Capítulo III

Sra. Betelgeuse Black

Andrômeda não conseguia conter a felicidade realmente. A presença de Sirius era como um sinal, um bom agouro que queria dizer provavelmente que tudo daria certo.

Subiram alguns degraus se distanciando dos outros, até que finalmente ele olhou para a prima sorridente.

-Eu ainda não acredito que você está aqui, Sirius.

-Feliz?

-Muito... Você não sabe como precisava te encontrar, primo, só você pode me ajudar agora.

Ele a olhou preocupado, ela não costumava pedir ajuda, como qualquer Black.

-O que aconteceu?

Faltavam só alguns degraus, não dava para ela enrolar.

-Estou grávida...

Sirius teve que engolir a exclamação pois uma das moças do cerimonial já estava ao lado deles perguntando a quem deveria anunciar.

-Senhor Sirius Black e Senhorita Andrômeda Black. Netos dos homenageados. – disse a prima, percebendo a incapacidade dele em responder aquela simples pergunta. Pelo visto o baque fora grande.

Entraram no salão calados, não daria para conversarem naquele momento. A hora era de espanto completo pela presença de Sirius. O chato foi que ele não pode sequer aproveitar as caras perplexas dos familiares, depois da bomba que Andrômeda jogara no seu colo, quem estava atordoado era ele próprio.

-Sirius! Sirius meu lindo! A quanto tempo...

Sra. Betelgeuse Black, a avó que mais parecia ter saído de uma história de terror do que um conto de fadas.

Um sorriso quase sem dentes, onde os poucos que restavam estavam podres. Um óculos que ampliava seus olhos vesgos umas duzentas vezes. Uma bengala que causava medo a qualquer um, mesmo sendo apoio de alguém aparentemente tão frágil. E, para completar, uma fama de sanguinária causar inveja a qualquer Hitler.

Felizmente ela ficara animadíssima com a presença do rapaz. Em contrapartida os olhares de seus pais e tios não pareciam nada satisfeitos, sem contar com o de seu avó Órion, que provavelmente estava achando que ele estava ali para pedir desculpas.

-Olá vovó... – disse tentando se desvencilhar dos apertões na bochecha – Eu não poderia deixar de vir... Eu... Precisava te contar uma coisa e...

-Depois querido, depois. Agora venha comigo, quero lhe apresentar a todas as minhas amigas caquéticas e mostrar como eu tenho o neto mais bonito de toda a Inglaterra... Mesmo se vestindo mal desse jeito... Mas tudo bem, resolvo isso em dois tempos.

A velha girou o cajado em que se apoiava e a roupa de Sirius mudou por completo, agora ele vestia um fraque do século XIX, de um tom nada agradável.

-Vovó... Verde limão não é uma das minhas cores prediletas, sabe. – disse impaciente.

-Ah... Ta bom. – girou o cajado novamente e o as roupas tomaram cores pretas e toes vinhos mais discretos, não era o estilo dele mas pelo menos tinha mais haver.

Ela começou a puxa-lo para longe quando parou novamente.

-Bella! Bella minha linda, venha comigo você também... – disse tirando-a dos braços de Rodolfus.

-Vovó, deixe-me apresentar meu namorado primeiro... – disse a morena de cabelos longos e escorridos, tentando ser polida.

-Não quero conhecer namorado nenhum menina. Quero matar minhas amigas de inveja com vocês dois... Vamos. Alias, vou apresentar vocês como se estivessem namorando. - Lestrange olhou com puro ódio para Sirius - Imagina a cara delas quando perceberem que nem seus bisnetos vão conseguir ser melhores que os meus! – e soltou uma estridente gargalhada sem deixar que qualquer um deles a contrariasse.

Os dois acabaram por seguir a Sra. Black sem reclamar, até por que sabiam muito bem que não adiantaria, ela sempre fazia o que queria.

Foi particularmente difícil se livrar da velha. Sirius já tinha perdido até a vontade de contar que ele havia fugido de casa e ninguém na família teve coragem de dizer a ela e, pior, que a estavam fazendo de idiota a cinco anos.

Até que uma valsa começou e a Sra. Black fez questão que os netos mais lindos do mundo fosse se divertir um pouco e dançassem juntos, é claro.

-Ah não... Eu não vou...

-Vamos adorar, vovó! – Sirius cortou Bellatrix antes que ela estragasse tudo – Faz tempo que não dançamos juntos, não é Belinha... – e a puxou para o meio dos outros casais Ficou louca é? A única chance que teremos de nos livrar dela até o jantar e você queria jogar pela janela?

