5. Primeiro dia de aula

Meia-hora antes do almoço, Hermione estava em pé, na enfermaria. Ela olhava confusa para um quadro de uma enfermeira. Cada vez que ela sorria, a pintura também sorria. E quando ela fazia uma careta, a mulher na pintura a imitava. Foi quando os cinco garotos entraram na enfermaria, andando mais calmamente e fazendo menos barulho. Ela coçou a cabeça, olhando para o lado, sendo imitada pela enfermeira nos mesmos movimentos. Os garotos riram ao ver a cena.

- A pintura está se mexendo... - Hermione disse, apontando perplexa para o quadro. A mulher repetiu o movimento, com a mesma cara assustada.

Sirius fez pouco caso, balançando a mão.

- Essa é sem-graça, imitando as pessoas. Essa enfermeira só faz isso. Acho que ela pensa que é legal. Tem quadros mais interessantes pelo castelo.

Hermione viu mais surpresa ainda quando a pintura fez uma careta para o garoto, por vontade própria e virou de costas para eles. Ela balançou a cabeça, incrédula.

- Pinturas não deveriam se mexer, não é? - e depois, incerta, murmurou. - Quer dizer, eu acho...

Lílian colocou a mão no ombro de Hermione, de um modo assegurador.

- Quadros trouxas realmente não se mexem. Mas os mágicos sim.

Hermione olhou a sua volta, para os outros quadros que estavam pendurados na parede. Em um deles, uma enfermaria, as pessoas na pintura se moviam e pareciam executar tarefas como pessoas de verdade. Ela olhou novamente para o quadro da enfermeira na sua frente e, surpresa, percebeu que a enfermeira não estava mais lá.

- Onde...?

- Eles vivem fazendo isso. As pinturas aqui têm vida. E de vez em quando eles passeiam pelos outros quadros... Mas você vai se acostumar com isso logo. Eu também fiquei surpresa quando vim pra cá e vi isso. Meus pais são trouxas. Eu sou a primeira bruxa da minha família...

Lílian disse, com orgulho. Hermione tentava imaginar, ou lembrar, se sua família também era trouxa. Foi quando percebeu que ela não tinha idéia do que seria um trouxa.

- Dumbledore também falou sobre trouxas hoje de manhã... O que exatamente é um trouxa?

- Uma pessoa que não é bruxa. - Sirius disse, um tanto irritado. - Será que a gente pode continuar a aula mais tarde? Está na hora do almoço e eu estou com fome.

Hermione olhou surpresa para aquela mudança de comportamento do garoto. Ela deu de ombros, balançando a cabeça positivamente. Apesar de estar com fome também, a sua curiosidade era maior. Ela queria saber mais sobre as coisas a sua volta. Isso talvez a fizesse lembrar algo sobre ela mesma.

- Tudo bem... vamos almoçar então.

- "timo. - Sirius disse secamente, andando para fora da enfermaria.

Os outros saíram, seguindo-o. Lílian ia atrás, sussurrando com Hermione.

- Não liga para o temperamento dele. Toda segunda de manhã é assim. A gente acabou de sair de uma aula dupla de poções com a turma da Sonserina. E sempre que ele não consegue aprontar alguma nas aulas de poções ele fica mal-humorado. Mas assim que a gente sentar para almoçar, ele volta ao normal.

Durante o caminho, os garotos iam conversando baixo entre eles. Hermione conversava com Lílian, que falava para ela sobre as quatro casas de Hogwarts. Assim que eles entraram no salão principal, Hermione sentiu olhares fixos nela. Corando um pouco, ela seguiu os marotos até a mesa da Grifinória, se sentando entre Sirius e Pedro.

Os alunos da Grifinória eram quem mais olhavam com curiosidade para ela. Hermione começou a se sentir desconfortável. Ela olhou para a mesa principal, onde os professores se sentavam. No centro, Dumbledore olhava para ela também, dando um sorriso assegurador. Em seguida ele se levantou, exigindo a atenção de todos. O salão caiu em silêncio.

- Gostaria de fazer apenas um anúncio antes do almoço. - Hermione sentiu o sangue congelar, enquanto o diretor apenas continuou. - Acredito que nunca é demais lembrar aos alunos de que a entrada para a floresta proibida é, como diz o nome, proibida. Também é proibido aos alunos passearem pela escola à noite. Alunos fora da cama, encontrado nos corredores, terão detenção, além de perderem pontos para suas casas. Acredito que esses anúncios eram necessários após alguns últimos incidentes...

