NA: Nossa.... ninguém anda lendo mais a fic? Ou será que todos cansaram de deixar review? Só recebi um review no último capítulo... :-(

10. Confronto

- Você não acha que a gente devia acordar eles? - Lílian sussurrou para Tiago.

- Não antes de eu tirar uma foto dos dois... - Sirius murmurou com um sorriso maroto no rosto e pegando a varinha.

- Sirius! Não! - Lílian disse, apreensiva e um pouco mais alto do que queria. Logo Remo começou a se mexer, abrindo os olhos lentamente.

- Droga, Lílian! - a voz de Sirius era de irritação, o que chamou a atenção de Remo, que abriu os olhos de uma vez, assustado. Logo no momento seguinte ele corou, balançando a garota que dormia encaixada em seus braços.

- Hum. Que foi? A prova vai começar? - Hermione murmurou, abrindo os olhos e corando mil vezes mais ao olhar ao redor. Ela se sentou correndo, sem conseguir encarar ninguém.

Sirius guardou a varinha com um sorriso maior ainda no rosto. Nem Lílian e Tiago conseguiam deixar de sorrir, o que só aumentou mais ainda o constrangimento dos amigos.

- Dormiram bem? - Sirius perguntou, como quem não quer nada. Remo se limitou a fazer uma cara feia para o amigo. Hermione, no entanto corou mais ainda, sem olhar para Sirius.

- Sirius, deixa os dois irem se trocar para irmos tomar café... - Lílian disse calmamente, tentando limitar as brincadeiras de Sirius da melhor maneira que ela sabia.

- Não antes de saber o que aconteceu aqui. - o tom da voz dele era brincalhão e cheio de significados. Hermione só queria poder desaparecer naquele momento. Remo, percebendo o total desconforto dela, resolveu dar logo ao amigo o que ele queria.

- Não aconteceu nada. A gente ficou conversando a noite e nem percebemos quando o sono chegou. - A voz dele era segura e não mostrava nenhum constrangimento, apesar do seu rosto vermelho. Sirius olhou desconfiado para o amigo, balançando a cabeça negativamente.

-Sei... Tente de novo porque essa não pegou. - dessa vez Sirius olhou para Hermione, esperando uma resposta.

- Almofadinhas! - dessa vez Remo olhava quase bravo para o amigo. Sirius fechou os olhos, jogando as mãos para o ar. Ele sabia quando tinha passado do limite em algo quando Remo perdia a calma. Isso era raro de acontecer. E nem um pouco divertido de se presenciar.

- Ok, mas não pensem que vão escapar dessa tão facilmente... - ele disse, se jogando na poltrona ao lado e abrindo espaço para os dois se levantarem.

Hermione se levantou na mesma hora, desejando que nenhum dos amigos percebesse pela vermelhidão e inchaço do rosto dela que ela tinha passado a noite chorando.

- Eu... já volto. - ela murmurou, subindo correndo para o dormitório feminino. Lílian olhou preocupada para a amiga antes de se virar novamente para Sirius, levemente irritada.

- Sirius! Você passou do limite agora... Não deu para perceber o quanto a Hermione estava sem jeito agora?

- A culpa não é minha se eles não tem vergonha na cara e... - mas a voz brincalhona morreu na garganta de Sirius assim que ele olhou para a expressão séria de Remo. Ele balançou a cabeça negativamente, se sentindo derrotado. - Ok. Eu deixo o assunto morrer, ok?

Remo se levantou e começou a andar na direção do dormitório masculino, ainda levemente irritado.

- Acho bom, Almofadinhas... A última coisa que Hermione precisa agora é de um amigo que a faça se sentir pior do que ela já está.


Hermione ficou mais quieta que o usual o resto daquele dia. Assim como Remo, que parecia extremamente cansado. Mas ela apenas suspeitou que tivesse sido por causa da última noite. "Afinal, por minha causa ele mal conseguiu dormir."

Para seu alívio, nenhum dos outros garotos a perturbou mais sobre o acontecido. Ela suspeitava fortemente que tinha o dedo da Lílian nessa história e, mentalmente, ela agradeceu a amiga. Não queria ter que ficar remoendo a noite passada para sempre.

- Hermione? Tudo bem?

