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PARTE V - DIANA PRINCE

"Você está bem, garoto?", perguntou ela, enquanto Clark se levantava com dificuldade, ainda enfraquecido por causa do contato com a kryptonita do anel de Hector.

"Estou", respondeu Clark, olhando para a estrada, e imaginando para onde teriam ido e onde estariam Chloe e Lana.

"Bom, então acho que posso deixá-lo aqui mesmo", disse ela. "Consegue se virar sozinho?"

Clark ainda estava um pouco atordoado, mas recuperava sua força aos poucos, enquanto também já conseguia ficar em pé. A garota o ajudou a se recompor, mas era desnecessário. Longe da kryptonita, Clark Kent estava revigorado, e as cicatrizes que Hector deixou em sua face, logo sumiram. Ao ver suas feridas se fecharem, a garota ficou curiosa, porém, limitou-se apenas a observá-lo. Clark deu alguns passos à frente e ficou olhando para a estrada, pensativo. Imaginou, então, que Chloe e Lana podiam estar em cativeiro na própria casa de Eric Marsh, já que o local estava abandonado há meses. Tinha que salvar Chloe e Lana. As duas garotas da sua vida. Clark pensou em usar sua super-velocidade para segui-los, mas ainda estava fraco. No entanto, acreditando que aos poucos se restabeleceria defintivamente, começou a caminhar na estrada, na direção para onde os motoqueiros seguiram.

Porém, a garota foi ao seu alcance e o segurou.

"Onde pensa que vai?", perguntou ela.

Clark parou de caminhar, e sem tirar os olhos da via, ficou em silêncio por uns instantes, depois olhou para ela. Era sua única esperança.

"Tem que me ajudar", disse ele.

A garota não sabia o quê dizer. Ele não parecia em condições de fazer qualquer coisa, entretanto, estava disposto a seguir o bando que o estava surrando instantes antes dela chegar. Era confuso demais para entender.

"Eles raptaram duas amigas minhas", explicou-lhe Clark, acreditando que podia confiar nela, "e podem feri-las, ou mesmo matá-las se não fizermos alguma coisa".

"Espere um instante", disse ela, interrompendo-o, "por que, então, você não chama as autoridades dessa cidade? Não é para isso que eles servem?"

"Você não entende", disse Clark.

E ela não entendia mesmo. Porém, sabia que ele falava a verdade, embora fosse um homem. Ficou olhando para a estrada, enquanto ele parecia se recompor. Sim, Clark já começava a se sentir melhor. Longe da kryptonita, tornava-se gradativamente revigorado.

"Tudo bem", disse ela. "E você vai correndo? Sendo que tem uma caminhonete bem ali atrás?"

"Como é seu nome?", perguntou ele, indiferente às suas indagações. Tinha que salvar Chloe e Lana, a qualquer custo.

"Diana Prince", respondeu ela.

"Diana, faça-me um favor", disse ele, entregando um molho de chaves, "pegue minha caminhonete e siga em frente. Há uma delegacia de polícia à alguns quilômetros, tem várias placas pela estrada, que indicam o caminho. Procure a xerife Nancy Adams e diga para ir à casa dos Marsh, com máxima urgência".

"Espere!", exclamou ela, quando Clark lhe deu as costas e começou a correr normalmente pela rua, atrás dos Demônios da Noite.

"Por favor, faça o que eu disse", pediu Clark, já a alguns metros dela. "Eles podem machucá-las!"

Ao ouvir que as duas garotas corriam perigo, Diana reconsiderou e deu-lhe as costas e caminhou na direção da caminhonete, porém, achou que podia ajudá-lo de outra forma. Virou-se, então, para Clark, e disse:

"Eu posso ajudar!"

Mas Clark havia sumido. Diana olhou para o molho de chaves na palma de sua mão e depois para a caminhonete.

...

Quando Clark chegou à casa dos Marsh, com sua super-velocidade, descobriu que não havia nada lá. Escaneou toda a área com sua visão de raio-x, e não havia qualquer sinal do bando. Contudo, mesmo assim, ele entrou na residência, jogando para longe o ferrolho da fechadura apenas com a ponta do dedo. Caminhou pela mobília coberta com lençóis, examinando tudo, cada detalhe da casa. Era evidente, para ele, que alguém havai estado lá, já que tudo parecia for a de ordem, e a cozinha parecia ter sido totalmente violada. Havai restos de comida por toda a pia. Era recente. E no cesto de lixo, viu diversas latas de cerveja. Abriu, então, a porta do porão e desceu cuidadosamente as escadas, depois de acender a luz. Olhou à volta, mas não havia qualquer sinal de Chloe ou Lana.

