Segunda-feira, 20 de Novembro de 1977.
Hermione desceu para a sala comunal carregando um dos livros que ela e Lílian tinham pegado no sábado passado. Ela queria aproveitar e ler mais um pouco enquanto os outros estudavam, ou tentavam estudar com Sirius e Tiago jogando uma partida de snap-explosivo.
Ela se jogou em um dos sofás de frente para a lareira. O tempo já estava bem mais frio, e ela esperava que fosse começar a nevar em breve. Abrindo o segundo capítulo do livro "Uma introdução a Runas", ela continuou lendo de onde havia parado.
- Está conseguindo entender? - Ela levantou os olhos do livro para encontrar Remo. Sentando-se direito, ela indicou para ele se sentar ao lado dela, balançando a cabeça.
- Mais ou menos... tem umas partes que eu fiquei meio perdida. Mas é interessante! Eu acho que iria amar se pudesse estudar com afinco...
- Precisa de alguma ajuda? Se quiser, eu posso tentar explicar algumas coisas... eu tive aulas de Runas no terceiro e quarto ano.
Hermione sorriu, balançando a cabeça positivamente e se aproximando mais do garoto.
- Se não for te atrapalhar, eu queria entender essa parte aqui... - Ela disse, indicando uma passagem no livro.
Os dois passaram o resto da noite dividindo o sofá e estudando, sem notar os olhares brilhantes e sorrisos de Lílian, Tiago e Sirius.
Sábado, 25 de Novembro de 1977.
Finalmente estreando esse diário que a Lílian me deu no domingo. Ela disse que ela mesma sempre tem um diário com ela. Está certo que eu nunca a vi escrevendo nada que parecesse um diário, mas aqui as coisas são tão estranhas que eu nem me surpreenderia se o diário dela fosse feito de ar... Mas em uma coisa ela realmente estava certa. É ótimo ter um diário para desabafar às vezes. Principalmente quando todos seus amigos estão ocupados demais para conversas banais. No momento, são 9 da noite, e Lílian e os garotos dividem uma mesa na sala comunal da Grifinória para estudar. Aparentemente eles têm uma grande prova no final do período escolar, lá por Abril. Parece que essa prova realmente é difícil, já que até Tiago e Sirius - que raramente estudam e parecem saber de tudo - estão estudando.
Resumindo essa pequena introdução, sobrou para eu ficar sozinha o resto da noite. Por isso vim para o quarto vazio e aproveitei esse raro momento a sós para desabafar um pouco.
Essa semana tem sido a mais normal da minha vida. Isso levando em conta que minha vida começou faz exatamente duas semanas. Acho que não posso incluir meus supostos 17 anos antes disso na equação... Seja como for. Desde segunda-feira Remo tem me feito companhia nas minhas horas de leitura. Hora lendo comigo, me explicando algumas passagens de alguns livros, hora simplesmente lendo algum livro dele ao meu lado.
Pode parecer estranho. Mas eu sinto como se eu já o conhecesse antes. Não só ele, todos eles. Mas mesmo que minha aproximação com Sirius no início tenha sido natural, eu tenho achado muito mais natural essa minha aproximação com o Remo agora. Não acho que isso seja por que estou gostando dele... isso se eu realmente estou gostando dele. Mas eu sinto como se eu o conhecesse mais. Ou eu sinto que quero conhecê-lo melhor... Agora fiquei "mais" confusa. Lílian não me disse que ao desabafar minha mente iria dar um nó maior ainda...
Bem, vamos tentar pensar em outra coisa então... Vou escrever sobre os livros que eu e a Lílian pegamos no sábado. Tirando três dos livros, já li todos os outros. Parece que eu realmente gosto de ler... Adorei "Hogwarts: uma história", apesar de me sentir estranhamente familiarizada com tudo o que estava lá. Acho que finalmente estou entendo o que Dumbledore havia dito sobre ser uma aluna daqui sem ser uma aluna daqui. A cada dia que passo, quanto mais estudo com Remo, mais percebo que eu somente esqueci temporariamente todas essas coisas... De alguma maneira, eu sei sobre quase tudo o que esses livros dizem, mas sem realmente SABER... Que ótimo... agora parece que estou falando igual ao diretor Dumbledore...
