The Morning After

O devaneio de Christine Annette Waters – última parte

Beta-reader: O fiel F7 do Word

Disclaimer: Nada me pertence.

N/A: Eu sei. Demorei demais. Desculpa. Bloqueio criativo...


Eu estou muito cansado, começa a existir um limite

Até a dor eu sinto quando eu sou

Acordado e vivo, vivo, vivo

Vivo e sonhando

(The Morning After – Linkin Park)


Depois de hesitar alguns instantes, Hermione virou-se. Era ela mesmo.

Parkinson havia chegado. Estava suada e descabelada, as vestes desarrumadas e amassadas. Apoiou-se na mesa para descansar da corrida desde as masmorras até a biblioteca, bufando, a respiração irregular. Hermione limitava-se a olhá-la com os olhos ligeiramente arregalados, perguntando-se como diabos a sonserina a havia encontrado ali.

Os relógios marcaram uma hora da tarde. Um barulho de sinos ecoou na Grande Sessão, sobressaltando Pansy e fazendo-a se afastar da mesa. Os olhos verde-mar estavam inquietos, não sabiam para que lado olhar. Passaram do chão para os livros, dos livros para a janela, da janela para... Hermione.

A grifinória deu instantaneamente um passo para trás. Pasifae engueu ligeiramente as sobrancelhas.

"--- O que você está fazendo aqui, Parkinson?"

Uma sombra de sorriso instalou-se nos lábios da outra.

"--- Parkinson? Não precisa ficar na defensiva, Hermione."

Silêncio. Hermione tirou uma mecha de cabelo do rosto e deu as costas à Pansy, indo de novo para a janela. O que era a sombra de um sorriso desenvolveu-se.

"--- Não gosta que eu a chame de Hermione? Ou é o costume de Granger?"

Hermione não desviou os olhos da janela nem respondeu nada. Não tinha idéia do que falar. Era tudo muito confuso. Primeiro acordava nua do lado de Parkinson, a nojenta Pansy Parkinson. Depois ela a chamava de Hermione... era muito irreal.

E o pior é que ela tinha a impressão de que não era a primeira vez que aquilo acontecia. O seu nome saindo dos lábios de Pansy...

"--- Hermione?" – a grifinória estremeceu e virou-se.

"--- Parkinson, qual é o seu problema?" – a grande desgraçada estava sorrindo. Sorrindo.

"--- Meu problema é a sua negação. Porque não enfrenta tudo de frente?" – perguntou Pansy, encarando Hermione. Olhos sufocantes.

"--- Eu não tenho nada o que enfrentar. Nada a discutir com você." – respondeu, desviando o olhar. Pasifae jogou a cabeça pra trás, rindo, um risinho cínico e sem alegria.

"--- Nada? Sabe, negar é o pior caminho. Aconteceu algo entre nós, você sabe muito bem disso."

"--- Parkinson, cuide de sua vida e me deixa em paz."

Houve alguns segundos de silêncio pesado antes que a outra respondesse.

"--- Desde ontem, minha vida está diretamente entrelaçada a sua." – sussurrou.

Hermione respirou pesadamente. Pansy aproximou-se.

"--- Gostaria de saber se você se arrepende."

"--- Estava bêbada, Parkinson."

"--- Não, você não estava bêbada. Eu sei." – afirmou Pansy.

Hermione a encarou.

"--- Está louca? Claro que eu..."

"--- Bêbados trocam palavras, vomitam e ficam tontos até cair no chão. Você não estava assim ontem."

Foi a vez de Hermione ensaiar um riso.

"--- Como sabe? Estava igualmente bêbada."

Pansy desviou o olhar.

"--- Não muito. Sabia o que estava acontecendo."

Hermione parou de respirar. As pupilas dilataram-se para encarar melhor a sonserina. Um sentimento estranho começou a borbulhar dentro dela. Raiva.

"--- Desgraçada. Aproveitou-se de mim."

Pansy voltou a olhar para ela, os olhos brilhando.

"--- Você também." – uma pausa. – "Porque não reconhece que quis fazer aquilo?"

"--- EU NÃO QUIS!" – berrou Hermione, um ódio desesperante subindo pela garganta. Não era, não podia ser...

"--- Quis. Não só você, eu também" – confessou Pasifae, um rubor subindo pelo rosto – "A bebida ajudou, mas não foi a culpada. Por favor, reconheça."

Hermione suspirou pesadamente, tentando se acalmar e pensar. Quando pensava na noite anterior, recordava-se de um turbilhão de cores e sensações intensas. Se estivesse mesmo bêbada, esqueceria-se de muitos fatos. Mas tudo estava bem vivo na mente dela.

Droga.

"--- Eu sei."

"--- Sabe o quê?"

"--- Que a bebida não foi a agente das nossas ações ontem."

Pansy mordeu o lábio.

"--- Mas você não respondeu a minha pergunta."

"--- Se me arrependo? Não sei. Sinceramente. Tudo está muito estranho."

"--- Eu sei, para mim também."

Pansy aproximou-se de Hermione.

"--- Eu gostaria de saber o que vai acontecer agora. Sabe..."

"--- Entre nós."

"--- Isso."

Estava um clima muito estranho no ar. Hermione não sabia se corria ou não.

"--- Isso é tão esquisito, sabe. Nós costumávamos nos odiar."

"--- Ainda nos odiamos?" – perguntou Hermione. Não estava muito certa do que queria ouvir de resposta. Pansy sorriu.

"--- Por mim, não. E por você?"

Houve uma hesitação de segundos antes da resposta.

"--- Não. Era implicância, não ódio." – respirou pesadamente – "Você não parece mais a mesma pessoa, a mesma nojenta Pasifae."

"--- Eu amadureci. Percebi que muitas coisas que eu acreditava eram equivocadas." – seu tom de voz era sincero. Seus olhos também exalavam verdade.

"--- Não é todo dia que se vê uma sonserina sendo honesta, ... Pansy." – era mesmo muito estranho, após anos de xingamentos, ter uma conversa civilizada com a garota e chamá-la pelo primeiro nome. Incrível como o mundo dava voltas.

"--- Isso mostra o quanto você conhece pouco sobre os sonserinos."

"--- Você me fará conhecer?"

As palavras saíram de sua boca antes que pudesse controlá-las. Pansy pareceu surpresa. Depois alguns segundos de suave hesitação, pegou na mão da outra.

"--- Se você quiser, sim. Mas porque está fazendo isso?"

Acabando com a pouca distância que ainda havia entre as duas, Hermione apoiou sua cabeça no ombro da outra, que lentamente e cuidadosamente, passou os braços ao redor dela.

"--- Às vezes, há tanta dor que começa a existir um limite que você não aguenta mais. Então, você tem que fugir e sonhar. Eu não tinha sonhos, a guerra não permitia. Mas agora..."

"--- Há a probabilidade de sonhar?"

"--- Não sei. Talvez. É cedo para ter certeza."

Gotas de chuva começaram a bater na janela. Hermione fechou os olhos, tentando fugir dali, mesmo que por instantes. Pansy também fechou os seus.

Às vezes parecia irreal demais para ser verdade. Impossível demais. Podia não dar certo num mundo como aquele.

Mas em sonhos, certamente daria.