Na: Como esse capítulo é tão curto, resolvi adiantá-lo... No próximo final de semana, capítulo 5! (Sem agradecimentos hoje)

4. O vira-tempo

Assim que saiu da enfermaria, Dumbledore andou calmamente para sua sala, pensando nas possibilidades do que havia levado Hermione Granger até àquela situação. Uma hipótese martelava em sua mente, mas ele teimosamente a ignorava. "Se esse for o caso, nada que fizermos vai adiantar alguma coisa enquanto a memória dela não voltar."

Foi com essa idéia que ele entrou na sala, olhando surpreso para um intruso. Ele balançou a cabeça, se dirigindo para sua cadeira, mas sem tirar os olhos do garoto a sua frente. O olhar dele era de decepção e recriminação.

- Remo Lupin. Acredito que você deveria estar em aula agora...

Remo se aproximou da mesa do diretor, tirando das vestes a corrente que ele havia encontrado. Ele colocou o objeto calmamente na mesa do diretor, que tinha um olhar pensativo.

- Bem, acredito que você está em aula então... - O garoto balançou a cabeça afirmativamente, o que fez o diretor sorrir. - Devia ter imaginado que Remo Lupin não iria perder uma aula facilmente assim.

Remo, no entanto não sorriu. Ele olhou do objeto na mesa para o diretor, um tanto confuso.

- Pensei que o vira-tempo fosse um artefato raro. Pensei que só houvesse um em toda a Europa. E que estivesse com o Sr.

Dumbledore balançou a cabeça positivamente, abrindo uma gaveta da sua escrivaninha três vezes, até que retirou de dentro dele o mesmo objeto.

- E você está certo. Onde você encontrou este?

- No campo, perto do local onde a garota caiu. Acho que é dela.

Dumbledore pegou o vira-tempo da mesa, e começou a medi-lo e analisa-lo, comparando-o com o seu próprio artefato. Um brilho apareceu em seu olhar.

- Então eu realmente estava certo. - Ele disse, pensativo. Ao ver a expressão de dúvida no rosto do rapaz, ele acrescentou. - Eu estava pensando exatamente nessa possibilidade. Hermione Granger é uma aluna de Hogwarts... pelo menos no futuro ela será.

Remo balançou a cabeça. Ele havia pensado nisso.

- É o mesmo vira-tempo, não? É idêntico ao que eu usei no meu terceiro ano, só que mais surrado... como se tivesse sido usado várias vezes, por várias pessoas diferentes.

Dumbledore entregou o primeiro vira-tempo de volta para Remo, que olhou para o objeto confuso.

- É exatamente o mesmo. Ela realmente deve ser uma aluna exemplar para que eu tenha deixado ela usar, assim como você. - ele sorriu, ao perceber que Remo corava levemente. - Acredito que você deva ficar com este... Foi você que encontrou. Acho que você deveria devolver a ela.

Remo guardou a corrente com o vira-tempo nas vestes, engolindo em seco. Dumbledore olhou para ele, como se o estivesse lendo.

- Mais alguma coisa que você gostaria de conversar? Se for o caso, sente-se.

Remo suspirou antes de se sentar na cadeira em frente à mesa do diretor.

- Eu estava pensando... - ele engoliu em seco novamente - o que você irá fazer em relação à garota?

O olhar de Dumbledore aumentou de intensidade, deixando Remo um pouco mais desconfortável. Antes de responder, no entanto, o diretor desviou o olhar.

- Não podemos fazer muito. O Vira-tempo sofreu com a queda, impossibilitando saber quanto tempo exatamente ela voltou. Só poderemos saber para onde mandá-la quando a memória dela voltar. E isso deverá ser feito de maneira natural. É muito arriscado tentar resgatar uma memória magicamente. Podemos perdê-la completamente no processo.

Remo balançou a cabeça, temeroso da possibilidade. Ele já tinha lido sobre pessoas que viraram simples vegetais após uma tentativa frustrada de recuperação de memória. A imagem de Hermione deitada na cama, respirando, mas sem vida o fez tremer levemente. Ele deu uma tossida, limpando a garganta.

- Bem, nesse caso... Diretor, será que não seria melhor não contarmos a ela sobre o vira-tempo? Quer dizer, só iria a deixar mais confusa, certo? Falando de magia, e ainda dizendo que ela veio do futuro... E também não quero que os outros saibam. Eles acabarão descobrindo que eu já usei o Vira-tempo anos atrás. Esse foi o único segredo meu que eu realmente guardei deles. Não quero que eles descubram agora...

