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PARTE II - O PRIMEIRO ENCONTRO DEPOIS DE ANOS
Era sábado de manhã, e Lex Luthor decidiu passar o final de semana em Smallville, adiando negócios que tinha a resolver em Metropolis, por causa de um telefonema mais do que inesperado.
Enquanto esperava a hora marcada, Lex divagou em seus pensamentos, sentado no seu divã em frente à lareira, e voltou no tempo, alguns anos antes, quando era um adolescente rebelde, no Ginásio Excelsior, e estava sempre sob o olhar atento do diretor Reynolds. Lex lembrou de como os garotos implicavam com ele, como o encurralavam durante os intervalos e como o surravam. Claro, um dia, tudo mudou. Seu chófer o ensinou a lutar e uma vez reagindo, nunca mais implicaram com ele. Mas Lex lembrava de algum tempo antes disso acontecer, quando ainda era perseguido implacavelmente pelos seus colegas na escola, e lembrou de um dia, depois de levar uma surra de alguns garotos, quando fugiu do colégio. Cansado de todo aquele primitivismo, daquela intolerância e discriminação, o garoto de doze anos correu pelas ruas de Metropolis, sem rumo certo, vestindo seu uniforme de colégio particular. Não demorou muito para chamar a atenção de algumas pessoas, entre elas, um grupo de garotos que não tinha nada mais para fazer além de roubar e praticar quaisquer outros atos de delinqüência.
Cansado de correr, Lex parou próximo de um beco, e enquanto tentava recuperar o fôlego, e descobrindo, pela primeira vez, que seu nariz sangrava por causa da surra que havia levado no colégio, também notou os três garotos que vinham na sua direção. Vendo que um deles segurava um canivete, Lex correu o mais rápido que podia, enquanto os garotos tentavam alcançá-lo. Alguns quarteirões à frente, conseguiu despistá-los e entrou num outro beco, onde se escondeu num latão de lixo. Alguns minutos se passaram e Lex podia ouvi-los cochichar não muito longe dali. E ele transpirava, e segurava a respiração ofegante para que não o percebessem. Quase vinte minutos depois, quando já não os ouvia mais e acreditava que já podiam estar longa, ainda assim, Lex continuava com medo, e imóvel, ficava imaginando como seria se tudo fosse diferente. Foi, então, que a viu pela primeira vez. Seu rosto delicado surgiu na abertura do latão de lixo, e como se fosse um anjo, ela sorriu e disse:
"Pode sair, eles já foram".
Lex abriu os olhos. Eram lembranças tristes, porém, com pequenos momentos agradáveis. E teve certeza que reencontrar Lisa, há algumas semanas atrás, na Clínica Veterinária de Smallville, onde agora trabalha como médica- veterinária (02), era como reviver a primeira vez que a viu. Era um alívio num momento tão perturbador de sua vida. Era como se ela fosse mesmo um anjo de luz que aquecesse seu coração nos momentos mais difíceis.
Enquanto pensava e recordava, Lex tomava um gole de seu conhaque e lia um impresso que um detetive particular lhe deu quarto anos antes, quando o contratou para encontrar Lisa. No relatório, o detetive dizia que havia perdido qualquer informação a respeito do paradeiro dela, logo depois da morte do irmão dela, Martin, quando ela estava no segundo ano da faculdade e ainda não sabia que carreira pretendia seguir. Dois anos depois, Lex tentou reencontra-la, mas nunca mais teve qualquer pista. E ele sorriu. Era mesmo uma ironia reencontrá-la em Smallville. Mas sua estória ainda estava cheia de lacunas e, intrigado, Lex já havia contatado o mesmo detetive para continuar a investigação, informando-lhe a localização de Lisa. Alguma coisa lhe dizia que devia tentar, por mais que ela tenha parecido hostil.
E pensando na sua hostilidade, Lex revigorou suas lembranças, ao recordar da última vez que a viu, na noite da morte de Martin. Dois anos antes, ela havia casado com o jovem e ambicioso Felix Rockwell. Foi quando a amizade ficou abalada, como se o marido a impedisse de vê-lo. Lex jamais esqueceria daquela noite, quando ela o procurou, implorando que nunca mais lhe telefonasse. Mais uma vez, Lex olhou para o relatório do detetive. Olhou no relógio sobre sua mesa, e viu que as horas haviam se passado depressa. Levantou-se, vestiu o casaco, tomou mais um gole de seu conhaque e saiu.
