Só queria agradecer à mistr3ss pelo 1° review. Obrigado por gostar da história.
Boa leitura...
Neverending War...
Cap. 4 - Fúria Sanguinária
"...Argh!"
Afastando os arbustos, Julian deparou-se com uma grande clareira em meio as dezenas de palmeiras que havia no local. Exatamente no centro, um pequeno lago (na verdade, poça) lamacento servia de palco para uma furiosa batalha: um jovem rapaz, com cabelos curtos e espetados, segurava um grande bordão de madeira com o qual tentava contra-atacar um enorme lagarto do deserto, muito maior que qualquer outro que Julian tivesse visto. A criatura tentava morder a cabeça do rapaz com as poderosas mandíbulas, enquanto este afastava a boca para longe de si com a ajuda do bordão. Ambos estavam cobertos de lama que, com o furor da luta, era jogada para todos os lados.
"...Graurr!..."
"H�! Você acha mesmo que vai conseguir me engolir sua lagartixa gigante? Pois pode esquecer! Hááá�!"
O rapaz golpeou a barriga da criatura com o bordão fazendo-a recuar, rugindo e rosnando, sentindo a dor da pancada. A seguir, investiu novamente contra o jovem, derrubando-o na lama mais uma vez ao tentar morder o seu rosto. Uma saliva viscosa escorria dos cantos de sua enorme boca.
"Ei, pode me ouvir!" Pergunta Julian, saindo de trás dos arbustos.
"...?" O rapaz limpa a lama do rosto e olha para Julian, surpreso, enquanto tentava afastar a criatura com a mão que segurava a arma
"Não se preocupe, vou dar um jeito de ajudar você!"
"Ei! Espere aí! Eu...Sblosh!" A criatura enterra a cara do rapaz na lama antes q ele termine de falar.
Julian vasculha rapidamente a areia e os arbustos...até que encontra, próximo a uma das palmeiras, um pequeno coco, que mira na grande criatura sem pensar duas vezes. Juntando todas as suas forças, ele arremessa a fruta contra o animal!
"...KBOOM!..."
"...GRAURR!..."
Um som muito alto, semelhante a o de um avião quebrando a barreira do som, é ouvido alguns instantes depois do côco ter sido arremessado, até que este atinge com uma força estrondosa a cabeça do lagarto, fazendo-o voar por vários metros até finalmente colidir com uma das muitas palmeiras, desabando imóvel no chão.
"..." O rapaz levanta-se da lama e observa com os olhos arregalados a criatura, morta, ao longe. Em seguida, vira a cabeça lentamente na direção de Julian.
"Er..." O garoto olha para as próprias mãos. "O que foi isso...?"
"Muito bem! Cadê?" O rapaz da lama anda até Julian, segurando firmemente o bordão de madeira, com uma das mãos estendidas.
"Er...cadê o que?"
"A arma que você usou para matar o lagarto-rei que EU iria matar!"
"Arma?"
"É, pare de ser cínico e me entregue logo ela! Anda!"
"Mas...eu não tenho nenhuma arma!"
"Ou me dá ela ou enfio isto na sua goela!" Diz a Julian o rapaz coberto de lama, balançando ameaçadoramente o bordão no ar
"Ei, pára com isso! Eu já disse que não tenho arma! Também não entendi o que aconteceu!"
"Hum...tudo bem, vai continuar fingindo! Que seja! Mas não interfira mais no meu treinamento! Eu estava tão perto...TÃO PERTO! E aí aparece você, completamente do nada, e mata a criatura que demorei dias para encontrar?"
"Pensei que precisasse de..."
"Não pensou nada! Seu...seu...moleque tonto!" Ele vira de costas e toma em mãos um pequeno cantil em sua cintura. Logo após dar alguns goles, continua. "Aliás, o que está fazendo por aqui! Está perdido!"
"Bem...Eu vim de Anacrópolis e fui mandado até aqui para levá-lo de volta, e..."
O rapaz se engasga com a água do cantil, cuspindo-a depois de tossir várias vezes
"O que!"
"Ahn...Falei algo errado?"
Imediatamente, sons semelhantes a rosnados e rugidos são ouvidos ao redor da clareira. As folhagens ao redor dos dois jovens começam a se mover...
"O q-que é isso?"
"Droga..." O rapaz enlameado pega em mãos o bordão e fica em posição de batalha. "Olhai o que fez. Por causa do barulho da arma, os outros nos acharam!"
"Os 'outros'...?"
Através das folhagens surgem outros lagartos furiosos que, ao observar o corpo do grande lagarto-rei, emitem rosnados ainda mais ferozes. Julian fica de costas para o rapaz, em uma posição de ataque improvisada.
"Mas...são muitos! Não vamos nem ter chance!" Diz Julian, amedrontado com o número de criaturas.
"Deixe de ser medroso! Atire neles com sua arma! E pode deixar que eu cuido dos que vêm deste lado, hehehe..." Diz o rapaz, enquanto um de seus dentes brilha.
Logo, cerca de trinta ou mais criaturas cercavam os dois... Sem demora, os répteis decidem investir contra os dois, mostrando os dentes afiados.
O rapaz com o bordão mostra grande agilidade, saltando por cima das criaturas e atacando-as facilmente.
"...GRAURR!..."
"H�! É só isso que sabem fazer? O seu rei era o único desafio à altura! H�!" Ele diz, golpeando um lagarto e lançando-o para longe.
"Aaaaargh!"
Julian não possuía tamanhas habilidades em combate e fazia a única coisa na qual conseguia pensar enquanto metade das criaturas o perseguiam pela clareira: correr!
"Vamos, deixe de brincar e mate-os logo!"
"Como quer que eu faça issooooooooo?" Ele indaga, correndo desesperadamente em círculos, ao redor do rapaz com o bordão e os lagartos q o atacavam.
