CAPÍTULO 16
O bem e o mal
Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver.
Titãs
Harry franziu as sobrancelhas, encarando bem o bruxo que se encontrava em sua frente. Poderia confiar nele? Justo agora que sabia que bruxos das trevas desejavam o seu mal?
-Confie em mim – pediu o bruxo.
-Por que deveria?
-Porque eu sei onde está o bandido que quase matou a sua filha.
Aquilo o surpreendeu de tal forma que a varinha vacilou nas suas mãos. Harry ficou sem fôlego.
-Você o viu? Se souber onde ele está, me diga, por favor, preciso saber...
-Eu sei, e vou lhe dizer, mas, antes, precisamos ter uma conversinha... Será que posso entrar?
Harry o analisou de cima a baixo.
-Ainda não sei... Você me parece suspeito. Parece-me...
-Um bandido? – adivinhou Spike. – Ah, escuto isso com uma certa freqüência. E, realmente, por mais que eu queira mudar... Você está certo, fui um bandido nos últimos anos.
Harry fez um movimento furtivo para prender Spike. O bandido abaixou o braço dele.
-Use um pouco da sua cabeça. Se eu quisesse te atacar, acha que eu já não teria lhe atacado? Acha que eu diria na sua cara que sou um bandido?
Harry considerou a questão, e foi amansando lentamente.
-É que bruxos das trevas não têm o costume de visitar as casas dos aurores – falou Harry, sério, sem tirar os olhos de Spike. – Por que veio até aqui? Qual a sua intenção com isso?
-É o que eu quero explicar, se você me deixar entrar e pudermos bater um papo a vontade... E então? Vai abrir caminho?
Harry hesitou por um momento, depois se afastou para o canto e deixou o bruxo passar.
Encostou a porta, sempre com o olho grudado em Spike. O bruxo caminhava pela sala, analisando cada canto, cada móvel, cada detalhe. Harry segurava a varinha, embora esta estivesse abaixada.
ele dissera a Moody que não visualizava o bandido que fizera mal a Estelle tocando sua campainha e vindo contar a ele tudo o que precisava saber. Mas, agora, aquilo estava acontecendo.
-E a nossa conversa? - Harry perguntou, não controlando a ansiedade. Se o bruxo lhe desse a resposta, ele poderia prender o malfeitor e arrancar dele, nem que fosse a força, o local onde ele apanhara o Manual das Trevas.
-Ah sim, claro – Spike tirou os olhos de um quadro da parede e virou-se para Harry. – Eu tenho a localização exata de onde apanhar o criminoso que deixou a sua filha hospitalizada...
-Já sei disso. Você já disse. Será que não pode...
-Ainda não, Potter – ele balançou o dedo indicador. – Não será uma informação gratuita, sem pagamento.
-Já devia ter imaginado... Vai querer algum dinheiro em troca?
-Dinheiro não... Errou de novo! Vou querer algo muito mais valioso... Para ser mais claro, Potter, acho que já posso abrir o jogo com você... Eu sei onde o Garganta está porque era da gangue dele.
Harry sentiu a emoção aflorar. Um membro da gangue estava ali. Ali, na frente dele. Um membro que provavelmente ajudara na expedição do manual. Um membro que sabia como chegar ao manual.
Harry resolveu ser discreto, não ir logo de cara perguntando onde eles tinham apanhado o manual, pois isso resultaria em porquês que ele ainda não estava interessado em responder. Precisava, primeiro, descobrir o quanto valia essas informações. Se não era dinheiro, o que era?
-Da gangue? Ah – respondeu, simplesmente, como se aquela fosse uma informação banal. – E, por que um bandido resolve ajudar um auror?
Spike suspirou.
