Capítulo 8- Começando o trabalho

Eu estava livre! Livre! Livre para usar meu cabelo do jeito que eu gosto, comer o que me interessa e fazer o que eu quiser na hora em que eu quiser. E sabem por quê?

— Tem certeza de que não vão precisar mais de mim? – perguntou a menina, parada em frente a um carro preto.

Realmente, ela fora de grande ajuda enquanto esteve aqui. A primeira impressão que nos causou não fora tão verdadeira, embora o humor de Serennity pela manhã não fosse o que se pode chamar de agradável, especialmente quando era acordada cedo.

Ela esteve aqui durante uma semana e meia, e nesse tempo, ajudou-nos a obter informações preciosíssimas com Nielly. Aprendemos bem mais sobre o comportamento feminino, o que foi de excelente ajuda. No entanto, ela nos mimava e nos perseguia um pouco demais. Além de acobertar vários encontros de Treize e "Jin Mei", o que muito desagradou Heero.

— Temos. – respondeu o japonês de forma imperativa

Ainda não se sabe quem denunciou a presença dela ali para os doutores, que logo mandaram vir buscá-la, mas tenho meus palpites.

Serennity entrou no carro e acenou para nós, antes do carro dobrar a esquina.

Nós cinco entramos em casa, e nos jogamos nos sofás. Meu olhar instantaneamente se dirigiu a Trowa, que estava sentado na poltrona de frente para mim. Como ele é bonito... não importa o que ele vista, sempre lhe cai bem. Ultimamente eu tenho tido algum trabalho com as minhas reações involuntárias, sabem? Me pego olhando fixamente para Trowa, admirando-o, suspirando sem um motivo aparente quando ele está por perto (mesmo quando está longe, isso acontece ás vezes). Definitivamente, eu estou apaixonado por ele. Meu único problema é: como será que ele reagiria a essa notícia? Além do mais, mesmo considerando as recentes mudanças de sexo, nós dois continuamos sendo de sexos iguais. Não creio que Trowa aprovaria um amor assim. Ele me parece ser tão... conservador.

— Pessoal, não que eu seja a favor disso, mas... nós ainda temos aula hoje, né? – comentou Duo

Céus eu tinha me esquecido! Eu estava tão bem, mergulhado em pensamentos sobre meu deus grego de olhos esmeralda que nem percebi que deveríamos ir à escola.

Subi rapidamente até meu quarto, troquei minha roupa pelo uniforme azul-claro, ajeitei rapidamente o cabelo e saí, com a maleta da escola nas mãos.

Em dez minutos, estávamos todos prontos. Havia pouquíssimo tempo para chegar à escola se não quiséssemos nos atrasar. Espero que o ônibus ao demore...

Qual não foi a minha surpresa (e a dos meus amigos também) ao ver o lustroso conversível vermelho de Treize Kushrenada parado na nossa porta.

— Querem carona? – ele perguntou com um sorriso maroto no rosto.

Eu, Duo, Trowa e Heero olhamos para Wufei, que estava vermelho até a raiz do cabelo.

— Estávamos atrasadas, não? – foi tudo o que ele disse antes de entrar no carro, ocupando o lugar do passageiro, e ralhar baixinho com o rapaz.

Sem outra escolha, entramos no carro, e Treize nos levou em tempo até a escola. Com certeza fora de grande ajuda, mas Wufei enfrentaria um terrível interrogatório mais tarde. Creio que só eu saiba da história completa, do amor já existente do chinês pelo ex-comandante. E Wufei teria que explicar aos outros, se não quisesse ser tirado da missão por conduta imprópria.

Logo que entramos na sala de aula, vimos a figura quieta e um pouco apática de Nielly, sentada no mesmo lugar de sempre. Duo se aproximou rindo, ricocheteando a comprida trança em suas costas.

— Oi, Nielly! Como cê tá?

Ela olhou para nós e sorriu.

— Bem, Diana. E vocês?

Duo fez o "V" com os dedos, indicando que estávamos bem. Heero estava visivelmente irritado, mas pelo visto isso deveria ser ignorado.

— Vocês vão lá em casa hoje, né? – perguntou a garota.

Flashback

Alguns dias atrás, pela manhã.

— Bom dia, pessoal! – disse eu ao entrar na cozinha

— Bom dia. – respondeu Trowa.

