Neverending War...
Cap. 3 - Os Desertos de Solaria
Um enorme e brilhante astro em meio a um céu azulado e limpo brilha sobre uma estranha terra árida e seca. As imensidões de fina areia branca pareciam se perder naquele horizonte sem fim em meio as grandes dunas espalhadas pelo lugar.
Um rápido e rasteiro 'pé-de-vento' levanta e carrega consigo um punhado da leve areia, levando-o para longe dali...
Em algum lugar da imensidão arenosa, a lufada de vento encontra um indivíduo, deitado sobre a areia, aparentemente desacordado. A areia trazida pelo vento bate-lhe contra o rosto, irritando as narinas.
Aos poucos, ele vai abrindo os olhos, tentando se acostumar com a luz do sol que pairava sobre si.
"Hum...argh..." O rapaz tentava abrir os olhos vagarosamente. A forte luz do sol sobre este machucava a retina. Logo ele se levanta, passando a mão sobre a cabeça dolorida. "O...que aconteceu aqui?"
Em instantes, as lembranças e pensamentos começam a retornar para a sua mente. Estava em Autonoe, atrás de alguma coisa que não lembrava bem o que era, no momento...
...Mas agora...
Julian observa ao seu redor, somente agora, dando-se conta de que estava cercado por uma imensidão de areia fina... Em meio a um gigantesco deserto, abaixo de um sol escaldante.
Aquilo era no mínimo um pouco diferente de Autonoe...
"Mas onde eu estou...!" Ele dá alguns passos em frente, procurando por alguém ou alguma coisa que não fosse dunas de areia. "Ei! Tem alguém por aqui?"
"Sim!"
"Argh!"
Julian dá um pulo para trás, devido ao susto que tomara após uma voz, vinda não se sabe de onde, responder-lhe em alto tom.
"Quem está falando! Quem está aí!"
"...Que tal olhar para baixo?"
Julian observa um rosto em meio as areias do deserto, mais precisamente há dois passos a sua frente.
"Elliot? É você?"
"É...argh...acho que ainda sou eu." Responde o garoto, com o corpo completamente enterrado, com a exceção da cabeça. "Agora, se não for pedir muito..."
"O que?"
"Argh...Sai de cima da minha barriga!"
"Ops!"
Julian dá um passo para trás e ajuda o amigo a sair debaixo de toda aquela areia. Em seguida, Elliot vasculha rapidamente onde estava enterrado, jogando um pouco da areia para os lados, e encontra seus óculos.
"Certo..." Diz o garoto, colocando os óculos, com uma das lentes quebradas, no rosto. "Agora a pergunta é onde estamos exatamente."
"..." Julian fica em silêncio momentaneamente. Ele começa a se lembrar detalhadamente do que havia acontecido, um pouco antes de perder os sentidos. Mais exatamente a cena de Keinzer cortando a corda metálica e falando algumas palavras, um pouco antes disso. "...Seja onde for, foi o senhor Keinzer que nos mandou pra cá."
"Hum?"
"Droga...porque ele fez isso? Porque?" O rapaz aperta os punhos com força, um tanto irado.
"...É mesmo, agora que lembrei." Diz Elliot, pensativo. "Quando estávamos prontos pra sair daquele lugar, alguma coisa nos puxou com força para trás. Um tipo de energia. E o senhor Keinzer..."
"Não nos ajudou quando precisamos." Completa Julian.
"Isso" Conclui o garoto."... Mas porque ele terá feito isso?"
"Eu não sei." Fala Julian, seriamente. "Mas provavelmente tem a ver com o que ele disse antes de sermos sugados por aquela energia."
"O que?"
"Algo como que eu tinha feito um bom trabalho ali, e que se eu quisesse salvar os meus entes queridos teria que..."
"Teria que...? Fala logo!"
Julian tateia as mãos pela sua roupa, que se encontrava com vários pequenos rasgos, assim como a de Elliot, aparentemente procurando por alguma coisa. Um tanto preocupado, ele corre até o local onde estava anteriormente e começa a cavar e a retirar a areia do local. Elliot o segue e o observa sem entender.
"O que você tá fazendo?"
"Ele deve estar por aqui...tem que estar..."
"Ei! Você tá me ouvindo? O que deu em você?"
"Ah! Encontrei!"
O garoto levanta-se da areia e exibe em uma das mãos o objeto que pegara em Autonoe. O tal Limiar ainda mantinha seu brilho anterior, apesar de não demonstrar muito por causa da iluminação do sol do deserto.
"Ah era isso." Fala Elliot. "Mas porque você estava tão preocupado em achar essa coisa? Foi isso que nos mandou pra esse lugar!"
"Eu sei...mas...O senhor Keinzer havia dito algo sobre encontrar todos os outros Limiares ou algo assim." Ele explica.
"Outros Limiares? Quer dizer que existem mais dessas coisas?"
"Não sei... Acho que sim..."
"Ele deve estar brincando! Passamos um sufoco pra conseguir só um deles! Como ele acha que vamos conseguir os outros! E além disso, como vamos saber onde eles estão, se é que existem mesmo?"
