Eles pararam em uma estalagem modesta, num pequeno aglomerado de cabanas cercado pela mata. Ao lado dela uma taverna barulhenta chamou a atenção do hanyou, que há algum tempo não provava um bom sake. Após se instalarem num cômodo duplo ele se virou para Kagome.
- Espere aqui – ele ordenou.
- Por que eu deveria? – ela o fitou desafiadoramente.
- Porque você é procurada – ele retrucou – e eu estou com vontade de bebericar um pouco e conversar. E você não me apareça lá ouviu? Se não quiser ser pega e levada ao Shogun.
Ela não se deu ao trabalho de responder.
- Feh! Mulheres.
O hanyou saiu após isso. Kagome não ficaria ali parada seguindo ordens de um bastardo meio youkai. Ainda mais com um tão atrevido e pretensioso como Inuyasha. Ela olhou pela janela e viu o movimento de aldeões que voltavam para casa após um dia de trabalho exaustivo. Alguns paravam na taverna, principalmente os mais jovens, pois ali era a única fonte de diversão naquele lugar. Alguns dirigiam gracejos á jovem, que sorria em resposta. Ela suspirou. Tinha saudade dos tempos de infância, quando Inutaisho ainda era o senhor e as vilas viviam momentos felizes e de abundância. Afinal, por que o filho do Shogun era tão diferente do pai?
Kagome se voltou para o quarto simples aonde passariam a noite, depois de muitas ao relento. Os youkais sempre foram temidos pelos humanos, e como Inutaisho haviam poucos que se compadeciam da sorte das pessoas. Era um tipo de youkai raro, impelido por um tipo de sentimento. Ouvira dizer que tinha intenções de tomar por esposa uma certa princesa humana, filha de outro senhor feudal, mesmo indo contra as tradições de sua espécie. Mas morrera antes e seu único filho, Sesshoumaru, ficara com o domínio do feudo. Esse sim, despreza a humanidade como se fossem insetos.
Agora aparece na vida dela esse youkai, ou meio youkai, disposto a se unir á causa dos homens. Seria a natureza meio humana que o fazia diferente... Mas mesmo sendo mestiço mantinha a arrogância de um youkai. Isso a irritava. Logo suas divagações foram substituídas pela ânsia de vingar-se dele, que ousara macular a honra de mulher. Ela reparou que ele deixara no quarto a espada. Pelo que ela vira na luta com o youkai Kouga, essa seria uma espada demoníaca. Cautelosamente ela se aproximou da arma e tocou sua bainha. Nada aconteceu e ela suspirou. Empunhou-a e observou mais de perto. Que espada velha, ela pensou desdenhando. No entanto ela sabia que aquela não era uma espada comum. Lembrou-se dele a chamando pelo nome: Tessaiga.
Olhou novamente pela janela. Agora a viela estava quase que deserta. Pegou o arco e o alforje. Um impulso se formou na sua cabeça e ela saltou para fora. Olhou para os lados. Ninguém á vista. Rapidamente correu em direção á floresta.
Kagome corria o mais rápido que podia, a mente tomada de um só ímpeto, distanciar-se o maximo possível daquele meio youkai atrevido. Abraçada ao peito a arma dele.
Subitamente ela parou. A Tessaiga começou a vibrar. Um arrepio correu-lhe a espinha. Kagome olhava ao redor, tentando ver qualquer movimento. Sua respiração ficou ofegante. Agora ela abraçava ainda mais a espada, procurando ali alguma proteção. A energia sinistra que ela sentia ficava cada vez mais próxima e se fortalecia.
O vento de repente parou de soprar. A floresta ficou quieta. A mocinha não se mexia, esperando algo acontecer. Novamente a Tessaiga vibrou, desta vez mais intensamente.
Isso despertou seu senso de preservação. Ela correu novamente, com todas as forças que tinha, até chegar a um bambuzal. Sua face ficou manchada com o sangue que escorria dos inúmeros cortes que os talos faziam. Ela então vislumbrou um vulto por entre as sombras e parou. Inuyasha saiu silenciosamente por entre os grossos troncos e rosnou irritado.
- O que você está fazendo sua idiota!
O alivio que ela sentiu ao vê-lo só não foi maior que a raiva que sentiu de si mesma em sentir alivio.
- Inuyasha... como me achou?
- Eu conheço seu cheiro. E além do mais o seu sangue pode ser sentido a quilômetros daqui. Infelizmente alguém mais sentiu o seu cheiro. Vamos embora.
Ela estava pasma.
- Quem...
- Pra começar – ele se aproximou e estendeu a mão irritado – me devolva a minha espada.
Kagome rapidamente lhe estendeu a Tessaiga. Ele continuou depois de colocá-la na cintura.
- Agora...
Rudemente ele a jogou nos ombros e começou a correr como um raio.
- Ei...
- Cale a boca! – seu tom era de ameaça – se disser algo eu mesmo mato você entendeu?
- Mas...
- Por causa da sua imbecilidade – ele retrucou zangado – ELE nos achou.
- Ele...? Mas...
- Se falar mais eu cumpro a minha promessa.
Kagome se calou. Naquele momento, depois de sentir a energia sinistra que fez gelar o sangue, era melhor obedecer.
Inuyasha só parou a muitas léguas longe dali, e Kagome não sentia mais a presença sinistra. Cansado o hanyou caminhou até uma mina de água e bebeu, jogando um pouco no rosto. Ela permanecia quieta, parada de pé. Ele se virou e resmungou.
- Agora pode descansar... e falar se quiser, embora eu sei que irei me arrepender.
Kagome se sentou perto dele á margem do laguinho. Viu que seu rosto se cortara durante a fuga.
- Você se feriu.
- Isso não é nada.
Ela rasgou um pedaço da faixa que usava e molhou na água, depois limpou o corte delicadamente. Inuyasha amainou o olhar.
- Vocês humanos não sabem com quem estão lidando. O Shogun pode arrasar esta terra com se não fosse nada.
- Você o conhece? – ela indagou.
- Um pouco – ele respondeu – suficiente para saber o quão impiedoso ele é. Ele despreza a raça humana como se fossem porcos.
- Eu sei – ela suspirou – minha mãe foi assassinada por um youkai.
- Sinto muito.
- O único pecado dela – ela o fitou com firmeza – foi não ter cedido aos caprichos de um alto membro da nobreza.
Inuyasha abaixou o olhar.
- Sinto muito – ele repetiu.
A brisa da madrugada soprou gelada. Ele se levantou.
- Foi fazer uma fogueira.
O hanyou tirou seu manto e cobriu os ombros de Kagome. Ela o observou por um momento.
- Por que evita me olhar de frente Inuyasha?
O hanyou sorriu.
- Não é nada. É que você se parece com alguém que eu conheci há muito tempo.
- Quem? – ela se interessou.
- Alguém – ele continuou – que eu desejo esquecer para sempre.
Os olhos de Inuyasha perderam o brilho nesse instante. Foi como se uma ferida no fundo de seu coração tivesse latejado e ainda não estivesse de todo cicatrizada. O rosto daquela mulher, gravado a fogo no pensamento dele, voltara para assombrar-lhe os passos. Isso era o que ele acreditava.
Nota da autora:
Agradeço a todos os comentários positivos! Eu sei que demoro um pouquinho para postar mas é que tenho pouco tempo para escrever. Por favor tenham paciência! Gomen!