O diretor olhou para a mesa da Grifinória, com um olhar maroto, que nenhum aluno notou.

- Agora, vamos ao almoço! Bom apetite.

O murmurinho continuou no salão. A maioria dos alunos olhava para a mesa da Grifinória, tentando entender o porque do anúncio de Dumbledore.

- Você ouviu falar de algum incidente ultimamente?

Um Corvinal do quinto ano perguntava para o colega, que simplesmente balançou a cabeça negativamente. Em cada mesa, as perguntas eram as mesmas.

Na mesa da Grifinória, Hermione soltava um suspiro aliviado. Ela nem parou para pensar nos anúncios do diretor. Ela não sabia onde ficava a Floresta Proibida, e nem queria saber no momento. E ela também não era louca de se aventurar por um castelo desconhecido no meio da noite.

- Eu pensei que ele fosse te anunciar para a escola toda.

Tiago disse, pegando um pedaço de torta. Foi só então que Hermione percebeu as vasilhas e travessas cheias de comida na sua frente. E também foi que notou a fome. Ela começou a se servir, sem ficar tão surpresa com o aparecimento de tanta comida ao mesmo tempo.

- Eu também pensei. A hora que ele levantou, meu coração parou. Mas ainda bem que ele não falou nada sobre mim. Eu não ia agüentar os olhares estranhos...

Hermione disse, ao mesmo tempo em que olhava para os lados. Um garoto olhava para ela, curioso, e conversava com o Remo. Com certeza estava perguntando algo sobre ela. Ela voltou o olhar para o prato na sua frente, sentindo a fome sumindo. Lílian, sentada na sua frente, chamou sua atenção.

- Dumbledore não faria isso. Ele sabe que a sua situação aqui é delicada. E que você não precisa de mil alunos curiosos te perturbando o tempo todo...

- Isso mesmo, já basta a gente te perturbando. Ou só eu. Eu conseguiria te perturbar mais do que qualquer outro aqui.

Sirius disse, com um sorriso maroto no rosto. Hermione sorriu. Realmente o garoto voltara ao normal. Fazendo uma careta para ele, ela disse secamente.

- Isso se eu não te perturbar mais ainda...

- Oh, oh. Cuidado Sirius. Pode ter uma garota mais encrenqueira que você escondida em algum lugar dentro dela... Não é muito inteligente cutucar uma Quimera com varinha curta...

Tiago disse, recebendo um olhar brincalhão de Lílian.

- Por acaso você está chamando a Hermione de Quimera?

Os quatro riram. O resto do almoço continuou com discussões e brincadeiras entre Sirius, Hermione, Lílian e Tiago. Pedro apenas observava os amigos, sorrindo de vez em quando, mas sem entrar na conversa. Remo continuava conversando com o colega ao lado. Hermione volta e meia olhava para ele e o encontrava com a mesma expressão paciente. Ela tinha a impressão de que ele quase não falava, e na conversa ele só escutava.

A aula que Hermione mais gostou do dia tinha sido de Feitiços, junto com a de Transfiguração. Os marotos, na parte da tarde, ainda tiveram aulas de Defesa contra Arte das Trevas e Trato de Criaturas. Mas foi na aula de Feitiços que ela havia se divertido mais.

Assim que eles entraram na sala de aula, o professor Flitwick avisou para os alunos fazerem duplas. Tiago e Lílian, que já estava de mãos dadas, se sentaram juntos. Hermione escolheu uma mesa no fundo e se sentou. Sirius olhou para Remo e Pedro, balançando a cabeça negativamente, antes de se sentar ao lado de Hermione.

- Seria um desastre se o Pedro fosse seu companheiro em feitiços... Ele mal consegue tomar conta da própria varinha. Já que o Remo já deu várias aulas particulares para ajudar o coitado, acho que vai ser melhor se os dois sentarem juntos...

- Pensei que você só tivesse sentado aí pra me irritar...

Sirius sorriu, com um olhar zombeteiro.

- Também. Mas achei que precisava de uma desculpa esfarrapada...

O professor começava a falar sobre o Feitiço Alihotsy, e dos cuidados que se deveria ter ao dizer as palavras corretamente.

