Neverending War...
Cap. 5 - Recompensas
...A mortal chuva continua a desabar sobre a grande república de Autonoe, em Pasiphae, o mundo de Julian e Elliot. Sobre a cidade, há alguns dias, a única coisa que pode ser vista são as nuvens negras sendo trespassadas pelos relâmpagos, seguidos de estrondosos trovões.
A população se mostrava preocupada. Já estava mais do que claro que aquele não era um fenômeno normal...
Em um dos lugares mais altos da cidade, mais precisamente em uma das torres do palácio do governo de Autonoe...
"..." A garota Anna, filha do falecido presidente, Luchenko, observava a chuva cair, escorada na belíssima sacada da torre, enquanto os pensamentos voavam. "Já faz cinco dias que Subaru partiu do palácio..."
Ela se afasta lentamente do parapeito da sacada ao sentir uma brisa leve, porém muito gelada, passar pelo seu corpo. Após fechar as grandes vidraças ela suspira, visualmente entediada, jogando-se sobre um par de grandes almofadas, bastante macias, próximas a sua cama. Dali, ela continua observando a chuva...
"Talvez...eles realmente estavam tramando algo contra mim. Sim, só pode ser isso...Eu devia estar certa! Subaru então, deve ter tentado impedir todos eles de continuarem o plano diabólico deles!" Ela pensa consigo mesma, enquanto as imagens vão se formando em sua cabeça. Dimitri e os demais com cara de demônios ao redor da pobre Subaru. "Hum...e a Subaru é muito forte, mas aqueles cientistas deviam saber como pará-la. Principalmente aquele tal Dimitri...Grrr! Que raiva que eu tenho dele!"
Apertando os dentes e os punhos, a garota salta das almofadas e coloca-se de pé. Logo, porém, desfaz o semblante de ódio e começa a se lembrar de algo que soube há alguns dias atrás...
"Hum... Fiquei sabendo que algumas pessoas estão espalhando boatos de que viram luzes incandescentes no centro da cidade, há alguns dias atrás. Mais precisamente onde aconteceu o acidente com o Urânio..." Ela fala, relembrando rapidamente daquele dia fatídico, no instituto. "...E, no mesmo dia que Subaru partiu, os radares do centro de defesa de Autonoe detectaram uma energia monstruosamente forte na cidade. É estranho...muito estranho. Será que tem algo haver com o sumiço dela?"
Ela pensa consigo mesma, enquanto anda de um lado para o outro dentro do quarto. Do lado de fora, os relâmpagos explodem nos céus, iluminando momentaneamente o breu que sobrevoava a cidade.
"Mas, o que estou falando?" Ela fala para si mesma, erguendo os olhos. Um minúsculo sorriso começa a crescer em seus lábios. "Subaru é o de menos agora! Até porque, tenho uma nação para reinar!"
Ela se dirige para a janela e fecha as grandes cortinas brancas. Em seguida, apaga a luz do aposento e sai do mesmo, rapidamente, muito ansiosa.
Meio longe dali, em uma casa do subúrbio de Autonoe.
"...Mas que chuva, não é?"
"Hum."
Alexis se encontrava próxima a uma das janelas do laboratório científico, observando a chuva cair, juntamente com os relâmpagos luminosos no céu escuro. Ela se mantém com os braços cruzados e um semblante de preocupação, enquanto, no centro do aposento, sentado em frente a uma mesa cheia de aparatos elétricos e eletrônicos, Keinzer examinava uma pequena peça de algum estranho engenho. Ele trocava os fios coloridos de posição e colocava e recolocava um grande óculos de proteção, enquanto fundia o metal aos fios com a ajuda de um pequenino maçarico.
Um vento gelado entrava pelas frestas da janela e da porta, causando calafrios à Alexis. Esta, se esfregava como podia e tentava esquentar as mãos, assoprando-as. Keinzer não se mostrava nem um pouco incomodado...apenas concentrado com o trabalho.
"Eu fico pensando...será que Julian está bem?"
"..." Keinzer nada responde. Apenas continua mexendo na pequena peça elétrica e trocando os fios de lugar, tentando encontrar a posição ideal. Vez em outra, movia os olhos em direção a cientista, mas não dizia nada.
"Julian está fazendo o seu trabalho, minha jovem." Diz uma voz masculina, vinda em direção a porta.
Alexis dá alguns passos até a porta de entrada, onde vê o dono da voz: Dimitri. O cientista trajava uma grande capa de chuva, um tanto berrante, completamente encharcada. Estava segurando, ainda, um guarda chuva com as hastes metálicas tortas, também molhado.
"Poxa, finalmente chegou." Fala Keinzer, sem desviar o olhar atento da peça. Ele liga o maçarico enquanto fala. "Aonde você foi? Ficou um bom tempo fora."
