A chuva caía grossa nessa tarde. Tahoro estava indo para a faculdade como sempre. Estava passando por uma estrada quando presenciou um enorme acidente. Um caminhão derrapou na pista, caindo e fazendo vários outros carros baterem nele, um após o outro. Logo atrás vinha uma limusine. O motorista pisou no freio, fazendo-a derrapar no asfalto molhado e sair da pista, batendo, logo em seguida, com força contra uma parede. A pessoa que estava sentada no banco do carona voou pelo vidro e bateu na parede. Tahoro viu nessa hora uma senhora de idade saiu de dentro da limusine e percebeu que ela se encontrava no meio do engavetamento que ainda acontecia.
-Senhora! Saia daí! Você vai morrer!
Assistiu em pânico quando ela caiu de joelhos no meio do asfalto. Se ele não fizesse nada ela iria ser atropelada e provavelmente iria morrer. Parecia estar muito fraca! Sem pensar duas vezes ele pulou no meio da rua e correu para salvar a senhora. Alguns carros ainda batiam nos outros. Ele correu até ela, apoiou-a nos ombros e com dificuldade a tirou da pista. Olhou para a pista para ver se havia mais alguém em perigo, mas pelo jeito todos estavam em seus carros e o acidente já havia acabado. Tudo durou apenas alguns segundos.
Logo a ambulância chegou e ele foi junto com essa senhora para o hospital. Ela aparentava ter mais de 60 anos, estava bem fraca. Estavam a caminho do hospital quando ela acordou.
-Por favor senhora. Tem que ficar parada. – disse um dos para-médicos que cuidava dela.
-Só quero saber o nome desse jovem...
-Meu nome? Meu nome é Tahoro. Sorani Tahoro.
-Sorani Tahoro hã? Muito obrigado meu jovem. – ela o olhava com uma enorme felicidade.
-Não foi nada. Agora você tem que ficar parada! Estamos a caminho do hospital. – disse preocupado.
No hospital Tahoro ficou na sala de espera. Muitas pessoas entravam e saiam do quarto onde a senhora estava. Primeiro uma linda garota, baixinha e com lindos olhos verdes e cabelos loiros. Ela falava inglês e parecia preocupada. Entrou dentro do quarto onde a senhora estava. Logo depois a mesma garota sai, faz uma ligação em um telefone público e entra novamente. Alguns minutos depois um homem aparentando ter uns 50 anos chega. Ele veste um bonito terno preto. Ele entra e fica la dentro por quase meia hora. Nessa hora Tahoro escuta a garota dar um grito. Fica preocupado por um instante mas não parecia ser um grito de medo ou tristeza. Parecia mais um grito de surpresa. Nesse instante ela sai do quarto e olha em volta. Quando ela avista Tahoro ela se aproxima e começa a dar uma bronca nele. Em inglês.
Tahoro esta perdido. Não fala nada de inglês. Tenta acalma-la. Ela parece notar que havia alguma coisa errada então começa a falar em um japonês com sotaque carregado.
-Você... Tahoro? Resgatou a vida da senhora?
-S... Sim! Como ela esta?
A garota olha pra ele de cima a baixo e começa a falar rápido em inglês de novo. Ela entra no quarto da senhora e logo depois sai. Dessa vez ela foi até o telefone, falou com alguém – em inglês – por uns minutos e, depois de dar uma ultima olhada em Tahoro, vai embora.
Meia hora depois varias enfermeiras e um médico chegam e entram correndo no quarto da senhora. Tahoro fica preocupado. Em seguida as enfermeiras saem correndo empurrando as senhora em uma cama com rodinhas. Tahoro as segue até que elas entram em uma sala onde barraram sua entrada. O tempo passa. Logo em seguida um medico sai de dentro da sala com uma cara triste.
-Não conseguimos salva-la...
Tahoro recebeu a informação como se um parente seu tivesse morrido. Ao salvar a vida de uma pessoa você acaba criando uma forte ligação com essa pessoa.
