Capítulo 4 – A determinação do Leão!
Santuário, na casa de Touro. Dante, rangendo levemente os dentes enquanto se afasta do corpo de Ryutaro, olha para a mulher que os interrompeu. Chinesa e com seus longos cabelos negros, lisos como seda, esta é Lien, a portadora da sagrada armadura de Câncer.
Lien – Dante, Ryutaro não é nosso inimigo.
Dante – Ele traiu o Santuário!
A amazona, sem mascara alguma, caminha até o cavaleiro de Leão, olhando-o com certa admiração e esboçando um sorriso.
Lien – Ele deixou a armadura conosco e agora voltou no momento em que mais precisamos... Não pode ser um traidor.
Lien agacha e examina cuidadosamente o membro destruído de Ryutaro, usando sua eterna postura calma para ocultar a preocupação que, no fundo, a atinge como uma agulha. Delicadamente o tira do chão, apóia o braço dele em seu ombro para segurá-lo e dá as costas para Dante.
Lien – Se ele continuar desse jeito, irá morrer. Espero que Len volte logo, ele é o único que pode salvar Ryutaro. Tome mais cuidado com seus atos, Dante!
Dante – Ainda o vejo como um traidor.
Ela não responde, apenas vai caminhando com o japonês para fora da casa. Porém, antes que pudesse sair de lá, o corpo de Ryutaro, emanando uma poderosa energia cósmica, imediatamente a faz parar. Ela olha quase boquiaberta para o japonês, que se solta e caminha fragilmente na direção do titã dourado.
Ryutaro – Eu não pedi ajuda. Dante disse que eu só pegaria a armadura de Leão se primeiro o vencesse. Vou fazer isso custe o que custar.
Dante – Já cansei de aturar você, pirralho. Desapareça!
Dante desce um tremendo soco rumo à face do cavaleiro de Leão, mas nesse exato momento um rugido rasga os tímpanos de todos os presentes. Um pilar dourado de luz se ergue em frente ao japonês, o golpe de Dante fica longe de transpassá-la. Em uma questão de instantes, a energia se dissipa e a armadura de Leão se revela, com toda sua imponência protegendo Ryutaro. Lien sorri, impressionada com o feito.
Lien – Vê, Dante? Se Ryutaro fosse um traidor, acha que armadura iria protegê-lo?
O traje se separa e monta-se no corpo do jovem. Ele parece ter ganhado chances de vencer o combate, mas nada realmente mudou: apesar de seu cosmo estar rugindo violentamente contra o Touro, seu corpo já perdeu as forças há tempos. Somente duas coisas o mantém de pé: a cosmo-energia e sua força de vontade. De cabeça baixa e com os cabelos castanhos todos maltratados e caídos sobre os olhos, ele, com esforço, balbucia algumas palavras. Lágrimas de uma alma frustrada gotejam sobre o chão.
Ryutaro – Eu vou... Vencer... Eu... Vou... Vencer... Touro...
Dante hesita e recua, não tem mais coragem de atacá-lo. A amazona de Câncer caminha até à frente de Ryutaro e o encara por alguns segundos, queimando o cosmo. Inesperadamente, ela se aproxima mais um pouco e o envolve em um forte e terno abraço, fechando os olhos.
Lien – Ryutaro, você venceu... Agora pare com isso, essa luta não leva a nada... Os guerreiros de Athena deveriam estar unidos, como irmãos...
O cosmo agressivo de Ryutaro vai aos poucos perdendo seu espaço, sendo completamente domado pela calmaria do de Lien. Não se passa muito tempo e a aura do japonês desaparece por inteiro, ele não agüenta e perde a consciência, mas ainda de pé.
Trinta minutos se passam, mas parecem mais uma eternidade. Len, o Cavaleiro de Áries, finalmente voltou ao Santuário e agora segue pela primeira escadaria, tranqüilo, indo para sua casa zodiacal. Assim que se aproxima do final, o lemuriano fecha os olhos e respira fundo enquanto tira o elmo, revelando seus cabelos vermelhos, curtos e arrepiados. Em frente à casa, abre os olhos. A primeira coisa que Áries vê é seu amigo Dante apoiando Ryutaro nos ombros, ao lado de Lien, encostada em um dos pilares. A expressão de seu rosto começa a fazer força para se alterar. Em um instante, um cavaleiro que aparentava ser calmo e responsável assume sua verdadeira face: com entusiasmo apontando o japonês, seus olhos arregalam e brilham em empolgação.
Len – Ry... Ryu... Ryutaro! Huahuahua, você voltou!
