Capítulo 6- O Castigo Feminino

Capítulo dedicado à Ilia-chan, que tanto me pediu por ele e que me ajudou a driblar o Quick Edit. Thanks!

Aff... por que será que nada parece dar certo hoje? Ontem, depois que Wufei deixou meu quarto, fiz meus trabalhos da escola, tomei um lanche leve e fui dormir. Nada de mais. Não entendo porque hoje tenha que estar tudo de pernas para o ar? Pra começar eu perdi a hora e, quando acordei, Trowa já estava de pé. Isso me deixou furioso. Eu gosto de ser o primeiro a acordar, para ter tempo de deixar tudo arrumado antes dos outros se levantarem. Fiquei tão mal-humorado, que acabei discutindo feio com Duo por causa do croissant que ele queria levar para a escola. Pra quê ele ia querer levar comida? Para comer escondido? Ora, dá um tempo, né?

Na hora em que estávamos indo para o colégio, Wufei começou a se desesperar porque tinha esquecido de pegar a gargantilha que ele costuma usar. Não consegui aguentar e disse:

— Ah, Wufei, deixa isso pra l�!

— Como assim? Eu preciso dela!

— Precisa por quê? Ela dá sorte? - ironizei

— Não é isso! É que eu gosto dela!

— Não seja infantil!

— Não sou infantil!

— Então não faça escândalo!

— Não estou fazendo!

Bufando de raiva, virei meu rosto. Por que ele sempre tinha que estar certo?

— Parem de fazer escândalo os dois. – disse Heero friamente

Senti meu sangue subir novamente, e quase comecei a gritar com o japonês. Mas aí parei e pensei... eu odeio discussões. Por que motivo, então, eu só tenho criado-as desde a hora em que me levantei? Isso nunca acontecera antes.

A raiva que eu sentia era tanta que dava até vontade de chorar. E eu não ia chorar. Por isso, fui chutando tudo o que encontrava pela frente no caminho ônibus – escola.

Logo no pátio encontramos Nielly, e eu tive que engolir minha frustração, para não arruinar o plano. Apresentamos Trowa, Wufei e Heero à ela e ficamos ali conversando até que tocou o sinal para a primeira aula.

Trabalhos manuais. Eu não sabia que até isso eles davam nas escolas (bem se vê que eu nunca freqüentei uma regularmente). E essa aula veio em muito boa hora, porque me ajudou a relaxar um bocado.

A escola tinha uma sala especial para aulas como essa, e para cozinhar também. Era grande, com bancadas largas de mármore, com todos os utensílios que poderíamos precisar em cima dele, bancos altos para podermos nos sentar, e a um canto tinha uma dúzia de forninhos. A professora nos ensinou a decorar potes com coisinhas feitas de biscuit. O mais hilário era ver Heero tentando fazer uma joaninha. Se um dia alguém me contasse que eu veria o Soldado Perfeito usando um uniforme colegial feminino, maquiado, com os cabelos arrumados, e moldados joaninhas em biscuit, eu iria mandar essa pessoa para um ótimo sanatório que eu conheço. Eu dei boas risadas com essa aula. Quando o sinal bateu, senti como se toda aquela raiva tivesse se esvaído junto com a farinha que Duo soprou na cara de Wufei.

Segunda aula: física. Essa era uma matéria que eu nunca gostara muito, mas que me fora bastante útil durante a guerra. A professora começou a chamar os nomes dos alunos para entregar uma atividade que tínhamos feito anteontem. Que acertasse o único exercício que ela tinha passado, estava livre da recuperação paralela. Fiquei tranqüilo. Era um exercícios incrivelmente fácil de ser feito. A simples aplicação de uma fórmula.

— Hina Yuy! – a professora chamou

Meu amigo se levantou, pegou a folha e se sentou.

