11. Conhecendo Estranhos
Hermione apertou a capa de inverno mais forte ao redor do próprio corpo e respirou fundo, fazendo com que uma pequena fumaça branca se formasse a sua frente. Ela andava apressada ao lado de Lílian, pelos campos cobertos de neve. Ainda faltavam duas semanas para o Natal, mas a neve que caía já dava ao local um ar natalino que animava todos os corações.
Lílian falava sobre o guarda-chaves de Hogwarts, Hagrid, e como ele era legal com ela e sempre a ajudava a encontrar ingredientes para algumas poções pelas propriedades da escola. Mas a mente de Hermione ainda corria para duas noites anteriores, para a conversa que ela tinha tido com Remo.
Depois daquilo, as coisas entre eles foram ficando mais naturais e amigáveis. Ela esperava que eles fossem ficar sem jeito um com o outro, mas exatamente o oposto começou a acontecer. De uma hora para outra, era natural para eles se abraçarem e se confortarem.
Sem nem mesmo se dar conta disso, Hermione sorriu, se sentindo bem mais leve. Lílian olhou para ela, também com um sorriso no rosto.
- Você não estava ouvindo uma palavra sequer que eu estava falando, não é?
Hermione corou levemente, fazendo com que Lílian desse uma leve risada.
- Tudo bem. Eu sei como você deve estar se sentindo. E aposto que uma conversa chata sobre uma poção da língua-presa não seria o suficiente para que você tirasse o Remo da cabeça...
- Lílian! - Hermione corou mais ainda, mas não deixou de sorrir para a amiga. Era bom ter uma cúmplice como a Lílian. Alguém que parecia poder ler os próprios pensamentos dela e a fazer se sentir bem nos piores momentos.
Ainda com um sorriso ela se virou para o lado, olhando a paisagem coberta de neve, e no momento exato para evitar que uma bola de neve a acertasse em cheio na cabeça. Olhando levemente irritada na direção da bola de neve, ela viu os garotos e Sirius com um sorriso maroto.
- Foi culpa do Tiago! - Ele gritou para Hermione, recebendo uma bola de neve na nuca logo em seguida.
- Nunca dê as costas ao time inimigo, Sirius! - Tiago riu, dando um novo manejo na varinha e formando outra bola de neve, que dessa vez se dirigiu velozmente na direção de Pedro.
Hermione não pôde deixar de rir da cena. Segundos depois ela formava uma bola de neve com a própria varinha, mirando Sirius.
- Vai precisar melhorar a pontaria! - Sirius disse, enquanto desviava da bola rindo.
Tiago e Remo se entreolharam com um sorriso. Os dois se juntaram à Hermione, lado a lado, e começaram a lançar bola atrás de bola de neve na direção de Sirius. Sem chance de desviar, o garoto caiu para trás, coberto de neve.
- Golpe baixo! - Ele gritou, o som abafado com a neve que cobria sua cabeça.
Tiago riu, chegando ao lado do amigo e o ajudando a se desenterrar da neve.
- Quem manda ser tão querido pelos seus amigos. Popularidade tem seu preço...
- E golpes baixos também. - Sirius disse, se levantando com a ajuda do amigo e formando três bolas de neve ao mesmo tempo, que voaram na direção da cabeça de Tiago, Remo e Hermione.
Remo foi o mais rápido, desviando da bola sem grandes dificuldades. Mas Hermione foi pega de surpresa. Com o susto e o impacto, ela perdeu o equilíbrio, se agarrando ao que estava mais perto para se sustentar. No caso, a pessoa mais perto era Remo. Ele sentiu a garota puxando sua manga, mas também não conseguiu manter-se firme.
Em meio aos risos dos amigos, ambos caíram na neve, entrelaçados. Hermione nem teve tempo de corar, levando uma bola de neve no topo da cabeça. Ela olhou incrédula para o garoto ao seu lado.