O lemuriano corre como um raio na direção dos três, sorrindo como um garoto. Dante, sem paciência, range os dentes em fúria enquanto aponta com a palma da mão direita.
Dante – MALDITO CARNEIRO! Odeio quando fica assim!
Das mãos do touro dourado, um raio de luz é arremessado contra Len, que desvia por muito pouco e fica sem equilíbrio. Assim que se recompõe, jura Dante de morte com o punho, olhando torto e gritando.
Len – ARGHHH, QUAL É A SUA, Ô HOMEM DOS CHIFRES! O QUE EU FIZ AGORA?
Dante – SEU IDIOTA SEM CONSIDERAÇÃO, NÃO VÊ O ESTADO DELE?
Len – MALDITO, COMO EU IA SABER! NÃO PRECISAVA ME ATACAR!
E ficam trocando elogios por minutos. Um é o melhor amigo do outro, mas eles têm uma forma bem diferente de expressar essa amizade: discutindo. Quando brigam, esquecem de qualquer problema ou preocupação, como agora. Preocupada com Ryutaro, Lien abre a voz, chamando a atenção de ambos.
Lien – Parem com isso. Len, Ryutaro está muito ferido, precisamos da sua ajuda...
Os dois voltam a si, olhando a chinesa, envergonhados. Dante deita o corpo do japonês e Len agacha para examiná-lo, na hora cerrando os olhos e voltando o rosto para os dois companheiros. A sua expressão descontraída e bem-humorada o abandona.
Len – Sessenta e nove ossos quebrados... Músculos e ossos do braço direito completamente triturados... O que aconteceu, afinal?
Lien fecha os olhos e aponta, com a cabeça, o Touro. Len suspira, voltando-se novamente para o Leão.
Len – Aquela coisa de traidor de novo... Ainda bem que você parece arrependido. Bom, vamos ver se eu consigo realizar um milagre!
Áries pousa a palma das mãos sobre o tórax do japonês, fechando os olhos e iniciando um ritual de pura concentração. Aos poucos, uma redoma cósmica vai os cobrindo, dourando ambos os cavaleiros. Estouros luminosos acompanham agudos estalos para fora do corpo de Ryutaro, cujo aspecto melhora a cada segundo. Sete minutos se passam, quando Len acha que vai desmaiar de tanto esforço, a redoma explode. O cavaleiro de Leão está completamente recuperado, embora dormindo. Áries, ofegante, sorri e ergue o polegar.
Len – Ele está novinho. Ei Lien, eu tenho uma mensagem do Shiryu para o Grande Mestre. Quer vir comigo?
O lemuriano pisca para a chinesa enquanto se levanta com cuidado. Ela olha-o, confusa e estranhando, mas decide aceitar.
Lien – Ahn... Claro.
Len – Ótimo! Ah, Dante! O Ryutaro deve acordar dentro de dois dias, cuide bem dele, afinal, você é o culpado! Huahuahua.
Ele sorri triunfante, enquanto apóia o braço no ombro da amazona e sai andando. Dante olha confuso e ao mesmo tempo furioso, mas sem nada poder fazer. Só lhe resta reclamar, enquanto força os punhos.
Dante – Maldição... Eu ainda vou partir esse carneiro em pedaços...
Duas horas depois, no salão do Grande Mestre, este se encontra, como sempre, sentado em seu trono. Mesmo no conforto da escuridão que ele mesmo imagina, sua postura firme é constante, ocultando, com a ajuda de seu elmo, a verdade: está nervoso, preocupado, vítima de seus próprios pressentimentos. Quando Shiryu comunica o Santuário, algo sério certamente está a vir.
De repente, os portões de seu repouso se abrem e clareiam a solidão. Len e Lien adentram calmamente e caminham devagar pelo tapete vermelho, ficando próximos ao trono. Após a reverência, Len se aproxima e entrega uma carta nas mãos do Mestre. Enquanto o mesmo a abre para ler seu conteúdo, o lemuriano já se coloca a contá-la.
Len – Shiryu descobriu que o Santuário será atacado daqui a dois dias... Por Kyotos.
Mestre – Eu estou vendo. Isso será um grande problema.
Len – Mesmo que agora saibamos do ataque, eles ainda têm o elemento surpresa, o Santuário é muito grande... Podemos perder muitas vidas.
Lien – Essa não é a única preocupação. Esqueceram-se do que vai acontecer daqui a dois dias?
Mestre – O surgimento do novo cavaleiro de Pegasus...
