Os raios do sol inundaram a floresta como cascatas douradas, e Inuyasha abriu os olhos ainda sonolento. Sentiu uma leve pontada e percebeu que dormira de mal jeito sobre o galho de uma frondosa árvore que ladeava a estrada. Ele jamais dormiria em uma hospedaria de humanos. Com um salto chegou ao solo e se espreguiçou. Ajeitou o kimono vermelho e se pos a caminho, até a próxima vila, a procura da tal mulher.

Na vila que margeava o caminho, o dia começava com o cantar dos galos e o farfalhar dos fardos de feno que os camponeses traziam das roças. Mais adiante numa colina ficava uma casa de chás. O local era luxuoso e dançarinas jovens e tenras sacudiam os tapetes nas janelas, preparando o lugar para a próxima noite. Na janela mais oculta da casa, sombreada por enormes figueiras japonesas uma jovem observava o raiar do dia com expressão sonolenta. Ela bocejou e ergueu os braços preguiçosamente. Em seu pescoço brilhou feito um sol em miniatura uma bolinha arroxeada, banhada pelos raios da manhã.

Ela se virou e procurou ao redor o que vestir. Ajeitou a gola de seda do quimono branco e amarrou os longos cabelos negros em uma fita displicentemente, o que deixou caírem varias mechas pelos ombros. Por baixo da brancura da veste escondeu habilmente uma pequena espada daimyo, deixando-a totalmente oculta do olho mais treinado. Em seguida desceu para o átrio do lugar. Sorriu ao ver o rosto iluminado de uma velha porem alinhada senhora, acomodada em inúmeras almofadas de diferentes cores. Respeitosamente se dirigiu a ela e lhe fez a tradicional reverencia. Em seguida se sentou frente a figura respeitável.

- Gomen Kaede Sama. Estive entretida em meus sonhos e despertei fora do horário estabelecido por tão venerável senhora.

- Não se preocupe criança. Amanhecer com o sol é um atributo dos mais velhos. A juventude tem todo o tempo do mundo para sonhar, eu já não posso desfrutar de tal dádiva.

- A senhora ainda tem muitas primaveras a viver.

A velha sorriu com as palavras piedosas da moça. Depois bateu palmas e ambas foram servidas com chá fumegante por uma meninota magricela, que equilibrava a bandeja com maestria. Ela em seguida desapareceu por entre os biombos que cercavam o átrio central. As duas mulheres tomaram silenciosamente o chá e permaneceram por um momento em silencio, apenas o barulho tedioso da pequena cascata interna podia ser ouvido. Tal silêncio foi quebrado pela mesma menina que servira o chá, que entrava apressada.

- Kaede Sama, temos um cliente esta manhã!

- Um cliente? Bem, conduza-o ao salão norte, eu irei atendê-lo em seguida.

- Hai! – ela saiu após fazer reverencia.

- Verei quem é e volto em seguida querida.

A senhora adentrou ao salão e se dirigiu ao cliente que já estava confortavelmente instalado em almofadas de seda. O salão era ricamente decorado com cortinas e entalhes de madeira á moda chinesa. O desconhecido olhou para a mulher que se aproximava e sorriu.

- Você é a dona desse prostíbulo? Não acha que está velha demais para isso?

Ela ignorou o comentário grosseiro.

- O que deseja desta humilde casa meu senhor?

- Não é obvio? – ele respondeu secamente – quero me divertir, o que mais homens como eu vem fazer nesses lugares... ouvi dizer que tem uma mocinha nova, pura como o orvalho da manhã sobre as flores. Desejo essa garota.

- Certamente que sim meu senhor – Kaede Sama se curvou em reverencia – mas tal preciosidade como pode supor é bastante cara.

Ele desdenhou.

- Sua velha atrevida! Custos não são problema para mim!

E dizendo isso jogou um saco de moedas que a velhota aparou no ar. Ela sorriu.

- Vejo que é um homem muito respeitável. Será atendido como merece.

Ela saiu após fazer mesura ao desconhecido. Ele se ajeitou confortavelmente e apoiou a cabeça nos braços fechando os olhos. Os longos cabelos espalharam-se pelas almofadas macias, como serpentes á procura de abrigo. Um barulho o fez levantar-se de sobressalto. A sua frente a mais bela humana que seus olhos haviam visto. Ela vestia-se com um kimono majestoso, ricamente bordado com motivos chineses em linhos dourados e verdes. A veste era longa e lhe cobria todo o esguio corpo, mas o colo se mostrava languidamente por entre o decote sutil porem ousado. Ela se aproximou dele e o perfume de sândalo que dela emanava aguçara os seus sentidos apurados de youkai.

- Ora vejo que os rumores sobre você não eram falsos. Como se chama?

- Meu nome é Gin Li honorável senhor – a voz dela era como melodia para os ouvidos dele.

- Gin Li ein? E o que sabe fazer para me entreter?

- Sei muitas coisas que podem agradar ao senhor.

- Hum... você sabe dançar?

- Sim meu honorável senhor.

- Ótimo. – seu olhar se tornou cobiçativo. Ele a fitava de alto a baixo já sentindo o calor de sua carne. Bateu palmas e um grupo de mulheres surgiu ao lado do salão, portando instrumentos musicais. Imediatamente eles começaram ao sinal do homem.

A musica encheu o salão de magia estranha. Aquela mulher parecia flutuar sob um véu misterioso, e seus movimentos prenderam a atenção de Inuyasha como uma bruxaria. As inúmeras fitas que faziam parte do traje dela voavam feitos asas de uma borboleta atrevida revoando sobre a campina. Os olhos dele brilhavam com a força do seu desejo, que crescia a cada voleio do corpo jovem e lascivo de mulher que ele via a sua frente.

Ela rodopiava veloz e os olhos dele acompanhavam cada movimento da seda do kimono, cujas cores se misturavam num caleidoscópio iridescente. A moça aproximava-se dele e quando a musica finalmente cessou ela caiu de joelhos frente a frente com Inuyasha, imóvel diante dela. Sem pensar duas vezes ele a agarrou com fúria e Gin Li surpresa começou a se debater tentando repelir o jovem, que rasgou a gola do precioso kimono. Foi então que ele parou, admirado, pois seus olhos faiscaram com o brilho intenso da jóia arroxeada que vislumbrou sob a pele branca dela. De imediato ela sacou a espada e tentou cortar a garganta de Inuyasha que habilmente segurou o pulso antes que a lamina tocasse sua pele. Com um golpe rápido ela se desvencilhou dele e saltou para trás tomando fôlego para mais uma investida. Mas não teve tempo pois ele como um raio se jogou novamente sobre a moça e os dois rolaram pelo salão. Nesse momento um grupo de soldados invadiu a casa e deu voz de prisão a ambos. Um olhou para a cara do outro de olhos arregalados diante do imprevisto. A horda de soldados a serviço do exercito do shogun caiu sobre eles como uma tempestade. Inuyasha mais esperto fugiu por uma janela com um espetacular salto. Gin Li cerrou os dentes com a atitude covarde dele e se lançou ao ataque. Abateu alguns mais se viu em menor numero e teve que se render. Foi levada presa.