A voz de Remo ao seu lado fez com que ela acordasse dos próprios pensamentos. Todos estavam sentados no salão principal, jantando e conversando animadamente. Afinal, o final do ano estava chegando e logo vários alunos iriam voltar para casa para passar o feriado com sua família. Hermione deu um leve sorriso, balançando a cabeça positivamente.

- Tudo bem... só estava pensando.

Remo olhou preocupado para ela. Os outros garotos e Lílian conversavam entre si, animados com o Natal que chegava. Cada um contando seus planos na volta para casa.

- Ainda preocupada com a nossa conversa? - ele perguntou, baixando um pouco a voz.

Prontamente ela balançou a cabeça negativamente e sorrindo.

- Não. Pode ficar tranqüilo. Estava só pensando no Natal. Vou acabar ficando sozinha no castelo pelo visto...

Remo balançou a cabeça, sorrindo.

- Sozinha não. Eu também vou ficar no castelo esse ano.

Hermione olhou espantada para ele. Pelo o que Lílian havia dito, ela imaginou que todos os marotos fossem voltar para casa. Com um alívio no peito ela sorriu, sem nem mesmo saber porque estava tão feliz com isso.

- Meus pais estão viajando, visitando meus avós na França. Eles não vão ter como me buscar na estação...

Remo não parecia triste com isso, mas algo em seu olhar parecia distante. Hermione olhava com atenção para o rosto do rapaz. Ele parecia mais pálido, e realmente abatido.

- Você está bem? - Ela perguntou, antes que pudesse evitar.

Ele corou levemente, mas balançou a cabeça positivamente.

- Só cansado. Não se preocupe.

Hermione notou como ele não olhou nos olhos dela ao responder, e ficou mais preocupada ainda. Algo dentro dela a dizia que o que estivesse acontecendo, era mais do que simples cansaço.

O resto da noite passou calmamente e em silêncio. Como se previssem dias horríveis, as brincadeiras dos marotos diminuíam, assim como o ânimo. Com a desculpa de que o dia seguinte era segunda, o grupo decidiu dormir cedo.

Pouco antes de se deitar, no entanto, Hermione não pode deixar de olhar para o céu estrelado do lado de fora. A lua enorme que brilhava no céu indicando que a na noite seguinte ela já estaria em plena lua cheia. Ela suspirou. A lua parecia um terrível sinal de mal agouro que trouxe calafrios a ela. Com dificuldade ela adormeceu, para ter um sono nada calmo.


Hermione acordou no dia seguinte com o sol já iluminando o quarto todo. Olhando para a cama ao lado, ela percebeu que Lílian já havia acordado e deixado o quarto. Imaginando que horas seriam e se ela tinha dormido demais, ela se arrumou rapidamente e desceu apressada a escada para a sala comunal.

- Ela é nossa amiga... ela devia saber...

Hermione ouviu a voz de Lílian baixinho vindo da sala, e parou de andar. "Eles estão falando de mim?" Prestando maior atenção, ela ouviu a voz de Sirius em seguida.

- Eu acho que Remo deveria ser a pessoa a falar com ela... afinal, isso diz respeito somente a ele...

Lílian concordou, ainda que relutante. Assim que a sala caiu em silêncio Hermione viu o momento certo de descer. Com o melhor sorriso que ela conseguiu fazer, ela entrou na sala comunal.

- Bom dia, gente. Por que ninguém me acordou?

Lílian sorriu para a amiga, assim como os outros garotos da sala: Tiago, Sirius e Pedro. Eles não pareciam constrangidos, o que deixou Hermione minimamente confusa. "Sobre o que eles estavam falando?"

- Eu já ia te acordar... Nós temos que descer logo para o café da manhã, se não quisermos chegar atrasados na aula de poções.

Hermione balançou a cabeça positivamente, concordando e querendo ignorar a conversa que ela tinha escutado. "Não é da sua conta, Hermione..." ela repetiu para si mesma, antes de olhar ao redor, confusa.

- E o Remo? Ele já desceu?

Dessa vez um pequeno silêncio caiu na sala comunal. Os marotos trocaram olhares antes de Sirius se adiantar, sério.

- Bem... ele recebeu uma coruja durante a noite... A tia dele está muito doente... e ele partiu hoje bem cedo para ir vê-la...

- Ow... - Foi tudo o que Hermione conseguiu dizer, tristemente. Ela queria ter tido a chance de pelo menos ter desejado melhoras para ela antes dele ter partido.