"Atire neles, droga!"
"Argh! Mas eu já disse que não tenho nenhuma arma!" Imediatamente, Julian salta e agarra-se em uma palmeira, quase não conseguindo livrar uma de suas pernas de ser abocanhada por uma criatura "Ack! Por pouco..."
O outro rapaz atacava e defendia habilmente, vencendo todos com facilidade. Sabia exatamente onde golpear, fazendo com que ficassem atordoadas e fora de combate.
"Menos um! Vejamos quantos faltam!" Ele diz, observando os vários lagartos que o cercavam. "Hum...até que são bastantes! Mas acho que posso acabar com todos sozinho! E então, vou poder esfregar isto na cara dele! Bwahaha!"
"Ahn?" Julian escutava sem entender, de cima da palmeira. Esticando uma das mãos, pegou um coco de cima dos galhos, outra vez fazendo mira "Como foi mesmo? Ahn...toma!" A fruta é arremessada contra as criaturas abaixo mas cai na areia, inofensiva "Droga...esses malditos vão acabar me alcançando!"
"...Já basta! Acabem com todos eles homens!"
Uma voz diferente das dos dois jovens invade o local, seguida por diversos sons agudos e altos, semelhantes a ...tiros!
"P�! P�! P�!"
"...Mas o que...?" O lutador deu alguns passos para trás, afastando-se dos tiros que criavavam os lagartos por todos os lados. As criaturas rugiam tentando escapar, enterrando-se na areia do Oásis, mas poucas realmente conseguiam.
"...GRAURR!..."
Julian observava surpreso - e um tanto assustado - as criaturas sendo mortas rapidamente lá embaixo. Ele olha para os lados tentando ver de onde havia vindo todos aqueles tiros ou ainda a voz misteriosa, mas em vão.
Cerca de vinte homens surgiam através dos arbustos segundos depois, segurando armas que lembravam rifles e trajando uniformes parecidos com as da guarda de Anacrópolis, diferenciando-se por uma faixa lilás que trespassava o peito. Uma figura montada em um belo camelo entrava pelo mesmo lugar onde Julian havia entrado antes, destacando-se dos demais. Usava um grande manto lilás, amarrado como um turbante que cobria principalmente o rosto, e uma semi-armadura, que lhe cobria apenas os ombros e a parte inferior do corpo. Vinha acompanhado pelo homem que havia trazido Julian até o Oásis...
"..."
"...Parece que tive de salvá-lo de novo, não é mesmo Spike?" Disse o primeiro
"Sem essa de 'ter que salvá-lo de novo'...!" Berra o rapaz com o bordão. "Quem pediu para você vir aqui? Eu podia ter acabado com todos eles sozinhos!"
"..." Julian apenas observava, com uma grande gota na cabeça...e muitas interrogações.
"É mesmo? Não é o que parecia quando estava lutando contra o lagarto-rei." O homem falava sem perder a calma, diferentemente do rapaz, agora intitulado 'Spike'. Ele então dá algum comando e cinco dos homens armados começam a recolher os corpos das criaturas mortas e jogá-los para longe dali. A seguir ele olha na direção de Julian, em cima da árvore. "Quanto a você, garoto, já pode descer."
"Ahn? Ah, sim..."
Julian desce da grande palmeira e logo fica de frente para o homem que havia lhe chamado.
"Meus homens me disseram que um certo garoto tinha interesse em falar comigo. Este seria você, estou certo?"
"R-Rannik?"
"Eu mesmo." Fala o homem, domando o camelo. "Enfim, acho que você fez por merecer uma 'pequena audiência' com a nossa Guilda. Mesmo sendo muito jovem, pôde ajudar Spike numa hora de dificuldade. É o mínimo que posso fazer como agradecimento."
"P-puxa, obrigado..."
"Espere aí seu...!" Spike fica entre Julian e Rannik, com o dedo indicador no nariz do primeiro. "Eu sabia que este cara havia sido mandado por você! Mas que idéia é essa? Pensei que eu deveria fazer minha missão especial SOZINHO!"
"..." Julian apenas fica calado, com uma gota na testa.
"Mas como você estava com muitas dificuldades, achamos melhor mandá-lo até aqui para ver se você realmente estava se saindo bem. Em vez de reclamar deveria agradecê-lo por ter salvo a sua vida."
"Grrr...! Sem essa!"
Spike sai dali, pisando duro e irritado. Ele passa pelos homens armados e sai pelo mesmo local por onde Rannik havia chegado.
"Olha, senhor Rannik...ele tem toda razão. Eu não fiz nada para ajudar e..."
"Bobagem garoto!" Diz o segundo homem, interrompendo-o. "Você tem mais força do que aparenta, e sabemos bem disso. Estávamos observando-o já há algum tempo e vimos como derrubou aquele lagarto-rei."
"Ele tem razão garoto." Continua Rannik. "Não é qualquer um que consegue matar um daqueles em um único golpe, ainda mais com um coco. Falaremos sobre isso também, mas, por hora, é melhor voltarmos para Anacrópolis pois está quase anoitecendo. Vamos homens! Para a sede!"
Rannik dá meia volta com sua montaria e se dirige para a saída da 'Floresta dos Lagartos'. O homem que acompanhara Julian anteriormente traz o seu camelo e o rapaz, agora montado, também segue de volta para a cidade, ao lado de Rannik. Todos os demais colocam os rifles nas costas e os seguem.
Durante a viagem de volta, Julian observava Rannik e em seguida Spike, mais à frente, resmungando algumas coisas.
"Eu espero não ter atrapalhado nada..."
"Não se preocupe, não atrapalhou nada." Fala Rannik calmamente, olhando para frente. "Spike é muito corajoso, mas inconseqüente. Ele provavelmente não teria sobrevivido a todos aqueles lagartos se estivesse sozinho, por mais forte que seja."