"Talvez..." Continua Julian. "...Ele tenha nos mandado para cá porque sabia que existe outro por aqui."
"...Ser�?"
"Não faço idéia...heh..." Ele diz, com uma gota na cabeça. "...Espero que sim."
"Bom, antes de pensarmos em ir atrás de qualquer dessas coisas, é melhor sairmos daqui. Talvez encontremos alguém ou algum tipo de civilização pra lá." Diz Elliot, apontando em uma direção.
"É mesmo. Esse sol vai fritar a gente se continuarmos parados..."
"Sim, e guarde essa coisa em algum bolso. Não vale a pena perder depois daquele esforço que você fez." Fala Elliot, já seguindo em frente.
"Ahn...Bolso...?"
Julian tateia pela roupa e nota que os únicos bolsos que tinham estavam rasgados, bem como outras partes da roupa. Procurando um outro pequeno bolso do lado da calça ele acaba tateando a sua própria perna esquerda...
"AIEEE!"
"...?" Elliot pára, e vira-se, fitando o amigo. "Mas o que foi!"
"Que é isso?"
Elliot aproxima-se e repara que, na perna cibernética do garoto uma das placas que a compunha simplesmente havia salientado-se e aberto um pequeno compartimento, deixando um grande 'buraco' na coxa do mesmo.
"..Argh! Eu só tava procurando pra ver se tinha um bolso inteiro e aconteceu isso!" Ele diz, incomodado com aquilo.
"Hum..." Elliot verifica rapidamente o compartimento. Parecia revestido com um forte metal, Titânio talvez. "Ah já sei. Isso é uma característica do seu semi-endoesqueleto. Provavelmente é um compartimento usado para guardar pertences e objetos frágeis..."
"Virei uma prateleira então?"
"Hehehe..." Elliot ri, com uma gota descendo pela testa. "Bem, já que descobriu isso agora, guarde essa coisa aí. Local mais seguro não há."
Um tanto quanto resoluto, Julian coloca o Limiar dentro do compartimento. A placa então fecha-se automaticamente, preservando a peça dentro de sua própria perna, em segurança.
"Tá certo, agora vamos."
"Ahn, espera!"
"O que foi agora?" Fala Elliot, já impaciente.
"...Vamos por aquele lado."
O rapaz aponta na direção oposta a que Elliot havia sugerido. Este último dá alguns passos para frente, com a mão sobre a testa, tentando ver algo no longínquo horizonte.
"...E porque? O que tem desse lado?"
"Não sei..." Diz Julian, com as mãos na nuca. "Mas eu tenho uma intuição de que por esse lado a gente vai chegar em algum lugar mais depressa."
"..." Elliot ajeita os óculos rachados e dá de ombros. "Acho que não vai fazer muita diferença mesmo. Nesse caso é melhor nos basearmos em algo, nem que seja em uma intuição."
"Certo! Vamos!"
Os dois partem na direção apontada por Julian imediatamente. Em pouco tempo começam a percorrer dois ou três km's de caminho na pura areia desértica...E uma longa estrada de pegadas vai se formando atrás deles.
Cerca de duas horas depois, as duas figuras que andavam pelo imenso deserto mostravam-se, agora, mais abatidas que anteriormente. O sol fazia com que aquele clima tão seco e árido ficasse ainda mais terrível.
"Argh...Você tem certeza de que...aqui chegaremos mais rápido há algum lugar? Já estamos andando há horas!" Diz Elliot, com os braços caídos e sedento.
"...Acho que sim... Eu sei que vamos encontrar alguma coisa por aqui...cof!" Diz Julian, que parecia um pouco melhor que Elliot, apesar de sentir-se fraco devido ao forte sol e a falta de água.
"Não entendo como você pode ter...tanta certeza...cof!..argh..."
Os dois continuam andando sem parar por nem um segundo. Julian, então, pára de repente fazendo Elliot bater em suas costas.
"O que foi?"
"...Escute..."
Os rapazes ficam em silêncio enquanto escutam um som bastante peculiar...como se algo estivesse se aproximando, arrastando-se pelas dunas de areia mais próximas. Ambos ficam alertas para o que fosse aquilo.
À frente dos dois, saindo de trás de um dos grandes montes de areia, uma silhueta surge, indo na direção dos garotos. Não era possível ainda distinguir exatamente o que era mas, agora, já era possível identificar vozes vindo da mesma...alguém falava algumas palavras rapidamente enquanto um som de estalo alto acompanhava a fala.
Segundos depois, a silhueta revela ser, na verdade, uma espécie de grande carroça, puxada por dois grandes animais, semelhantes a répteis, e coberta com uma espessa lona branca, passa próximo a Julian e Elliot. No lugar de rodas, o veículo possuía duas tábuas paralelas e curvas, que agiam como verdadeiros esquis sobre a areia.
Segurando uma rédea de couro, a pessoa que seria o 'cocheiro' nota os garotos e pára o veículo ao lado dos dois.
"Olá rapazes!" Fala o homem, retirando um pano que lhe cobria o rosto. "Estão perdidos?"