"Será que era sobre isso que eles estavam conversando?" Convencendo a si mesma de que provavelmente era isso, Hermione caminhou com os amigos para o salão principal e para as aulas do dia.


O resto do dia foi extremamente calmo. Sem Remo por perto, os marotos não pareciam os mesmos. Até mesmo Sirius estava mais quieto e menos brincalhão. Claro que dentro de limites. Hermione balançou a cabeça negativamente assim que o grupo entrou no salão principal para jantar.

- Você realmente achou necessária aquela bomba de bosta na poção do Snape, Sirius?

- Você achou divertido na hora. - Sirius respondeu, olhando a garota pelo canto dos olhos.

- Tudo bem, mas realmente era difícil não rir vendo aquele garoto seboso coberto de manchas cor-de-rosa e verdes pelo corpo. - Hermione disse, rindo, - Está certo que ele não gostou nem um pouco de me ver rindo dele...

Sirius deu de ombro.

- Ele é inofensivo. A gente vive pregando uma peça ou outra nele, em poções, mas ele nunca revidou. Só fica olhando feio para a gente.

- Mas não duvido nada se um dia ele resolver revidar. Cedo ou tarde vocês vão acabar passando do limite.

O jeito severo e preocupado de Lílian fez com que o sorriso no rosto dos garotos morresse. Como sempre, eles sabiam que ela tinha razão. Sirius, no entanto, deu de ombros novamente, cansado dos sermões da Lílian. Hermione viu a tensão crescendo na mesa e resolveu mudar de assunto. Tossindo levemente, ela se virou para o amigo.

- E qual a detenção que a Professora Welch preparou para você?

- Vou ter que passar a noite limpando os fracos e jarros da despensa dela. - Ele fez uma careta. Hermione apenas balançou a cabeça novamente.

- Da próxima vez tente não ser pego.

Sirius abriu um sorriso maroto para a garota. E antes mesmo do jantar terminar, ele saiu do salão em direção às masmorras. Hermione olhou pela janela do salão, onde o sol já havia se posto e a lua começava a surgir no céu. Suspirando fundo, uma nova sensação de inquietude tomou conta dela. "Essa vai ser uma longa noite."


E não foi diferente do que ela havia imaginado. Até meia-noite, o horário que o grupo deixou a sala comunal para subir para os dormitórios, Sirius ainda não havia saído da detenção. Inquieta do jeito que estava, Hermione só esperou Lílian dormir profundamente para descer novamente para a sala comunal, carregando um dos livros.

Ela se sentou na poltrona em frente a lareira, tentando se concentrar na leitura. Mas quanto mais ela se esforçava, mais ela se perdia em pensamentos da noite anterior. Ela corou, levemente, ao lembrar do abraço do outro garoto. Ela ainda podia sentir os braços dele a envolvendo, aquele corpo quente e aconchegante a acolhendo. E novamente, como mágica, tudo ao seu redor foi perdendo o sentido. Ela só conseguia escutar o próprio coração batendo acelerado. Ou seria do garoto a sua frente? No momento seguinte, seguindo a batida do coração que se acalmava, sua respiração foi ficando mais fraca até que ela adormeceu nos braços dele.

De repente Hermione levantou a cabeça correndo, acordando dos próprios pensamentos. "Passos?" Ela olhou ao redor, tentando ver alguma silhueta de alguém se movendo naquela semi-escuridão. Não enxergando ninguém, ela se levantou e balançou a cabeça negativamente. "Deve ter sido minha imaginação", ela pensou, sentando-se numa poltrona perto da janela. "Já que não vou conseguir ler nada mesmo."

Ela olhou para a lua-cheia e para os campos de Hogwarts banhados pela lua. O chão branco coberto de neve brilhava sob a luz do luar, deixando todo o ambiente com um ar mais mágico ainda. Hermione suspirou, fazendo com que o vidro se embaçasse mais ainda e se encolhendo debaixo da manta que ela tinha trazido consigo. Foi quando ela percebeu movimentos lá embaixo.

Ela piscou, desembaçando o vidro e colocando a mão ao lado dos olhos, tentando enxergar o mais longe possível. Ela tinha certeza de que havia visto algo grande correndo pelo campo, em direção da Floresta Proibida. Piscando e forçando a vista, ela tentava detectar novos movimentos no gramado coberto de neve. E não demorou muito para ela conseguir ver algo novamente. Só que dessa vez não era apenas um vulto. Eram vários vultos. "Animais?" Ela continuou observando. E conseguiu reconhecer a silhueta de um urso, ou cachorro, junto com os longos chifres de um cervo.