Quando chegou à represa Saunders Gorge (03), onde Lisa havia combinado o encontro, Lex a viu a alguns metros do seu carro, um jipe, olhando para o rio abaixo. O vento batia nas suas longas madeixas castanhas, e ela vestia um casaco fino comprido, pois embora fossem dias quentes de um final de verão, aquela era uma manhã nebulosa. Enquanto Lex se aproximava, ela o percebia. Mas Lisa só se virou para vê-lo quando ele já estava bastante próximo. Lex estava sereno. Não sabia do que iriam falar. E ela estava introspectiva.
"Quero me desculpar pelo outro dia", disse ela, subitamente. "Fui um tanto grosseira".
Lex pensou em concordar, mas preferiu omitir sua opinião sobre aquele dia. Imaginava que ela devia ter bons motivos para destratá-lo daquele modo.
"Tem alguma coisa a ver com a última vez que nos vimos?", perguntou ele.
Lisa não desviou o olhar, não era do seu feitio desviar o olhar, por mais que não gostasse de lembrar daquela noite, quando foi ao seu apartamento, e pediu que nunca mais lhe telefonasse. Depois disso, mesmo Lex tendo ido à sua procura, sabendo que alguma coisa estava errada, nunca mais a viu. Lisa havia desapareceido. E agora ela estava ali, diante dele, e ele hesitava perguntar o quê estava acontecendo. Não sabia os motivos. Talvez não quisesse perdê-la novamente.
"Sabe que sim, Lex", respondeu ela.
Ele demonstrou surpresa, e Lisa explicou:
"Soube que andou me procurando, que contratou um detetive particular e tudo mais. Precisei sumir, para que nunca mais fosse encontrada".
"Por quê?", indagou Lex, confuso, com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco, e também surpreso por ela ter descoberto a respeito do detetive e tê-lo despistado, mesmo sendo o melhor que Lex já contratou.
"Sabe, já foi há tanto tempo, que acho que não tem mais problema falar nisso", disse ela, caminhando em direção à beirada da represa. Lex se aproximou dela, olhando para onde ela olhava agora, as águas do rio que batiam nas pedras.
Lisa então se virou e encarou Lex.
"Felix matou meu irmão naquela noite que procurei você para dizer que não me procurasse mais", disse ela.
Lex ficou surpreso. Na verdade, lembrava que a morte de Martin jamais havia sido bem esclarecida. A polícia jamais deduziu que tivesse sido um homicídio doloso, mas culposo, tendo o autor do atropelamento apenas se desesperado e fugido do local. Mas Lisa confirmava: havai sido premeditado.
"Ele tinha um ciúmes louco de você, Lex", explicou ela, cruzando os braços. "Quando casamos, ele começou a me espancar".
"Por que nunca me contou nada?", perguntou Lex, estarrecido. Na verdade, ele não sabia o quê pensar. Estava desapontado pela falta de confiança de Lisa e pela impotência de jamais ter percebido que sua melhor amiga estava precisando de ajuda.
Lisa sorriu.
"Eu não podia", disse ela, agora com o olhar perdido. "Ele me mataria. E soube provar que era bem capaz disso quando matou Martin".
"Se eu soubesse, ele teria pago por isso", disse Lex, com o olhar faiscando. Lembrava de Martin. Era dois anos mais novo que Lisa, e era típico irmão protetor. No mínimo, pensava Lex, devia ter tentado protegê-la do marido, e este o matou. "E por que nunca procurou a polícia?"
"Ele era um bandido", explicou Lisa, e Lex percebeu que ela estava prestes a desabar. Lembrava que ela era forte e que conseguia segurar as lágrimas como ninguém, mas aquele era o seu limite. Ela estava com medo. E Lex jamais a viu daquele jeito. "Vivia em meio a bandidos e eu só descobri isso quando era tarde demais, Lex".
