O que os marotos aprenderam em sua semana como mulheres: Garotas não gostam de ser vistas como pedaços de carne no açougue. Definitivamente, receber um "daqueles" olhares famintos é terrivelmente embaraçante...


Segunda-feira ... Após os baile

Eu sempre tive o saudável hábito de acordar cedo. Mesmo quando ia me deitar muito tarde, como acontecera na noite anterior. Naquela segunda-feira fria de inverno, abri meus olhos preguiçosamente, enquanto um tímido raio de sol brincava sobre meu rosto. Sentando na cama, eu observei o dormitório vazio.

Por algum estranho motivo, eu senti falta de algo naquele quarto. Enrugando a testa, tentei descobrir o porquê daquele sentimento saudoso. De algum ponto da minha mente sonolenta, veio uma voz inconfundível.

-"Olá, Lily."

- Tiago... - eu sussurrei baixinho.

Então era disso que eu estava sentindo falta? De acordar com Tiago naquele quarto? Ao que parece, a semana passada teve efeitos colaterais na minha cabeça. Eu não poderia estar sentindo falta de Tiago e Sirius dormindo ali, poderia? Não, isso seria insanidade da minha parte.

Jogando as cobertas para o lado, eu me levantei, decidida a tomar um banho frio, a maneira mais segura de "tirar a cama das costas". Mas, com a cabeça debaixo do chuveiro, eu voltei a pensar nos dois rapazes que, por causa de um desafio, tinham passado a semana como garotas, e ainda por cima me tendo como "bab".

- Quem sabe depois disso eles não melhoram um pouquinho? - suspirei - É bom mesmo que eles tenham melhorado, já que agora vou ter que sair com o Potter.

Potter. Tiago Potter. O Tiago que sempre me persegue, incansável. O Tiago que aceitou o desafio de passar uma semana na pele de uma garota para poder sair comigo. O Tiago arrogante, o Tiago teimoso...

- Como eu posso saber se ele quer apenas brincar comigo ou... Peraí, porque eu tô pensando nisso? Eu só vou sair com ele uma vez, por causa da aposta. E depois disso ele vai me deixar em paz e tudo volta ao normal, nunca mais Potter para me atazanar!

Por algum motivo, esse pensamento me doeu. Eu meneei a cabeça, como se isso pudesse fazer o pensamento pular fora dela e desliguei o chuveiro. Depois de vestida, peguei o primeiro livro que vi pela frente e desci pelo salão comunal. Se tinha alguma coisa que poderia tirar aqueles pensamentos idiotas da minha cabeça, era uma boa leitura...

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Pulgas! Eu não acredito que tem pugas na minha cama! Sirius Black não pode ter pulgas! Onde já se viu? Como eu, o cara mais bonito de Hogwarts, posso ter pulgas?

- Toma, Almofadinhas, passa isso. - Remo estendeu um frasco com alguma poção verde-musgo.

- O que é isso? - eu perguntei temeroso. Na última semana eu tinha passado por situações suficientemente constrangedoras para toda uma vida por causa de uma poção e um desafio idiota.

- Vai acabar com as pulgas. Ou você prefere se coçar até morrer.

- O que tenho de fazer exatamente?

- Use no banho. Anda logo, o Rabicho já desceu pro café.

Eu assenti e me levantei da cama. As cortinas do leito ao lado do meu ainda estavam cerradas.

- O que houve com o Pontas?

- Aparentemente, ele não quer acordar. - Remo respondeu, dando de ombros - Murmurou alguma coisa como "mamãe" quando eu tentei chamá-lo. E como seria muito traumatizante ser chamado de mamãe por Tiago, eu preferi deixá-lo dormindo.

- Bem, então eu vou ter que acordá-lo.

- Porque? - Remo perguntou curioso.

- Porque preciso da ajuda dele, oras! Precisamos de todos os marotos para solucionarmos o difícil problema da foto que está com Bellatrix. Se ela mostrar aquilo a alguém, será o fim da reputação dos marotos.

