Sabe, até que é divertido fazer compras. Não sei se acho isso pelo fato de estar agora nessa incômoda situação feminina, ou se é simplesmente pelo fato de nunca ter saído para fazer compras. Mas eu achei muito legal, e acredito que meus amigos também o acharam.
É tão estranho falar "meus amigos", e pensar neles como garotas... Assim como é estranho chamá-los pelos nomes masculinos. Mas Heero disse que, assim que chegarmos em casa, poderemos conversar melhor sobre isso.
No entanto... quando entramos em nossa casa, ouvimos algo que chamou-nos a atenção. Era o incessante barulhinho do videofone. Wufei adiantou-se, largando as sacolas no chão, e atendeu. Instantaneamente, vimos aparecer na tela o rosto do Dr. J.
- Hum... pelo visto deu tudo certo, não?
Todos nós olhamos para ele com cara de quem não estava entendendo nada. Do outro lado da tela, apareceram também o Dr. S e o Professor H.
- O que foi, J? - perguntou o prof. H
- Quem era o encarregado de consultar os meninos sobre a nova missão?
- Se não me engano, era o S.
Os três doutores se entreolharam e chamaram o Prof. G e o Dr. O. 1 Era hilário ver os cinco cientistas discutindo para ver quem é que tinha ficado responsável de nos avisar alguma coisa. Um acusava o outro, e eles não chegavam a lugar nenhum. Foi preciso Heero intervir.
- Já entendemos. Não fomos avisados de algo. Aproveitem! Avisem-nos.
Eles se entreolharam novamente e o Dr. O empurrou os outros para ficar na frente do monitor.
- Pilotos, vocês sabem como e porquê estão assim?
Será possível? Será que foram eles que nos transformaram em garotas? Como podem? Que eles são geniais, eu sempre soube, mas poderiam eles contrariar as leis da natureza e da ciência e nos dar corpos tão perfeitamente femininos?
Nós todos acenamos negativamente com as cabeças.
- Isso faz parte de uma nova missão. Julgamos ter consultado vocês antes de fazer isso, então fomos até a casa de vocês durante a noite e transformamos vocês em garotas, o que facilitará a missão.
- Mas que missão é essa? - meu amigo chinês, apressadinho, perguntou
O Dr. O abriu a boca para responder, mas ouviu-se uns barulhos estranhos lá e ele disse, rapidinho:
- Vão até Relena Peacecraft. Finjam serem primas de vocês mesmos, e peçam aulas de etiqueta. Inventem alguma mentira para precisarem disso. Entraremos em contato para maiores detalhes depois.
E, dizendo isso, desligou.
Por alguns instantes nenhum de nós conseguiu reagir. Afinal, havíamos descoberto o porquê de estarmos assim. Em parte, pelo menos. Era uma missão. E a primeira ordem que recebemos era procurar Relena Peacecraft.
Nenhum de nós disse palavra, mas deixamos as sacolas no chão da sala e nos dirigimos para a casa da moça. O motivo da ordem era óbvio, nenhum de nós precisava perguntar. Seria duro para cada um de nós, pois teríamos que abandonar tudo aquilo que éramos antes como pessoas (não como soldados, claro) e mudarmos totalmente.
A mansão dos Peacecraft não era muito longe, e logo estávamos as cinco (preciso me habituar a falar assim, já que a coisa é pra valer) paradas na porta.
- E aí, quem toca? - perguntou Trowa
Heero se adiantou e apertou a campainha. Não demorou muito e o mordomo veio atender.
- O que desejam, senhoritas?
- Viemos ver Relena. - disse Duo mexendo na trança. Ele realmente não conseguia viver sem ela. - Somos primas de amigos delas.
- Entrem.
O senhor nos levou até uma salinha e nos fez ficar esperando. A tensão
era crescente. Será que Relena vai acreditar? Quero dizer, ela é
tapada 2, mas será que é tanto? Pensando bem, não tem
como não acreditar. Somos a cara de nós mesmo! E se disséssemos
a verdade, aí é que ela não acreditaria mesmo. Tudo o que
eu espero é que dê certo.
Relena entrou na sala imponente como sempre, e nos cumprimentou cordialmente.
- Vocês são...?
- Primas dos pilotos gundam.
Ela deu um tapinha na própria testa.
- Como não percebi antes? Vocês são muito parecidas com eles. Seus nomes?
Oh-hou... eu bati tanto na mesma tecla, e ninguém se preocupou com isso. Olhei para Heero significativamente.
- Eu sou Hina 3. - ele se apresentou carrancudo. E como ficou quieto depois disso, deduzi que era para cada um inventar um nome. Pensei no meu o mais rápido possível, para que os outros tivessem mais tempo.