"E onde ele está agora?", perguntou ele, que na verdade desejava, mais do que nunca, abraçá-la, confortá-la e protegê-la, como muitas vezes ela o fez, principalmente nos momentos mais difíceis de sua juventude, desde as perseguições no colégio até os meses terríveis que se seguiram após a morte de Julian.
"Não sei", respondeu ela. "Quando soube da morte do Martin, fugi. Viajei por todo o país, mudei meu nome para Morgan, que era o nome de solteira de minha mãe, terminei minha faculdade em Nova York, e vim para o Kansas. Encontrei essa cidade, perfeita para pessoas que estão fugindo de alguma coisa, e recomecei minha vida aqui há quase quatro anos".
"Sabe que não pode fugir a vida inteira", disse ele. "Temos que procurar a polícia de Metropolis. Posso ajudá-la com isso tudo".
"Não, Lex", recusou ela, balançando a cabeça. "Nunca mais vou vê-lo".
Lex levantou as sobrancelhas, confuso, e ela explicou:
"Mesmo sabendo que você estava em Smallville, há mais de dois anos, sempre achei que conseguiria evitá-lo, até aquele dia que você apareceu na minha clínica. Era um risco que eu estava correndo. Como aconteceu, vou fazer o que prometi a mim mesma que faria se isso aocntecesse: mudar. E nunca mais vamos nos encontrar".
Lex procurou a mão de Lisa e, embora ela o tenha recusado, sentir o contato dele foi bm, e ela cedeu. Lex cobriu sua mão delicada com as suas e olhando bem nos seus olhos, disse:
"Não tem que fugir de mim. Não tem que fugir de mais ninguém, Lisa. Viva a sua vida como a estava vivendo nesses últimos anos. Se quiser, não precisamos nos ver".
"Se você me encontrou, Felix também pode", disse ela, então, tirando sua mão do aconchego das mãos de Lex Luthor.
"Precisa de alguém por perto, Lisa", disse ele. "Eu posso ajudá-la. Sabe que pode contar comigo".
Lisa sorriu.
"Não, Lex. Não posso", e antes que ele perguntasse o motivo para aquela afirmativa, ela disse: "Algumas noites depois que Martin morreu, eu estava vivendo num quarto de hotel planejando como faria para ir para outra cidade. E eu fui procurá-lo no Zero Club, para pedir sua ajuda. Foi quando o vi com Amanda Rothman (04)".
Lex a ouvia atentamente. Lembrava que, naqueles dias, Amanda ainda não estava noiva de Jude Royce, e que, assim como Lisa, era apenas uma grande amiga sua, com quem saía nas noites de Metropolis.
"Vocês estavam se beijando", concluiu ela.
Lex ficou surpreso. Não lembrava de ter beijado Amanda, mas quando Lisa lhe contou que os viu, ficou pensativo, até recordar que podia mesmo ter havido algum momento que, embriagados, podiam ter se beijado. Contudo, ainda assim, o motivo pelo qual aquilo podia compelir Lisa de procurá-lo não estava nítido.
"E o quê a impediu de falar comigo, Lisa?", perguntou ele, fingindo não compreender.
"Não quero falar mais sobre isso, Lex", disse, então ela, mostrando-se visivelmente constrangida, dando-lhe as costas.
Lex ficou pensativo. Gostaria de lembrar mais daqueles dias conturbados. Sabia que o casamento de Lisa havia sido uma surpresa, mas começava a lembrar que as coisas entre eles já tinham mudado depois de conhecerem Amanda. Lex então pegou Lisa pelo cotovelo e, gentilmente, fez com que ela se virasse para ele.
"Por que nunca me disse?", perguntou ele.
Uma lágrima rolou pela face dela, e Lex a abraçou, finalmente.
Continua...
...
NOTAS:
(02) Referente à fanfiction "Branco", capítulo 7, "Amigos para sempre".
(03) Mesma represa em que Erci Summers e Clark sofreram um acidente com um raio, em "Leech", na primeira temporada, episódio #1.12 e onde Perry White tentou testar os poderes de Clark, em "Perry", na terceira temporada, episódio #3.05.
(04) Amanda Rothman era a amiga de Lex Luthor que estava noiva de Jude Royce e que morreu num acidente no Zero Club, em "Zero", na primeira temporada, episódio #1.14.
