DROGA! – vociferou Fudge, jogando o jornal no chão e o pisando com fúria. – DROGA! DROGA! DROGA! Críticas ao Ministério... Muitas críticas... A nossa imagem no lixo! E, pra piorar, uma "celebridadezinha" duma figa protesta junto com os desocupados, aumento o apelo negativo ao Ministério!

-Realmente as notícias são terríveis – falou o funcionário arregalando os olhos. – Veja – e começou a tirar os jornais da pilha, um a um. – "O POVO CLAMA POR JUSTIÇA", "DEMOCRACIA JÁ! A VOZ DO POVO TEM QUE SER SUPERIOR", "FUDGE: UM ASSASSINO DE CRIANÇAS?...".

-CHEGA! – berrou Fudge. O funcionário derrubou o resto dos jornais no chão com o susto. – Não quero ouvir mais NADA!

A veia da têmpora do Ministro estava saltada e seu rosto estava muito vermelho quando, torcendo as mãos, ele disse, entre dentes:

-Diga à imprensa e ao St. Mungus que a Poção da Vida será retomada.


Foi com um coro de gritos de alegria que a coruja com a edição "super extra" do "Profeta Diário" pendurada no bico foi recebida. Afinal, ao verem a terceira edição do jornal chegando, eles já tiveram a certeza que a decisão do Ministério havia sido tomada.

O jornal só tinha uma folha, e a matéria não possuía fotos. Apenas a manchete:

MINISTÉRIO DIZ: "A POÇÃO DA VIDA SERÁ RETOMADA".

Um pequeno texto se seguia, mas todos o ignoraram.

Gina, emocionada, abraçou a todos. Quando finalmente conseguiu controlar a voz, agradeceu:

-Obrigada a todos vocês – disse, olhando para a família, mais Hermione. – Por terem colaborado nessa luta. Por terem dado voz ao coro que reverteu a situação. Por terem me ajudado a dar mais uma chance a minha filha.

No momento em que ela terminou, a porta se abriu. Peterson entrou sorrindo, e dirigiu-se para Gina.

-Parabéns – disse ele. – Você conseguiu!

-Pois é. Mas, se estivesse sozinha nessa, nunca conseguiria. Cada pessoa que participou foi um tijolo a mais na construção da vitória. E, claro, não posso esquecer que você foi a base dessa construção, Pet.

-Que isso...

-Foi sim. A idéia da manifestação foi sua. Se você não tivesse dado a idéia eu estaria até agora de mãos atadas, não concordando, mas vendo minha filha morrer... Obrigada. De coração.

Ela levou a mão ao peito de Pet, onde devia estar o coração. Um simples gesto de agradecimento, sem malícia, mas que foi suficiente para deixa-lo encabulado e tratar logo de se desvencilhar.

-Pessoal, sei que está tudo muito bom, mas podemos melhorar! Esqueceram da festa?

-É verdade! – exclamou Jorge.

-Pois é! Eu e meus pais os convidamos para a comemoração no nosso salão de festas.

-Oh, obrigada, Pet querido – falou a Sra Weasley, fungando no lenço que tinha nas mãos.

-Chega de choro! – brincou ele. – É hora de alegria!


O salão de festas estava bem simples já que a festa fora combinada naquele mesmo dia. Uma longa mesa fora colocada lá, repleta de doces, tortas, bules de suco de abóbora e um garrafão de cerveja amanteigada.

Os convidados se dispersaram, formando rodinhas de conversas.

A Sra Weasley conversava animada com a Sra Tribbes; o Sr Weasley acabara acompanhando o Sr Tribbes no charuto; Fred e Jorge estavam com as esposas; Rony e Hermione conversavam com Gina e Peterson sobre os planos para o futuro filho.

A única pessoa que não participava de nenhum grupo era Joey.

Saíra discretamente do salão de festas. Descera as escadas que levavam ao corredor subterrâneo. Entrara na porta do fundo do corredor, que era a porta de acesso a uma espécie de porão.

Lá dentro, quieto, treinava um feitiço que aprendera naquele mesmo dia.

Até que conseguiu faze-lo e subiu, apanhando uma caneca de cerveja amanteigada da mesa e se infiltrando no grupinho de Peterson, como se nada tivesse acontecido.


-Tenho certeza de que Estelle irá se recuperar, Gina, e será uma boa prima para o nosso filho – falou Hermione, enquanto acariciava o rosto do marido.

-É o que eu espero – falou Gina.

-Vou pegar mais cerveja amanteigada – falou Joey, de repente, mostrando sua caneca vazia. – Alguém aceita?

Todos negaram. Joey, tentando parecer o mais natural possível, aproximou-se da mesa. Olhou para os lados. Todos estavam absortos em suas conversas. Ninguém estava olhando.

Mesmo assim ele decidiu encenar. Colocou sua caneca na mesa e foi virando lentamente a garrafa de cerveja amanteigada. Ele encheu sua caneca e, no momento de pousar novamente a garrafa na mesa, a virou com tudo.

O conteúdo da garrafa se espalhou pela mesa, manchando a toalha e o chão.

-OH! – disse ele em voz alta, levando a mão a cabeça, como se estivesse assustado.

Todos olharam em sua direção.

-Minha nossa, Joey! – ralhou a Sra Tribbes. – A garrafa inteira! E agora?

-Foi mal – falou Joey, coçando a nuca. – Foi sem querer... – ele foi avançando até o grupo de Peterson. – Tem barris de cerveja no porão. Você podia encher umas garrafas comigo, Gina?

-Claro – respondeu ela, prontamente.