"Eu posso perguntar o que é essa 'Missão Especial' que ele estava fazendo?"
"Ele é um dos nossos mais novos recrutas. Todos os que querem fazer parte de algum posto na Guilda Malva têm de passar por um rigoroso teste de coragem e força. Ele deveria ter trazido a cabeça daquele lagarto-rei ontem à tarde...Para, só depois, partir para uma missão final em busca de sua recompensa."
"Recompensa?"
"Sim... Mas isso é uma outra história...Podemos falar disto quando chegarmos."
"Tudo bem..."
"E, em parte, quero lhe agradecer pessoalmente. Ainda que muito tolo, ele é de minha família."
"Família!" Fala Julian, surpreso. "Por acaso vocês são...?"
"Irmãos." Fala Rannik, calmamente.
"P-puxa...quem iria imaginar..."
Julian não tinha certeza se Spike, logo à frente, havia escutado ou não. Ele deveria estar irritado demais para isso...
Algumas horas depois de ler diversos livros e tomos antigos na biblioteca da cidade, Elliot levantava-se da cadeira, espreguiçando e bocejando. Havia lido tanto que o tempo havia simplesmente voado.
Olhando para uma das janelas da biblioteca, notava o céu completamente negro salpicado de estrelas, o que o fazia apressar-se ainda mais, colocando os livros de volta em seus lugares para depois sair da local. Na rua, um vento gelado assobiava por entre as casas e as areias do deserto.
"Argh! Não imaginava que pudesse fazer tanto frio em um lugar que é tão quente..." Dizia, ao proteger com a roupa o rosto da areia. "Hum...agora, onde era mesmo a tal Guilda Malva?"
Saindo de trás de uma das muitas casas, o garoto acaba voltando até a 'praça central', local onde ele e Julian estavam anteriormente. Dessa vez, o lugar se mostrava bastante vazio.
Elliot olhava de um lado para o outro, tentando se lembrar das palavras do sacerdote sobre o lugar em que a Guilda Malva ficava. Seus pensamentos porém são bruscamente interrompidos por vários gritos e vozes que vinham do outro lado da praça.
Antes que pudesse esboçar qualquer reação, diversos homens trajados como guardas da cidade passaram rapidamente por ele, indo na direção dos gritos.
"A próxima onda está se aproximando! Vamos homens! Temos que detê-los!" Diz o homens mais à frente, mostrando ser um tipo de comandante.
"Ei, esperem! Podem me dizer o que está acontecendo!" Elliot indaga, abordando um dos guardas.
Apesar da pergunta, nenhum deles o responde e continuam se distanciando. Sem pensar duas vezes, Elliot os segue e, assim que dobra uma minúscula viela, percebe estar próximo a entrada da cidade. Pelo portão aberto, ele percebe os gritos darem lugar a muitos sons de lâminas colidindo. Os guardas investiam contra um grande grupo de criaturas que tentavam invadir a cidade e, apesar de estarem em menor número, os guardas se mostram poderosos lutadores e destruíam as criaturas uma a uma, em uma batalha ferrenha. Elliot observava tudo, de longe, escondido atrás da parede de uma das casas da esquina
Entre as criaturas estavam inúmeros lagartos dos desertos e outras, que o garoto nunca havia visto. Estas eram semelhantes a enormes besouros, com duras carapaças nas costas, porém não páreas para as espadas dos guardas.
"Nossa..." O garoto mantinha o olhar fixo na batalha, um tanto assustado com a quantidade de criaturas. Percebia também que, próximo ao portão, havia alguns corpos humanos. Provavelmente eram as pessoas que estavam gritando...
O vento assobiava novamente e os lagartos, furiosos, investiam com seus dentes e garras, enquanto os grandes besouros erguiam e jogavam no ar os soldados usando suas enormes mandíbulas.
"...GRAURR!..."
"Agüentem firme homens! Vamos expulsá-los daqui!" O comandante do pelotão levava seus homens para frente, atacando as criaturas com afiadas cimitarras.
Elliot via um pequeno grupo de apoio se aproximar do portão, arremessando diversas lanças curtas, as azagaias, contra as criaturas. A chuva de lanças mostrava-se mortífera, pois mesmo as resistentes carapaças dos besouros eram rompidas pelas afiadas pontas das armas.
A batalha duraria apenas mais alguns minutos, quando cinco bestas restantes optaram por fugir por debaixo da areia do deserto, ao invés de enfrentar as azagaias dos soldados.
Com as criaturas longe, os guardas retornaram para dentro da cidade, carregando os corpos das pessoas e de alguns guerreiros que acabaram por cair ante a fúria das bestas. Em frente ao portão, restara apenas um tapete de cadáveres de lagartos e grandes insetos... Cadáveres que o vento gelado se encarregaria de cobrir pouco a pouco com areia...
"Capitão!" Diz um dos soldados a seu comandante "As criaturas desta onda foram derrotadas."
"Parece que sim sargento." Ele responde. "Uma pena que à custa de cinco de nossos homens..."
"Quais são as ordens?"
"Avise a Guilda Malva sobre esse ataque repentino. Diga-os também que, pelo vento, ele está bem perto e precisamos fortalecer as nossas defesas."
"Entendido senhor!"
O sargento então se afasta, juntamente a outros dois soldados. Eles passam por Elliot e este, novamente, não pensa muito antes de segui-los.
"Ótimo! Estão indo para a Guilda... Assim vou poupar tempo procurando pelo lugar." Enquanto segue, ele limpa a areia dos óculos, pensativo. "Mas...quem será 'ele' ?"
"Mas porque não pode me deixar ir até o templo?"
"Eu sinto muito Julian, mas não posso permitir que você vá até lá. É muito perigoso, e será de minha responsabilidade se algo acontecer a alguém, caso aproxime-se daquele lugar."