-Eu cansei de ser pisoteado pelo Garganta. Cansei. Cansei de ser desprezado, cansei de... Fazer o mal. Acho que você não vai acreditar, mas... É verdade. Se eu puder viver em paz, bem, conseguindo me sustentar, deixarei de fazer o mal. Arrependo-me de tudo o que fiz... Existem duas estradas na vida, Potter, dois caminhos. Uma seta indica "Bem" e a outra "Mal". Eu escolhi a do Mal, mas essa estrada é muito esburacada. Uma estrada obscura, sem saída, que só te leva a fazer bobagens. Mas eu acreditei no renovo. Assim como quando erramos o caminho, tomamos a estrada errada, e damos ré para pegar o caminho certo. Eu quero dar ré na minha vida, voltar e deixar a estrada do Mal para trás, tomando o caminho para a estrada do Bem. As duas estradas existem... É tudo uma questão de escolha.
Harry assentiu com a cabeça. Spike parecia sincero.
-Mas, diga-me, logo, qual será o pagamento pela informação? Prometo-lhe qualquer coisa, pago o que for para colocar esse marginal atrás das grades...
-O pagamento não lhe custará muita coisa... Apenas... lhe custará uma mentira.
Harry não entendeu, e balançou a cabeça indicando isso.
-Como assim?
-Se fosse no meu caso não me custaria nada, mas, como você é todo "certinho", pode lhe incomodar um pouco...
-E para quem eu devo contar essa mentira?
-Para os seus superiores, seu chefe, sei lá quem mais, da Seção de Aurores.
Harry engoliu em seco.
-E que mentira seria essa?
-Uma mentira simples... Você apenas precisa dizer que eu... Morri.
-O que?
-Sim, isso mesmo que você ouviu. Ao prender Garganta e os outros, diga que eu morri, passei dessa pra melhor... Mortinho da silva... É a minha liberdade em troca da sua vingança. E então? O que me diz, Potter?
Joey, Jorge e o Sr Weasley saíram da mata, exaustos. Ao chegarem no lado de fora, encontraram os outros, já a espera, igualmente cansados, ofegantes e preocupados.
-Nenhum sinal deles – falou a Sra Weasley, com a mão sobre o peito.
-Devemos comunicar ao Harry – sugeriu Rony. – Ele chama os outros aurores, declara estado de urgência e eles iniciam uma busca!
-Boa idéia – apoiou Hermione. – Vamos agora mesmo para a casa dele! O desaparecimento de Pet e Gina deve ser noticiado, divulgado, todos precisam saber!
-Não! – Joey gritou.
Todos olharam para ele, estupefatos.
-Não comuniquem ninguém, porque eu... Estou me lembrando... – bateu com a mão na testa. – Como fui idiota! Um tolo, digno dos piores adjetivos do mundo. Como pude me esquecer, brother...
-Do que? – indagou Hermione.
-Pet e Gina realmente sumiram do porão, mas... Mas... Eu os ouvi dizendo que viriam para cá, mas... Pareceu-me mais como uma... Mentira.
-Mentira?
-Sim, Sra Weasley... Olha, eu não quero parecer inconveniente, mas... Parecia que havia um certo, digamos, "clima" entre eles. Um clima que eles tentavam esconder de mim. Esqueci-me dessa impressão, mas, agora, pode ser que não fosse impressão. Talvez eles quisessem ficar sozinhos, entendem? Num lugar que ninguém soubesse...
-Gina e Peterson? Juntos? – disse Molly Weasley, incrédula. – Imagine... Coisa de sua cabeça, Joey, sem dúvida alguma. Pet é o melhor amigo de Harry depois do Rony, não faria uma coisa dessas e Gina ainda está muito apaixonada pelo Harry para pensar em outra pessoa.
-Foi o que me pareceu... Mas, de qualquer modo, não custa voltarmos ao salão e darmos uma conferida por lá, quem sabe eles não voltaram do... Passeio romântico?
-Passeio romântico... – murmurou Fred. – Cai na real...
Eles retornaram para o salão de festas. Estava deserto.
-Como eu temia, mas já esperava – disse o Sr Weasley. – Nem sinal dos dois.