- Será o fim da SUA reputação, Sirius. Não nos meta nessa história.

- E o que você acha que vão dizer dos amigos que me acompanham quando virem aquilo?

Remo pareceu considerar a pergunta por alguns instantes.

- É só você não ter companhia. - diante da minha careta, ele sorriu contrafeito - Certo, tudo bem, você tem razão. Mas como pretende acordar Tiago?

Eu sorri e caminhei até a cama do meu (pelo menos é o que acham) melhor amigo. Abrindo as cortinas, Remo e eu pudemos presenciar a cena tocante que é Tiago dormindo. Ele estava todo esparramado na cama, a boca aberta e a cara amassada. Eu me pergunto o que vai acontecer no dia em que ele tiver uma esposa e ela acordar e ver a cara dele daquele jeito... Lentamente eu me aproximei, até ficar com o rosto no nível do ouvindo dele.

- Tiago, a Lílian está querendo falar com você.

Os olhos dele se abriram quase que de imediato. Eu tinha descoberto essa tática num dia em que o peguei falando enquanto dormia, chamando pela Evans. Queria descobrir se ele realmente acha que ela é só mais um desafio ou a ruivinha se tornou algo mais...

- Lily? - ele perguntou, completamente desperto.

- Eu disse Lílian? Acho que é a McGonnagal mesmo. - eu respondi, rindo.

Remo tentava manter-se impassível, mas o olhar dele denunciava a vontade que ele tinha de rir. Também, quem não teria, quando a face sonhadora do Tiago se transformou numa careta ao descobrir o que estava acontecendo?

- Almofadinhas, eu vou matar você. - ele disse num tom perigosamente baixo.

- Tente. - eu desafiei.

O travesseiro de Tiago voou na minha direção, mas eu consegui me desviar a tempo. Remo também se afastara, e agora estava ao lado da porta, com um ivro na mão.

- Quando as margaridas decidirem crescer, eu vou estar lá embaixo esperando.

A porta se fechou no exato instante em que os travesseiros que eu e Tiago lançamos.

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O som de uma colisão soou em toda a torre vazia, o que me fez erguer a cabeça. Descendo as escadas aos pulinhos do dormitório masculino, estava Remo Lupin. Ele parou parecendo envergonhado ao meu ver sentada no sofá e eu acenei para ele.

- Bom dia, Remo. Quer torradas?

Eu estendi para ele um prato que tinha roubado do salão principal há pouco.

- Obrigado. - ele agradeceu, sentando-se ao meu lado e se servindo de torradas.

- O que foi aquilo? - eu perguntei curiosa.

- O bom dia de Tiago e Sirius. - Remo respondeu, abrindo o livro - O que foi?

Ele olhava pra mim parecendo divertir-se com a careta que eu fizera ao ouvir sua resposta.

- Eles nunca vão conseguir se comportar, não é?

- Bem, não é que eles não consigam se comportar. É só que eles não querem. Eles podem até parecer infantis às vezes, mas a verdade é que só fazem isso porque daqui a muito pouco tempo, terão que encarar a realidade. E convenhamos que fora de Hogwarts, a realidade não é nenhum pouco cor-de-rosa...

Eu assenti. Aquilo era um ponto a se considerar. Remo logo voltou a se concentrar em seu livro, mas à partir desse momento, eu achei um pouquinho difícil continuar a leitura do meu. A porta do quarto dos meninos agora parecia um imã para os meus olhos. E quando ela voltou a se abrir, eu quase não consegui disfarçar. Remo, pelo menos, eu tenho certeza que notou.

- Oi, Lily! - a voz de Tiago soou alegremente em meus ouvidos.

- Bom dia. - eu respondi sem realmente olhar para ele, tentando desesperadamente encontrar algum significado nas palavras que me saltavam os olhos daquele livro que eu tinha em mãos.

- Eu sei que vocês dois são intragavelmente estudiosos, mas será que pelo menos nesse feriado podem prestar um pouco menos de atenção nos livros e um pouco mais em nós? - Sirius perguntou, retirando a varinha do bolso - Accio livros!