- Isso foi por ter me derrubado. - Ele disse, rindo. E ela viu com satisfação que ele também não corava. Com a mão cheia de neve, ele esfregou o cabelo dele em resposta.
- E isso foi por não ter me segurado. - Ela disse, se sentando e puxando Remo para se sentar ao lado dela.
Os outros se sentaram na neve, rindo e exaustos, desistindo da luta. Grandes nuvens de fumaça se formavam em frente a eles, que ofegavam, em meio a risadas que foram morrendo aos poucos. Mesmo com todo o calor dos corpos deles, a roupa molhada de neve começava a esfriar os ânimos lentamente.
- Melhor irmos nos trocar, ou vamos acabar doentes. - Lílian disse. Tiago se levantou, a ajudando a ficar de pé em seguida. - Vamos subir?
- Vamos. - Remo disse, se levantando e imitando o amigo. Hermione deu a mão a ele, que a ajudou com facilidade.
O grupo olhou com interesse e brilho nos olhos os dois andarem em direção ao castelo, quase se abraçando, quase se apoiando um ao outro.
Horas depois, descansados e de barriga cheia, o grupo se esquentava na sala comunal da Grifinória. Sirius e Pedro jogavam uma injusta partida de Xadrez bruxo, enquanto Tiago e Lílian aproveitavam o tempo frio para passar um momento romântico juntos e longe dos amigos, abraçados no sofá mais afastado. Remo e Hermione sentavam em um sofá ao lado da lareira e se apoiavam, distraídos em suas leituras. Mas volta e meia ele levantava a cabeça e olhava ao redor, para a partida de Sirius ou para Hermione.
Remo parou, observando a luz trêmula da lareira iluminando a garota ao lado dele. Era fantástico que de uma hora para outra ele passou a perceber pequenas coisas. Como o cabelo dela se movimentava e caia sobre a testa dela quando ela se virava. Como pequenas dobras se formavam ao redor dos olhos dela quando ela sorria. Como ela mexia no cabelo e mordia os lábios enquanto se concentrava em alguma leitura. E como ele amava tudo isso nela. Um calor, que ele sabia que não vinha da lareira, começou a tomar conta dele.
E de repente ele sabia o que precisava ser feito. E ele sabia quando e como seria feito.
Na primeira manhã de sábado, depois do término do período, Hermione e Remo estavam no Hall principal se despedindo dos amigos que iam passar o feriado em casa.
- Pode me escrever se acontecer alguma coisa... Qualquer coisa... - Lílian disse, dando uma piscadela para Hermione e balançando a cabeça levemente na direção de Remo quase imperceptivelmente.
- Pode deixar. - Hermione respondeu baixinho, corando levemente. Lílian riu e pegou na mão de Tiago, saindo pelo portão.
- Vê se não apronta muito sem a gente, Aluado! - Sirius disse, dando uma palmadinha nas costas do amigo e sorrindo para a Hermione.
Em seguida ele se abaixou e sussurrou algo no ouvido de Hermione, que corou violentamente. Como resposta, Remo praticamente o empurrou para fora do castelo. Sirius riu e piscou para o amigo antes de se virar e correr em direção aos amigos que já iam na frente, gritando para os dois que ficavam para trás:
- Não façam nada que eu não faria, crianças.
Remo balançou a cabeça negativamente antes de se virar para a garota ao lado dele, que ainda tinha o rosto levemente vermelho.
- O que foi que ele disse?
Ela balançou a cabeça negativamente, tentando ignorar a quentura que sentia em seu rosto.
- Ahn... nada importante... - Ela quase gaguejou, sem olhar para ele e emendou correndo algo. - Que tal a gente ir tomar café?
Remo deu de ombro e concordou, deixando a garota apressada e decidida ir andando na frente para o Salão.
Só que na pressa de fugir de um assunto embaraçosso, Hermione nem viu quando trombou com um garoto que saia do Salão. O garoto caiu para trás, derrubando a pilha de livros que ele carregava. Hermione também se desequilibrou, mas Remo foi mais rápido e a segurou antes que ela também caisse.