"Er...olá senhor." Fala Julian, cumprimentando-o e observando os trajes do mesmo, em um estilo árabe, com turbante e manto. "Estamos perdidos sim. Estávamos justamente procurando por algum lugar ou alguém nesse fim de mundo..."
"Hum...pelas suas roupas eu diria que são estrangeiros, não é?" Fala o homem. "São de onde? Do norte? Ou leste?"
"Ahn bem..."
"Do Leste." Fala Elliot. "Nos perdemos de nosso transporte e por isso, viemos parar aqui."
"Bem, neste caso, estão com sorte!" Ele diz, levantando-se e abrindo a lona da caravana. "Trago um carregamento de água do Oásis de Trieze. Vou descarregar tudo em Anacrópolis, nossa capital. Se não se importarem em viajar junto com as coisas ali atrás, posso leva-los até lá."
"Anacrópolis?"
"Aceitamos!" Elliot prontamente agradece ao homem e sobe no transporte, entrando na parte coberta pela lona... Sem ter o que fazer, Julian dá de ombros e também sobe, agradecendo ao homem.
"Bem, segurem-se aí!" Ele diz, balançando as rédeas. Imediatamente os dois lagartos em frente ao transporte se movem e partem na direção a qual os garotos iam anteriormente...
Alguns minutos mais tarde, acomodados em meio a inúmeras 'tralhas', como grandes baús, caixas de madeira, e galões cheios de água, os garotos se mantêm encolhidos, como podem, enquanto observam as dunas se afastarem pelo lado de trás e um rastro ser formado na areia pelo transporte. Duas linhas paralelas seguidas pelas pegadas dos animais iam sendo deixadas para trás.
"Heh." Julian encosta-se em um baú grande que havia por ali, e apóia a cabeça nos braços. "Viu, eu falei que íamos achar alguma coisa. Não sabia o que, mas que achamos, isso sim."
"Ssslluurrrpp...!"
"...Que você tá fazendo!"
Julian levanta a cabeça ao ver Elliot, com uma concha de metal, sorvendo a água de um dos galões que o homem trazia.
"Não podemos pegar isso, é o carregamento daquele senhor."
"Ah tá tudo bem, tem muita água aqui e eu já falei com ele e disse que não teria problema se bebêssemos um pouco, não é senhor?"
"Claro garotos. Mas tentem beber apenas o suficiente, pois não foi fácil conseguir essa água." Diz o homem, com o olhar em frente.
"Viu?"
"Bom..." Julian pega uma das conchas e coloca no galão. "Então se é assim, muito obrigado mesmo senhor! Estávamos mesmo com sede..."
O garoto bebe o líquido com rapidez e, talvez pela primeira vez, um pouco de água lhe fora tão precioso. Ele coloca a concha mais uma vez e pega um pouco mais. Porém, no meio de alguns goles, o transporte pára bruscamente, fazendo-o derrubar o restante de água contra o próprio rosto.
"Argh!" Julian seca o rosto banhado pela concha enquanto Elliot levanta quase que instantaneamente e coloca a cabeça para fora da lona, para ver o que acontecia.
"Saiam seus cretinos! Vocês não vão levar nada do que eu trago desta vez! slapt! .Ráá�!"
Ao redor do transporte, duas grandes saliências na areia circundavam o mesmo. Era como se alguma coisa estivesse se movendo por baixo da areia e a levantasse por onde quer que passe. O homem que levava o transporte havia retirado um grande chicote das costas e golpeava-o no ar, tentando afugentar as duas 'criaturas'.
"O que são essas coisas?" Pergunta Elliot, ao mesmo tempo em que Julian coloca a cabeça para fora da lona ao seu lado.
"Ah, são apenas alguns incômodos que temos no deserto de vez em quando! Ráá�! Slapt!"
Os dois lagartos da frente do veículo rosnam para as duas 'coisas' e logo elas se revelam, saindo da areia. Tratavam-se de outros dois lagartos, muito parecidos com os que guiavam o veículo, porém, eram bem menores.
Eles mostram as mandíbulas e a língua bifurcada para os dois maiores e estes apenas rosnam, mostrando os dentes afiados. O homem chicoteia no ar, incitando-os a atacar, mas, antes disso, os dois pequenos fogem, cavando velozmente sob a areia.
"Pronto. Tivemos sorte que eram apenas dois filhotes."
"..." Os garotos ficam em silêncio, pensando o que poderia ter acontecido se fossem adultos.
"Se fossem adultos eu teria que dar vocês dois de comida a eles para que não estragassem minha mercadoria."
"Hahahaha! Estou brincando garotos!" Fala o homem, gargalhando e fazendo as criaturas andarem de novo, ainda em direção a cidade. "Hahaha!"
"Ah...hehehe...heh...he..." Os rapazes voltam para o fundo do transporte e começam a falar, em tom baixo, algumas orações, para conseguirem sobreviver àquela viagem...
"Ahn, senhor. Posso lhe fazer uma pergunta?" Diz Julian, parando um pouco com as preces.
"Claro, fale."
"Qual o nome desta região?"
"...?" O homem levanta uma das sobrancelhas, meio sem entender. "Ora, que eu saiba, não existem regiões 'fixas' em Solaria."