Tenho também que escrever sobre meu pesadelo que eu tive essa noite.Acho que é vestígio dos meus estudos com o Remo, assim como o outro livro que eu estou lendo... "Focinho Peludo, Coração Humano". É uma história tocante. E eu juro que não consigo entender essas leis desse mundo, que controlam um ser humano dessa maneira absurda. Porque pra mim um lobisomem não é nada menos que um ser humano. Só por causa de três dias por mês ele tem que ser considerado um animal? Bem, seja como for, eu estou lendo esse livro, que a Lílian pegou para mim, e estou amando. Mas eu estou mudando de assunto. Eu ia falar do sonho estranho que eu tive. Eu sonhei que estava andando com várias outras pessoas estranhas do lado de fora do castelo (uma delas parecia o Tiago, mas não tenho certeza agora). Só sei que uma delas era o Remo. Ou pelo menos se parecia muito com ele. Seja como for, nós estávamos andando calmamente, durante a noite. É quando uma nuvem se move, revelando a lua-cheia que as coisas se complicam. Eu ouço o Remo gritando, enquanto só vejo a silhueta dele se transformando... Foi quando eu acordei, pingando suor. Eu espero nunca mais ter que ter um sonho estranho desses novamente.
Bem, mudando de assunto novamente. Não quero ficar lembrando muito daquele sonho. Começou a nevar na terça-feira. Na quinta os campos já estavam brancos, mas nada disso impediu uma partida de quadribol da Sonserina contra a Lufa-Lufa. Pelo o que eu entendi, a Lufa-Lufa precisava ganhar com uma diferença de 80 pontos para conseguir ter alguma chance no campeonato. Infelizmente a Sonserina ganhou de 200 a 150. O próximo jogo é da Grifinória contra a Sonserina, e a Grifinória precisa ganhar com 50 pontos de diferença para ganhar o campeonato. Por causa disso, Sirius e Tiago andam tendo treinos duas vezes por semana. Mesmo que o jogo seja só daqui a um mês. Parece que a partida vai ser difícil. Eu estou empolgada para torcer por eles no próximo jogo... só espero ainda estar aqui para ver...
Nota: Eu consegui lembrar, durante a aula de História do Professor Binns, da data exata da criação do Registro de lobisomens... 1947. Isso foi estranho porque depois eu só me deparei com isso em um dos livros que a Lílian me emprestou, sobre Animais Fantásticos...
Remo piscou novamente, olhando para o teto do quarto. Já devia ser mais de 1 da manhã, mas nenhum vestígio de sono chegava a ele. Na verdade ele estava cansado. Afinal, faltava menos de uma semana para a lua cheia e os primeiros sintomas da Licantropia começavam a surgir. Mas o que o estava incomodando e retirando seu sono era outra coisa, indefinida para ele. Uma inquietude estava crescendo dentro dele durante a semana, e Remo suspeitava fortemente que sua aproximação a Hermione Granger era em parte responsável por isso.
Suspirando, ele desistiu de brigar com a falta de sono e se levantou. Silenciosamente, ele se agasalhou e pegou o seu volume de "Arte das Trevas e como se defender". Se for para ficar acordado a noite toda, ele poderia tirar melhor proveito do tempo, não? Com o intuito de tirar o que o estivesse incomodando da sua cabeça, ele começou a descer as escadas do dormitório masculino, pensando em passar o resto da noite lendo confortavelmente em frente à lareira da Sala comunal.
Foi com essa idéia que ele chegou ao último degrau da escada do dormitório, mas a idéia morreu em sua mente no momento que ele escutou algo vindo da sala comunal. Ele estava enganado ou alguém parecia estar chorando? Silenciosamente, ele olhou para dentro da sala, conseguindo reconhecer apenas uma silhueta encolhida na poltrona que ele pretendia usar. As chamas da lareira estavam fracas, mal iluminando a garota escondida nas sombras. Mas cerrando levemente os olhos, ele conseguiu reconhecer quem era, com um aperto no peito: Hermione.
Meio aturdido, ele ficou parado na entrada da sala comunal, sem saber exatamente o que fazer. Ele poderia subir novamente, deixando a garota em paz. "Provavelmente ela quer ficar sozinha, não?" Mas assim que ele ouviu novamente um soluço da garota, ele balançou a cabeça negativamente, descartando a hipótese. "Ok... Acho que ele poderia precisar de um amigo... mas o que eu digo? Eu poderia ir chamar a Lílian... ela é melhor nisso do que eu..." Mas antes que ele pudesse se decidir, Hermione levantou a cabeça abruptamente e ele percebeu que ela tinha notado a presença dele ali.