-Mas não vasculhamos todos os cantos – falou Joey. – Brother, ainda falta o corredor subterrâneo!
-Será que eles voltaram para o porão?
-Quem sabe, Rony? Não custa nada dar uma espiada antes de darmos o alerta aos aurores.
-Sim, tem razão. Vamos até lá, Joey.
Eles caminharam apressados em direção as escadas que levavam ao corredor subterrâneo. No seu íntimo, Joey torcia para que tudo houvesse dado certo entre Gina e Peterson. Ele tinha certeza de que Pet não havia resistido ao ficar tão próximo da amada. Ele devia ter investido, e Gina, encantada com a bondade e com a fama de Pet, acabaria cedendo. Ela nunca recusaria o vocalista do Magic Rock, uma verdadeira celebridade.
Caminharam até o fim do corredor. Deram de cara com a porta de madeira, trancada com o ferrolho. Rony encarou a madeira por alguns segundos, depois se virou para Joey.
-Essa porta estava assim?
-Hum... Não – Joey fingiu pensar. – Não mesmo... Que eu me lembre, estava aberta.
-Será que eles se trancaram aí dentro? – a testa de Rony se franziu ao pensar em uma possibilidade tão absurda.
-Só vamos saber se abrir – disse Joey, levando a mão ao ferrolho. Ele puxou o ferrolho e a porta deslizou suavemente.
-Finalmente! – ele ouviu Rony exclamar.
Joey preparou o coração. Ao levantar os olhos ele veria Gina e Pet juntos, como um casal, talvez abraçados, ou quem sabe de mãos dadas, com um sorriso de ponta a ponta em ambos os rostos, e, finalmente, Pet deixaria de largar a carreira por causa de Gina, pois agora ele a tinha para si. Joey teria que se explicar com os outros, que inventara tudo aquilo para unir os dois, mas seria perdoado, ele tinha certeza, pois Pet e Gina formariam o casal perfeito...
Joey levantou os olhos.
O sorriso desmanchou-se.
Gina e Pet estavam sentados, mas bem afastados um do outro, com expressões leves, mas nada felizes.
-Estávamos procurando por vocês feito loucos! – falou Rony. – Joey nos contou que vocês sumiram do nada, e que podiam estar na mata aqui perto...
-Contou, é? – perguntou Pet. Havia ira incandescendo dentro dos seus olhos, ira que mirava Joey, que recebeu o olhar.
-Muito interessante – falou Gina, mirando-o também. – Engraçado... Não me lembro de ter falado isso ao Joey...
-Eu também não – apoiou Peterson.
-Bom, acho que encontramos o autor dessa brincadeira de mal-gosto – disse Gina.
-Brincadeira? – indagou Rony, confuso. – Não estou entendendo nada... Será que não dá pra explicar o que está acontecendo aqui?
-Joey pode explicar – Gina o apontou. – Mas eu acho que isso deve ser feito na frente dos outros. Acho que eles também querem saber... Não acha, Joey?
Joey engoliu em seco, encurralado pelas fagulhas dos dois pares de olhos que o fuzilavam com fúria.
-Não sei – respondeu Harry, com a testa enrugada. – Não sei se o que tem para me contar vale essa mentira...
-Não deseja saber onde está o canalha que deixou sua filha naquele estado? – perguntou Spike. – Não quer vê-lo mofando em Azkaban pelo resto da vida, pagando pelo ato sórdido?
-Quero, mas... Isso não pode trazer minha filha de volta...
-Nada pode trazê-la de volta, Potter, sabe disso... Por isso lutou tanto pra cancelarem aquela tal de poção...
-Estava enganado. Você também está... – Spike o observava com atenção. – Existe uma forma, e você tem a resposta que preciso.
-Eu?
-Sim. Você tem a resposta... Só precisa me dizer onde vocês encontraram o Manual das Trevas. Sabendo isso, poderei trazer a vida de volta a minha filha.