PARTE II - O PRIMEIRO ENCONTRO DEPOIS DE ANOS
Era sábado de manhã, e Lex Luthor decidiu passar o final de semana em Smallville, adiando negócios que tinha a resolver em Metropolis, por causa de um telefonema mais do que inesperado.
Enquanto esperava a hora marcada, Lex divagou em seus pensamentos, sentado no seu divã em frente à lareira, e voltou no tempo, alguns anos antes, quando era um adolescente rebelde, no Ginásio Excelsior, e estava sempre sob o olhar atento do diretor Reynolds. Lex lembrou de como os garotos implicavam com ele, como o encurralavam durante os intervalos e como o surravam. Claro, um dia, tudo mudou. Seu chófer o ensinou a lutar e uma vez reagindo, nunca mais implicaram com ele. Mas Lex lembrava de algum tempo antes disso acontecer, quando ainda era perseguido implacavelmente pelos seus colegas na escola, e lembrou de um dia, depois de levar uma surra de alguns garotos, quando fugiu do colégio. Cansado de todo aquele primitivismo, daquela intolerância e discriminação, o garoto de doze anos correu pelas ruas de Metropolis, sem rumo certo, vestindo seu uniforme de colégio particular. Não demorou muito para chamar a atenção de algumas pessoas, entre elas, um grupo de garotos que não tinha nada mais para fazer além de roubar e praticar quaisquer outros atos de delinqüência.
Cansado de correr, Lex parou próximo de um beco, e enquanto tentava recuperar o fôlego, e descobrindo, pela primeira vez, que seu nariz sangrava por causa da surra que havia levado no colégio, também notou os três garotos que vinham na sua direção. Vendo que um deles segurava um canivete, Lex correu o mais rápido que podia, enquanto os garotos tentavam alcançá-lo. Alguns quarteirões à frente, conseguiu despistá-los e entrou num outro beco, onde se escondeu num latão de lixo. Alguns minutos se passaram e Lex podia ouvi-los cochichar não muito longe dali. E ele transpirava, e segurava a respiração ofegante para que não o percebessem. Quase vinte minutos depois, quando já não os ouvia mais e acreditava que já podiam estar longa, ainda assim, Lex continuava com medo, e imóvel, ficava imaginando como seria se tudo fosse diferente. Foi, então, que a viu pela primeira vez. Seu rosto delicado surgiu na abertura do latão de lixo, e como se fosse um anjo, ela sorriu e disse:
"Pode sair, eles já foram".
Lex abriu os olhos. Eram lembranças tristes, porém, com pequenos momentos agradáveis. E teve certeza que reencontrar Lisa, há algumas semanas atrás, na Clínica Veterinária de Smallville, onde agora trabalha como médica- veterinária (02), era como reviver a primeira vez que a viu. Era um alívio num momento tão perturbador de sua vida. Era como se ela fosse mesmo um anjo de luz que aquecesse seu coração nos momentos mais difíceis.
Enquanto pensava e recordava, Lex tomava um gole de seu conhaque e lia um impresso que um detetive particular lhe deu quarto anos antes, quando o contratou para encontrar Lisa. No relatório, o detetive dizia que havia perdido qualquer informação a respeito do paradeiro dela, logo depois da morte do irmão dela, Martin, quando ela estava no segundo ano da faculdade e ainda não sabia que carreira pretendia seguir. Dois anos depois, Lex tentou reencontra-la, mas nunca mais teve qualquer pista. E ele sorriu. Era mesmo uma ironia reencontrá-la em Smallville. Mas sua estória ainda estava cheia de lacunas e, intrigado, Lex já havia contatado o mesmo detetive para continuar a investigação, informando-lhe a localização de Lisa. Alguma coisa lhe dizia que devia tentar, por mais que ela tenha parecido hostil.
E pensando na sua hostilidade, Lex revigorou suas lembranças, ao recordar da última vez que a viu, na noite da morte de Martin. Dois anos antes, ela havia casado com o jovem e ambicioso Felix Rockwell. Foi quando a amizade ficou abalada, como se o marido a impedisse de vê-lo. Lex jamais esqueceria daquela noite, quando ela o procurou, implorando que nunca mais lhe telefonasse. Mais uma vez, Lex olhou para o relatório do detetive. Olhou no relógio sobre sua mesa, e viu que as horas haviam se passado depressa. Levantou-se, vestiu o casaco, tomou mais um gole de seu conhaque e saiu.