- Sou... Katrina. - disse o primeiro nome feminino que me veio á memória e que se assemelhasse ao meu próprio. Não que isso fosse necessário, mas eu quis.
- Jin Mei.
Olhei para Wufei. Ele escolhera um bom nome. Olhei para Trowa e Duo. Faltavam os dois.
- Diana.
- Trina 4
Relena ficou nos olhando por um instante, como se processasse a idéia, e nos perguntou o que queríamos.
- Sabe o que é, Relena... nós sempre moramos no interior. E fomos convidadas para uma festa da alta sociedade. Queríamos saber se você poderia nos dar umas dicas... sabe, de como devemos nos comportar e essas coisas.
Duo sempre fora bom em arrumar desculpas rapidamente. E essa tinha ficado realmente boa. Uma coisa em que nunca fui bom: mentir. Eu fico nervoso, me contradigo, repito a mesma coisa várias vezes... Depois de algumas experiências desastrosas, eu desisti dessa prática. Mas... se eu pensar bem, eu não preciso mentir. Só atuar, inventar uma história maluca sobre mim mesmo, que na verdade nem sou mais eu, e sim eu "mesma".
Relena sorriu e respondeu:
- Mas é claro que eu ajudo! Terei o maior prazer. Sigam-me.
Falsa. Falsa, falsa, falsa. Relena não estava a fim de nos ajudar. Ela queria só ajudar para tentar ter uma chance com Heero. Ah, se ela soubesse que a "Hina" nada mais era do que o seu Heero.
Aliás, agora que temos nomes femininos, tenho que me acostumar a chamá-los assim. Hina, Diana, Trina e Jin Mei. Pelo menos são parecidos com os nomes de antes.
Fomos com a srta. Falsidade até a sala de jantar, e ela pediu que nos sentássemos à mesa, que ela ia começar por aí. Sentamo-nos e ela pediu ao mordomo que trouxesse uma torta de morango.
Não deu muito ele apareceu de volta com a torta. Colocou em cima da mesa e Relena pediu que nos servíssemos.
Duo, como de costume, serviu-se logo, e pegou um pedaço enorme. Wufei, na hora em que foi se servir, deixou o pedaço desmontar e cair na toalha. Heero disse que não estava com fome, e Trowa e eu dividimos um pedaço, como as vezes fazemos. Por algum estranho motivo, essa prática parecia agora me incomodar, coisa que nunca fez antes. Mas tentei esquecer essa sensação estranha.
- Podem ir parando por aí. Bem se vê que nunca aprenderam boas maneiras. Você, Diana, nunca pegue pedaços tão grandes. Prefira pegar pouco de cada vez, a pegar várias vezes, enchendo o prato.
Meu amigo americano, a primeira vista, pareceu que ia esganar a moça, mas deve ter se lembrado de que estamos aqui exatamente para isso e simplesmente forçou um sorriso.
- Jin Mei, quando for se servir, esteja certa de ter equilibrado bem a comida antes de suspendê-la. É incrivelmente deselegante derrubar a comida na mesa. Hina, não é educado não provar o que lhe servem. Se você não quer mesmo, pelo menos converse com os presentes. Não aja como se não quisesse estar aqui.
Heero revirou os olhos e cruzou os braços, recostando-se na cadeira.
- E não faça isso! - completou ela, fazendo meu amigo lançar-lhe um olhar assassino e voltar à posição normal. - Vocês duas, Trina e Katrina. Céus, parece nome de dupla sertaneja! Bom, por mais que sejam amigas, não façam isso, certo? Comer do mesmo prato não é legal. Quando estiverem em casa, sem problemas. Mas nunca façam isso numa festa, ou num jantar da elite, está bem?
Dupla sertaneja?!?! Que horror! Realmente, acabou sendo uma escolha infeliz de nome. Acabei de decidir mudá-lo para Karina. Um "t" a mais não vai fazer tanta diferença. E a "Rainha do Mundo", do jeito que é burra, não vai nem notar.
Como Relena podia ser irritante! De certo modo ela até tinha razão no que falava (sobre nossos modos à mesa), mas o jeito que ela fala é que incomoda, entende? Não sei como a suportamos por esse tempo todo. Aliás, eu estava com a leve impressão que meus companheiros estavam com a mesma vontade que eu: sair correndo dali naquele instante. Mas nós não podíamos. Isso faz parte de uma missão, e teremos que cumprir, por pior que seja. Já enfrentamos a morte cara-a-cara inúmeras vezes, então uma tarde com Relena parece ser fichinha para nós. É, quem falar isso realmente não conhece a garota loira. Era é terrível, o mal encarnado. A pessoa mais metida e irritante que eu já conheci em todos os meus 16 anos. Tudo bem que a maior parte desses anos eu treinei para ser soldado, e tomei parte em guerras, só conhecendo soldados e espiões, mas mesmo assim ela é a mais chata e intragável das pessoas que eu conheci.