Spike estava confuso. Que forma seria aquela? Mas aquela não era hora para perguntas; era hora para propostas, para encontrar o mapa que o levaria para o caminho do "Bem"; assim, ele tratou de refazer a proposta dele.
-Então, tudo bem... Agora são mil galeões e, claro, mais importante, minha falsa morte, em troca da vida de sua filha... O que me diz agora.
-Espere um pouco – pediu Harry, encurralado pela proposta de Spike. – Espere... Preciso de tempo... Mas não muito... Deixe-me pensar por uns minutos, só isso... Pensar... Pensar e pesar a proposta.
Ele levou as mãos a boca, em desespero. Estava completamente dividido. Teria que colaborar com o criminoso, inventar uma morte perante todos os outros aurores... Mas, afinal, era uma vida que estava em jogo. E era uma vida muito valiosa. A vida de sua filha.
-Teria que quebrar o meu juramento... – falou Harry, desesperado, para si próprio.
-Juramento? – perguntou Spike, com um sorriso desdenhoso. – Aurores fazem juramentos?
-Sim – respondeu Harry, sem dar importância para o desdém. – Juramento... Em que juramos contar sempre a verdade, em qualquer circunstância, nunca mentir em troca de dinheiro...
-E em troca da vida de sua filha? – indagou o bandido, erguendo a sobrancelha. – Um juramento vale mais do que a vida dela? Esse é o preço da vida da menina? Um juramento?
Harry, ainda com as mãos em concha sobre a boca, respirava acelerado. Andava de um lado para outro... Sua cabeça estava prestes a explodir...
-Não... Minha filha vale muito mais do que um juramento. Ela é muito mais preciosa do que um monte de palavras pronunciadas em voz alta... Eu posso até perder meu emprego depois, mas pela vida da minha filha vale tudo. Eles terão que compreender... Estelle é tudo pra mim... Eu posso ver minha filha viva novamente, correndo, brincando... Dizendo "papai"... – as lágrimas se formaram nos olhos, deixando-os brilhantes. – Isso será maravilhoso... Dane-se minha carreira, dane-se o juramento... Por amor a minha filha, por amor a vida dela, eu aceitarei a sua proposta.
-Relaxe, Potter – falou Spike, sorrindo. – Sua carreira não estará em risco. Eles nunca saberão que você mentiu... Porque quando você anunciar que Spike, pimba, morreu... Ele realmente estará morto. Eu serei outra pessoa.
-É o que eu espero – disse Harry, enxugando as lágrimas. – Que ninguém descubra... Mas lembre-se do combinado: me levar até a montanha onde vocês pegaram o Manual das Trevas.
-Claro. Já disse, relaxe. Você faz a sua parte e eu faço a minha... Agora, vem cá... Em que dia você quer iniciar a escalada da montanha?
-Hoje mesmo.
A voz de Harry passava tanta decisão que Spike chegou a se assombrar.
-Pode ser hoje? – perguntou Harry.
-Sem problema. Na verdade é até melhor, sabe... Garganta não deve estar nada satisfeito com o meu sumiço e eu deixei um aviso bem peculiar para ele...
-Aviso? Disse que vinha até aqui? – Harry apavorou-se.
-Não... Deixei um aviso meio enigmático pra um membro da gangue. Mas não duvido da capacidade mental e da astúcia de Garganta. Ele é muito inteligente, os feitos dele demonstram isso. Encontrou o Manual das Trevas que tantos bruxos procuraram... Muito, muito inteligente... Pra falar a verdade, nem devia ter deixado o aviso. Mas eu não imaginava que seria necessária essa expedição... A minha intenção era denunciar o Garganta, ir embora pra longe... Quando ele recebesse o recado, supus, os aurores já estariam a caminho... Ele seria preso. Mas mudou tudo!
Os olhos de Harry se arregalaram.
-Ele pode estar vindo pra cá!
-Pode... Aliás, é melhor nos mandarmos o quanto antes para a montanha. Assim, ele nunca saberá onde nos encontrar. Se ele aparece agora, vai atrapalhar tudo...