-Servir de bonequinha de porcelana da Sra. Betelgeuse Black ou dançar uma valsa com você... Difícil escolha sabe...

-Deixe de frescura. Se nos embrenharmos no meio dos outros casais poderemos sumir da vista dela por um bom tempo. – ela teve que concordar – E pare de reclamar, você sempre gostou de dançar comigo.

-Eu? Da onde você tirou essa idéia ridícula? – respondeu com falso desdém, afinal de contas era verdade. Sirius era o único com quem ela conseguia dançar despreocupadamente, não sabia explicar, mas não tinha dificuldade nenhuma em deixar que ele a guiasse, coisa incomum com os outros pares que já tivera.

-Você lembra dessa música?

-Não, por que, deveria?

Claro que ela lembrava. Tiveram que ouvi-la exaustivamente até que aprendessem a dançar a primeira valsa que participariam frente a sociedade bruxa, nos 13 anos de Sirius. A musica era particularmente complicada em certo momento, foi quando o primo a girou de repente e riu gostoso ao perceber que ela o acompanhara.

-Lembra sim... Se não lembrasse não teria acertado esse passo nunca.

Bellatrix soltou um muxoxo, depois o encarou e acabou não resistindo as lembranças e deu o primeiro sorriso desde que Sirius aparecera.

-Você ainda era suportável naquela época.

-Você também era... Foi a última vez que aprontamos juntos, não foi?

Ela fez que sim.

-Plano "família viajante"... – disse saudosamente – lembro como se fosse hoje, jamais vou esquecer da cara da Tia Eleonora quando desaparecer após falar "Patagônia"...

-Foi uma bela idéia criar um pó de flu que funcionassem em contato com líquidos para joga-lo nos drinkes e vê-los desaparecendo sempre que falassem sobre algum lugar... Lembra como detestávamos aqueles papos de "pra onde fomos nas últimas férias"?

-É, lembro... Mas até hoje você não me contou como conseguiu desenvolver o pó.

-Levou um ano inteiro... Mas isso não vem mais ao caso. Faz tempo que não jogamos no mesmo time... Uma pena por que você era uma ótima comparsa.

-Lembra quando aprontávamos com a Cisa a Andie e o Reg...

-Somos os mais velhos... – disse ele rindo – tínhamos que ensina-los a lhe dar com as agruras do mundo...

-Faze-los cair do alto do penhasco não pode ser considerado "agruras do mundo", Sirius! – ela imitou a voz pomposa do pai dele, respondendo a desculpa que ele sempre dava quando finalmente eram pegos.

Ele deu de ombros, satisfeito.

-De qualquer forma, por conta disso o Reg aprendeu a desaparatar aos 10 anos de idade. Ele não podia reclamar. E você também não ficava atrás, a Andie e a Cisa também tiveram que aprender a nadar bem cedo nas correntezas do rio Tenebroso que passa aqui da casa de campo.

Bellatrix soltou uma gargalhada ao lembrar, em particular, de Narcisa, que ficou mais irritada com o estado lamentável que ficara seu cabelo e vestido novo após o banho fora de hora do que com os litros de água que engoliu antes de conseguir sair do rio.

-É... Mas, como a Andrômeda mesmo diz, nada comparado a quando a gente se juntava... Formávamos uma bela dupla...

-Para muitas coisas. – Sirius tinha um olhar malicioso que ela conhecia tão bem – O seu namoradinho ta dando conta do recado?

-Está... Imagino que a Andie também.

Ele franziu o cenho.

-Como?

-Não tente disfarçar Sirius, está na cara. Você e a Andie estão tendo um caso, não estão?

-Da onde você tirou essa idéia? – perguntou parecendo ofendido e Sirius não faria cara de ofendido caso fosse verdade, mesmo que quisesse esconder o fato.

Bella deu de ombros.

-O jeito que ela ficou alegre ao te ver. Ela passou a viajem inteira insuportavelmente quieta e foi só você aparecer para mudar a expressão.

-Não estamos tendo um caso, Bellatrix. A Andie só ficou feliz em me ver por que está com um problema e acha que eu posso ajuda-la... Mas sinceramente nem eu sei o que fazer.

BINGO! Havia realmente um problema, e Sirius sabia qual era. Logicamente não lhe diria nada, a não ser que...

-É... Eu também não soube o que dizer.

-Você não soube o que dizer? Pombas, Bella, você poderia dar uma ajuda bem melhor, não? Afinal passou por isso quando achou que estava grávida e...

-A Andrômeda está grávida!