"Ah meu amigo, você sabe como eu sou." Ele diz, fechando o guarda chuva e pendurando-o em um varal improvisado, para que secasse. "Gosto de dar estar voltas 'bem longas'."
"Mas nós não vimos você no enterro de Luchenko." Continua Alexis. "Você chegou a ir até lá?"
"Sim..." Ele fala, sorrindo e retirando a capa de chuva, pendurando-a. "...Mas eu havia ido mais cedo...Precisava fazer algumas coisas importantes quanto a isso."
"Hum..." A cientista volta a se aproximar da janela, observando a chuva bater e escorrer pelo vidro.
"Mas, me digam. Tudo ocorreu direito quanto à Julian e o seu amigo, no centro da cidade?" Indaga Dimitri, com seu eterno ar misterioso.
"Acho que quem pode lhe dizer isso é Keinzer...já que foi ele quem os levou." Diz Alexis, sem retirar os olhos do lado de fora.
Dimitri escuta Alexis falar e caminha até Keinzer. Este, ainda compenetrado com o que fazia, finge não ouvir, enquanto Dimitri coloca a mão sobre o seu ombro.
"...Sim." Fala Keinzer, seco. "Subaru também entrou no portal, alguns segundos depois deles."
"Ora, então saiu tudo melhor do que planejávamos, não é mesmo?"
"O que você quer dizer com 'tudo melhor'?" A Cientista fita novamente Dimitri, ainda com os braços cruzados e agora com uma expressão de dúvida. "Mesmo que ela tenha uma boa índole, como sabemos, ela obedece totalmente as ordens de Anna. Com certeza ela mandou que ela fizesse algo contra aqueles garotos. Se ela resolver ataca-los, eles não vão ter nenhuma chance, você sabe disso!"
O cientista apenas sorri, enigmático, o que deixava Alexis um tanto irritada.
"Subaru é uma peça importante nisso tudo." Ele continua. "Mas, Julian e seu amigo são ainda mais. Como eu já disse antes, Julian está fazendo a sua parte. Já, nós três, deveríamos estar nos preparando, por hora, ao que vai acontecer aqui, em Pasiphae, Autonoe."
"Mas..."
"Hum?"
Dimitri continuava sorrindo, como sempre. Alexis sentia suas forças diminuírem ao ver tamanha calma e decide, desta vez, desistir de tentar fazer alguma outra pergunta..
"Me diga uma coisa meu amigo." Fala Dimitri, para Keinzer. Este último agora acendia um cigarro com um isqueiro, dando uma pequena pausa em seu trabalho. O que você disse para o garoto se convencer a tomar o Limiar?"
"...A chuva." Ele diz, depois de uma tragada, apontando para a janela.
"Ah claro... A história da chuva ácida. Muito bem pensado...Mas, puxa, você deve ter alarmado-o muito." Conclui Dimitri, calmamente.
Keinzer resolve não responder. Apenas desvia o olhar lentamente para Dimitri e dá outra tragada no cigarro, jogando a fumaça para cima. Em seguida, apóia o objeto em um pequeno cinzeiro próximo dali e volta a mexer na pequena peça elétrica.
"...Vamos ter muitos problemas por aqui." Ele diz, enquanto muda novamente os fios.
"Quase nenhum se comparado ao que aqueles garotos terão..." Responde Dimitri. "Mas teremos..."
Neste exato momento, a campainha da entrada pode ser ouvida em meio ao pesado som da chuva lá fora.
"A começar por agora..."
Ele vai até a porta de entrada, e a abre. Do lado de fora, em frente ao portão da casa, estava a mãe de Julian.
O cientista e a mulher ficam se fitando por alguns momentos...Ele com seu imutável semblante calmo e ela, com as lágrimas misturando-se a chuva...
...Muito longe dali, em Solaria...
"Esse corredor é maior do que parecia! Puxa já estamos correndo a mais de dois minutos!"
Julian, Elliot e Spike continuam correndo e avançando no templo de Rehzuma, em Solaria. Após uma dura batalha travada por Rannik e seus homens do lado de fora, os rapazes conseguiram passar pelo grande grupo de criaturas que guardava o templo, principalmente por Fujin, poderoso Elemental do Ar que protegia Solaria...agora, também sobre a influência negativa do Limiar.
Enquanto os garotos corriam pelo corredor, diversas tochas presas ao longo das paredes iam se acendendo instantaneamente. As chamas das tochas eram púrpuras e brilhantes...obviamente um tipo de fogo místico.
Ao longo do corredor, no chão, encontravam-se muitos e muitos restos de esqueletos, como crânios, fêmures, etc.