-Tem razão... Vamos agora – falou Harry, verificando antes se estava com a varinha.
Concentrados, os dois desaparataram, no mesmo instante em que a porta da sala ia abaixo com um chute dado por uma bota de couro preta com lustrosas garras de metal.
No salão de festas, todos cercavam Joey. Haviam colocado uma cadeira no centro do círculo, de modo que o músico estava sentado no meio de todos, como um prisioneiro ao ser interrogado por um crime absurdo.
-Então... Quer dizer que tudo era uma brincadeira? – perguntou a Sra Weasley, incrédula. – Eu com o coração na mão, aflita, pensando no pior, e tudo não passou de uma brincadeira?
-Não foi uma brincadeira – replicou Joey. – Era para ser algo bacana...
-Bacana? – indagou o Sr Weasley. – Alarmar a todos? Fazer com que nos metêssemos naquela mata durante todo aquele tempo, isso é bacana pra você?
-Não, brother... Isso não. O bacana seria o que resultaria disso... Tinha certeza de que Pet e Gina iriam se acertar, e seriam tão felizes que todos vocês perdoariam essa brincadeira.
-Sentimentos não podem ser manipulados, Joey – falou Gina, séria. – Não adianta isolar duas pessoas, forçar a barra, nada adianta se não existe amor de ambas as partes.
-É que nunca fui muito ligado nesses lances de "amor"... E aprendi a lição tarde demais. Sério, se pensasse que não daria certo, nunca teria planejado isso... Se ao menos tivesse pedido um conselho do Sr Tribbes... Opa!
Joey se conteve tardiamente. Peterson adiantou-se, com a expressão intrigada.
-Conselho de quem?
Joey se encolheu na cadeira, enquanto o olhar de Peterson e de todos passavam dele para o Sr Tribbes. O bruxo sentiu-se meio inquieto pelo número de olhos que o encaravam; pigarreou, ajeitou a roupa, e, com a cabeça baixa, foi para o meio do círculo, postando-se ao lado da cadeira de Joey.
-O que você tem a ver com isso, papai? – perguntou Peterson. – Por que Joey devia ter pedido um conselho seu?
-Filho... – o Sr Tribbes gaguejou. – Filho, olhe, compreenda... Foi tudo por você...
-Entenda-o, Pet, querido – falou Molly Weasley, segurando o braço do rapaz. – As pessoas fazem certas besteiras por amor.
-Foi por amor a mim que você fez isso, papai? – Pet perguntou, com o olhar fixo no pai.
-É... Mais ou menos... Não deixa de ser... Na realidade... Foi para seu bem...
-Não enrole – pediu Pet. – Chega de hipocrisia. Agora é a hora da verdade. De separar o bem do mal. Os atos bons e os atos ruins. Por favor. A verdade.
-A verdade? Bom... – ele tossiu. – Foi por causa do... Magic Rock.
-O que o Magic tem a ver com isso? – perguntou Pet.
-Eu que fiz para mim mesmo essa pergunta, por várias vezes... Por que você tinha misturado a carreira importantíssima do seu grupo com uma paixão impossível?
-Ah, então...
-Por que abandonar uma turnê importante por uma mulher que nunca seria sua?
-...Foi isso...
-O que o Magic Rock teria a ver com sua paixão?
Pet balançou a cabeça.
-Realmente, as suas ações não foram por amor a mim . Foi pensando na carreira do grupo. Nos milhões de galeões perdidos. Foi pensando no dinheiro, dinheiro que, de certa forma, também ia para o seu bolso – ele virou a cabeça para Joey. – E para o seu também.
-Nós também queríamos o seu bem, filho – o Sr Tribbes parecia estar a beira das lágrimas. – Nossa intenção era uni-lo a Gina. Pensamos que, se você conseguisse namorar ela, nunca mais deixaria o grupo de lado...
-Não adianta se explicar... é algo totalmente inaceitável.