Os volumes que eu e Remo segurávamos voaram de nossas mãos. Eu fiquei olhando meio idiotamente para o nada que eu "segurava" enquanto Remo se levantava.

- Muito bem, agora que conseguiu nossa atenção, você vai fazer o quê? Que tal mostrar que é um cãozinho amestrado e devolver o que pegou?

- Não se preocupe, eu devolvo. Só que no fim do feriado.

- Sirius... - eu comecei, tentando me controlar - Se você não se importa em estudar, tudo bem, mas outros não são iguais a você.

- O que é uma pena, porque se todos fossem iguais a mim, o mundo seria perfeito.

- Eu não acredito que estou ouvindo isso... - eu resmunguei pra mim mesma, caminhando de volta para o dormitório. Eu tinha outros livros lá em cima, podia perfeitamente me isolar.

- Ei, Lily. - a voz de Tiago me interrompeu - Aonde vai?

- Ler no meu quarto.

- Lily, eu sei que o estudo é a "luz" da humanidade, mas, que tal economizar um pouquinho?

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- Lily, eu sei que o estudo é a "luz" da humanidade, mas, que tal economizar um pouquinho?

A ruivinha parou sem se virar para nós e eu fechei os olhos, meio que esperando os gritos. De onde Tiago tirara aquela? Sério, podíamos fazer um livros "citações marotas" com as pérolas que de vez em quando soltávamos.

E qual não foi minha surpresa ao ouvir, em vez de gritos, uma gostosa risada? Lílian Evans tinha senso de humor? Tudo bem, depois de ter passado uma semana convivendo com ela quase que vinte e quatro horas, eu tinha percebido que ela não era exatamente uma má pessoa (se bem que ela poderia ter sido melhor e avisado sobre o fim da poção na noite passada o que nos leva a atual ameaça à nossa imaculada reputação), mas ela rir de uma piada de Tiago, ainda por cima feita sobre estudos...

Ela virou-se, ainda sorrindo, o que parecia fazer os olhos verdes dela brilharem ainda mais. Acho que nesse instante eu percebi porque o Pontas gostava tanto dela. Só faltava agora o próprio descobrir isso, mas aí já não é comigo, eu tenho outras coisas com que me preocupar.

- Certo, digamos que eu decida ecomizar a "luz". - ela disse ainda sorridente - O que você sugere fazer nesse tempo livre?

Tiago pareceu meio desconcertado com essa resposta. Acho que ele também esperava receber algum grito. Remo apenas sorria discretamente, ainda sentado no sofá. Internamente eu me vi gritando "NÃO A CHAME PRA SAIR OU VAI ESTRAGAR TUDO, SEU IDIOTA!". De onde esse pensamento surgiu?

- Podíamos... jogar xadrez... ou snap explosivo... Ou ir almoçar na cozinha.

Ela pareceu considerar a proposta por alguns instantes.

- É, podemos fazer tudo isso. Que tal começar pelo snap?

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O dia se passou bem rápido. Passamos a manhã jogando snap explosivo, alomoçamos na cozinha (a essa altura, Pedro já tinha se reunido aos amigos) e depois fomos pra perto do lago. Em algum ponto da conversa que estávamos tendo, alguém jogou uma bola de neve em Sirius, o que logo gerou uma guerra na qual eu tomei parte durante uma meia hora antes de cair deitada, sem fôlego.

Mas minha pausa não durou muito, já que Tiago veio se esconder perto de mim, o que teve como consequência nós parecermos bonecos de neve quando afinal os outros marotos decidiram ter piedade de nós.

E quando, depois de jantar, eu voltei para meu dormitório, cansada mais feliz, eu me peguei perguntando para mim mesma se Tiago realmente gostava de mim.

- Essa história está indo longe demais. - eu resmunguei quando percebi no que estava pensando - Mas também, porque ele tem que ser tão fofo?

A essas palavras, eu enfiei a cara debaixo do travesseiro.

- E mais essa agora... Será que estou enlouquecendo?