Estavam agora no interior de um grande aposento, bastante semelhante a um salão com várias mesas, grandes caixas de madeiras empilhadas ao fundo e cadeiras espalhadas. Os membros da Guilda Malva se encontravam espalhados pelo local, jogados nas cadeiras, observando conversa entre Julian e Rannik. O garoto se mantinha sentado, de frente para Rannik, que por sua vez se apoiava em uma das muitas caixas de madeira que havia por perto. Spike escutava tudo em silêncio, encostado na parede com os braços cruzados, não demonstrando muito interesse no que diziam.
"Mas não vai me acontecer nada, eu lhe garanto!" Continuava Julian. "Além disso, eu não irei sozinho. Há um amigo meu em Anacrópolis que também é um grande aventureiro. Temos certeza que teremos bons resultados se pudermos..."
"É melhor esquecer isso garoto." Disse um dos homens sentado próximo dali, em cima de uma das pilhas de caixas.
"É verdade. Você não sabe o que há naquele lugar, vai apenas para morrer." Disse outro, com uma grande cicatriz no rosto, ao lado do anterior.
"E a responsabilidade será toda nossa, que permitimos sua ida" Diz um terceiro, deitado sobre uma mesa, com a cabeça apoiada sobre as mãos, mascando alguma coisa, provavelmente fumo.
"..."
"Entende porque não posso deixar você ir, não é mesmo?" Diz Rannik, cruzando os braços.
"Mas... você tem que me levar até l�! É muito importante!" Insiste Julian, um tanto desesperadamente.
O salão fica em silêncio por alguns instantes... Ouviam um único som, de passos que lentamente se aproximavam, descendo da grande escada em espiral que dava acesso ao segundo andar.
"...O menino está certo Rannik."
Todos, até mesmo Spike, imediatamente olharam na direção da voz, vinda do velho sacerdote do templo da cidade.
"O Sacerdote!"
"Senhor Hennet..." Diz Rannik, observando o velho descer as escadas e dirigir-se lentamente até ele e Julian. Os demais fazem uma rápida reverência, exceto Spike que, como Rannik, se mostrava pouco surpreso. "O que faz aqui?"
"Eu vim até aqui porque sabia que você, na sua posição de proteger as pessoas do mal que assola o templo de Rehzuma, e também Solaria, não permitiria que o garoto fosse até aquele local, hoje profanado pelas trevas."
"Estou apenas fazendo o que acho certo." Continua Rannik. "Muitas pessoas já perderam suas vidas lá e, se ele for, também perderá a sua."
"Anteriormente, eu pensava como você. Porém, depois de refletir muito... cheguei a uma conclusão."
"E esta seria...?"
"Rannik, este jovem, bem como seu amigo que está na cidade, são a nossa única salvação. Ou melhor...são a única salvação de Solaria."
"..."
"...O que!" Rannik pensa por alguns momentos se o sacerdote não estaria ficando maluco. "Bem, me desculpe senhor, mas se trata apenas de um garoto. Como pode ser a salvação de Solaria? E porque está dizendo que ele está certo em ir até lá... por acaso já se conhecem?"
"Nos encontramos por apenas alguns momentos, quando ele e seu amigo foram até o templo de nossa cidade. No início, achei que realmente fossem apenas aventureiros, de algum lugar longínquo... " O sacerdote olha para Julian e coloca a mão sobre um de seus ombros. "Mas acho que não é bem isso, não é mesmo senhor Julian?"
"Er...bem..."
"Sim, isso é verdade... também percebemos que ele possui um tipo de 'força' interior muito grande, a qual não se encontra em qualquer aventureiro por aí. Diga-nos, meu jovem, afinal, quem é você...?"
"Eu...eu..." O garoto engasga com as próprias palavras. Não sabia se dizia ou não o que acontecera em Autonoe... Provavelmente não acreditariam em nenhuma palavra...
"Ele não é apenas um aventureiro, tem uma missão muito importante em Solaria." Fala o sacerdote. "Estou certo?"
"Bem...acho que sim..."
"Obviamente esta missão tem a ver com o templo de Rehzuma, no deserto." Rannik se senta, cruzando os braços. "Se o senhor Hennet, nosso sacerdote, está dizendo disso, então estou tentado a levá-lo até o templo. Porém, antes disso... explique-se."
O salão silenciosamente pressionava Julian a contar sua história. Todos aguardavam que ele falasse o que tinha ido fazer ali, exatamente.
"É, acho que não tenho escolha..." Ele diz, suspirando.
"Não tem mesmo." Fala Rannik.
"Bem vou tentar explicar. Meu nome é Julian, e vim de Autonoe, terra de Pasiphae..."
Alguns minutos depois, sua história estava terminada. Explicara rapidamente sobre a terra de Autonoe, os Tecnomages, a chuva neste exato momento ainda desaba em Autonoe, o Limiar e que irá acontecer caso não recupere todos a tempo. A inevitável destruição de sua terra...
Todos os integrantes da Guilda Malva escutavam atentamente a cada palavra, mesmo Spike. A parte sobre o Limiar chamara a atenção de todos.
"...E isso é tudo." Fala Julian. "Após tudo isso, eu e meu amigo Elliot viemos parar aqui, em Solaria... E agora estamos à procura de outro Limiar. Nós temos certeza que ele se encontra dentro deste templo, pois, se for igual ao que havia em Autonoe, possui poder suficiente para desenterrá-lo... ao menos eu acho."
"Então, você é o único que pode tomar esses tais Limiares em mãos?" Indaga Rannik.
"Bem, pelo que eu sei, sim. Digo, ao menos não me aconteceu nada quando toquei na energia pela primeira vez."
"...E parece que não é só em seu mundo, Julian." Fala o sacerdote. "Parece que esses tais Limiares possuem a capacidade de causar danos a qualquer mundo em que estejam alojados. Como estão fazendo a Solaria..."