Pet cruzou os braço, afastando-se do pai. Gina, por sua vez, olhou tristemente de Joey para o Sr Tribbes, e depois para Pet. Suspirou e colocou a mão sobre o ombro de Pet.
-Pet, perdoe-os. Eles também agiram por seu bem, assim como você agiu para o meu bem ao deixar a turnê de lado. Foi uma bobagem, não foi? Mas todos fazemos bobagens quando queremos muito o bem de uma pessoa. E a atitude deles não foi em vão... Não foi mesmo. Se não fosse pelo plano dos dois, nós nunca teríamos colocado as coisas em pratos limpos. Você continuaria sofrendo em silêncio, sozinho, na incerteza do "sim"... Após a nossa conversa, você teve a certeza do "não", e agora pode se desiludir e viver em paz, tendo-me como uma amiga. Agora, tudo será mais fácil pra você. A carreira do Magic Rock, inclusive. Veja, agora, como as atitudes do seu pai e de Joey o ajudaram.
Pet baixou o olhar, depois, lentamente, voltou-o para o pai e para o companheiro de grupo.
-É... Gina tem razão... Eu desculpo vocês...
O Sr Tribbes sorriu, ao receber o abraço apertado do filho. Joey abriu um sorriso vendo os dois.
-Agora o Magic Rock vai voltar com tudo! Não vai, brother? – perguntou ele.
Pet, soltando-se do abraço, trocou um aperto de mão com ele.
-Pode acreditar, Joey. Temos que avisar o F.J. e o Ray. As férias dos dois estão interrompidas por tempo indeterminado.
-Com garra, vamos recuperar o tempo perdido, brother.
Garganta invadiu a sala de Harry com fúria.
-Potter? – chamou, com a varinha em posição de ataque. – Onde está você? – ele olhou por trás dos móveis. – Já recebeu a visita do traidor do Spike?
Dirigiu-se para a cozinha. Olhou por todos os cantos. Nada.
-Se eu pego os dois... – rugiu Garganta, a voz rouca em um tom maligno. Apanhou uma enorme faca de cozinha e enfiou-a na mesa de madeira, furioso. – Eu estraçalho os dois.
Saiu da cozinha, passando para a sala. Ia subir as escadas que levavam ao segundo andar quando algo numa mesa chamou-lhe a atenção. Era um pedaço de papel totalmente riscado.
Ele foi até a mesa e o apanhou. Eram anotações do Potter.
Manual das Trevas – mesmo local – Manual Do Contra
(um desenho de um conjunto de montanhas)
Stipp Hills – ? - como chegar lá? Como? Como?
Garganta arremessou o papel no chão. Estava de queixo caído.
-Maldição... Ele sabe sobre Stipp Hills... Foi como previ...
Ele virou uma mesinha de canto, transformando o pássaro de porcelana num monte de caquinhos.
-Spike deve estar o ajudando... Mas... Qual o interesse de Potter em Stipp Hills? Será esse... – pegou o papel novamente.
Manual das Trevas – mesmo local – Manual Do Contra
-Manual Do Contra... Outro manual... Não, não pode ser... Se bem que... Meu antepassado foi banido do grupo... Do Contra... Seria...
Seus olhos se arregalaram. Ele empalideceu.
-A oposição de todos os feitiços do Manual das Trevas...
Ele respirou fundo, com o ódio fervilhando.
-Potter não pode arranjar um jeito de trazer a filha de volta... Não pode pôr as mãos na forma de barrar todos os feitiços e poções que consegui aprender... Não vou permitir. Não mesmo.
Num estalo, ele desapareceu. Caminho: Stipp Hills.
A festa na casa dos Tribbes continuou, animada. Gina, porém, ficou num canto, afastada. Encostada no murinho, observava o anoitecer.
Olhando as estrelas, a lua, mas pensando em algo mais distante do que elas. Algo que suas mãos talvez nunca mais alcançassem. Algo que seus lábios talvez nunca mais sentissem. Algo que sempre estivera tão perto, mas agora estava tão distante...