"Solaria..."
"É como pensávamos mesmo..." Diz Elliot, ao escutar. "Estamos em um lugar totalmente diferente de Autonoe. De algum modo fomos 'teletransportados' pra cá."
Os garotos sentam-se novamente e poem-se a pensar novamente, principalmente para onde estavam indo.
"O que faremos quando chegarmos a tal cidade, Anacrópolis?"
"Não sei, mas acho que saberemos o que fazer quando já estivermos lá. Tenho uma leve intuição..."
"Heh, você está muito intuitivo ultimamente."
"Er..."
O tempo passa e logo o veículo pára novamente. Os garotos, que estavam adormecidos, começam a acordar lentamente.
"Enfim, chegamos rapazes!" Fala o homem, abrindo a lona.
À frente deles, os rapazes vêem dois grandes muros, feitos de enormes troncos de árvores, e um grande portão, aberto, revelando em seu interior uma cidade gigantesca! Dali ainda era possível ver diversas pessoas.
"Então, essa que é Anacrópolis?" Pergunta Elliot.
"Esta mesmo. Bem, eu os deixarei por aqui, pois terei de ir até o lugar aonde descarregarei minhas coisas."
"Está bem, muito obrigado senhor!"
"Ahn, esperem um pouco."
Os garotos desciam do veículo, até que o homem pede para que esperassem e começa a mexer em um dos grandes baús que havia atrás do transporte. Logo, ele volta com alguns tecidos e roupas e joga-os nas mãos dos garotos.
"Coloquem estas vestimentas para entrarem na cidade. Aqui eles não gostam muito de pessoas excêntricas, como vocês, principalmente com a roupa que estão." Ele diz, apontando para os rasgos nas roupas dos garotos.
"Puxa...ahn...mas nós não temos nenhum dinheiro e..."
"Oh não! Aceitem como um presente! Não me farão falta e acho que serão mais úteis para vocês do que para mim."
"Bom, nesse caso...Muito obrigado mais uma vez senhor!"
Os garotos entram momentaneamente no veículo para se trocarem.
"E aí, onde acha que deveríamos ir primeiro?"
"Hum..."
Os dois rapazes se encontravam, agora, no centro da pequena 'praça' que havia na entrada de Anacrópolis, ambos, vestidos de acordo. Elliot trajava uma roupa parecida com a do guia do transporte, mas sem nenhum turbante na cabeça e Julian uma capa marrom, de gola alta com alguns botões na mesma para abrir ou fechar (Não sou estilista...não sei descrever direito.).
Pensavam agora para onde poderiam ir no meio de tantas casas e edificações mais à frente.
Inúmeras pessoas passavam por ali, desde simples habitantes da cidade, até ricos mercadores, andando em estranhos animais quadrúpedes, com duas saliências nas costas. Ou ainda alguns que possuíam um tipo de armamento, como lâminas na ponta de grandes hastes ou lanças, algo como uma guarda ou coisa assim.
Vendo que não teriam muito sucesso ficando parados ali, eles resolvem arriscar algumas das ruas e vielas da cidade.
"Acho que seria bom procurarmos algum lugar aonde eles possam nos fornecer informações."
"Então porque não paramos alguém na rua e perguntamos? Acho que vai ser mais fácil."
"Mas o que iríamos falar?" Fala Julian, com uma gota na cabeça, enquanto andam. " 'Ei, você não viu por aqui um tal Limiar?' "
"Er..."
Os dois, então, cruzam uma rua e notam um local donde entram e saem diversas pessoas. Pela porta dupla e pelo cheiro que vem de dentro do lugar, eles presumem que seja um bar ou algo do tipo.
"...Hum, que tal entrarmos? Podemos pegar uma mesa e conversar lá dentro."
"Mas nós não temos dinheiro para pagar comida nenhuma..." Fala Elliot.
"Mas nós não vamos comer nada, apenas vamos ficar lá dentro. Bares e restaurantes são bons lugares para saber das coisas." Ele diz, já passando pela porta dupla.
"Bom, ok..." Diz Elliot, acompanhando-o.
Assim que passam pela grande porta dupla, lá dentro, o ambiente mostra-se agradável. Há bastantes pessoas no local, a maioria sentada em várias mesas espalhadas pelo ambiente, comendo e conversando.
Os rapazes aproximam-se de uma das únicas mesas vagas por ali e sentam-se, puxando as cadeiras.
"Acho que temos que saber primeiramente quem manda nessa cidade. Aí acho que obteremos alguma ajuda se falarmos de onde viemos." Fala Julian.
"Está brincando né? Não acho que esse pessoal vai acreditar que viemos de um outro mundo..." Diz Elliot, olhando ao redor.
"...A menos que tenha alguém aqui que use magia, como as pessoas de Elencia. Se bem que não vi ninguém assim por aqui..."
"É, além disso, pode ser que eles nem saibam da existência de alguma dessas coisas. Solaria deve ser enorme!"
Neste instante, interrompendo a conversa, um homem gordo, com um avental e um grande bigode surge ao lado da mesa dos garotos. Com um tipo de giz preto e um pedaço de papel amarelado, provavelmente papiro, ele olha para os garotos seriamente.