"Seja como for, aquela coisa já sabe que estamos aqui." Diz Spike, olhando para as tochas púrpuras enquanto corre logo atrás.
"E estes devem ter sido os aventureiros que entraram aqui da última vez." Diz Elliot, se referindo aos esqueletos.
"Se sabe que estamos aqui acho que está nos recepcionando bem..." Completa Julian.
Após muito correrem, os três finalmente acabam chegando ao fim do corredor, mais precisamente em uma pequena câmara. Assim que entram, param momentaneamente para tomar algum fôlego, enquanto as tochas da sala também acendem-se magicamente.
A frente dos três havia duas passagens para dois novos corredores: Esquerda ou Direita...
"Spike...por onde devemos ir agora?" Indaga Julian, após se recuperar do cansaço rapidamente.
"Hum..." O rapaz segura o bordão firmemente enquanto dá alguns passos a frente do grupo. Ele então olha atentamente para dentro das duas passagens. Pensa por um momento, enquanto coça o queixo... "Pela direita. Vamos!" Ele conclui. Julian e Elliot o seguem.
"Ei Julian...!" Cochicha Elliot, enquanto vai logo atrás de Julian.
"O que foi?" Ele responde no mesmo tom.
"Eu tenho um pequeno pressentimento de que esse cara não sabe nada sobre esse lugar. Acho até que ele escolheu esse caminho na sorte heim..."
"Er..."
"EU OUVI ISSO!" Berra Spike, lá da frente, sem parar de correr.
O grupo vai seguindo o caminho de Spike enquanto salta por cima dos vários esqueletos que haviam por ali. Aquele corredor, mais do que o anterior, havia pilhas e pilhas de ossos, o que fazia com que Elliot tremesse enquanto corria. As tochas iam revelando não só o caminho a seguir mas também os restos mortais daqueles que tentaram violar o templo.
Spike, mais a frente, não parecia dar qualquer importância para aquilo e simplesmente saltava sobre as pilhas de ossos. Tinha seus olhos fixos no fim do corredor, que não estava longe. Um sorriso sarcástico começava a surgir em seu rosto enquanto se aproximava.
Julian mantinha um semblante sério. Os esqueletos pouco o afetavam. Estava mais preocupado com o que estava acontecendo com Rannik e os outros que os ajudaram, do lado de fora. Sabia que quanto mais cedo conseguissem livrar Solaria daquele mal terrível, mais chances teriam de sobreviver a fúria maligna das criaturas do deserto.
Não demora nem meio minuto para que logo cheguem até o fim daquele corredor. Os três se deparam com uma espécie de 'beco sem saída', com a parede a frente revelando um grande símbolo entalhado no mármore do templo. Um enorme sol, que iluminava outras figuras abaixo dele, provavelmente, pelo modo como eram feitas, simbolizavam pessoas. Havia várias outras runas ao redor.
"Está aqui, em algum lugar..." Diz Spike, tateando a parede. "Mas onde...hum..."
"Mas o que você está procurando?" Diz Julian se aproximando, sem entender.
"O que procuramos está atrás desta parede. Tenho certeza!"
"Hum..." Elliot se aproxima, arrumando os óculos e observando uma linha das muitas runas que havia ali. "Hum...entendo...hum..."
"Espera aí, você sabe ler isso?" Indaga Julian.
"Mais ou menos..." Fala o garoto, sem retirar os olhos das escritas antigas. Acompanhava as linhas com o dedo enquanto falava. "Aprendi um pouco deles na biblioteca, mas acho que consigo entender o que diz aqui."
"E o que diz!" Pergunta Spike, ansioso.
"Você vive aqui, deveria saber mais do que eu, não?"
"Argh!" Spike rosna baixo enquanto esfrega os dentes, com certa raiva. "E-Eu entendo muito bem toda a língua do grande Rehzuma seu moleque! Acontece que algumas runas eu não consigo me lembrar exatamente o que são...Você deu sorte de estudar exatamente as que estão aí! Acha fácil decorar 1950 tipos de símbolos diferentes?"
"Bem na verdade acho..." Elliot, então, dá uma última olhada nos símbolos. "Aqui diz que é um tipo de porta secreta. Mas, droga, infelizmente não diz como que abre!"
"Então vamos entrar do modo tradicional!"
Spike levanta uma das mangas e levanta o bordão, pronto para atacar a parede. Elliot faz sinal para que eles espere.
"Calma aí! Aqui ta dizendo mais coisas..."
"O que?"
"Bom...parece que aqui é a sala onde o espírito do deus Rehzuma havia ficado trancafiado e não deveria ser violada."
"..." Julian fica quieto por alguns instantes e logo se vira para Spike, com uma gota na cabeça. "Tem certeza que esse é o caminho certo?"