Estava pensando em Harry.
Como estaria ele? Nervoso por saber que a decisão dela prevalecera? A aceitaria de volta quando ela fosse atrás dele?
-Como eu te amo, Harry – suspirou ela, uma lágrima rolando pelo rosto. – Te amo de uma forma como nunca conseguiria amar outra pessoa. Na minha vida inteira, amor de verdade só houve o seu... Te amo, te amo... Aceite-me de volta... Mesmo com o vazio deixado por Estelle, volte para mim. Não sei viver sem você...
Ela baixou o rosto.
-A sua ausência me fere, me fere tanto... Preciso de você, meu amor...
Com os olhos úmidos, Gina voltou novamente o olhar para a lua. Onde estaria o seu grande amor naquele momento?
Harry e Spike aparataram primeiro no sopé das montanhas. Em seguida, Spike aparatou na entrada certa. Acenou para Harry lá de cima, um ponto minúsculo movimentando os braços. Harry concentrou-se e foi aparatar ao lado do ex-criminoso.
-É aqui – falou Spike, assim que Harry apareceu.
Era uma caverna ampla. Harry não estranhou. Já esperava um lugar assim, afinal, como dissera Moody, muitos anos se passaram até alguém conseguir colocar as mãos no Manual das Trevas.
-Onde vocês pegaram os manuscritos? – perguntou ele, ansioso.
-Num lugar inimaginável. Muito bem escondido. Venha aqui que eu lhe mostro.
Harry seguiu-o, com o coração na mão. Dentro de instantes, poderia ter o Manual Do Contra nas mãos. Poderia ter o feitiço que reviveria Estelle...
Spike parou em frente a uma parede de pedra. Apontou-a, com um sorriso.
-Aparentemente normal, não é? Como todas as paredes da caverna. Mas essa parede é especial, Harry. Não toda, claro. Mas essa pedra, aqui, da parte de baixo, sim.
Ele puxou-a, revelando uma pequena abertura.
-Era aqui o tão sigiloso esconderijo. Atrás de uma pedra, num pequeno buraco... Só Garganta mesmo pra ter tanta sorte...
Mas Harry não o estava escutando mais. Examinava atentamente cada pedra ao redor. Não achou nada de diferente...
-Estranho – murmurou. – Era pra estar por aqui... Como Moody disse, devia estar escondido próximo ao Manual das Trevas...
Ele pensou... Precisava achar o manual... Começou a falar em voz alta, para ele mesmo.
-Pense um pouco, Harry Potter. Eles não deixariam num esconderijo como o Manual Das Trevas, senão qualquer um podia achar, até mesmo antes de encontrar o Das Trevas. Devia ser muito mais sigiloso... Eles devem ter colocado o mais próximo possível do Das Trevas... O mais próximo possível... Vou examinar o buraco novamente.
Harry enfiou a mão no buraco escuro. Tateou os cantos. Eram fechados. Manuseou a pedra do canto direito. Nada. Manuseou a pedra do canto esquerdo...
Ela se soltou.
Harry a arrancou, jogando-a para fora. Colocou a mão novamente dentro da nova passagem que se revelara. Seu coração quase saiu pela boca quando ele sentiu sob seus dedos um punhado de folhas.
Harry retirou-as rapidamente. Levantou-se, fitando-as.
Sim, finalmente. Eram os manuscritos. O Manual Do Contra, como dizia o título.
-Finalmente... Achei... – ele virou-se para Spike. – Finalmente, agora é só ir até o hospital e...
-Você não vai a lugar algum, Potter...
A voz rouca ampliou-se pelas paredes da caverna, eco de pesadelo que sobressaltou Harry e Spike ao mesmo tempo.
Recortado contra o céu noturno, na entrada da caverna, estava a figura gigante e inconfundível de Garganta.
-Eu não vou deixar.
NA: Não percam o último capítulo de VIDA em breve... E continuem mandando reviews, obrigado!