Depois de tentar digerir a informação ele voltou para o quarto aonde a senhora estava. Quando chegou la viu que muitas pessoas estavam dentro do quarto. Ele ia bater na porta quando a porta de abriu com força.
-Quem é você? – perguntou uma mulher com cara de má.
-T... Tahoro... Sorani Tahoro.
A mulher ao escutar esse nome deu um passo para traz, como se tivesse ficado com medo dele. Logo se recompôs e, sem falar nada, agarrou-o e o puxou para dentro do quarto.
Quando conseguiu se livrar das fortes mãos da mulher ele viu que no quarto varias pessoas o encaravam. Dentro do quarto estavam outras duas mulheres – também com cara de más –, a garota que falava em inglês e outras duas garotas muito parecidas com ela.
-Quem é esse Martha? – perguntou uma das mulheres.
-É... "ele".
Nessa hora todos olharam pare ele com cara de tensos. Tahoro se sentiu acudido e preferia não estar ali.
-Hora, hora. Ola meu jovem. – disse o homem de terno que havia entrado anteriormente no quarto. – Eu sou o advogado da Senhora Janeth. Você seria o rapaz que a salvou?
-Sim... sou eu... – Tahoro não achava que deveriam se referir a ele com "a pessoa que a salvou" pois no final de nada adiantou o que ele fez.
-Bom, vou aproveitar essa oportunidade em que todos estão aqui. A senhora me chamou até aqui com urgência. Ao chegar aqui ela me disse que não tinha muito tempo de vida e queria me pedir um favor.
Todos nessa hora olharam entre si, uns com cara triste e outros sem mudar a sua expressão fácil. Nem mesmo uma só ruga.
-Ela me contou um incrível historia. Disse que iria morrer atropelada naquela estrada se não fosse por esse jovem incrível. Ele se enfiou no meio do engavetamento para salva-la. Você foi muito corajoso. – olhou para Tahoro com um grande sorriso. Esse homem, ao contrario daquelas mulheres, era muito amigável e tinha um sorriso sincero.
-Sim, sim... corta logo o papo furado e vamos ao que interessa. – Dessa vez foi uma das jovens garotas que disse isso. Mas ela disse de forma tão seca que se alguém não olha-se para ela enquanto ela falava podia jurar que era outra dessas mulheres com aparência de rabugenta que havia falado.
O advogado olhou para ela com uma cara de desapontamento e continuou.
-Pois muito bem. Ela me pediu para mudar seu testamento, queria mudar algumas coisinhas antes de morrer. – quando ele mencionou a palavra testamento todas as pessoas da sala estremeceram. Exceto, claro, Tahoro. – Vou lê-lo agora. Pigarreou para limpar a garganta e começou a ler.
"Caso eu morra, gostaria que todas as minhas posses, incluindo residências, dinheiro, objetos e ações pertençam ao jovem que me salvou, Sorani Tahoro. Gostaria que ele fosse tratado como um grande amigo da família. Que fosse incluído em todas as festas, comemorações e tradições de nossa família. E gostaria de agradece-lo e falar com ele que ele fez sim algo importante. Vou ser eternamente grata a ele. E como meu último ato, para não quebrar a tradição, vou escolher o noivo para a Sara. O noivo dela será Sorani Tahoro, o jovem que me salvou."
Quando o advogado parou de ler todos estavam em silencio, com cara de surpresa. Todos incluindo Tahoro. Que parecia o mais surpreso de todos.
Nesse momento, todos soltaram uma exclamação e olharam para Tahoro. Uma das senhoras correu e pegou o testamento, como se não acreditasse no que nele estava escrito. Todos correram e ficaram lendo o testamento por cima do ombro da mulher. Todos. Exceto uma das garotas, a única que não entendia japonês, mas que antes de todo mundo já sabia o que havia escrito no testamento. Todos estavam lendo o testamento, exceto essa garota. Ao invés disso ela encarava, com desprezo, seu futuro marido.