Confuso, Clark continuou escaneando tudo o que podia, e viu, num pilar, um pedaço de fita adesiva. Pegou-a e viu que havia marca de batom vermelho, a mesma cor de Chloe usava quando a viu pela última vez. Certamente aquela fita havia sido usada para cobrir sua boca. Pensativo, Clark tentou imaginar onde eles podiam tê-las levado. Precisava ser rápido. As duas corriam grave perigo. Então, ele voltou para a cozinha, e antes de fazer o caminho de volta, para a saída, ouviu um barulho. Cauteloso e usando sua super-audição, Clark descobriu que o barulho vinha da porta da entrada e se aproximava da cozinha, onde ele estava. Quando viu o vulto passar por ele, descobriu quem era:

"O quê faz aqui?", perguntou ele.

Diana se virou e viu Clark.

"Como chegou tão depressa?", perguntou ele, já não mais tão surpreso com as suas capacidades.

"Eu quero ajudar", disse ela, desconversando. "Se tem duas pessoas inocentes que estão correndo risco de vida, é o mínimo que posso fazer".

Clark acendeu a luz da cozinha e achou que, afinal, era mesmo hora de saber quem era aquela garota. Jamais a tinha visto antes e, por mais que estivesse preocupado com suas amigas, também o intrigava muito aquela desconhecida de força sobre-humana, com poderes tão parecidos com os seus, exceto pela fraqueza diante da kryptonita. Por um instante, ficou imaginando se ela também seria de Krypton. Notou, então, os braceletes de couro que ela usava, e lembrou de tê-la visto usá-los para defender-se dos disparos da arma de fogo usada por um dos motoqueiros na ponte. Percebeu, então, que por conta do feito, não deviam ser eles simples braceletes de couro.

"Você não é daqui, não é mesmo?", perguntou Clark, lembrando de tê-la visto usar sua super-força na ponte e, agora, de possivelmente ter usado sua super-velocidade para alcançá-lo.

"Você também não é", disse ela, subitamente, sem responder a sua pergunta. "Senão, não tinha como chegar aqui tão depressa".

Clark ficou supreso com o comentário dela. E estavam os dois, na verdade, sendo por demais de cautelosos um com o outro. Ambos tinham segredos, e ainda se questionavam se podiam confiar um no outro.

"Muito bem", disse ele, confuso com todos aqueles últimos acontecimentos, desde a descoberta do seqüestro de Chloe e Lana, do incidente na ponte e, agora, aquela garota. "Vamos resolver isso de uma vez. Tem alguma coisa a ver com a chuva de metoros?", perguntou ele, arriscando o mais longe que achava que estava da verdade a respeito de Diana, pois, como a chuva de meteoros havia afetado tantas pessoas em Smallville, já nem chegava mais a ser um segredo, e um palpite em falso, sem mencionar Krypton, podia não comprometer seu segredo, por mais que ela já podia saber a seu respeito.

"Que chuva de meteoros?", perguntou ela, confusa.

Clark ergueu as sobrancelhas. Ela não sabia da chuva de meteoros, logo, não era mesmo dali.

"Então, quem é você?", perguntou ele.

Diana tocou no peitoral de Clark, que se surpreendeu com o gesto, e deu-lhe um pequeno empurrão, sem ter que se esforçar demais, e Clark se surpreendeu pelo fato dela conseguir faze-lo ir um pouco para trás, com sua força. Ambos notaram que eram mesmo extremamente fortes. Logo, tinham mais do que a certeza de que, tanto um, como outro, não eram comuns.

"Quem é você?", perguntou ela, encarando Clark com denotada preocupação. Dando-se conta de que ainda não havia se apresentado a ela, Clark disse seu nome, mas não era isso que Diana queria saber. "É algum semi-deus? Algum enviado de Hercules para me prender na Terra?", perguntou ela, visivelmente preocupada.