Quando chegou à represa Saunders Gorge (03), onde Lisa havia combinado o encontro, Lex a viu a alguns metros do seu carro, um jipe, olhando para o rio abaixo. O vento batia nas suas longas madeixas castanhas, e ela vestia um casaco fino comprido, pois embora fossem dias quentes de um final de verão, aquela era uma manhã nebulosa. Enquanto Lex se aproximava, ela o percebia. Mas Lisa só se virou para vê-lo quando ele já estava bastante próximo. Lex estava sereno. Não sabia do que iriam falar. E ela estava introspectiva.
"Quero me desculpar pelo outro dia", disse ela, subitamente. "Fui um tanto grosseira".
Lex pensou em concordar, mas preferiu omitir sua opinião sobre aquele dia. Imaginava que ela devia ter bons motivos para destratá-lo daquele modo.
"Tem alguma coisa a ver com a última vez que nos vimos?", perguntou ele.
Lisa não desviou o olhar, não era do seu feitio desviar o olhar, por mais que não gostasse de lembrar daquela noite, quando foi ao seu apartamento, e pediu que nunca mais lhe telefonasse. Depois disso, mesmo Lex tendo ido à sua procura, sabendo que alguma coisa estava errada, nunca mais a viu. Lisa havia desapareceido. E agora ela estava ali, diante dele, e ele hesitava perguntar o quê estava acontecendo. Não sabia os motivos. Talvez não quisesse perdê-la novamente.
"Sabe que sim, Lex", respondeu ela.
Ele demonstrou surpresa, e Lisa explicou:
"Soube que andou me procurando, que contratou um detetive particular e tudo mais. Precisei sumir, para que nunca mais fosse encontrada".
"Por quê?", indagou Lex, confuso, com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco, e também surpreso por ela ter descoberto a respeito do detetive e tê-lo despistado, mesmo sendo o melhor que Lex já contratou.
"Sabe, já foi há tanto tempo, que acho que não tem mais problema falar nisso", disse ela, caminhando em direção à beirada da represa. Lex se aproximou dela, olhando para onde ela olhava agora, as águas do rio que batiam nas pedras.
Lisa então se virou e encarou Lex.
"Felix matou meu irmão naquela noite que procurei você para dizer que não me procurasse mais", disse ela.
Lex ficou surpreso. Na verdade, lembrava que a morte de Martin jamais havia sido bem esclarecida. A polícia jamais deduziu que tivesse sido um homicídio doloso, mas culposo, tendo o autor do atropelamento apenas se desesperado e fugido do local. Mas Lisa confirmava: havai sido premeditado.
"Ele tinha um ciúmes louco de você, Lex", explicou ela, cruzando os braços. "Quando casamos, ele começou a me espancar".
"Por que nunca me contou nada?", perguntou Lex, estarrecido. Na verdade, ele não sabia o quê pensar. Estava desapontado pela falta de confiança de Lisa e pela impotência de jamais ter percebido que sua melhor amiga estava precisando de ajuda.
Lisa sorriu.
"Eu não podia", disse ela, agora com o olhar perdido. "Ele me mataria. E soube provar que era bem capaz disso quando matou Martin".
"Se eu soubesse, ele teria pago por isso", disse Lex, com o olhar faiscando. Lembrava de Martin. Era dois anos mais novo que Lisa, e era típico irmão protetor. No mínimo, pensava Lex, devia ter tentado protegê-la do marido, e este o matou. "E por que nunca procurou a polícia?"
"Ele era um bandido", explicou Lisa, e Lex percebeu que ela estava prestes a desabar. Lembrava que ela era forte e que conseguia segurar as lágrimas como ninguém, mas aquele era o seu limite. Ela estava com medo. E Lex jamais a viu daquele jeito. "Vivia em meio a bandidos e eu só descobri isso quando era tarde demais, Lex".