- Garota idiota. - A garoto no chão dizia, como para si mesmo, ignorando a presença dos dois Grifinórios alí e recolhendo seus livros. - Aparece do nada e já faz amizades com os piores tipos que poderia ter... Típica sangue-ruim...
Remo se adiantou, sentindo o rosto quente de raiva. Ele tirou a varinha do meio da vestes e a apontou para o rosto do garoto agachado, sem nem mesmo se preocupar com a presença ou ausência de algum monitor ou professor.
- Peça desculpas. - Ele disse, cerrando os dentes. Hermione deu um passo para trás, levemente assustada. Ela nunca tinha visto Remo tão bravo antes. - Peça desculpas!
Snape continuou a pegar seus livros, e sem se importar com a varinha apontada para ele, se levantou. Remo manteve a varinha apontada para seu peito, agora. Snape deu um leve sorriso de desdem.
- Ora, vejam só. O garoto traça-de-livros tem coragem de enfrentar alguém. Pensei que ele só soubesse se esconder atrás dos super-amigos dele...
Remo não pensou duas vezes. Na verdade, ele não pensou nem uma vez antes de largar a varinha e dar um soco na cara de Snape. Todo o sangue sumiu do rosto do rapaz, que ficou mais pálido que o normal. Faisca de raiva saiam dos olhos dele. Remo simplemente pegou a varinha de volta, guardando-a nas vestes e olhando com a mesma raiva para Snape.
- Se você se dirigir a ela novamente, com ou sem esse vocabulário, eu juro que dessa vez não largarei a varinha...
Snape deu um passo para o lado, se afastando dos dois, mas sem tirar os olhos da garota. Hermione parecia levemente assustada, mas quando Remo deu a mão para que ele a levasse para dentro, ela aceitou rapidamente. O Sonserino continuou alguns minutos ainda na porta do Salão, observando o casal se dirigindo para a mesa da Grifinória. Seu rosto, antes pálido, agora se enchia de um vermelho quente. Remo Lupin iria pagar.
Hermione se sentou ao lado de Remo na mesa da Grifinória. O rapaz ainda parecia um tanto desconcertado, mas a raiva parecia ter desaparecido dele. Ela olhou para ele, meio insegura.
- Você não precisava ter feito aquilo. E se você fosse pego por algum professor? Poderia ficar em detenção, por minha causa...
Remo balançou a cabeça negativamente e se virou para ela, bem mais calmo, mas estava sério.
- Primeiro, não seria por sua causa. Eu escolhi dar um soco no idiota, não você. Segundo, - ele acrescentou antes que ela interrompesse, o que ela realmente pretendia fazer. - Eu não ia deixar que ele simplesmente a ofendesse assim...
Hermione ficou quieta, olhando Remo. Por um instante o garoto pensou ter feito realmente a coisa errada. Ela estava séria, quase como se dissesse que não queria ajuda dele. Não dessa maneira, pelo menos. Ele fechou os olhos, pronto para se xingar por completo quando ouviu ela suspirando ao seu lado.
- Obrigada. - ela murmurrou.
Ele se sentiu levemente aliviado, e olhando para ela, com um sorriso, ele acrescentou:
- Não precisa agradecer. Não fiz nada que não quisesse realmente.
Hermione não duvidou que o garoto realmente tivesse merecido o soco. Ela só se preocupava com o fato de Remo ter que correr riscos por ela. Por que ele deveria fazer algo assim? A resposta estava na ponta da lingua, mas ela preferiu simplesmente ignorar a pergunta e se concentrar no desjejum, conversando animadamente sobre outros assuntos com o garoto ao seu lado.
Continua...
No próximo capítulo. Será que Hermione e Remo finalmente irão abrir seus corações? E será que Rony irá chegar a tempo de impedir que algo aconteça? Será que Hermione irá se lembrar de algo? E será que eu vou conseguir acabar de escrever o capítulo 13 a tempo???