- Eu... - Ela começou a dizer, enxugando rapidamente o rosto e tentando respirar calmamente, sem sucesso. - Desculpa... eu...
Assim que ela começou a se levantar, Remo se adiantou na direção dela, jogando o livro no primeiro sofá que ele passou.
- Não... eu que peço desculpas. Não sabia que você estava aqui. Não devia ter ficado parado no escuro daquela maneira... Desculpa se eu te assustei. Eu... - Ele hesitou, ao ver um certo alívio no rosto dela. Poderia ele estar enganado? Um pouco incerto, ele acrescentou, - vou voltar para o quarto...
Hermione olhou diretamente para os olhos de Remo, tentando segurar as lágrimas que ainda teimavam em querer cair, com um meio sorriso.
- Não. Por favor. Na verdade eu não sabia que era você que estava aí... Eu só vi um vulto parado e me assustei... Mas já que você está aqui, será que não poderia ficar mais um pouco?
Remo apenas balançou a cabeça, sem saber o que dizer, um pouco desconfortável. Hermione percebeu o desconforto do rapaz e se arrependendo de ter pedido aquilo daquela maneira. Mas ela precisava conversar com alguém. Ela não queria ficar sozinha. E não queria incomodar a Lílian mais do que ela já tinha incomodado.
- O que aconteceu?
A voz de Remo, apesar da insegurança, mostrava preocupação. Assim como seu olhar fixo na garota. Hermione jogou as mãos para cima, se deixando cair no sofá ao lado, tentando achar uma resposta simples para a pergunta do garoto. Remo se sentou na poltrona que ela tinha ocupado antes, olhando de frente para ela.
- Eu não sei... É que tudo anda tão confuso ultimamente... - Hermione parou, incerta sobre por onde começar e sobre até onde falar. Ela não queria falar demais novamente e fazer papel de boba. Remo balançou a cabeça, escutando com atenção ao que ela falava e a encorajando a continuar. Ela suspirou fundo.
- É que é complicado saber o que eu realmente lembro ou o que eu acho que lembro... Quero dizer. As vezes eu leio todos aqueles livros que a Lílian me deu, me sentindo estranhamente familiarizada com várias coisas... Outras coisas eu me lembro enquanto vou lendo, ou como aconteceu na última aula de história da magia, me lembro de repente. Mas eu não sei se eu realmente me lembrei de alguma coisa que eu já sabia antes de perder a memória... ou se foram coisas que eu encontrei aqui, depois de ter acordado na enfermaria...
Remo escutava atento a tudo o que Hermione dizia sem praticamente respirar entre as frases. Assim que ela parou para respirar, a mente de Remo começou a trabalhar a mil por hora para absorver tudo o que ela havia dito. Ele virou a cabeça, lembrando de uma conversa anterior.
- Mais ou menos quando você ficou confusa com o nome do Snape?
Hermione balançou a cabeça positivamente. Desde que ela havia acordado na enfermaria as coisas na sua mente funcionavam assim.
- O Snape, os quadros, a palavra trouxa, a certa raiva dos sonserinos. Eu não sei nada sobre mim, mas antes mesmo de vocês me explicarem o que é um trouxa, eu tive essa sensação familiar. Imaginei que minha família era trouxa, sem nem mesmo saber se tenho família...
Ao dizer a última palavra a voz foi morrendo na garganta dela. Raramente ela havia parado para pensar sobre quem ela realmente era. Para ela, o que importava ela era estar ali, e não estar sozinha. Na maioria das vezes isso bastava. Mas quando ela parava para pensar nos amigos que tinha feito ali, naquela situação, uma parte de sua mente desviava os pensamentos e começava a indagar se ela tinha algum outro amigo em outro lugar. Alguém que a estivesse procurando, talvez? Novas lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto.
- Minha família... Dumbledore disse que eu não sou daqui... que eu não deveria estar aqui... se esse é o caso, eu estou desaparecida para aqueles que realmente me conhecem, não? - Ela olhou fixamente para Remo, sem perceber que as suas palavras haviam machucado de alguma maneira o garoto.
"Mas por que eu iria me magoar. É a verdade. A gente realmente não a conhece. E logo isso não irá mais importar, porque ela irá embora, com sua memória de volta." Sem deixar transparecer os próprios pensamentos, Remo balançou a cabeça concordando com a garota.