"Claro! Eu nunca erro!"
"Er..."
Spike dá um pequeno toque com o bordão na parede e pequenos fragmentos dela caem no chão, formando uma minúscula rachadura.
"É melhor não fazermos nada que possamos nos arrepender depois..." Diz Elliot...ao mesmo tempo em que Spike golpeia com toda a força a parede, abrindo um enorme buraco! Julian e Elliot apenas observam, com gotas na testa "..."
"Vão ficar parados aí?" Diz Spike, colocando o pescoço para fora da sala, chamando-os.
Os garotos rapidamente entram na sala e diversas outras tochas acendem-se ao redor, como anteriormente, revelando o interior da sala. Esta, muito maior que a anterior, possuía um grande altar em seu centro, envolto em vários braseiros, com o mesmo fogo púrpura das tochas das paredes, e um grande...sarcófago atrás deste. Sobre o altar, estava uma brilhante espada embainhada.
"Aí está você querida...finalmente te achei. Hehehe!"
"Puxa, então essa é a tal Solar que Rannik havia dito antes?" Pergunta Julian, ao ver Spike esfregando as mãos e jogando o bordão de madeira no chão.
"Sim! E agora é finalmente minha! Minha! Bwahaha!"
"Você tá me assustando..." Comenta Elliot.
"E Rannik dizia que ela não existia! Muitos diziam que ela não existia! Aí está! O espírito do todo poderoso Rehzuma! Eu sabia que eu estava certo o tempo todo! Hahaha!" Ele continua, enquanto se aproxima do altar, sentindo os dedos da mão coçando.
"..." Julian olha para os lados, um tanto apreensivo. "É, mas nem sinal do Limiar..."
Spike ajoelha-se diante do altar e do sarcófago e faz uma rápida reverência, levantando-se a seguir e aproxima a mão aberta da bela espada...
"Espere!" Diz Elliot, aproximando-se.
"ARGH! O QUE FOI DESSA VEZ?" Grita Spike, cuspindo, ao ver o garoto ajoelhado e observando atentamente a base do altar.
"Têm mais runas nesse altar, olha só." Ele diz, apontando para a base do mesmo. Realmente havia muitas inscrições. "Vejamos...aqui diz: 'o único que poderia portar a SOLAR era um guerreiro poderoso e digno de suas habilidades, para destruir as trevas e proteger a tudo que lhe é de muito valor.'..."
"Bem, este sou eu!"
"..." Elliot levanta-se e olha para Spike de cima abaixo. "Xiiii..."
"Ei...! O QUE VOCÊ QUER DIZER COM ESTE 'XII?'..." Ele grita, babando Elliot. "Eu possuo todas estas qualidades, além de muitas e muitas outras. Sem contar, é claro, sobre ser um poderoso e digno guerreiro! Hehehe!"
"É tem razão..." Fala Elliot, saindo dali calmamente e se protegendo atrás de Julian. Este não dizia nada, apenas observava tudo com uma grande gota descendo pela testa.
"Hunf! Pode dizer o que quiser nanico!"
Spike, agora seriamente, fala algumas rápidas palavras no idioma antigo de Solaria...e toma a espada em mãos, retirando-a do altar. Imediatamente o brilho a volta da bainha parece sumir lentamente...
Ele fecha os olhos e fica imóvel por alguns instantes..esperando pelo pior, como algum tipo de armadilha...mas nada acontece.
"Ahá! Eu sabia que nada iria acontecer! Isso prova que eu sou o escolhido! Hahaha!" Ele diz, virando-se para os outros dois, com a espada em mãos.
Atrás de Spike, o sarcófago começa a lentamente se abrir. Os dois garotos ficam momentaneamente de cabelo em pé, apontando para as suas costas, gaguejando algumas coisas.
"O que? Qual o problema de vocês dois?"
De dentro do mesmo, surge, envolta em uma grande cortina de névoa negativa, e com os olhos da mesma cor, uma grande múmia. As bandagens que envolviam o corpo mostravam diversas falhas e cortes, que revelavam o cadáver decadente em seu interior. Ela logo ergue os braços e começa a se dirigir lentamente na direção deles.
"P-Porque você n-não pergunta pra ele s-se ele acha que você é o escolhido?" Diz Elliot, apontando para trás de Spike.
"Mas o que...?" O rapaz se vira e dá de cara com o morto, imediatamente antes da mesma ataca-lo com os punhos,com tanta força que o lança diretamente contra uma das paredes da sala. "Argh!"
"...aaahhh..." A múmia agora se vira para os outros dois garotos, abrindo e fechando as mãos, enquanto seus olhos brilhavam. Seu gemido de dor causava um arrepio na espinha dos dois.