- Por que esses animais iriam andar juntos? E o que eles estão fazendo em pleno campo de Hogwarts?

Um uivo ecoou pelos campos de Hogwarts, fazendo com que ela se afastasse da janela, o coração batendo aceleradamente. Mas não era de medo, ou de susto. Uma sensação de familiaridade com aquela situação fez com que ela se levantasse na mesma hora.

- Um lobo! - Ela sussurrou, pegando o livro que havia caído no chão com o movimento brusco que ela tinha feito.

Aproximando-se novamente da janela, ela olhou para fora novamente, mas sem sinal de movimento algum dessa vez. Nem nenhum som além da própria respiração rápida dela e do fogo crepitando na lareira.

Nas duas noites que se seguiram, Hermione manteve a rotina de descer para a sala comunal no meio da noite. Ela não falou nada para Lílian ou os outros marotos, suspeitando que eles estavam escondendo algo dela... Eles andavam muito estranhos ultimamente. E algo dentro dela a dizia que tudo isso tinha a ver com a conversa que ela tinha escutado naquele outro dia.

Novamente, ao ouvir o uivo do lobo ecoando pela terceira noite seguida, Hermione olhou para a lua e para o livro que ela segurava. Uma idéia martelava em sua mente, e por mais que ela tentasse ignorar, algo em seu coração a dizia que aquilo era óbvio. Ela só precisaria esperar pela volta de Remo para confirmar sua teoria.


Remo apareceu durante o almoço da quinta-feira, muito pálido e bem mais magro e cansado. Hermione olhou preocupada para ele, mas desviou o olhar assim que ele se virou para ela.

Remo olhou magoado para o próprio prato, sem fome. Aquela não era a recepção que ele esperava. Mas por mais que ele quisesse chegar até Hermione e contar tudo para ela, ele estava cansado demais para ter que lidar com isso.

"Além do mais, eu tenho que admitir... eu não sei o que eu faria se ela me olhasse com medo..." Ele pensou ao deitar a noite em sua cama. Ele tinha ido para o dormitório bem mais cedo que seus amigos, afirmando estar cansado. Era verdade que ele realmente estava exausto, mas a verdadeira razão era evitar Hermione. "Ou parar de ser evitado por ela..." ele pensou, fechando os olhos. Mas logo ele abriu os olhos novamente, sem conseguir relaxar e dormir. "E se ela já souber?" ele pensou, temeroso. Talvez esse fosse o motivo para ele o estar evitando. Ela já sabia do segredo dele.

Sirius e os outros garotos entraram no quarto algumas horas depois. Remo ainda estava acordado, com os olhos fixos no teto, mas com a cortina fechada. Ele não respondeu ao amigo, quando Sirius o chamou, para saber se ele ainda estava acordado.

Sirius deu de ombro, ao ver que o amigo não respondeu. Ele sabia que Remo ainda não estava dormindo, mas também não queria incomodar o amigo, se este não quisesse conversar. Ele só chegou perto da cama e murmurou para a cortina: "Ela também foi deitar logo depois de você, e parecia chateada.". Logo depois ele deu boa noite aos amigos e foi dormir.

Remo escutou as palavras de Sirius e continuou com os olhos abertos por mais algumas horas naquela noite, remoendo os mesmos pensamentos. Com um longo suspiro ele finalmente fechou os olhos, calculando ser umas três da manhã. Era melhor ele dormir logo, acordar cedo no dia seguinte, e encarar o que ele tanto temia: uma conversa com Hermione Granger.


Como Remo havia pensado, ter a conversa com Hermione não estava sendo fácil. Ela havia passado a manhã toda olhando para ele, esperando que ele tomasse a iniciativa de ir falar com ela. E ele realmente havia tentado. Mas sempre havia alguma coisa para interferir na conversa. Ora era uma brincadeira de Sirius; ora um professor querendo trocar algumas palavras com Remo.