Wufei só me olhou e sorriu.

— Quatre, nós estávamos conversando sobre a menina e a missão. Eu e Trowa achamos que já dá pra começar as investigações no local.

— E você e Duo serão de extrema importância. – completou o moreno de olhos verdes, me deliciando com o som de sua voz calma e controlada. Ainda outro dia eu estava imaginando como seria vê-lo completamente descontrolado. Eu tenho tido alguns problemas com sonhos, digamos... "perturbadores"

— Certo.

— Você é a pessoa em quem ela mais confia. E Maxwell é o mais cara-de-pau. Então ele nos convida para passar a tarde na casa dela, e enquanto vocês dois a distraem, eu, Trowa e Heero vamos atrás de informações.

Fim do Flashback

E esse dia era hoje. Hoje que nossa missão chegaria ao fim, e provavelmente depois disso voltaremos às nossas antigas formas. Por que será que demoramos tanto? Voltar a sermos homens não era o que queríamos? De qualquer forma, o fato é que hoje tudo se ajeitará.

— Vamos sim. – responde Trowa, com um sorriso amigável, afastando a franja dos olhos.

— Que bom.

O professor entrou na sala, e a aula começou. História. Eu não gosto muito dessa matéria. E o professor não me ajuda muito, tornando a aula chata e maçante. Tentei prestar atenção nas palavras dele, mas acabei pegando no sono e só acordei com o sinal.

A professora da próxima aula chegou logo, e com ela, o inspetor de alunos.

— Nielly, o inspetor quer falar contigo um instante.

Nossa "amiga" fez que sim com a cabeça e acompanhou o sério inspetor para fora da sala de aula. Nem dez minutos depois, ela aparece de volta, guarda seus materiais e vai embora sem dizer uma só palavra. A srta. Meyer (nossa professora) já deveria estar sabendo de algo, porque não fez nem menção de pará-la. Um aviãozinho de papel escrito por Duo aterrissou em minha mesa.

"O que será que houve?"

Peguei discretamente uma caneta em meu estojo e respondi abaixo da pergunta dele:

"Acho que devemos perguntar à professora se ela sabe de algo e, depois da aula, ir visitar Nielly."

Redobrei o avião e, assim que a srta. Meyer virou-se para o quadro negro, lancei-o de volta para o americano. Em questão de segundos ele acenou positivamente para mim, e avisou aos outros.

Tem algo pior do que achar que a missão será um sucesso, mas quando você está a poucos metros da saída do local, o alarme ser acionado? Não, não tem. E embora nessa missão não haja um alarme a ser acionado, metaforicamente foi exatamente isso que aconteceu.

— Desculpe tê-las feito esperar... – disse Nielly entrando na sala de visitas de sua mansão, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

Ela se sentou ao lado de Duo e deixou-se confortar por ele.

— Sabem, ainda nem acredito que ele esteja morto. Se não tivesse visto o corpo sendo levado pela polícia, acharia que é uma piada de muito mau gosto.

Heero inclinou-se para frente, apoiando o rosto na mão, e o braço na perna cruzada.

— E como isso aconteceu? – ele perguntou

— Ah, parece que foi com tiros. Meu pai andava tendo problemas no trabalho.

Senti a mão de Trowa sobre a minha. Seu dedo indicador discretamente sobre a palma da minha mão, batendo repetidas vezes (1). Uma mensagem em código Morse.

"O pai dela pode ter saído da linha, e os sócios o mataram."

Mais discretamente ainda, inverti as posições, deixando minha mão sobre a dele.

"Ou se arrependido e tentado se entregar." - respondi

"Você e seu senso de justiça... Nunca consegue pensar mal das pessoas, não é?"

"Sabia que a mãe dela morreu num ataque de mobile suits à colônia onde eles moravam quando Nielly era pequena?"

Trowa me olhou sem saber o que responder, e cruzou os braços, deixando claro que a conversa terminara ali. Melhor assim. Tanto porque poderiam descobrir e teríamos que mentir (o que não é legal fazer com uma pessoa que acabou de ter o pai assassinado), quando porque o contato com Trowa ia me fazer enrubescer. Tenho tentado me controlar, eu juro! Mas fica cada vez mais difícil. E fazer alguma coisa a respeito que envolva revelar algo a ele está fora de cogitação.