"Hum...o que vão querer?"
"Ahn, nada não senhor, estamos apenas conversando...se é que não se importa."
"..." O homem olha serio para os garotos enquanto estes devolviam com um sorriso amarelado. "Escutem aqui garotos, se vão apenas papear, então façam isso lá fora. Tenho clientes que vão pagar para comer aqui e precisam de uma mesa."
Os garotos desculpam-se e alegam que sairão em breve. O homem decide atender uma outra mesa, mas logo Elliot chama sua atenção.
"Ahn, senhor. Pode me responder uma coisa?"
"Depende. O que você quer saber?"
"Por acaso não ocorreram algumas coisas estranhas na cidade ultimamente?" Ele pergunta, ajeitando os óculos quebrados.
"...Hum." O homem observa as roupas de ambos, principalmente as de Julian. "Ah...já entendi, são aventureiros. Aposto que vieram do leste, não é?"
"Er, pode-se dizer que sim." Fala Julian, tentando complementar a história de Elliot.
"Bem...eu não sei de muita coisa, mas, alguns boatos chegaram até a população de Anacrópolis."
"Hum..." Elliot cruza os braços e escuta atentamente, vendo que estava dando algum resultado. "Que tipo de boatos?"
"Eu não sei dizer ao certo, mas é algo que está preocupando bastante a guarda da cidade. Eles evitam falar sobre isso com o povo, para não alarma-los."
"hum, entendo."
"É tudo o que eu sei." Fala o homem, colocando o papel e o giz embaixo do braço. "Eu aconselho vocês a falar com o sacerdote do templo da cidade, pois ele é muito sábio e normalmente sabe de tudo o que ocorre em Anacrópolis. O templo fica no final desta mesma rua."
"Está certo, faremos isso, muito obrigado senhor!" Fala Julian se levantando, um pouco antes que Elliot. "Uma última pergunta...quem é o presidente dessa cidade?"
"..." O homem levanta uma das sobrancelhas. "...Presidente? O que significa isso?"
"Er..."
"É um tipo de pessoa que governa a cidade. É que..ahn...de onde viemos, do leste, existe essa pessoa." Explica Elliot. "E aqui em Anacrópolis? Vocês não possuem ninguém que toma as decisões?"
"Bem, não temos ninguém assim, exceto a Guilda Malva."
"Guilda...?"
"Sim. É uma elite de guerreiros especializados, que defendem Anacrópolis de alguns perigos que surgem de vez em quando, como alguns malditos bandoleiros que tentam nos saquear. Eles fazem um bom trabalho e por isso são respeitados em toda a cidade. Eles têm o controle de quem entra e sai da cidade." Ele diz. "Agora se me derem licença..."
O homem afasta-se da mesa dos garotos e parte para atender alguns fregueses no balcão. Julian e Elliot levantam-se e se dirigem para a saída.
"Ótimo. Já temos dois lugares para ir. Acho que essa tal Guilda Malva pode nos ajudar."
"Mas é melhor falarmos com o sacerdote antes de qualquer coisa." Fala Julian. "Vamos, é melhor nos apressarmos."
Os dois saem da taverna...
Porém, não percebem que estavam sendo observados por alguém, com um capuz escondendo o rosto, em uma das mesas...
"Puxa, é bem diferente das outras casas..."
"Sim..."
Após uma rápida procurada no local aonde o homem da taverna havia lhes dito, eles chegam em frente ao templo da cidade.
O local difere-se das demais, por ser uma das mais belas edificações da cidade. A escadaria na entrada é totalmente feita de mármore branco, e vários símbolos estão incrustados nas paredes, banhados em, provavelmente, ouro. A maioria deles tem o formato de um grande sol.
Depois de darem uma olhada na beleza do templo, eles resolvem entrar finalmente. Enquanto andam pelos pilares que sustentam o teto, também bastante bonito, eles chegam até um enorme altar de mármore e ouro, ao fim do corredor. O altar possui duas estátuas douradas, em tamanho natural, de um ser humano empunhando uma espada, uma de cada lado.
Na frente do mesmo, três pessoas encontravam-se conversando, mais precisamente dois homens vestidos como dois guardas da cidade, e o outro com um manto branco e longo.
"Olha, deve ser ele..." Cochicha Elliot para Julian.
"Então está bem meus amigos, se tiverem mais alguma informação, por favor, me comuniquem." Fala o homem de manto, para os guardas. Estes, após terminarem de conversar, dão meia volta e saem do templo, passando pelos garotos. "...E quanto a vocês meus jovens? O que posso fazer por vocês?"
"Ahn? Ah..." Diz Julian, distraído ao ver os guardas passando. "Com licença...mas o senhor é o sacerdote de Anacrópolis?"
"Sou eu mesmo meus jovens. Sou um simples servo de nosso grande deus-sol Rehzuma." Ele diz, sorrindo.
"Nós gostaríamos de algumas informações e disseram-nos que o senhor poderia nos fornece-las..."