A melhor chance que ele conseguiu foi no fim daquela tarde de sexta. Sirius, Tiago e Pedro iam saindo da sala comunal, conversando animados sobre o final de semana e o Natal. Lílian esperava ao pé da escada para o dormitório feminino. Hermione havia subido rapidamente para pegar um dos livros (e nessa hora Remo deu um sorriso ao se lembrar da cara de desânimo do Sirius. "Hermione! Nós estamos indo jantar! Para que você quer um livro?". Ela apenas havia sorrido para ele, pedindo para irem na frente.). E Remo mesmo estava parado perto da saída da sala.

Reunindo toda a coragem que ele teve, ele andou até Lílian. A garota sorriu para ele, como que já sabendo o que ele iria pedir.

- Eu vou descendo na frente. Depois da conversa, vocês podem se juntar a nós na mesa da Grifinória.

Lílian disse, piscando para Remo e desejando boa sorte antes de sair pelo buraco do quadro.

Remo ficou parado alguns segundos no meio da sala comunal já vazia, mas para ele pareciam horas. Quando os passos apressados indicavam que Hermione estava chegando, ele respirou fundo.

Hermione parou no instante que viu a sala comunal vazia, com exceção do garoto. Sem jeito, assim como ele, ela abraçou o livro que segurava e chegou mais perto dele.

- Bem... - ele começou e engasgou no inicio da frase.

- A gente precisa conversar. - Hermione disse mais segura, apesar de estar longe de se sentir assim.

Ele balançou a cabeça, concordando. Hermione esperou um momento, que pareceu uma eternidade, até ele começar a falar algo.

- Eu... - novamente ele parou, incerto do que falar. Ele havia pensado nisso a noite toda, mas nunca imaginou que seria tão difícil. Ele viu ela balançar a cabeça negativamente e começou a se sentir pior ainda.

Hermione realmente sabia que aquela não seria uma conversa fácil, mas ela não imaginava que, depois dos que eles já tinham passado nas últimas semanas, ele iria ter tanta dificuldade em se abrir com ela. Sentindo-se ligeiramente magoada, ela olhou para o livro em sua mão e entregou ao garoto.

Remo pegou o livro relutante. "O que isso tem a ver com nossa conversa?" Mas a resposta chegou assim que ele viu o título do livro.

- Focinho Peludo, Coração Humano. - ele murmurou, sentindo um buraco se abrindo no fundo do seu estômago e todo o ar se expelindo do seu pulmão, ao mesmo tempo em que seu coração parava de bater.

Ele olhou para cima e viu o olhar dela fixo nos dele, esperando uma reação. A dor que ele deveria estar mostrando no momento deve ter sido o suficiente para ela, pois no momento seguinte, Hermione desviou o olhar para o chão.

- Então eu estava certa? - Ela perguntou, a voz dela quase um sussurro de insegurança. - Você é um... - ela olhou novamente para os olhos dele, mas dessa vez quem desviou o olhar foi ele.

- Um lobisomem. - ele completou a frase, andando para um dos sofás da sala. A voz dele era direta e não demonstrava nem dor, nem tristeza, nem nada do gênero. Era como se ele não sentisse mais o que aquela palavra significava. Ou pelo menos era isso que a voz dele demonstrava. - Quando você descobriu?

No momento que Hermione foi em direção do sofá, percebeu que os olhos dele deixavam escapar tudo aquilo que a voz escondia. Um certo temor tomava conta dele, e ele evitava ao máximo olhar para ela, ou até mesmo se deixar aproximar. Ela sentou no canto oposto do sofá.

- Eu tive essa... sensação... antes da lua cheia. E a idéia simplesmente surgiu na minha mente na primeira noite que você sumiu. Quando eu jurei escutar um uivo. Eu não tinha certeza, mas algo me dizia que não tinha outra resposta. Era como se... - ela parou um minuto, olhando para ele. O olhar dele encontrou o dela, encorajando-a a continuar. Ela engoliu em seco. - Como se eu já soubesse coisas sobre você antes mesmo de te conhecer.

Os pensamentos dele pararam por um minuto, mas os olhos dele nunca deixaram os dela. A idéia de que ela poderia conhecer ele, ou talvez ele no futuro era desconcertante. No mínimo, confusa. E era assim que ele estava no momento. Ele balançou a cabeça negativamente.

- Você não está com medo? Quero dizer, nós tivemos uma aula bem ilustrativa sobre lobisomens algumas semanas atrás...

