Capítulo VI

O Jantar

-Sirius, meu lindo! – gritou a avó em uma das mesas dispostas na enorme sala, assim que apareceu – Por que demorou tanto, quero que sente aqui, ao meu lado.

Por algum daqueles acasos inconseqüentes do destino, a cadeira vazia ao lado da Sra. Black era justamente a que tinha Bellatrix sentada do outro lado.

Acabou obedecendo, mesmo com o bufar irritado do Sr. Órion.

E ele ainda se sentia no direito de se irritar com a sua presença. Velho cretino! Provavelmente fora dele a ordem de mandar a neta tirar o filho bastardo, sem se importar nem com a criança, muito menos com ele, o pai.

Se para a Sra. Black ter os dois mais perfeitos netos casados era um sonho dourado, não era para o resto da família. Pior, chegava a ser um pesadelo imaginar Sirius e Bellatrix juntos, subjugando seus pais e irmãos, como certamente o fariam.

E o velho Órion tinha suas tendências hierárquicas, não queria sequer imaginar que ele, Sirius, acabasse por se tornar herdeiro maior de tudo que os Black possuíam. Por que ele sim, ao contrario da esposa, sempre soube ver uma pessoa como ela realmente era, e nunca gostara do que via em Sirius.

-Então... O que anda fazendo, meu querido?

A pergunta da avó o tirou de seus pensamentos.

-Bom... – ele olhou em volta, a tensão no rosto do resto da família fez com que a adrenalina liberada durante uma boa briga entrasse com tudo na sua corrente sangüínea – Papai e mamãe não te disseram?

Como foi maravilhoso ver o olhar de puro ódio que a mãe lhe lançara.

-Ah... Eles falam, falam e não me explicam nada. Tive que ameaçar cortar-lhes as línguas caso você não aparecesse hoje, e pelo visto deu certo, não foi...

Ele encarou os pais.

-É... Foi... Embora eles não tenham se esforçado nada para que eu viesse.

O pai fez sinal que o estrangularia, mas parou assim que a mãe o encarou.

-Não? E eu posso saber por que?

O silencio pareceu tomar conta da mesa em que estavam.

-Acho que é por que o tio e a tia já havia se cansado de tentar fazer com que Sirius largasse seus afazeres e comparecesse a uma de nossas reuniões, vovó. – disse Bellatrix – Não sei se você sabe, mas ele esta... Trabalhando.

-Trabalhando? Isso é verdade? – a avó olhou severamente.

Bom, lógico que era verdade, como ela achava que ele iria se sustentar sem trabalho e...

-Você é um BLACK, Sirius! – gritou a velha com a voz estridente, chamando a atenção das outras mesas – Um Black não precisa trabalhar. Não TEM que trabalhar... Chega a ser um insulto...

-Vovó... Eu... – ele bem que tentou corta-la, mas logo após puxar mais um pouco de ar a Sra. Betelgeuse continuou a berrar com toda a força.

-Um insulto, isso sim! Um insulto aos seus antepassados que tanto fizeram para estarmos onde estamos!

-Bom, não é a primeira vez que o seu predileto insulta nossos antepassados. – disse Narcisa, mais adiante.

-Ele acabou entrando para a Grifinória, não foi... – completou Régulos.

-É... E você passou a mão na cabeça dele naquela época Bel... – disse o Sr. Órion com a voz estrondosa que Sirius não ouvia a tanto tempo – Veja só no que deu.

-E no que exatamente "deu", meu avô? Diga. Fale pra ela de uma vez o que o netinho predileto virou.

-Foi por isso que veio, não foi, seu moleque? – rosnou o tio em outro ponto da mesa.

-Pode apostar que sim. Se vocês não tem coragem de dizer a ela que eu sai de casa, eu tenho!

-Você o que? – ela pegou o cajado que usava para caminhar e começou a bater no neto, arrancando risos dos demais – Como você pode sair de casa, seu desmiolado! Louco! Sabem quantos bruxos queriam estar nos seu lugar?

Todas as mesas olhavam a cena apreensiva embora os integrantes do espetáculo não parecessem incomodados com aquilo.

-É o que eu sempre disse pra ele... – murmurava Narcisa para Malfoy.

-Você mais do que ninguém deveria saber o que é ser um Black! Um sangue puro! Um...

Sirius segurou a bengala no ar, a impedindo de bater-lhe novamente.

-Um preconceituoso insuportável e convencido que não consegue ver nada além de brasões! Isso é ser um Black sua velha nojenta!

-Mais respeito com a sua avó!

-Avó? Achei que ela não era mais minha avó já que eu não sou mais seu filho! Você queimou meu nome naquela tapeçaria, não queimou?

-Pois ele fez muito bem seu traidor do próprio sangue! – gritou a mãe – pessoas como você tem que viver com aquele bando de seres insignificantes que você chama de amigos, um bando de sangue-ruins, sem nome, sem procedência!

-Me desculpe se eu consigo ver mais nas pessoas do que simplesmente um nome ou uma procedência.