E um nome atrás do outro, ela foi chamando os alunos da sala, passando por Trowa, Wufei e Nielly. Eu esperava, esperava, mas meu nome não era chamado. Ela deve ter deixado o melhor para o fim, para anunciar que eu descobrira um modo inovador de resolver aquela questão, ou coisa parecida. Só entrei em pânico quando a professora cruzou os braços sobre as folhas que ainda estavam em sua mesa e falou:

— Os demais, recuperação depois de amanhã às 16h15.

Fiquei parado, olhando para ela com cara de "eu não acredito".

— Karina Winner. – ela chamou

Absolutamente estupefato, eu me levantei e fui até a mesa dela.

— Querida, o que houve contigo? Um erro tão primário como este? Tens estado um tanto quando aérea em minhas aulas, hum?

Peguei minha folha e notei que eu só tinha invertido os sinais, por descuido, e isso arruinou todo o meu brilhante raciocínio.

— Espero te ver na recuperação amanhã.

O caramba que eu ia aparecer! Era humilhação demais para mim ter que me juntar aos baderneiros.

Tudo o que eu consegui fazer foi dar um sorriso falso para ela, antes de sentir as lágrimas arderem em meu olhos. Agora não dava mais para segurar. Até tentei limpar os primeiros filetes de água que desciam por meu rosto, mas eles voltavam a correr. Humilhado até mais do que eu podia suportar, amassei a folha, e, jogando-a no chão, saí correndo da sala de aula, indo direto para o banheiro.

Bati a porta com força e sentei-me sobre a tampa fechada do vaso, escondendo o rosto com as mãos. Irado, soquei a parede ao meu lado com toda a minha força, entre lágrimas e soluços, gritando desesperadamente. Por quê eu? Por quê justo hoje?

Duo surgiu à minha frente do nada, e eu olhei para ele, esperando um abraço, ou palavras de consolo. Mas tudo o que eu senti foi um tapa voando em direção ao meu rosto.

— O QUE VOCÊ PENSA QUE TÁ FAZENDO, SEU IMBECIL? – ele disse, seu rosto transtornado de raiva

— O que você acha? Tô pilotando um MS, num tá vendo? – ironizei, ainda com lágrimas nos olhos

— SABIA QUE VOCÊ PODERIA TER POSTO TODO O PLANO A PERDER?

Isso me deixou com raiva novamente.

— COMO ASSIM?

— NÃO PODIA TER DEIXADO O SEU SHOWZINHO DE MENININHA HUMILHADA DE LADO?

— AQUILO NÃO FOI ENCENAÇÃO, SEU BAKA!

— AH, QUATRE, TENHA DÓ, NÉ?

— TENHA DÓ VOCÊ, QUE NÃO RESPEITA OS SENTIMENTOS ALHEIOS!

Trowa apareceu na porta do banheiro.

— DÁ PRA VOCÊS DOIS FALAREM MAIS BAIXO? METADE DA ESCOLA DEVE TER OUVIDO A DISCUSSÃO DE VOCÊS! – vociferou ele

Diante do ódio estampado nos olhos verde-esmeralda, eu abaixei minha cabeça, envergonhado de minha atitude. Mas Duo não.

— DANE-SE A ESCOLA! QUATRE QUASE COLOCOU TUDO A PERDER!

— CALE-SE! VOCÊ É QUE ESTÁ ARRUINANDO TUDO! QUERO VER VOCÊ SE EXPLICAR! AJA DE ACORDO!

Só quando Heero e Wufei apareceram ali no banheiro, exasperados, que Duo ficou quieto.

Preciso dizer o que aconteceu depois? Bom, tomamos três semanas de suspensão por gritar daquele jeito na escola, e por sair da sala de aula sem permissão. Pelo menos eu me livrei da recuperação de física.

Todo o caminho de volta para nossa casa, o japonês não proferiu uma única palavra. E eu ficava cada vez mais assustado com esse silêncio. Eu tinha certeza que ele ia explodir assim que estivéssemos em casa, longe de ouvidos alheios.