- Mas por outro lado, - ela continuou apressadamente, se sentindo cada vez mais perdida e desesperada - Ele também disse que eu já estive aqui antes. Quer dizer... minha família deve saber disso também... Nesse caso, eles iriam vir me procurar, não? Por que ninguém vem me procurar?
Remo olhou com maior preocupação para Hermione. Ele não estava suportando ver ela naquele estado. A conversa que ele tinha tido com Dumbledore surgiu em sua mente. Não importava o passado daquela garota. Ou o futuro no caso. Ou quando ela iria embora. O que ela precisava era de amigos no presente. Ele se levantou calmamente, se sentando ao lado dela no sofá e a pegando pelos ombros, forçando-a a olhar diretamente para ele e a acalmando.
- Eu tenho certeza que alguém está fazendo todo o possível para te encontrar... fique tranqüila. Cedo ou tarde você vai descobrir. Seja quando você recuperar sua memória e voltar para onde você veio. Ou se esse alguém te encontrar antes. Hogwarts não é um lugar fácil de se encontrar... você leu 'Hogwarts: um história' e sabe disso.
Hermione balançou a cabeça positivamente, se acalmando um pouco. Sem pensar, ela abraçou Remo e continuou chorando com o rosto em seu peito. Remo não pensou duas vezes antes de fechar os braços ao redor do corpo trêmulo da garota, passando a mão levemente pelos cabelos revoltos dela.
- Eu tenho certeza de que logo isso tudo irá acabar... e as coisas começarão a fazer sentido...
Ele disse, acalmando mais ainda a garota, mas deixando o próprio coração inseguro. Quando esse momento chegasse, seria provavelmente o momento que ela iria embora. Sem nem mesmo perceber, Remo Lupin começou a desejar que esse dia nunca chegasse. Ninguém poderia encontrá-la lá, não? Ela ficaria para sempre ali, com ele.
Mas mal sabia Remo que, por mais que ele tentasse impedir que o tempo passasse, no futuro as coisas andavam contra seus desejos. Em algum lugar, alguém sabia onde Hermione Granger estava. E a procurava com toda a sua força.Dormitório da Grifinória, 1997.
- Rony, tem certeza de que você pretende seguir com esse plano? Não seria melhor falarmos com Dumbledore?
Harry tinha o olhar preocupado fixo no amigo. Desde que haviam descoberto o paradeiro de Hermione, Rony passava os dias (e as noites) pesquisando em livros maneiras de conseguir trazê-la de volta. E foi somente no sábado a noite, depois de um dia inteiro na biblioteca, que Rony conseguira algum resultado. Uma poção e um feitiço de transfiguração de alto nível que, juntos, era a receita para a criação de um semi-vira-tempo. Um objeto mágico semelhante ao vira-tempo, mas que só podia ser usado duas vezes. A poção e o feitiço não eram fáceis de se fazer. Por isso também eles demoraram tanto para encontrá-los. Foi somente em um livro de "Magia Avançada e perigosas", na seção restrita, conseguido com o auxilio de Gina e sua paixão pelas aulas de Defesa Contra Arte das Trevas.
Rony olhava mais uma vez no livro e na lista que ele tinha escrito em um pergaminho sobre as coisas que ele iria precisar, sem prestar atenção ao amigo. Não importava que esse feitiço poderia ser perigoso. Hermione poderia ter voltado para 1997, não? Se ela ainda estava desaparecida, era porque algo em 1977 a havia impedido de voltar. E ele queria saber exatamente o que.
- Rony... por favor... Tente ser sensato.
Harry olhava quase suplicante para o amigo, extremamente preocupado. E se alguma coisa acontecesse? Ele não podia deixar o amigo fazer uma loucura dessas sozinho. Mas assim que Rony se virou para ele, com ódio no olhar, ele sabia que não havia argumentos para impedir o amigo.
- Eu vou trazer Hermione de volta, Harry. E nada no mundo poderá me impedir de conseguir isso.
Continua...
NA: Desculpe a demora para postar este capítulo... Mas a faculdade me fez ficar estudando e fazendo trabalho até durante os finais de semana...
Comentando apenas esse capítulo, espero que vocês tenham gostado... Eu tive bastante dificuldade em escrever a primeira parte dele. Porque eu queria apressar um pouco as coisas, mas sem correr de mais e pular as coisas. Não fiquei muito satisfeita com o resultado. E quem sabe um dia eu volte para reescrever...Agora vou tentar arrumar os erros que vi nos capítulos anteriores... e postar outro capítulo de Voltando a ser um só.