Confuso, Clark perguntou o quê ela estava dizendo, e Diana, acreditando que ele realmente não sabia de nada, desconversou:

"Esqueça o quê eu disse", disse ela, ajeitando a mochila nas costas. "Se você fosse mesmo um semi-deus enviado por Hercules, já teria tentado me capturar".

"Diana, acho que esse mistério todo está começando a ser desnecessário", comentou Clark, então. Ela o encarou, e achou que ele estava certo. Tirou, então, a mochila das costas e pegou um amuleto dourado. Clark ficou olhando aquilo, confuso, enquanto ela colocava a mochila ao chão e pedia para ele segurá-lo. Clark hesitou, e ela simplesmente pegou sua mão e colocou a sua palma sobre o amuleto que estava palma da mão dela. Uma luz brilhou entre suas mãos, por alguns instantes, e Clark ficou observando-a. Quando a luz se apagou, Diana tirou sua mão gentilmente, ainda segurando o amuleto, e disse:

"Agora eu sei".

Confuso, Clark ficou preocupado, mas antes que dissesse qualquer coisa, ela explicou:

"Agora eu sei que posso confiar em você".

"O quê foi isso?", perguntou ele, referindo-se ao pequeno ritual que haviam feito.

"Você não é um homem comum", disse ela. "Eu pude ver isso com esse amuleto, um presente de Afrodite. Com ele, posso ver a alma das pessoas. E a sua, é íntegra e extremamente benevolente. Ou seja, você é incapaz de fazer mal a qualquer ser".

"Afrodite?", indagou Clark, perplexo. Agora, definitivamente, não entendia mais nada. Estavam ali, no meio da cozinha da casa de Eric Marsh, na tentativa de descobrir onde estavam Chloe e Lana, e Clark se defrontava com uma estranha que antes ele achava que fosse de Krypton e, agora, fazia citações à mitologias grega?

"Tudo bem", disse ela. "Agora sei que posso confiar em você".

Clark a ouvia atentamente.

"Realmente, não sou daqui", disse ela. "Sou de muito mais longe do que você possa imaginar. Venho de Amazonia, um reino formado apenas por mulheres, sob a proteção da Deusa Afrodite", e antes que Clark se manifestasse, ela continuou: "Vivemos na Ilha Paraíso, também chamada Themiscyra, próximo do Rio Thermoden, ao sul da costa do Mar Negro".

"E o quê faz aqui?", perguntou Clark.

"Pedi à minha mãe que me deixasse conhecer o mundo dos homens, pois tudo o que sabemos é que se trata de um lugar repleto de injustiças e atrocidades. Nunca acreditei que pudesse ser apenas isso. Ela se recusou e, para mim, saber apenas pelos livros, não era o bastante", explicou ela.

"E esses braceletes?"

"Uma lembrança que todas em Amazonia têm que usar", respondeu ela. "Um dia, há muito tempo atrás, Hercules, o homem mais forte do mundo decidiu enfrentar a mais forte das amazonas, a Rainha Hippolyte, minha mãe, e ele a derrotou. Então, ele tomou dela o cinto de ouro que ganhou de Afrodite, e a escravizou e a todas as amazonas. Com a ajuda de Afrodite, porém, as amazonas conseguiram expulsá-lo. Por causa do infortúnio com Hercules, elas prometeram à deusa que usariam esses braceletes, como lembrança daqueles tempos de escravidão. Eu nasci muito tempo depois, a pedido de minha mãe à deusa protetora".

Clark colocou a mão na cabeça, confuso e atordoado. Era tudo inacreditável demais.

"Então você não é de Krypton", disse ele, sem pensar.

"O quê?", perguntou ela.

Clark olhou-a nos olhos. Fazia sentido tudo o que ela havia dito. Diana era tão bonita quanto a deusa Afrodite, tão sábia quanto Athena, tão forte quanto Hercules e tão rápida quanto Mercurio. Depois de ver tantas coisas estranhas, já não era mais de estranhar que houvesse um mundo paralelo, talvez no Olympo, onde somente havia mulheres como ela. Clark olhou novamente para seus braceletes. Lembrou de tê-la visto usá-los na ponte, e também de sua força. Imaginou, então, que talvez, ela realmente pudesse ajudá-lo.

Continua...