"Mas ele só desenterrou o templo de Rehzuma, não é mesmo?"
"...Antes fosse só isso." Fala Rannnik, um tanto preocupado.
Neste momento, sons de batidas vieram da porta da Guilda. Um dos homens, que se levantara para olhar pelo visor, abriu a porta para revelar quatro pessoas: três eram homens trajados como a milícia da cidade e o outro...
"Elliot!"
"Ah, achei você finalmente!" Fala o garoto de óculos, atrás dos três homens. Estes sequer prestam atenção no garoto, adentrando na sede.
"Qual o problema soldados?" Diz Rannik.
"Comandante Rannik, acabamos de derrotar uma grande onda de criaturas que estavam prestes a invadir Anacrópolis. O capitão Wolfgang diz que as defesas devem ser reforçadas, pois as criaturas poderão invadir novamente, juntamente com... Ele."
"Ele...?" Pensa Julian.
"Muito bem, diga-o que isso não será necessário, pois vamos acabar com este tormento logo."
"Mas, comandante..."
"Sem 'mas', sargento. Diga isto ao capitão. E ordene a ele que organize uma tropa eficiente até amanhã ao nascer do sol."
"Sim, senhor comandante. Mas, me permite perguntar aonde iremos?"
"..." Rannik olha para Julian, seriamente. "Ao templo de Rehzuma, no deserto."
"..." Os três soldados ficam em silêncio e os integrantes da Guilda Malva se levantam, um a um, mostrando-se dispostos a irem também. "Diremos isto ao capitão, senhor. Com sua permissão..." Os três, então, se retiram do lugar. Elliot os observa partir e fica à porta, olhando de um lado para o outro.
"Ei Elliot, entre!"
"Er, não tem problema mesmo?" Ele diz olhando de relance para os homens mal encarados que havia ali.
"Todo amigo do jovem Julian é bem vindo." Fala o sacerdote. Elliot, ao reconhecer o velho sacerdote, o cumprimenta e vai até o amigo.
"Então, este é seu amigo? Vocês fizeram muitas coisas para apenas dois garotos, sabiam?" Diz Rannik, com um sorriso minúsculo no rosto.
"C-Como assim...?"
"Ele já sabem de tudo, Elliot." Diz Julian.
"Mas, você contou?"
"Já não há motivo para esconder coisa alguma, meu rapaz." Fala o sacerdote. "Agora todos estamos juntos nisto, e iremos ajudá-los como pudermos."
"É isso mesmo." Concorda Rannik. "Se não nos apressarmos, esta energia maligna vai se apoderar de todas as criaturas de Solaria e não conseguiremos resistir por mais tempo..."
"Mas o que há com as criaturas?" Pergunta Julian. Elliot então puxa uma cadeira, sentando-se ao lado do amigo
"Bem, as criaturas que habitam Solaria sempre foram pacíficas... Como você deve ter visto em algum momento, vários dos lagartos do deserto foram domesticados por nós e se tornaram dóceis."
"Ahn...é verdade, o homem que trouxe nós até aqui tinha dois lagartos..."
"...mas eles não eram exatamente dóceis." Completa Elliot.
"Mas com certeza não eram mais furiosos que os que nos atacam constantemente." Diz o sacerdote. "Por causa dessa energia negativa, as criaturas tornaram-se incrivelmente hostis e atacam tudo o que vêem pela frente... com uma fúria sanguinária."
"Muitas pessoas já perderam suas vidas, vítimas das criaturas..." Continua Rannik.
"Hum. Isso é verdade... eu estava próximo de onde essa última onda de criaturas atacou... Eram muitas! Felizmente os guardas conseguiram derrotá-las."
"Não se preocupe." Julian levanta-se, cerrando o punho. "Nós iremos pegar este Limiar e então tudo estará resolvido, eu prometo!"
"Eu digo o mesmo!"
"Heh... acho que posso confiar em sua bravura, garotos. Mas, irei acompanhá-los dentro do templo, para que não se percam. Além disso, as criaturas mais perigosas se encontram lá dentro."
"Espere um pouco!" Spike pronuncia-se, depois de muito tempo em silêncio. Ele descruza os braços e se aproxima de Julian, Elliot e os demais. "Você não vai precisar entrar com eles no templo."
"É? E posso saber porque?" Diz Rannik, olhando seriamente para o irmão.
"Porque quem vai fazer isso sou eu." Diz o rapaz, apontando para si mesmo com o polegar.
"..."
"Quem é esse cara Julian?" Pergunta Elliot, cochichando.
"Er...é uma longa história..." '
Rannik aproxima-se do irmão, sem mudar o semblante sério.
"E eu posso saber o porquê dessa sua repentina vontade de ajudar?"
"É simples bobão..." Diz Spike, com um sorriso gigante no rosto. "...As criaturas estão defendendo o templo, como todos aqui sabem. Você terá de ficar do lado de fora para comandar os demais na batalha que, certamente, vai acontecer."
"Hum..."
Os homens ao redor começam a concordar com Spike. Era mesmo necessário que seu comandante estivesse presente na batalha.
"E então? O que me diz? Eu sei de cor todos os caminhos do templo, exatamente como você."
"Hum...está bem, você ganhou Spike." Diz Rannik, sentando-se sobre uma das caixas ai perto. "Porém não consegue esconder que o seu verdadeiro interesse é encontrar a SOLAR dentro daquele lugar, agora amaldiçoado pelo Limiar." Continua, sarcástico.
"N-NÃO TEM NADA A VER! TÁ ME CHAMANDO DE INTERESSEIRO, SEU, SEU...!" Responde Spike, se babando.
"Er...mas o que é a 'SOLAR' ?" Indaga Julian, pensando se realmente seria uma boa idéia ir até lá com Spike.