"..." o sacerdote olha para os dois momentaneamente, fixando-se em seus rostos. "Eu sou um velho com uma memória muito boa...Conheço cada pessoa desta cidade. Vocês dois são estrangeiros, estou certo?"
"Er...é...nós viemos... do Sul." Fala Elliot.
"...Mas ao Sul não existe nenhuma habitação humana."
"O meu amigo quis dizer Leste, senhor sacerdote! Leste, hehe..." Fala Julian, com uma gota na testa.
"Oh, leste..." O sacerdote mantinha-se ligeiramente desconfiado, mas resolve não dizer nada. "Mas bem, o que gostariam de saber de mim?"
"Nós ouvimos falar sobre alguma coisa que está acontecendo nos desertos de Solaria e que anda preocupando muito a guarda da cidade e a população. Disseram-nos que o senhor provavelmente poderia nos explicar o que seria isso."
"..." O sacerdote fica resoluto ao ouvir o que Julian dissera. "Posso saber o motivo pelo qual querem saber sobre isso?"
"Somos aventureiros. Gostaríamos de investigar a fundo isso." Diz o garoto, fazendo uma figa atrás das costas.
"Bem..." O velho sacerdote anda até o altar e arruma alguns símbolos sagrados enquanto fala. "Todo esse alvoroço é por causa do Antigo templo de Rehzuma."
"Antigo templo...?"
"Sim. Antes de ser criado este templo no qual vocês estão agora, há muitos anos atrás, existia um templo muito maior, longe daqui, no meio do deserto. Depois que nosso antigo deus-rei faleceu, seu corpo foi sepultado naquele templo e então, selado para sempre. Desde então, eu e outros fiéis de nosso deus tem ido até aquele lugar para oferecer-lhe oferendas e desejar prosperidade para nosso povo."
"..." Os dois garotos escutavam atentamente.
"...Porém, depois de anos, o nosso feroz deserto encarregou-se de soterrar o templo sob suas escaldantes areias... Aquele local sagrado já não existia mais."
"...E o que aconteceu?"
"...Depois de muitos anos desaparecido sob as areias, o templo misteriosamente voltou a ressurgir no meio do deserto." Fala o sacerdote, em um tom mais dramático. "Ele está intacto, como se nada tivesse acontecido à sua estrutura."
"Mas isso não deveria ser uma coisa boa? Digo...para os fiéis do Deus Rehzuma?"
"Sim...foi o que pensamos a princípio..." Ele diz. "Porém, o deserto não poderia fazer isso sozinho... Eu sinto que, uma energia, extraordinariamente grande, apossou-se do local de descanso sagrado de nosso deus-rei...!"
Imediatamente uma fagulha acende-se na mente dos garotos. Eles se olham como se houvessem pensado na mesma coisa.
"E o que mais me preocupa, é que sinto que essa energia é extremamente...negativa. Não sei o que pode acontecer se essa energia se expandir mais do que já está mas, se ela foi capaz de retirar o templo inteiro dos subterrâneos do deserto..."
O velho sacerdote de Rehzuma mostrava-se visivelmente preocupado enquanto os garotos pensam no que fazer a seguir.
"Só pode ser um Limiar, tenho certeza..." Cochicha Elliot para o amigo.
"...É, pelo menos já sabemos onde ele est�! Agora só precisamos saber como chegamos até esse templo..." Fala Julian, no mesmo tom, para Elliot. "Ahn, eu e meu amigo gostaríamos de ir até esse local para investigarmos essa tal energia. Isso seria possível?"
"...Mas é bastante perigoso jovens aventureiros." Fala o sacerdote. "O coração de vocês é impetuoso, mas, devem ter em mente que esse lugar é uma verdadeira ameaça a qualquer um que se aproxima."
"Ah não tem problema meu senhor, nós somos loucos mesmo! Já enfrentamos e derrotamos vários inimigos e não nos assustamos com qualquer coisa. Se o senhor conseguir um meio de nos levar até aquele lugar, prometemos bons resultados."
"..." O sacerdote fica um pouco impressionado com a coragem dos dois jovens. Era como se eles não fossem daquele mundo... "Se têm tanta certeza de que querem mesmo ir até l�, meus jovens, falem com o líder da guilda Malva, Rannik. Ele é o responsável por quem vai até o templo, no momento. Poderão encontrar o estabelecimento deles próximo a praça central da cidade. Mas tenham em mente que dificilmente conseguirão entrar lá."
"Tudo bem senhor, nós faremos o possível para convencê-los. Iremos agora mesmo para l�!"
Os garotos saem apressados do templo, enquanto o sacerdote os observa se distanciar. A seguir, ele observa uma das imagens do altar e fica pensativo.
"Devem ser estes garotos..."
Julian e Elliot correm pelas ruas, apressados, agora que tinham uma pista de onde poderia estar o Limiar de Solaria.
Passando pelo meio de algumas pessoas e desviando de alguns camelos no meio do caminho, eles dobram cada viela que encontram para chegar mais rapidamente até a praça central.
"...Espera aí!" Diz Elliot, parando bruscamente.
"Ahn? O que foi?"