Ela balançou a cabeça negativamente, e a sombra de um sorriso que surgiu em seu rosto foi o suficiente para acalmar Remo. Ela realmente nunca tivera medo dele, e parecia que nunca teria. Por outro lado, ele percebeu que quem sempre demonstrara ter medo de alguém era ele. Medo dela e dele mesmo perto dela.

Assim que o semi-sorriso sumiu do rosto dela, o coração de Remo se apertou novamente.

- Não foi medo que eu senti... mas... - ela relutou, desviando novamente o olhar para o chão. - Quero dizer... eu contei coisas a você nessas últimas noites que eu não cheguei a falar nem com a Lílian... Eu pensei que nós estávamos ficando próximos. Pensei que nós éramos amigos.

- Nós somos... - ele começou, mas ela balançou a cabeça novamente, o interrompendo.

- Por que você não me contou, antes de desaparecer? - A voz dela estava rouca, segurando lágrimas.

Ela não olhava para ele, o que incomodava mais ainda Remo. Se ele pudesse, ele teria subido correndo para o quarto e usado o vira-tempo, só para poder contar a ela, só para não ter mais que ver aquela expressão no rosto dela. Antes que ele pudesse responder, no entanto, Hermione levantou a cabeça, olhando para ele. Novamente um sorriso no rosto dela, mas um sorriso triste e coberto de lágrimas agora.

- Mas eu não te culpo. Quero dizer, pensando bem agora, eu sou uma estranha aqui, não? Eu sou uma estranha para você... Afinal, eu sou uma estranha até para mim mesma! Como você poderia confiar em mim???

A voz dela soava com tal desespero que Remo não agüentou mais. Da mesma maneira que apenas algumas noites anteriores, ele se sentou ao lado dela e a tomou em um abraço, tentando com todas as forças confortá-la. Novamente ela escondeu o rosto em seu peito. Beijando de leve o topo da cabeça dela, ele murmurou:

- Eu confio em você mais do que em mim mesmo...

Ele não teve certeza se ela tinha escutado, mas a intenção das palavras era consolá-lo muito mais do que consolar ela. De certa maneira ela estava certa. Eles ainda eram dois estranhos. E ele realmente não gostava dessa condição. A última coisa que ele queria era ser um estranho para ela.


Hogwarts, 1997.

Gina observava, apreensiva, o irmão colocando mais alguns ingredientes no caldeirão fumegante em cima da pia. Ela balançou a cabeça negativamente.

- Rony... poções não é sua melhor matéria. Tem certeza de que não tem outro jeito da gente fazer isso?

Rony checou pela milésima vez o livro aberto na sua frente e continuou mexendo o caldeirão, simplesmente ignorando a irmã. Gina bufou levemente irritada, mas Harry logo se aproximou, colocando os braços ao redor dos ombros dela e dando um leve beijo em sua bochecha.

- Nós procuramos, Gina. - Ele disse calmamente. - Realmente parece que, sem um vira-tempo, esse é o único jeito.

Nervosamente ela começou a torcer a manga da própria capa.

- Mas por que a gente tinha que vir usar justo o banheiro da Murta-que-geme? - Ela sussurrou, chateada, olhando de lado para o fantasma que pairava no ar, em um dos cantos do banheiro, só observando a cena e lançando olhares mortais para Gina.

- Por que é o único lugar onde a gente pode deixar a poção durante um mês, sem que ninguém descubra! - Rony disse irritado, quase cortando o próprio dedo ao invés da raiz de gengibre a sua frente.

Gina balançou a cabeça negativamente novamente e se adiantou até o irmão.

- Deixa que eu faço isso! Se você quer tanto fazer essa loucura de ir buscar a Mione, pelo menos é melhor que você apareça por lá inteiro...

Rony se afastou da faca e deixou que a irmã começasse a cortar a raiz. Ele olhou para os próprios pés, se sentindo extremamente idiota.

- Eu não sei mais o que fazer! - Ele disse subitamente, passando as mãos pelos cabelos nervosamente. - Quero dizer, o que mais eu posso fazer?

Ele olhou para o amigo e a irmã, suplicante.

- Se fosse com você, Gina. Ou você Harry. Vocês fariam diferente?

Gina e Harry se entreolharam e não tiveram dúvida. Balançando a cabeça, eles olharam para Rony, assegurando o amigo.

- Nós entendemos, Rony. Por isso estamos aqui. Nós vamos fazer de tudo para trazer Hermione de volta.

Continua...