Enquanto ela se aproxima, Julian observa mais atentamente a névoa que a envolvia...e seus olhos.
"Essa não! Essa múmia também está sendo controlada pelo Limiar!" Ele diz, ao lado de Elliot. "Dá pra sentir a energia emanada dela...é igual à de um Limiar."
"Ugh...Há! Sendo ou não controlada por algum Limiar ela não vai ser párea para o poder da Solar!" Fala Spike, se levantando do impacto com a parede. Ele ergue a espada no ar e puxa a sua bainha...
"..."
"O que você tá esperando? Use logo essa espada!" Diz Elliot, ao ver a espada ainda embainhada nas mãos do rapaz.
"...Mas que maldição...Argh!" Spike puxa a bainha com todas as suas forças, mas ela sequer se move um milímetro. A espada continuava enterrada dentro de sua bainha.
"..."
"Ah mas que droga!" Julian e Elliot se afastam dali e se aproximam de Spike. A múmia, muito lentamente, se dirigia até os três, gemendo, com os braços levantados.
Elliot e Julian seguram a bainha enquanto Spike puxa pelo cabo. Os três fazem o que podem, mas nada acontece. A bainha continua ali, sem mesmo ter afrouxado.
"...aaahhh..."
"Argh, mas que maldição! Que maldição!" Spike toma a espada em mãos, do mesmo jeito. "Mesmo embainhada essa espada vai servir para alguma coisa!"
O rapaz investe contra o morto-vivo, erguendo a espada, ainda com a bainha. A múmia ergue o braço e ataca o rapaz. A arma e o membro da criatura colidem, porém, depois de um grande estrondo causado pelo choque dos ataques, o braço da criatura é arrancado, caindo a alguns metros dali!
"...aarrhhhh...!..."
"Cale-se essa boca maldito! Tchac! " Spike, já atrás do morto-vivo, ataca com força a sua nuca, arrancando com um único golpe a cabeça do mesmo. Esta, rola até parar aos pés de Julian e Elliot, que se afastam assustados.
O corpo inteiro começa a se desfazer rapidamente, transformando-se em nada mais do que uma pilha de ossos e poeira! Julian observa os olhos da múmia se apagarem por completo, enquanto uma massa de energia negativa saída do corpo da criatura se dissipa no ar...
"Puxa...ainda bem..." Elliot respira aliviado se aproximando do sarcófago, enquanto Spike observava a Solar, com um semblante de desapontamento. Julian ainda olhava para a cabeça da criatura e pensava.
"Pode haver mais dessas criaturas por aqui. É melhor acharmos o Limiar logo, para o nosso próprio bem."
"É..." Spike coloca a espada nas costas, pensando em tentar novamente, mais tarde, o que lhe abre uma pequena esperança sobre o poder da Solar. Logo, seus pensamentos são invadidos por outros. Lembra-se de que seu irmão estava passando por dificuldades naquele momento...precisavam ser rápidos! "Bem, então vamos voltar para a primeira sala, aonde pegaremos a esquerda e..."
"Se me permitem...!" Interrompe Elliot. "Achei uma outra passagem atrás desse sarcófago, vejam!"
Ele empurra o grande caixão e este desliza para o lado, revelando uma nova passagem, bastante escura, diga-se de passagem...Uma nuvem de poeira levanta com o movimento do sarcófago, o que faz Elliot tossir um pouco.
"Mas...onde isso vai dar?" Pergunta Julian.
"Hum...deve ser uma das passagens de emergência do templo. Os antigos utilizavam estas entradas para despistar invasores do templo. Se formos por aí, talvez chegaremos até...a sala central, que é a sala de Rituais." Comenta Spike, olhando para o interior do corredor. "Talvez o tal Limiar se encontre lá."
Enquanto Spike falava, Julian sente uma estranha energia o 'chamando' por aquele caminho... Precisava ir por aquele lugar...não sabia porque, mas precisava...sentia uma estranha sensação...um misto de paz e medo.
"...Vamos então..."
Julian vai à frente, enquanto Elliot e Spike o seguem logo depois.
Ainda na sala da múmia, um braço jogado no chão começa a mover alguns dedos lentamente...
Enquanto isso, do lado de fora do templo, Rannik surgia correndo veloz e habilmente sobre as areias escaldantes do deserto. Com a capa que possuía, aos pedaços, e várias outras partes da roupa rasgadas, ele salta sobre várias grandes rochas que havia por perto. Imediatamente após tocar com o pé em uma das rochas, ele salta para a próxima, escapando por alguns milímetros de um poderoso tufão de areia que atinge a pedra, destruindo-a em milhares de pedaços!
Uma fumaça espessa levanta enquanto as pedras são destruídas uma a uma e Rannik salta, esquivando dos tornados de areia cortante.