"É uma arma legendária. Pertenceu ao nosso antigo Deus-Rei, Rehzuma. Dizem que foi guardada juntamente com o corpo do deus, em seu templo...mas isso é apenas uma lenda. Nada confirmado."
"Puxa. Essa arma deve ser bem forte, não é?" Diz Elliot. "Afinal, foi usada por um Deus..."
"Sim, mas como eu disse, é apenas uma lenda. Se ela existiu mesmo, talvez tenha se perdido nas areias de Solaria quando o templo estava soterrado." Continua Rannik. "Se Spike tivesse completado todas as missões, ele teria uma chance de procurar por ela. Mas parece que ele vai fazer isso com ou sem outras missões..."
"Pode dizer o que quiser! Você vai ver, vou encontrar Solar e destruir essa...essa...COISA que está arruinando Solaria! Vou provar que posso ser melhor que você! Bwahahaha!"
"...feh." Julian e Elliot se encolhiam de medo, enquanto Rannik praticamente bocejava.
"Bem, agora que já está tudo resolvido, é melhor todos descansarem um pouco pois partirão dentro de algumas horas." Diz o sacerdote Hennet. "Julian e Elliot podem ficar na Guilda esta noite e ao amanhecer serão levados até o templo."
"Certo, obrigado senhor. E obrigado a todos vocês, senhores, por nos ajudarem." Diz Julian se levantando.
"Isso mesmo, obrigado por tudo." Completa Elliot.
"Garoto Elliot, tem certeza de que é seguro ir junto com seu amigo? Ele é o único que pode tocar no tal Limiar...você não estaria correndo algum risco se..."
"N-Não! Eu vou porque o Julian precisa de um apoio moral! Eu sou uma parte importante do time!" Ele diz, arrumando os óculos.
"..." '
"Bem, se você diz... De todo modo não estarão seguros, afinal Spike vai estar com vocês..."
"O QUE QUER DIZER COM ISSO SEU...!"
Duas horas depois, a luz do sol de Solaria havia desaparecido completamente. O céu mantinha-se negro, apenas algumas estrelhas brilhavam no véu da noite.
Em meio ao grande deserto de areias gélidas, estava o grande templo de Rehzuma. Uma edificação assombrosamente grande, esculpida em marfim, prata e detalhes dourados. Na entrada, após uma larga escadaria já consumida pelo tempo, estava uma enorme porta de pedra, com símbolos sagrados de sóis... o símbolo do deus Rehzuma.
Exatamente em frente ao portão, havia uma pessoa. Estática, imóvel, observavando atenciosamente os símbolos entalhados na pedra. Não era possível ver sua face ou corpo, pois estava coberta por um grande manto.
Há alguns metros dali, aproximando-se lentamente da figura, duas criaturas insetóides... besouros imensos, que brandiam as mandíbulas, salivando uma espécie de líquido esverdeado pelo orifício bucal. Os seis olhos brilhavam em um tom vermelho, mostrando estarem sobre efeito de algum tipo de fúria, provavelmente não natural.
Assim que se aproximam o suficiente, as criaturas levantam as afiadas mandíbulas e saltam sobre o ser misterioso, tentando devorá-lo!
"...FOUSHH!..."
Uma poderosa aura luminosa e flamejante surgira instantaneamente em volta da figura, atingindo as criaturas. Seus pedaços carbonizados caíam sobre a areia do deserto, exalando uma fumaça cinza e espessa.
A figura então ergue um dos braços e fecha o punho, golpeando o portão de pedra e derrubando-o com apenas um soco! As grossas pedras se esmigalham, abrindo caminho para o templo. No interior, bem ao fundo, uma luz multicolorida, em um tom quase hipnótico, chama a atenção...
A pessoa encapuzada dá meia volta e salta, chegando em instantes na parte de cima do grande templo de pedra. Ela volta a ficar parada e observa o horizonte ao longe, mais precisamente a cidade de Anacrópolis...
O sol já começava a raiar, quando uma grande gama de soldados atravessava a cidade de Anacrópolis. Diversos guardas, mercenários e a elite da Guilda Malva, alguns montados em camelos, faziam parte do pequeno exército criado para levar Julian, Elliot e Spike até o templo do deserto. Excetuando os garotos, todos portavam algum tipo de arma. Os homens das linhas de trás traziam seus fiéis rifles e azagaias, enquanto que os de linha de frente se muniam de cimitarras, escudos, alabardas e outras armas.
Julian e Elliot estavam mais a frente, montados em camelos, juntamente com Rannik e Spike.
"Nossa..." Diz Elliot, olhando para os lados. "Pelo número de pessoas, não vai ser uma batalha fácil."
"Provavelmente." Diz Rannik. "Ainda mais se 'ele' aparecer..."
"...O que?" Rannik falara a última frase em um tom baixo demais e Elliot não conseguira entender.
"Esqueça. Vamos, temos muita areia para percorrer e quanto menos tempo demorarmos, melhor."
Enquanto o exército saía da cidade, as pessoas observavam curiosas e apreensivas. Sabiam que, para que fosse formado um grupo de combate tão grande assim, era por algum motivo muito especial.
Logo, todos finalmente estavam andando pelas areias e dunas do deserto de Solaria... Do portão da cidade, o sacerdote Hennet os abençoava, desejando sucesso na empreitada.
"E que Rehzuma os proteja..." Ele diz, vendo todos se distanciarem.
Uma hora depois, o sol parece castigar os soldados e os garotos. Mesmo aqueles com turbantes, sentiam o calor escaldante que fazia. Tentando se distrair, Julian se lembra sobre a biblioteca e fala com Elliot.
"Ei, você não descobriu nada de interessante depois de ler tanto naquela biblioteca?"
"Ah, nada de muito importante...eu acho. Só algumas runas antigas. Decorei o significado de todas elas, mas não acho que isso vá ser muito útil."