-Não precisa – discordou Peterson. – Eu vou com ele, Gina...

-Imagine, Pet. Eu tenho mais é que retribuir a festa. E, além do mais, encher uma garrafa não mata ninguém e é muito simples... Eu vou, Joey.

-Legal, vamos – falou o bruxo.

No princípio ele seguiu Gina. Rapidamente puxou a varinha do bolso dela e a escondeu dentro das próprias vestes. Em seguida, ele a passou e andou em frente, guiando-a. Desceram as escadas e entraram no corredor subterrâneo. Ele sentiu Gina estremecer ao seu lado.

-Relaxa, girl. Aqui é meio escuro, mas é muito seguro... O porão é logo ali – ele apontou para a última porta. Assim que os dois entraram no porão... – Ah! – ele deu um tapa na testa. – Esqueci as garrafas!

-Nossa, vamos bus...

-Não – ele a interrompeu com as mãos. – Eu vou busca-las. Espere aqui, eu já volto.

Joey saiu, às pressas; tinha que ser rápido, e, além de tudo, contar com a sorte. Gina não podia sair do porão. Gina não podia ter vontade de usar a varinha.

Aproximou-se discretamente de Peterson. Precisava de cautela para não chamar a atenção dos outros, somente para isso. Com Peterson não teria muita cautela. Inventaria uma mentira deslavada. Sabia que o amigo lhe agradeceria depois.

No momento em que Rony e Hermione pareciam distraídos em carinhos normais de um casal normal, Joey cutucou Peterson. Fez um sinal com o dedo para que se afastasse um pouco do casal. Peterson se afastou, com um ponto de interrogação no olhar.

-O que foi? – perguntou.

-Gina – disse Joey, fazendo cara de preocupação.

-O que houve com ela? – Peterson se apavorou rapidamente, embora continuasse a conversa aos cochichos. O efeito esperado.

-Levou um tombo enquanto abríamos os barris... – Joey ia continuar a mentira, mas Peterson afastou-se antes que ele pudesse concluir.

Peterson se encaminhou para as escadas que levavam ao corredor subterrâneo, sendo seguido por Joey, que, com um Accio, varinha inaudível para os outros, tomou a varinha de Pet. De tão aflito pela preocupação com Gina, Peterson nem percebeu que o amigo estava em seu encalço, tampouco ouviu o feitiço.

"O amor que ele sente por ela não só destrói a carreira do Magic Rock como faz a disposição do Pet aumentar", pensou Joey, com desânimo, se referindo a velocidade com que Pet corria pelo corredor escuro.

O rapaz só parou de correr quando chegou na porta do porão. Parou na frente do portal, encostado na parede, espiando para dentro.

Joey diminuiu os passos, aproximando-se devagarinho...

-Gina – ofegou Peterson. – Está... Tudo... Bem?

-Tudo – Joey escutou a voz dela, que tinha um tom de dúvida. – Por que está pergun...

Era o momento. Joey esticou os braços e depositou toda a sua força contra as costas de Peterson, num empurrão rápido, porém forte. O corpo de Peterson, fraco pela corrida, caiu com tudo dentro do porão. Rápido como um relâmpago, Joey puxou a porta de madeira, atravessou o ferrolho e a trancou.

Do lado de fora, ouviu com atenção...


-Ai – disse Peterson, enquanto se levantava. Estendeu a mão que usara para amortecer a queda repentina. Nela havia um corte fino. Em seguida, sobressaltou Gina ao ir até a porta e começar a esmurra-la. – Quem está aí? – gritava, furioso. – Abre logo! Não estou pra brincadeira!

-Pet, controle-se – disse Gina. – Pra resolver tudo isso é muito simples. Somos bruxos, esqueceu? É só... – ela levou a mão ao bolso para apanhar a varinha. Franziu a testa em seguida, e começou a apalpar freneticamente todos os bolsos. – Ué...

-O que?

-A minha varinha... Estranho... Nunca ando sem ela, e podia jurar que a guardei no bolso hoje de manhã...

-Pode ter caído durante a manifestação – opinou Peterson. – Fique tranqüila, eu estou com a minha aqui... – ele parou de falar. Sabia exatamente em qual bolso colocara a varinha, e ela não estava nele. Por via das dúvidas, procurou nos outros, mas eles também estavam vazios. – Estranho... A minha também não está aqui...

-Terrível coincidência – suspirou Gina. – Agora só podemos desaparatar.

-É. Simples. Muito mais fácil do que andarmos todo esse corredor escuro... – brincou Peterson, aliviado. A perspectiva de ficar preso num porão escuro com Gina Weasley, a mulher que amava, mas que fazia de tudo para esquecer, o havia apavorado. Seria terrível se acontecesse... Por um momento esquecera que podiam desaparatar e sair dali.

Eles se prepararam para aparatar, mas... Nada aconteceu.

-Não é possível – falou Gina. – A nossa única alternativa... Existem feitiços anti-aparatação aqui na sua casa?

-Dentro da casa eu sei que não, exceto em alguns pontos... Mas aqui embaixo... Meu pai nunca me falou nada...

-Droga – reclamou Gina, indo até a porta e tentando abri-la. Não conseguiu. O ferrolho barrava a abertura. – Tenta abrir aqui, Pet.

Peterson tentou abrir, mas também não conseguiu. Por mais força que depositasse...

-Não vamos conseguir abrir. Não tem como arrebentar.

-Isso quer dizer que...

-Sim. Estamos trancados nesse porão escuro – a voz dele tornou-se fraca ao concluir com uma palavra: – Sozinhos.