"..Ugh...cof, cof!...Ele não desiste nunca!" Diz Rannik, saltando para longe das rochas, agora correndo para outro lado, tentando despistar Fujin, o elemental do ar. Logo, ele se esconde rapidamente atrás de uma outra rocha. "Droga...eu preciso detê-lo de alguma forma, ou ele vai ir atrás de Julian e os outros!"
"...TCHAC! CRAC!..."
"Argh!"
A pedra que escondia Rannik se despedaça rapidamente, atingida por um dos seus mortais tufões. O guerreiro é lançado alguns metros longe dali, mas logo se recompõe, agora brandindo uma cimitarra da cintura e observando a grande criatura se aproximar, girando rapidamente, levantando uma nuvem de areia cegante.
"...Maldito...Preciso fazer algo..." Enquanto segurava a espada, ele olha para os lados, pensando rapidamente. Ele observa as rochas ainda inteiras ao redor do 'campo de batalha' e então começa a correr novamente, escapando das violentas rajadas de areia lançadas por Fujin.
Ele salta novamente de pedra em pedra, tão rapidamente que agora mal se pode vê-lo. Até mesmo a criatura parece não conseguir acompanha-lo!
Até que após dar uma volta inteira, saltando sobre as pedras, ele se joga contra o corpo turbilhante do Elemental, erguendo a espada. O corpo da criatura lança diversas rajadas de areia mortal contra Rannik, que, com enorme agilidade, desvia em pleno ar...porém, o elemental o atinge em cheio, a menos de alguns centímetros de atingir seu corpo com a lâmina.
"Aaaarrrgh!"
Rannik é jogado para longe dali novamente pelo forte vento cortante de Fujin, sendo soterrado por uma grande quantidade de areia...
Os ventos do corpo de Fujin pareciam girar mais rápidos do que nunca, vitoriosos! Logo, o som é tão forte que pode ser ouvido a grande distância...
Ao mesmo tempo, uma grande e nova massa de energia negativa começa a cobri-lo novamente, assim como as areias do deserto...
Ao 'comando' de Fujin, diversos lagartos, besouros, e outras criaturas de Solaria começam a surgir debaixo das areias escaldantes...Todos possuíam uma pequena parte da massa negativa do Limiar e seus olhos exibiam uma luz característica, avermelhada...
Fujin começa a se locomover novamente... Dessa vez, as criaturas saídas de dentro da areia o seguiam, como uma enorme horda.
...Segundos depois das criaturas se distanciarem, juntamente com Fujin, Rannik surge repentinamente debaixo da areia da qual havia sido soterrado. Ele se levanta lentamente, enquanto a areia caía de seu corpo ferido.
Seu olhar se torna pesado ao ver a enorme quantidade de criaturas marchando...provavelmente em direção a Anacrópolis! Nunca havia visto tantos!
E desta vez, com aquele número de monstros, não conseguiriam para-los...
"Ack..." Rannik sente uma dor aguda no braço esquerdo e se assusta ao ver que não conseguia move-lo. Ele levanta uma das mangas do uniforme da Guilda Malva e nota um corte profundo próximo ao ombro, ensangüentado. "Droga, mesmo desse jeito eu devo avisar a todos na cidade antes que seja tarde demais!"
Ele corre o mais rápido possível pelo campo de batalha, apertando o braço, porém, pára ao ouvir alguns sons...
"...Hã?"
"...s-senhor Ran...n..."
Rannik se aproxima de um grupo de homens que havia ali. Percebia que alguns tentavam se mover...estavam vivos! Muito feridos...mas ainda vivos...
"Amigos! É bom ver que alguns de nós conseguiram sobreviver!" Ele diz, estendendo o braço direito para os homens se levantarem. Alguns estavam quase totalmente soterrados pela areia e tentavam balbuciar um pedido de ajuda.
"É bom ver que está vivo também, senhor Rannik..." Diz um homem, levantando-se, com o uniforme destruído e alguns ferimentos leves pelo corpo e rosto. Ele, então, ajuda o seu superior, tentando procurar outros sobreviventes...mas não deixa de notar o seu sofrimento. "Senhor...está tudo bem? Parece muito ferido..."
"Não se preocupe comigo! Há vários que estão em pior situação que eu por aqui! Vamos! Levantem-se homens! Rápido!"
Cerca de meio minuto depois, os homens são socorridos como podem. Apenas quinze destes agora estavam de pé...os demais, ou estavam mortos ou agonizando sob a areia do deserto.
"Senhor! Há diversas criaturas..."
"Sim, eu já vi isso soldado." Diz Rannik, ainda olhando pára o campo de batalha, com vários de seus homens caídos... "Nós não poderemos deter uma força tão vasta assim...mesmo com a ajuda dos que estão em Anacrópolis..." Ele suspira, antes de continuar. "Agora só depende do garoto Julian, do seu amigo...e de Spike...