"...Biblioteca?" Fala Spike, montado em um camelo, ao lado dos garotos. Em suas costas estava preso o bordão de madeira que havia utilizado anteriormente. "Espere aí, como foi que você entrou na biblioteca se é necessária uma autorização para isso?"
"Bem, uma moça muito gentil mostrou a sua autorização para os guardas da entrada, e então me deixou entrar junto com ela. É estranho, porque depois eu não a encontrei mais..." Ele diz, pensativo, limpando o suor da testa.
"Estranho mesmo." Fala o rapaz, voltando-se novamente para frente, guiando o animal. "Normalmente ninguém faria isso em Anacrópolis. Ainda mais por uma pessoa que nem conhece."
"Vai ver ela...goste de ler também." Diz Julian, sentindo-se incomodado com o calor.
"Sei...pra mim você roubou algum livro ou entrou sem permissão!"
"Ei! Isso não é verdade!" Defende-se Elliot.
"Hum, sei... Bem, deixe os guardas descobrirem isso e você vai ver só. Hehehe."
Enquanto Elliot e Spike discutiam, Julian olhava para o caminho em frente, embora não visse nem sinal de algum templo. Olhando para trás e observava Rannik, quieto, em frente aos demais soldados e guerreiros. Rannik, diferente de todos os outros, parecia tenso...
Assim que Spike e Elliot terminaram a discussão sobre os livros e a biblioteca, Julian dirigiu-se ao primeiro.
"Er, Spike."
"Hum? O que você quer?"
"Você e Rannik são mesmo irmãos?"
"..."
"Digo, não quero ofender, nem nada, mas...vocês me parecem tão...ahn..."
"Diferentes um do outro?" Completa Elliot, limpando o suor que havia caído na lente dos óculos.
"Er...isso."
"Porque essa pergunta?" Ele diz, seriamente.
"Nada, só curiosidade..."
"Hum." Spike volta a olhar para frente, ainda com o semblante sério no rosto. "É claro que somos irmãos. A diferença é que ele é o mais velho de nossa família, e por isso, é o líder da Guilda Malva. Ou seja, ele só teve mais SORTE do que eu!"
"Hehe...acho que tem razão..." Diz Julian, com uma gota na testa, resolvendo não contrariar o rapaz. "E bem, me desculpe por antes, não sabia que você estava em uma missão."
"Ah, esqueça isso... É passado. De todo modo, vou conseguir pegar o que é meu por direito! E então esse maldito miserável vai ver só todo o meu poder! Bwahahaha!"
"Er...mas Rannik disse que a Solar era apenas uma lenda. E se você não a encontrar?"
"Eu VOU encontrá-la! E assim que eu o fizer, vou destruir aquele maldito Limiar em um único golpe!"
"Mas...é pra pegarmos o Limiar e não destruí-lo..."
"..." Spike coça a nuca. "Bom tanto faz. O que importa, é que logo terei o poder de cem sóis em minhas mãos! Serei invencível!"
"Se você diz..."
"AH! ESTÁ DUVIDANDO TAMBÉM NÃO É?" Diz Spike, saindo cuspe pela boca.
"N-Não, eu..." '
"Estamos chegando!"
Imediatamente todos os guerreiros olham em frente e notam, no horizonte, o grande templo surgindo. A forte luz do sol distorcia a imagem da edificação bem como a do resto do horizonte, mas já notava-se a imponente construção por entre as dunas.
"Agora falta pouco! Logo tudo isto vai estar terminado!" Diz um dos soldados.
"É melhor não comemorar nada antes do tempo sargento. E preparem suas armas!" Fala Rannik, observando na mesma direção do templo.
Imediatamente uma enorme manada de criaturas começa a se aproximar... pouco a pouco era visível um número incontável de lagartos e grandes besouros que se aproximavam... Todos com os olhos vermelhos, sedentos de sangue...
"Julian e Elliot, protejam-se! Vocês não vão ajudar muito se morrerem aqui! Homens! Ao ataque!" Rannik desembainha uma grande cimitarra, com a lâmina inscrita com runas e investe contra a horda de criaturas. O resto dos guerreiros ataca logo atrás, sendo guiados pelo seu comandante.
"Vamos ficar aqui parados!" Diz Elliot.
"Mas o que podemos fazer?"
"Vamos ajudá-los! Mesmo que a gente não possa fazer muito, eu me recuso a ficar parado enquanto eles se matam para que nós possamos passar!"
"É...acho que você tem razão." Diz Julian, olhando para as duas massas, agora se encontrando e iniciando um furioso combate.
Os garotos incitam suas montarias na direção da luta mas, antes que possam continuar, Spike se coloca na frente deles.
"Esperem aí, aonde vocês acham que vão!" Ele diz, com o bordão em mãos.
"Vamos ajudar oras! O que mais!" Fala Elliot.
"Mas se vocês caírem nessa luta, todo o esforço que o tonto do Rannik e os demais estão fazendo vai ser em vão. Vocês não serão muito úteis nessa luta, portanto fiquem aí mesmo e aguardem o comando."
"..."
"Além disso, ele sabe o que faz e essa luta não vai ser difícil..." Continua Spike, observando a batalha. Enquanto Elliot observava o combate, Julian olhava para Spike, surpreso, pela confiança que este demonstrava pelo irmão.
Enquanto os três rapazes assistiam próximos dali, a linha de guerreiros atacava ferozmente as criaturas. Com as poderosas cimitarras e alabardas, as criaturas eram facilmente derrotadas. Mesmo a carapaça resistente dos besouros resistia aos golpes certeiros e caím, vencidss, em poucos segundos. Os répteis furiosos saltavam sobre eles, tentando morder seus pescoços, mas poucos realmente conseguiam. A força de Anacrópolis mostrava-se realmente eficaz.
"...GRAURR!..."