Com um suspiro resignado, lancei um olhar de encorajamento para "as garotas" já que não podia dizer abertamente "Quanto mais fizermos do jeito que ela quer, mais rápido nos livraremos dela". Como sempre, eles entenderam perfeitamente o que eu quis dizer e fizeram do jeitinho que a chata mandou. Ela testou-nos mais algumas vezes, e depois nos levou até o quarto dela, para aprendermos a nos maquiar.
Estávamos subindo as enormes escadarias que levavam ao terceiro andar, quando ela falou:
- Katrina, me faz um favor, sim? Pare de mexer no sutiã! É deselegante demais. E irritante.
Cerrei meus punhos tanta força que senti pequeninhos filetes de sangue surgirem. Sorri forçadamente para ela e agradeci. Até parece que ela nunca usou sutiãs. Eles machucam, sabia? Ainda mais para mim, que nunca tive que usar.
- Querida, se ele te incomoda, tente usar os sem costura. São bem mais confortáveis.
Finalmente ela disse algo útil! Guardei mentalmente a informação, antes de perguntar onde ficava o banheiro, na tentativa de estacar o sangue.
- Toalete. Se diz toalete. É a segunda porta á esquerda. Estaremos bem aqui. - ela disse apontando para uma porta decorada com uma plaquinha de porcelana escrito "Relena", em letras rebuscadas.
Entrei no "toalete", peguei papel higiênico e enrolei em minha mão que estava toda ensanguentada. Malditas unhas compridas! Se eu não as tivesse, não teria me ferido.
Quando o sangue parou de escorrer, saí do banheiro e fui para o quarto. Lá, Relena pegava caixas e caixas de maquiagem. É bom que aquilo não fosse necessário no dia a dia, já que não havíamos comprado maquiagem.
Ela teve a maior paciência em nos mostrar a diferença entre a maquiagem para ser usada normalmente, e uma especial, para dias de festa. Mostrou a cada uma de nós, de acordo com nosso estilo de se vestir. A cada minuto eu olhava no relógio e tentava imaginar quanto tempo mais Relena ia demorar. Depois das maquiagens ela nos ensinou como se portar numa festa e um monte de coisas mais. Ela aproveitou até o almoço para nos ensinar mais modos à mesa! Insistiu para almoçarmos com ela, e depois nos fez passar a tarde toda lá. O sol já se punha lá fora quando ela finalmente disse:
- Bom, isso é tudo o que eu posso lhes ensinar. Espero tê-las ajudado.
Nós agradecemos e fomos embora. Exaustos (exaustas), chegamos em casa e fomos para cama, sem nem ao menos jantar.
E assim termina meu primeiro dia como garota. De cabelo trançado (idéia do Duo, ops, Diana) e uma camisola com estampa de ursinho.
1 Olha, foi difícil lembrar o nome dos cinco cientista! Ainda bem que eu tenho os mangás em casa...
2 Nha..... fãs da Relena, eu acho melhor pularem esse capítulo, porque eu xingo muuito ela. Coisas bobas, tipo idiota, tapada, metida, falsa..., mas eu falo.
3 Sim, esse é o mesmo nome do Hee-chan na fic da lua-chan. Eu pedi permissão e ela deixou eu usar o mesmo nome que ela, okay?
4 Trina. Esse foi o nome que eu menos gostei. Mas eu não tinha outro nome que começasse com T, então ficou esse mesmo. Ah! E não foi de propósito o lance Katrina-Trina. Só percebi depois. A título de conhecimento, Trina significa pureza em grego.
N/A: E aí, gostaram? Deixei muita gente esperando pelo capítulo? Algumas pessoas me cobraram, mas... sabe o que é, eu não pude escrever mais rápido por culpa do namorado da minha mãe, que formatou meu pc e AINDA não colocou o Office. Tô sem word, sem power point, sem dreamweaver, sem frontpage, sem nada. Mas eu PROMETO que o próximo vai sair mais rápido, assim como a continuação de Meus Sentimentos.Deixem reviews, please!!! Eu queria agradecer a Anna Malfoy, a Bra Briefs, a Terezinha-Fleur e a Goddess-chan que deixaram review no capítulo anterior. Aliás, Goddess, ainda tô esperando uma carta sua, viu??