"E onde ele está agora?", perguntou ele, que na verdade desejava, mais do que nunca, abraçá-la, confortá-la e protegê-la, como muitas vezes ela o fez, principalmente nos momentos mais difíceis de sua juventude, desde as perseguições no colégio até os meses terríveis que se seguiram após a morte de Julian.
"Não sei", respondeu ela. "Quando soube da morte do Martin, fugi. Viajei por todo o país, mudei meu nome para Morgan, que era o nome de solteira de minha mãe, terminei minha faculdade em Nova York, e vim para o Kansas. Encontrei essa cidade, perfeita para pessoas que estão fugindo de alguma coisa, e recomecei minha vida aqui há quase quatro anos".
"Sabe que não pode fugir a vida inteira", disse ele. "Temos que procurar a polícia de Metropolis. Posso ajudá-la com isso tudo".
"Não, Lex", recusou ela, balançando a cabeça. "Nunca mais vou vê-lo".
Lex levantou as sobrancelhas, confuso, e ela explicou:
"Mesmo sabendo que você estava em Smallville, há mais de dois anos, sempre achei que conseguiria evitá-lo, até aquele dia que você apareceu na minha clínica. Era um risco que eu estava correndo. Como aconteceu, vou fazer o que prometi a mim mesma que faria se isso aocntecesse: mudar. E nunca mais vamos nos encontrar".
Lex procurou a mão de Lisa e, embora ela o tenha recusado, sentir o contato dele foi bm, e ela cedeu. Lex cobriu sua mão delicada com as suas e olhando bem nos seus olhos, disse:
"Não tem que fugir de mim. Não tem que fugir de mais ninguém, Lisa. Viva a sua vida como a estava vivendo nesses últimos anos. Se quiser, não precisamos nos ver".
"Se você me encontrou, Felix também pode", disse ela, então, tirando sua mão do aconchego das mãos de Lex Luthor.
"Precisa de alguém por perto, Lisa", disse ele. "Eu posso ajudá-la. Sabe que pode contar comigo".
Lisa sorriu.
"Não, Lex. Não posso", e antes que ele perguntasse o motivo para aquela afirmativa, ela disse: "Algumas noites depois que Martin morreu, eu estava vivendo num quarto de hotel planejando como faria para ir para outra cidade. E eu fui procurá-lo no Zero Club, para pedir sua ajuda. Foi quando o vi com Amanda Rothman (04)".
Lex a ouvia atentamente. Lembrava que, naqueles dias, Amanda ainda não estava noiva de Jude Royce, e que, assim como Lisa, era apenas uma grande amiga sua, com quem saía nas noites de Metropolis.
"Vocês estavam se beijando", concluiu ela.
Lex ficou surpreso. Não lembrava de ter beijado Amanda, mas quando Lisa lhe contou que os viu, ficou pensativo, até recordar que podia mesmo ter havido algum momento que, embriagados, podiam ter se beijado. Contudo, ainda assim, o motivo pelo qual aquilo podia compelir Lisa de procurá-lo não estava nítido.
"E o quê a impediu de falar comigo, Lisa?", perguntou ele, fingindo não compreender.
"Não quero falar mais sobre isso, Lex", disse, então ela, mostrando-se visivelmente constrangida, dando-lhe as costas.
Lex ficou pensativo. Gostaria de lembrar mais daqueles dias conturbados. Sabia que o casamento de Lisa havia sido uma surpresa, mas começava a lembrar que as coisas entre eles já tinham mudado depois de conhecerem Amanda. Lex então pegou Lisa pelo cotovelo e, gentilmente, fez com que ela se virasse para ele.
"Por que nunca me disse?", perguntou ele.
Uma lágrima rolou pela face dela, e Lex a abraçou, finalmente.
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NOTAS:
(02) Referente à fanfiction "Branco", capítulo 7, "Amigos para sempre".
(03) Mesma represa em que Erci Summers e Clark sofreram um acidente com um raio, em "Leech", na primeira temporada, episódio #1.12 e onde Perry White tentou testar os poderes de Clark, em "Perry", na terceira temporada, episódio #3.05.
(04) Amanda Rothman era a amiga de Lex Luthor que estava noiva de Jude Royce e que morreu num acidente no Zero Club, em "Zero", na primeira temporada, episódio #1.14.