"M-Mas e nós? O que vamos fazer senhor?" Pergunta um dos soldados, desesperado.
"Nós tentaremos voltar para a cidade o mais rápido possível, para alertar a todos deste ataque..." Ele diz, olhando ao redor e observando, mais a frente, um único camelo vivo. "Um de vocês, vá até lá com aquele animal que sobrara. Eu e os demais iremos a pé...e talvez tentaremos ataca-los despercebidos..."
Os quinze soldados sobreviventes olham-se entre si...Estava mais do que claro que aquilo era algo extremamente...suicida. Apesar disso...sentiam honra em combater ao lado de alguém como Rannik.
"Estaremos ao seu lado sempre senhor." Diz um dos homens ali. Os demais concordam e Rannik se mostra feliz em ver que, apesar de tudo aquilo, não havia perdido a fidelidade de seus companheiros. Logo um dos homens se habilita a ir avisar a cidade e ele toma o camelo, se adiantando.
"Agora devemos esperar que Rehzuma nos dê um milagre..." Diz Rannik, se dirigindo a horda de criaturas, com sua incessante marcha...
Julian, Elliot e Spike corriam por mais um dos muitos corredores do grande templo de Rehzuma. Como antes, as tochas nas laterais vão se acendendo magicamente, a medida que eles avançam.
"Esse templo não parecia ser tão grande do lado de fora!" Reclama Elliot, já cansado de tanto correr.
"E não é!" Completa Spike, logo atrás. "Já vim muitas vezes da minha vida neste lugar e nunca houve corredores tão longos assim."
"É o Limiar..." Diz Julian, mais a frente, com o olhar concentrado em frente enquanto corria. "Ele provavelmente está fazendo isso de propósito para nos cansar!"
"Quer dizer que se aquela coisa quiser nós nunca vamos encontra-la aqui entro?" Pergunta Elliot.
"Não acho. Já estamos bem perto...Eu posso sentir isso!"
Enquanto corriam, eles saltavam sobre outras diversas pilhas de esqueletos, espalhados pelo solo do templo. Naquele corredor, havia tantos, ou até mais, do que nos caminhos anteriores.
"Vejam! Ali em frente!"
Julian chama a tenção para algo à alguns metros em frente dos três. Após muito andarem, finalmente chegam no fim do grande corredor, iluminado pelas tochas púrpuras. Havia uma porta de pedra dupla, muito semelhante a primeira..com a exceção, é claro, de que não estava aberta. Pelas frestas da pesada porta, uma luz muito forte era emanada.
"..." Julian observava a porta de pedra...e sentia sua mente voar. Sua cabeça estava leve, assim como o resto do corpo.
"Julian...?" Elliot olha para o amigo, pensando se estaria tudo bem.
"Hã?" Ele diz, voltando a si.
"Está tudo bem com você? Parece estar..cansado ou sei lá..."
"Er, não é nada. Acho que é só cansaço mesmo por causa do que passamos." Ele diz, enquanto Spike, atrás deles, puxava a maldita bainha da Solar, sem sucesso. "Mas não é só isso...eu consigo sentir a força de um Limiar, muito próximo a nós. Com certeza está depois dessa porta!"
"Então o que estamos esperando aqui? Sai da frente!" Spike toma a espada embainhada em mãos e se coloca em posição de ataque, pronto para derrubar a grande porta dupla. "Vou derruba-la com um golpe, como fiz com a outra!"
"Espere!" Diz Elliot, se colocando em sua frente, observando os detalhes na pedra.
"Ora, mas o que foi dessa vez? Mais runas?"
"É, veja..." Ele aponta para o alto da porta, onde estavam inscritas, na própria pedra, diversos pequenos símbolos. "...Mas não são runas comuns. Aqui diz: 'Aquele que violar este lugar sagrado, terá uma dolorosa morte...' . E estes dois últimos símbolos aqui significam que há alguma armadilha que protege a entrada da sala." Ele conclui.
"Obviamente vai se ativar se abrirmos ela, não é?" Pergunta Julian.
"Provavelmente."
"Mas que tipo de armadilha é?"
"Eu não tenho certeza...mas como não existe nenhum 'aparato' por aqui, deve ser algum encantamento muito antigo deixado pelos sacerdotes do templo para proteger o lugar...ou seja, pode ser qualquer coisa..." Diz Elliot, com uma gota na cabeça, esfregando a nuca.
"Hunf..." Spike olha para trás, de onde haviam vindo, e volta a falar. "De todo modo é melhor encontrarmos um jeito de entrar, pois nós temos companhia..."