Elliot havia parado exatamente quando os dois passavam em frente a uma outra edificação feita, também, de mármore branco. Esta, muito maior que o templo de Rehzuma, possuía dois guardas na frente, no final de uma enorme escadaria.
Em cima da entrada,havia entalhada no próprio mármore, o desenho de um livro aberto.
"Uma biblioteca..."
"É, parece que sim." Fala Julian,apressado. "Não pensei que pudesse haver uma biblioteca numa cidade que fica em meio a um deserto..."
"Ahn, acho que vou entrar um pouco para dar uma olhada."
"...Mas...pensei que íamos até a guilda Malva..."
"Vá até lá sem mim por enquanto." Diz Elliot, arrumando os óculos enquanto olha para a escadaria. "Quero dar uma boa olhada nos livros que tem aqui e, se possível, pesquisar sobre algumas coisas... "
"...Tem certeza que isso é necessário ou você só tá dizendo isso pra aproveitar e ler alguma coisa?" ��
"Er...Bom, isso em parte! Eu quero mesmo pesquisar sobre o tal deus Rehzuma um pouco mais e sobre Solaria."
"Ok..."
"Então, nos encontramos na guilda daqui a pouco, está certo?"
"Está bem, vou lhe esperar lá. Veja se não esquece da vida lendo dezenas de livros!" Diz Julian, logo em seguida, correndo para o local.
Arrumando novamente os óculos, o garoto sobe a grande escada da biblioteca de Anacrópolis. Assim que vai passar pela porta de entrada, dois guardas colocam-se na sua frente, barrando a entrada.
"Sinto muito garoto, conhece as regras." Fala um deles, seriamente.
"Er...que regras?"
"Apenas os nobres e mercadores da cidade tem acesso a biblioteca. A menos que você esteja acompanhado por alguém desse nível, não pode entrar."
"Ora, mas que absurdo!" Fala o garoto. "Cultura é um direito que todo mundo aqui deveria ter!"
"Sinto muito."
Os guardas continuam estáticos no lugar, não permitindo que o garoto entre na edificação. Elliot percebe que não adiantaria continuar discutindo e, já pensava em desistir...até que, ao dar meia volta para sair dali, acaba trombando em alguém que subia as escadas.
"...Desculpe-me." Fala o garoto, ao ver que tratava-se de uma pessoa com um capuz sobre o rosto. Não se podia ver seu rosto. "..."
"..." Ela pega o garoto pelos ombros e o vira na direção dos guardas, mostrando, logo depois, um papel aos dois. Elliot fica no meio sem entender o que acontecia.
"Desculpe senhorita. Vocês podem passar." Diz um dos guardas, abrindo caminho para ela e para o garoto.
A tal 'senhorita' vai entrando, passando pelos guardas, enquanto empurrava levemente Elliot para dentro da biblioteca, como se pedisse para que ele entrasse junto dela. Ainda sem entender, o garoto simplesmente entra...Passando pelo olhar desconfiado dos guardas.
Lá dentro, o garoto pára de andar e observa, impressionado, o tamanho da biblioteca, bem como a quantidade de prateleiras e mais prateleiras que existem por ali. Nunca tinha visto um acervo tão grande e, possivelmente, ali havia livros que falavam de praticamente qualquer coisa!
Depois de sair do transe, ele vira-se imediatamente para agradecer àquela pessoa que havia feito com que ele entrasse ali...
"Obrigado senh..." Mas para a surpresa do garoto, já não havia mais ninguém por ali. A mulher simplesmente havia desaparecido e nem mesmo falara qualquer palavra, depois de ajuda-lo.
Vendo que não adiantaria procura-la, ele dá de ombros e agradece mentalmente a quem quer que fosse aquela pessoa...
A seguir, entra no meio de algumas das prateleiras e começa a procurar algo que o interessava...
"É aqui..."
Enquanto isso, um pouco longe dali, próxima a grande praça central de Anacrópolis, Julian permanece em frente a edificação que, de acordo com o sacerdote, seria o estabelecimento da guilda Malva. Acima do edifício, uma bandeira de cor lilás tremula com o vento que a noite começa a trazer (o sol no horizonte começa a baixar, revelando um fim de tarde...).
Ele se aproxima do portão de ferro em frente a edificação e bate vigorosamente.
"Tem alguém aí?"
"..." Uma pequena portinhola abre-se na porta, revelando um par de olhos. "O que você quer garoto?"
"Eu procuro pelo senhor Rannik. Me disseram que ele é o líder desta guilda."
"...O que você quer com Rannik? Ele está muito ocupado agora."
"É importante, preciso falar com ele. É sobre o tal templo de Rehzuma que apareceu no deserto."
"..." O homem atrás da porta fica em silêncio e então, fecha o visor. Logo, volta a abrir, fitando o garoto. "Como você sabe sobre o templo?"
"Bem...o sacerdote do templo da cidade me falou. Ele que me disse para vir falar com o senhor Rannik."
"Vá embora!" Ele diz, fechando o visor. "E esqueça deste templo! Esse assunto não diz respeito a você!"
"Ei!"
Julian volta a bater na porta constantemente, mas ninguém responde. Apesar disso, podia ouvir vozes no interior do edifício...Como se cochichassem.