- Lembrem-se de mirar cuidadosamente a parte do corpo onde vocês querem fazer cócegas. Assim que vocês apontarem a varinha com firmeza e disserem Alihotsy, o seu oponente irá sentir cócegas naquele ponto. Para que o feitiço tenha efeito, é preciso apontar para algum lugar onde o oponente sinta cócegas. Agora cuidado com a palavra! A-LI-H"-TSY. Não queremos ninguém aqui transformando o parceiro em um porco-espinho ou algo do gênero, não é? Repitam comigo. A-LI-H"-TSY.

Hermione repetiu a palavra, meio temerosa. Ela olhava da varinha para Sirius, insegura. Assim que Flitwick deu permissão para a turma começar a praticar, ela balançou a cabeça negativamente.

- Sirius, eu não vou conseguir fazer isso... E se eu te transformar em alguma coisa... fora do normal, sem querer?

- Fica calma e respira fundo. Dumbledore disse que você é uma bruxa competente. Do contrário, acredito que ele não iria devolver sua varinha tão cedo. Apenas siga as instruções e seja natural. Mágica está na prática, sim, mas também está dentro de você, antes mesmo de se começar a estudar magia. - E sorrindo, ele acrescentou.- E duvido que haja um feitiço mal feito que a enfermeira Pomfrey não possa desfazer.

Diante da expressão asseguradora de Sirius, Hermione respirou fundo. Olhando a sua volta, vários dos alunos já praticavam o feitiço. E a julgar pelo número de risadas que ecoavam pela sala, estavam sendo bem sucedidos. Ela percebeu, com certa graça, que Remo era quem menos estava sentindo cócegas. A mão de Pedro tremia tanto que o garoto não conseguia apontar a varinha com firmeza. Duas vezes ele acertou a mesa e a parede, em vez do garoto a sua frente. Hermione balançou a cabeça. "Pior do que isso, eu acho que não vai ser..."

- Ok... Posso começar?

Sirius balançou a cabeça positivamente, se endireitando e esperando o feitiço. Hermione levantou a varinha de uma vez, com firmeza na voz.

- Alihotsy!

Com surpresa e alegria, ela viu Sirius se contorcendo, com a mão na barriga de tanto rir. Ela abaixou a varinha, fazendo com que as cócegas cessassem.

- Eu consegui!

Sirius respirou fundo, enxugando algumas lágrimas. Com um sorriso cínico, ele se endireitou novamente.

- Eu percebi... Da próxima vez você faz par com o Pedro... Não imaginei que você fosse conseguir de primeira...

- Obrigada! - Hermione sorriu depois de fazer uma careta para o garoto.

- Minha vez agora...

A expressão no rosto do rapaz era vingativa, Hermione percebeu. Ela olhava para os olhos do garoto, tentando adivinhar quando ele iria lançar o feitiço e se preparando para agüentar as cócegas. "Alto-controle" ela repetia para si mesmo. Sirius olhava diretamente para os olhos dela também, prendendo sua atenção.

- Alihotsy...

A palavra saiu da boca de Sirius pouco mais alto que um murmúrio, mas o efeito foi o mesmo. Hermione caiu para trás, sem conseguir segurar o riso. Caída no chão, ela chutava o ar, lágrimas caindo pelo seu rosto. Entre as risadas, Sirius conseguiu ouvir um "pára!". Ele guardou a varinha, com um olhar malicioso. Assim que Hermione recuperou o fôlego, ela se levantou, sem permitir que Sirius a ajudasse. Ela olhou brava para o garoto.

- Golpe baixo, Sirius Black!

O rapaz fez um olhar magoado e ao mesmo tempo inocente. Hermione riu, balançando a cabeça. Professor Flitwick, na frente da sala, vendo todos os treinos, levantou a voz para ser escutado pelos alunos.

- Mirem acima da cintura, por favor! Não se machuquem!

Hermione e Sirius se entreolharam e caíram na gargalhada. Assim que os dois pararam de rir, o garoto colocou a mão no ombro de Hermione.

- Desculpa por apontar justo para seus pés. Mas eu não resisti...

Hermione lançou um sorriso maldoso para Sirius. O garoto reconheceu no rosto da colega a mesma expressão vingativa e engoliu em seco.

- Melhor continuarmos com o treino, não?

Horas mais tarde, após o jantar, os cinco garotos estavam sentados nos sofás da sala comunal da Grifinória, rindo. Tiago e Lílian estavam abraçados, deitados em um dos sofás. Sirius e Hermione faziam uma guerra de almofadas num segundo sofá, enquanto Remo e Pedro conversavam, sentados em duas poltronas separadas.

- Chega, Sirius!