Remo parecia aflito. Dumbledore concordou, sorrindo levemente para o garoto, o acalmando.

- Se você preferir assim, esse poderá ser nosso segredo. Mas você sabe que assim que a memória dela voltar, tudo isso virá a tona, não?

Remo não queria ter que analisar as coisas tão adiantadamente. Enquanto ele pudesse esconder aquilo dos outros, melhor. Sirius e Tiago não iriam ficar felizes de saber que o amigo tinha mais segredos contra eles.

- Eu sei... mas eu prefiro assim.

- Tudo bem, então. Pode ficar tranqüilo.

No entanto o garoto não parecia ficar mais tranqüilo. Ele continuava olhando para o diretor, como se tomasse coragem para dizer mais alguma coisa. Dumbledore levantou uma sobrancelha para o aluno.

- Sim, Lupin?

- Eu só estava pensando... - ele pareceu hesitar por um momento. - Lembro que o Sr. e a Professora McGonagall me alertaram muitas vezes no cuidado para se usar o vira-tempo... no cuidado que se precisa ter para não alterar fatos importantes que acabassem desencadeando efeitos catastróficos... Foi por isso que eu mantive o vira-tempo escondido dos outros.

Dumbledore balançou a cabeça positivamente, encorajando o garoto a continuar. Mas Remo hesitava novamente, como se temesse a própria linha de pensamento.

- Mas...? Continue, Lupin.

- E se a presença dela aqui desencadear algum efeito catastrófico no futuro? - O garoto respirou fundo, passando a mão pela testa - Quero dizer...

Dumbledore levantou a mão, interrompendo o garoto. Ele tinha um olhar penetrante e ameaçador, que assustou Remo.

- Eu sei o que você quer dizer... Que ela pode ser um perigo.

Remo balançou a cabeça negativamente. Era exatamente isso que ele havia pensado, mas ouvindo do diretor, diante daquele olhar, parecia errado. Muito errado.

- Devemos prendê-la em uma jaula até que a memória dela retorne? - o olhar e a voz do diretor perderam a ameaça, se tornando mais bondosos - Remo. Justo você acusando-a de ser uma ameaça, ainda mais em algo que ela não tem o mínimo controle?

O garoto sentiu o peito apertando. Ele não podia ver o próprio rosto, mas tinha certeza de que estava corando. Ele balançou a cabeça, incrédulo das próprias idéias. O olhar bondoso de Dumbledore não ajudava a aliviar seus pensamentos. Vozes o acusando de ser um perigo para a sociedade ecoavam em sua mente, e junto daquelas várias vozes com raivas e medo, uma pequena voz temerosa dizia que ele era uma ameaça.

- Eu... não pensei...

- Está tudo bem, meu jovem. Lembre-se de que, não importa o que você já tenha passado na vida, você é humano. E tem tantos medos quanto as pessoas à sua volta. Mas também se lembre de que Hermione Granger não tem controle sobre o passado, só por que ela veio do futuro. Ela não tem nenhuma memória de quem ela é, ou de onde veio. Ela é só uma garota perdida num mundo que não o dela. Tudo o que ela precisa agora é de apoio e amizades, não de recriminação e medo.

Remo balançou a cabeça, se sentindo extremamente idiota. Por um segundo ele tentou se imaginar no lugar dela. Perdida, sem memória, e ainda sendo tratada como uma ameaça. O pensamento novamente o fez tremer. Quando a imagem de Hermione veio a sua mente, ele pensou no absurdo que era considera-la uma ameaça. "Ela é tão..." Mas a palavra certa não apareceu. No lugar, ele sentiu seu rosto corando levemente. Dumbledore observava o garoto com intensidade.

- Acredito que esse foi o real motivo da sua visita? - Quando o garoto balançou timidamente a cabeça, o diretor deu um leve sorriso. - Fico feliz por você ter vindo conversar comigo. Mas acredito que a aula já vai terminar em breve, e você deve voltar logo antes que seus amigos dêem por sua falta...

Remo agradeceu o diretor, saindo da sala sem notar o brilho no olhar de Dumbledore. O diretor deu um leve sorriso, olhando para o próprio vira-tempo, antes de abrir a gaveta três vezes e guardá-lo novamente na escrivaninha.

Continua...