"Vocês tem que me deixar falar com Rannik! Por favor, abram!"
"Não adianta insistir garoto!" Fala o homem lá dentro. "Ninguém pode falar com Rannik agora! Ele está resolvendo assuntos muito sérios e não pode falar com ninguém no momento!"
"Mas..."
"Nada de mas! Agora fora daqui!"
Julian fica olhando para a porta por alguns instantes e pensa em dar meia volta, porém...de algum modo escuta certas palavras do outro lado da porta que chamam sua atenção.
"A menos que...?" Fala o garoto.
"Eu ouvi você falar alguma coisa como 'há menos que...' "
"...Como você conseguiu escutar o que falei? Eu falei tão baixo que eu mesmo mal ouvi."
"Bem, não sei..." Fala o garoto, coçando levemente o queixo, sem entender também como escutou aquilo. "Mas, já que há uma condição para entrar, me fale!"
"..." O homem fica em silêncio por alguns segundos e logo em seguida, volta a abrir o visor. "Então você quer muito falar com Rannik não é?"
"Sim! Eu preciso! É muito importante!"
"Estaria disposto a fazer um pequeno favor para vê-lo?"
"Se eu puder fazer, sim." Diz o garoto, disposto.
"Muito bem...Um de nossos agentes saiu há dois dias para uma missão especial e, até hoje, não voltou." Fala o homem, fitando o garoto pelo visor.
"Hum...E...?"
"Vá até o local onde ele se encontra e traga-o de volta. Se fizer isto, Rannik vai falar com você, com toda a certeza."
"..." Julian mantém-se um pouco desconfiado. "Espera aí que lugar é esse?"
"A Floresta dos Lagartos." Ele diz, em um tom dramático e sombrio...tossindo logo depois.
"Floresta...? Mas no meio do Deserto?'
"...É um lugar bastante perigoso por causa das feras que o habitam. Será que aceita ir até lá ou vai desistir como uma galinha? Có có có!"
"Ei!" ��
"Có có có có!"
"Quer parar com isso?" Fala o garoto batendo na porta.
"Có có có có!"
"Eu aceito ir lá sim!" Ele fala, decidido. "Apenas me diga onde é e eu irei!"
"Hahahaha! Você é valente garoto... Pois bem então."
Cerca de uma hora depois, Julian agora se encontrava fora da cidade, montado em um dos grandes animais com corcovas. Acompanhando-o estava um homem vestido com as roupas da guilda Malva e portando uma lança nas costas, também montado em um animal.
"Como disse que se chamam esses animais?"
"Camelos." Fala o homem. "Eles são resistentes ao calor do deserto, pois armazenam toda a água nessas duas corcovas que você vê aí."
"Hum...Eles são mansinhos..." Diz o garoto, passando a mão na cabeça daquele que montava. Imediatamente o animal tenta morder a mão do rapaz e ele a tira rapidamente. "Argh!"
"Quando não estão com fome." Fala o homem um pouco mais a frente."Assim que chegarmos no lugar, precisamos alimenta-los."
"Certo."
Logo, o homem pára o camelo e Julian idem. Ambos estavam diante da tal Floresta dos Lagartos, que na verdade, tratava-se de um enorme Oásis em meio ao deserto árido de Solaria. Tão grande que as palmeiras formavam um grande bosque verde em volta do lago cristalino do mesmo.
"É aqui garoto." Fala o homem, sem descer do camelo.
"Está bem...Tudo o que temos que fazer é encontra-lo e trazê-lo?" Ele diz, de frente para uma entrada em meio as arvores.
"Sim. Porém, não será 'nós' e sim 'você'."
"..." Julian olha para o homem estático, logo depois para o oásis e em seguida para o homem de novo. "Mas eu...não tenho nenhuma arma. Nem sei usar uma!"
"Bom, isso é um problema só seu." Ele diz, pegando as rédeas do outro camelo e levando para perto de um dos braços do lago. "Se quiser mesmo falar com Rannik, então terá de fazer isso sozinho."
"Mas e quanto a você?"
"Ficarei aqui e alimentarei os animais. E quanto a você, apresse-se!"
O garoto olha para dentro do bosque e, tomando um pouco de coragem, entra.
Andando por uma trilha feita com várias das folhas das árvores, o garoto anda alerta, procurando pelo tal agente perdido. Podia-se ouvir, ao longe, fundo nas árvores, rugidos das criaturas que habitavam o lugar...
Julian reconhece os rugidos como sendo iguais aos dos animais que levavam o transporte daquele homem que os ajudara no deserto.
"Devem haver 'adultos' por aqui..." Ele diz, retirando algumas folhagens do caminho.
Dois minutos depois, mais a frente ele escuta gritos humanos. Só podia ser o tal agente!
Ele apressa-se pela floresta e vai na direção da voz o mais rápido que pode.
"Agüente! Eu vou ajuda-lo!" Ele grita, tentando responder.
Seguindo os gritos, ele chega até a entrada de uma grande clareira em meio as árvores e arregala os olhos, surpreso com o que vê.
"Argh...!"
Continua...