Uma criada apareceu na porta chamando a menina, e ela saiu por um momento da sala, fechando a porta de correr atrás de si.

— Caracas! – disse o americano, se levantando indignado, e começando a andar pela saleta e agitar os braços – Dá pra acreditar no azar que a gente tem? Temos que agir rápido, antes que alguém suma com as coisas dele.

Ouvimos uma discussão do lado de fora, e abrimos a porta para quer o que era. Três homens de terno e óculos escuros falavam com o mordomo da casa.

— Tarde demais. – comentou Heero.

— Podem ser só os caras da funerária, senhor pessimista. - rebateu meu alegre amigo trançado.

Entramos de novo na sala de estar, e ficamos ali comentando coisas triviais até Nielly voltar.

— Desculpem-me a demora. Tem gente demais aqui e o advogado ainda não chegou.

— Não se preocupe conosco. – disse com um sorriso. Me dava pena vê-la com tanta responsabilidade nos ombros. O mínimo que eu pudesse fazer para aliviá-la um pouco, já me deixaria melhor.

Ela sorriu de volta para mim e, ao som da campainha, pediu-nos desculpa e saiu novamente, dizendo para ficarmos à vontade.

— Essa é a hora.

Concordei com Wufei, e ele, Trowa e Heero, saíram sorrateiramente da sala, indo fazer o trabalho. Eu e Duo ficamos, para distrair Nielly, caso ela voltasse rápido demais.

— Então... – começou Duo, sentando-se ao meu lado. – conte-me tudo, não me esconda nada.

Ri da cara de acusação de meu amigo.

— Não há nada para se contar.

— Como não? – ele estreitou ainda mais os olhos, e aproximou o rosto do meu.

— Simplesmente não!

— Então um certo moreno de olhos verdes agora se chama "nada"?

Eu não ia cair na provocação. Isso era um jogo muito astuto, mas um jogo para dois.

— Não sei de quem você está falando. Mas e quanto a um japonês de olhos azul-cobalto, han?

— Não conheço ninguém...

— Ah, não? Bom, então devo ter imaginado um certo beijo numa certa boate.

As faces de Duo enrubesceram na hora. Ele não sabia que eu sabia, e eu queria desfrutar daquela sensação de superioridade. Depois que ouviu "beijo", ele congelou, e eu disse o resto de forma lenta, quase acusadora.

Mas o Shinigami não ia perder tão rápido. Olhou para os lados um pouco, desconversou mais um pouco, me provocou um pouco mais... e no final mudamos de assunto.

Não demorou muito e Duo estava falando sozinho, enquanto eu focava o olhar em algum ponto da sala e divagava sobre todos os recentes acontecimentos. Fui "acordado" pela porta de correr sendo aberta, e Nielly entrando.

— Onde estão Hina, Jin Mei e Trina?

— Foram até a cozinha tomar água. – respondeu o americano prontamente

Ela afundou numa poltrona. Parecia ainda mais frágil e apática do que hoje pela manhã. Lágrimas brotaram dos olhos amendoados, e eu sabia que nada do que eu dissesse poderia diminuir o sofrimento dela.

Assim que os outros chegaram, nos despedimos dela e voltamos para casa.

Só depois que a porta foi devidamente trancada atrás de nós, Heero falou:

— Tarde demais.

— Então... aqueles caras eram mesmo agentes?

— Não sabemos, Maxwell. – o chinês rodou os olhos, impaciente – Não temos como saber ao certo. Mas eu acho que eram. E levaram tudo o que poderia nos ser útil;

— Resumindo, estamos ferrados!

— E como vamos dizer aos doutores que fracassamos?

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(1) Como as meninas do She Spies fazem (seriado de espionagem do AXN)

N/A: O capítulo demorou, eu sei. Três meses é bastante tempo, mas eu estava de mal com essa fic e não conseguia escrevê-la. Mas, afinal, aqui está o capítulo, espero que tenham gostado.

Agradecimentos à Say-sama, Super Princess Aeka – Kagome, Pime-chan, Jo-kun, Many Lupin Nott, Uchiha Danielle, Ilia-chan, Dead Fairy, Duo Maxwell, MaiMai, Pipe e YumeSangai pelas reviews fofas.