Íamos emburrados no ônibus. Cada um olhava para uma direção diferente, com as piores caras do mundo. E eu... bom, eu estava profundamente arrependido. Não do que eu fiz, claro. Mas do que aconteceu. Será que acabamos com o plano? O pai da Nielly vai descobrir, e seremos mortos da pior forma possível? Comecei a mexer meus pés nervosamente, de tão incomodado que eu estava.

Nunca o caminho até em casa me pareceu tão longo. A bela construção clara era mais do que convidativa, e foi um alívio avistá-la.

Trowa entrou primeiro, sendo seguido por Wufei, eu, Duo e, por último Heero, que bateu a porta com força, me fazendo estremecer.

— Vocês tem noção do que fizeram? – perguntou ele, entredentes

Silêncio total. A tensão era quase palpável.

— Piloto 04, seu comportamento foi lastimável. – quando ouvi-o me chamar desse modo, senti que ia chorar novamente. Não há coisa que me entristeça mais do que Heero agir como se não fôssemos mais do que soldados. Como se não fôssemos amigos. – Você foi treinado para não agir em função de seus sentimentos. Foi realmente uma decepção para mim. Achei que tivesse mais autocontrole.

Foram as únicas coisas que ele falou, antes de ir para seu quarto, e se trancar lá. Aquelas poucas palavras, mais o olhar de desprezo, me feriram mais do que se ele tivesse me batido, ou gritado comigo até ficar rouco. Um a um, os outros pilotos foram saindo da sala, com olhares cheios de rancor uns para os outros. E eu fiquei lá sozinho com a minha dor e a minha humilhação.

Quase uma semana se passou, e as coisas em casa não mudavam. Quando conversávamos, sempre saía briga. Discutimos mais do que em todos os anos que passamos juntos. Foi muito bom termos pego aquela suspensão, pois assim não colocamos nada em risco. Nielly conseguiu com a direção da escola o nosso telefone, e conversamos com ela algumas vezes naquela semana.

Eu estava na sala zapeando os canais atrás de algo para assistir, quando senti uma pontada muito forte pouco abaixo à minha barriga, na região do quadril. Passou rápido, mas poucos segundos depois veio outra, ainda mais forte. Eu ainda estava me contorcendo no sof�, e Duo apareceu descendo as escadas, todos assustado, com uma calcinha nas mãos. E... tinha sangue ali!

Em poucos segundos já estávamos os cinco ali reunidos. Primeiramente pensamos que ele estivesse machucado, mas Trowa contou que hoje pela manhã, quando acordara, os lençóis estavam com manchas de sangue também.

Será que isso era algo típico das garotas? Apavorados, nós entramos em sites femininos, e Wufei foi até a banca de jornal atrás de revistas femininas.

Horas mais tarde, e muita preocupação e desespero depois, descobrimos que se tratava de algo completamente normal no organismo feminino. E que acontecia uma vez ao mês. Descobrimos também o motivo de toda a nossa irritação: algo chamado TPM.

Eu e Heero fomos até a farmácia mais próxima comprar absorventes. Chegando l�, nos deparamos com um MONTE de marcas e tipos diferentes. Escolhemos uma, e pegamos todos os pacotes que estavam ali na prateleira. Pagamos, e voltamos para casa. Um problema a menos.

N/A: Oi! Gente, eu sei que eu demorei, e o capítulo acabou ficando curtinho, mas... sabe como é, euzinha não costumo ter TPM muito forte então foi meio difícil escrever esse capítulo. Me inspirei na minha irmã e nas minhas amigas. Gostaria de agradecer à Stranger, Ilia-chan, Mayara, Goddess, Pipe, Dark Flower e Duo Maxwell pelos comentários maravilhosos. E espero mais reviews, heim?

E, ó, para todas as meninas que lêem minha fic, uma amiga minha me pediu para dar um aviso: não ignorem cólicas muito fortes, porque isso não é saudável. Procurem um ginecologista para ver se está tudo bem. Eu sei que é chato ficar falando esse tipo de coisa, mas... é preferível ouvir agora a ter problemas mais sérios no futuro, right?