Hermione quase gritou, entre gargalhadas. Parecia que ela tinha voltado a ser uma criança novamente. E alguma coisa dentro dela a dizia que ela nunca havia se divertido tanto assim.

- Sirius, ela saiu da enfermaria hoje... você já quer mandar ela de volta para lá?

Em resposta à amiga, Sirius jogou a almofada em cima do casal, rindo.

- Francamente. Você não cresce mesmo, não é?

Sirius fez uma cara feia para Lílian. Dessa vez, não brincalhona.

- Qual o problema, Lílian? Eu só estou me divertindo... Qual o problema em me divertir?

Os outros balançaram a cabeça, negativamente. Lílian era quem parecia a mais severa de todos.

- Um dia você vai ter que responder pelos seus atos, Sirius. Uma brincadeira pode ter várias conseqüências que você não espera... A gente só espera que você seja adulto o suficiente para distinguir uma brincadeira inocente de algo realmente perigoso...

Sirius se levantou do sofá, claramente irritado com a conversa. Ele andou em direção à janela, virando as costas para o grupo.

- Eu nunca fiz nenhuma brincadeira perigosa...

Tiago, Remo e Pedro suprimiram uma risada, enquanto Lílian ficou mais séria ainda. Hermione prestava atenção à conversa, sentindo que estava se intrometendo em assuntos de que ela não deveria fazer parte.

- Claro... e as bombas de bosta na poção do Severo Snape na última semana não foi perigoso. Você mandou cinco alunos para a enfermaria, com os corpos inchados!

- Nada que a Madame Pomfrey ou a professora Welch não pudessem cuidar... - Sirius deu de ombro.

- É sempre assim. Enquanto tiver alguém para limpar a bagunça que você faz, não? Mas um dia não vai ter ninguém, Sirius. E você vai ter que lidar com seus atos.

Sirius já estava mais do que cansado com aquele sermão. Virando-se com o sorriso no rosto, ele foi em direção à escada do dormitório masculino.

- Ok, mamãe. O sermão está ótimo, mas acho que já está tarde, não? Você e o Tiago são os monitores da Grifinória. Não está na hora do papai e da mamãe mandarem a gente dormir?

Tiago jogou novamente a almofada no amigo, acertando-o em cheio atrás da cabeça. Sirius se virou, fazendo uma careta novamente brincalhona para os amigos, enquanto todos riam. Lílian puxou Hermione pra se levantar, levando-a para a escadaria do dormitório feminino.

- Boa noite rapazes...

As garotas se despediram, sumindo escada acima, para o último andar. Lílian tinha um quarto só para ela, por ser monitora. O quarto era maior, e possuía uma escrivaninha própria. Quando elas entraram no quarto, viram com surpresa que uma segunda cama tinha sido colocada lá, junto com um conjunto de vestes.

Ao lado das roupas, em cima do travesseiro, um pergaminho estava enrolado. Curiosa, Hermione desenrolou o pergaminho e começou a ler. Logo um sorriso surgiu em seu rosto.

- O Diretor Dumbledore pensa em tudo, não?

Lílian riu, balançando a cabeça.

- A maior parte do tempo, sim. Eu acho que ele é fantástico. Mas muitos acham que ele é apenas louco.

- Eu pensava que ele louco... até agora pouco...

As garotas se trocaram e deitaram na cama. Hermione tinha mil e uma perguntas pra fazer. Ela estava curiosa sobre Hogwarts, e os professores, e as matérias que eles tinham visto hoje. Ela queria conversar mais sobre os garotos, e sobre a própria Lílian, mas sentiu que seria um incômodo, ainda mais nessa hora da noite. Ao invés disso, ela simplesmente desejou boa noite para a nova colega de quarto antes de fechar a cortina da sua cama e dormir.

Continua...

Elisa Moony: Prontinho... Atualizei.. Mas só vou poder atualizar as fics de final de semana mesmo... raras vezes vou conseguir fazer isso durante a semana...

Mki: Espero que você ainda continue gostando depois desse capítulo tanto quanto dos dois últimos!

Becky-smyt: Ah, não vejo tanto reviews quanto problema... Problema é, durante semana, ter tempo para responder review por review... . Quanto ao Dumbledore... Mais conhecido por saber de tudo o que se passa... E quase sempre esconder algumas coisas para si mesmo. Nesse caso é a mesma coisa... Dumbledore SABE mais do que ele deixa transparecer...

Muito obrigada pelas reviews de todas! E espero que vocês continuem a ler a fic...