"Vamos guerreiros! Acabem com os que faltam!"
As criaturas também faziam suas vítimas... inevitavelmente alguns soldados caíam para as garras poderosas dos répteis, ou ainda derrotados pelas afiadas mandíbulas dos enormes besouros do deserto. A chuva de azagaias das linhas de trás praticamente dizimavam toda a horda inimiga... Répteis e insetos eram trespassados pelas pontas afiadas voadoras.
"Incrível!" Diz Julian, com os cabelos balançando ao vento, ao observar a batalha. "Rannik e os outros são muito bons! Estão quase vencendo!"
"É verdade! Desse jeito vamos poder passar sem problemas! Porque não ganhamos tempo e nos dirigimos para o templo!" Indaga Elliot.
"...Porque a batalha de verdade ainda não começou." Fala Spike, levantando a mão. "O vento está forte... Ele já nos achou. Rannik e os outros vão ter de desviar a atenção dele para que possamos passar."
"Ele...?"
"Eu também queria saber..." Diz Elliot para Spike. "Os soldados, quando lutaram contra as criaturas em Anacrópolis, também falaram em um tal 'Ele'. A quem eles se referiam afinal?"
"...Fujin."
"...Quem?"
Imediatamente o vento fica ainda mais forte, levantando uma enorme cortina de areia sobre o exército e os garotos. Julian e Elliot protegiam o rosto da areia enquanto a batalha, que parecia fácil, tornava-se um desafio. Diversos homens eram literalmente cegados pela areia que passava rasgando seus rostos e, aproveitando-se disto, as criaturas que pareciam já derrotadas agora os destruíam.
Rannik fazia sinal para que as tropas recuassem até uma certa distância, segundos antes de um gigantesco tufão surgir por baixo das linhas de trás, arremessando inúmeros soldados para longe.
"Argh!"
"Huaaaa!"
"Defendam-se homens! Afastem-se dos tufões!" Diz Rannik, protegendo o rosto da areia, enquanto tentava atacar um enorme besouro.
Mais à frente, logo atrás das criaturas, os ventos pareciam se unir, formando um enorme e violento ciclone, lançando areia para todos os lados. No centro deste, diversas descargas elétricas explodiam, como trovões, conseqüência da energia liberada pela 'criatura'.
"O que é isso?" Diz Julian, tentando ver o que acontecia a frente. A enorme cortina de areia dificultava a visão dos garotos.
"Isso é o tal Fujin!"
"Sim..." Fala Spike, também se protegendo da areia lançada. "Fujin é um elemental do ar, protetor do templo de Rehzuma. Como os lagartos e os besouros do deserto, ele também era pacífico...mas..."
"Mas parece que ele também caiu sobre a influência do Limiar!" Diz Elliot, um segundo antes de uma grande onda de areia atingi-los com força! Julian cai do camelo assim como os outros dois. Os três levantam-se, tirando a areia do rosto, enquanto notam que os camelos que os carregavam haviam sido arremessados pelo vento... Provavelmente não sobreviveriam.
Dentro da nuvem de areia, Rannik e os demais travavam uma batalha ferrenha contra as criaturas, que mesmo em pequeno número começavam a fazer um enorme estrago nas tropas. Diversos homens caíam vítimas das garras dos répteis ou ainda eram lançados para longe por Fujin, o elemental do ar. Julian e Elliot podiam ver os gritos de todos dentro do combate.
"Precisamos ajudá-los!" Diz Julian, tenso. "Todos vão morrer desse jeito!"
"Não!" Fala Spike, segurando seu braço. "Devemos ir para o templo!"
"E o que estamos esperando então?"
Do meio do grande combate, Julian e os demais observavam alguém se distanciando, montado em um camelo e acenando para eles.
"Isto." Diz Spike, tomando o bordão em mãos. "Agora finalmente devemos ir! Espero que estejam prontos para correr!"
"Estamos! Vamos depressa!"
Os três rapazes começam a correr rapidamente em direção ao templo... Felizmente não são notados por nenhuma das criaturas do combate...
Após atravessarem a linha de poeira formada por Fujin, os três se deparam com dois grandes lagartos que surgem de baixo das areias próximas as escadarias do templo.
"Saiam da frente! Vocês não vão ficar entre eu e meu destino! Huaaaa!"
Spike golpeia as duas criaturas de uma só vez, nocauteando-as instantaneamente. Julian e Elliot mantém uma certa distância de Spike, por precaução...
Logo os três estão subindo as grandes escadarias do templo e se deparam com um grande portão de pedra... totalmente destruído.
"...O que é isso?" Indaga Spike para si mesmo. "Alguém já entrou aqui?"
"..." Julian olha para trás, observando os sobreviventes, incluindo Rannik, atacarem as criaturas... Fujin era visivelmente superior a eles... mesmo assim, continuavam lutando. Ao mesmo tempo, ele se sentia estranhamente atraído pela luz multicolorida no fundo do corredor escuro da entrada do local. "Não importa! Vamos logo encontrar esse maldito Limiar, antes que mais pessoas acabem morrendo! Agora!"
O garoto adentra correndo pela passagem escura sem hesitar. Elliot dá de ombros e segue o amigo, adentrando pelo portão destruído.
"Ora ora...agora falou algo inteligente..." Diz Spike para si mesmo, adentrando na passagem logo atrás...
Enquanto os garotos finalmente entram no misterioso templo de Rehzuma, os soldados de Anacrópolis caem ante a fúria de Fujin... No campo de batalha, sobram apenas Rannik, de pé, com vários ferimentos pelo corpo, segurando sua fiel cimitarra, e o todo poderoso elemental, girando velozmente a sua frente, demonstrando toda a fúria negativa concedida pelo Limiar.
"...Confio em vocês garotos..."
Rannik junta suas forças e solta um forte brado de guerra... partindo para cima de Fujin...