"Heim?"
Imediatamente, os ossos e esqueletos caídos no chão do corredor começam a se reerguer! Os garotos percebem uma aura energética em volta dos ossos, que agora se viravam em direção aos garotos e começavam a se aproximar, com os braços estendidos...Vários deles possuíam lanças, espadas e outras armas...todas enferrujadas ou muito velhas...mas era o suficiente para matar algum deles caso eles acertassem!
"Esse Limiar desgraçado está tentando nos matar!" Diz Elliot, olhando a porta de cima a baixo.
"Agora que percebeu?" Spike ergue a Solar, embainhada, com um sorriso no rosto ao ver os 'frágeis' mortos vivos se aproximando. "De qualquer modo esse Limiar vai ter que ser mais criativo no que faz se quiser me matar! Hááá!"
Spike avança sobre as criaturas violentamente, destruindo uma delas com um único e poderoso golpe. O esqueleto se despedaça completamente, causando um grande barulho quando os ossos caem no chão, novamente 'mortos'.
"Há! São ainda mais fáceis que aquela múmiazinha da outra sala! Só não possuem bandagens! Háá!" Ele completa, arrancando a cabeça de um dos esqueletos com mais um golpe. A criatura desaba no chão, inofensivamente, formando mais uma pilha de ossos... Porém os demais continuavam avançando.
"Mesmo que Spike consiga destruí-los, não vai vencer! São muitos! Muitos mesmo!" Fala Julian, observando haver tantas das criaturas que o corredor inteiro estava cheio delas! Desde o seu começo! "Elliot, não há mesmo um jeito de entrar sem ativar a armadilha? Não podemos desarma-la!"
"Eu vou fazer o possível...Mas me dêem um tempo, sim!"
Elliot continuava estudando a porta calmamente, enquanto Julian pegava pequenos fragmentos de rochas e ossos no chão e atirava-os contra os esqueletos, não causando qualquer dano aos mesmos...Tinha a esperança de que acontecesse o mesmo que aconteceu no Oásis...mas em vão.
Apesar de Spike já ter vencido vários deles, alguns conseguem atingir o rapaz com suas garras esqueléticas, espadas e lanças... Ele recua alguns passos, após uma ponta de lança raspar o seu rosto, fazendo um pequeno corte abaixo do seu olho...um filete de sangue escorre até o queixo.
"Há! Isso não é nada! Ugh..." Ele diz, indo um pouco para trás, atacando e destruindo mais um esqueleto. A criatura literalmente se parte em dois pedaços,ambos desabando no solo de mármore. "Tome!"
"..."
"Elliot?"
"...!"
"Elliot e então?" Indaga Julian, já preocupado.
"Ah esquece!" O garoto arruma os óculos e procura algo no chão. Ele toma em mãos um crânio que havia rolado para perto dele a alguns segundos atrás. "Ei Spike! Dá um jeito de desviar!"
"O que?"
"O que você disse?"
Elliot atira o crânio na porta e rapidamente se joga para o lado, abaixando-se juntamente com Julian. Da porta, uma luz azulada surge e Spike apenas tem tempo de dar um salto mortal no ar, por reflexo, desviando de um perigoso RELÂMPAGO que, por pouco não o atinge. A energia elétrica destrói os esqueletos que atacavam Spike com um grande clarão e estrondo semelhantes a um trovão.
"...ZAAPP!..."
A energia continua avançando pelo corredor, destruindo rapidamente todos os mortos vivos em fila! Das criaturas, apenas podia se ouvir um gemido gélido e macabro, assim que caiam.
Assim que Spike cai de volta ao solo, ofegante, uma explosão final na entrada do corredor pode ser ouvida. O rapaz olha lentamente na direção de Elliot e Julian, que iam se levantando, também devagar, cobertos por pó de osso.
"...Er..." Julian encara Spike e os esqueletos destruídos com grande surpresa. Não sabia o que dizer... Elliot exibia uma cara de alívio, retirando os óculos e enxugando a testa.
"...Bem..." Spike se ergue novamente, limpando o pó sobre a roupa. "...Você tentou me matar para tomar de mim a poderosa Solar e então herdar o poder de Solaria. Que vergonha." Ele diz, calmamente, enquanto se limpa.
"Ei! Donde você tirou essa idéia!" Defende-se, Elliot.
"VOCÊ DISSE QUE NÃO SABIA QUE ARMADILHA ERA, MALDITO!" Berra o rapaz, cuspindo sobre o garoto
"..." Julian olha para Elliot, com os olhos arregalados.
"E eu não sabia mesmo. Foi só um palpite...felizmente acertei. Hehehe..."
Enquanto Spike xingava Elliot de todas as maneiras possíveis por quase te-lo matado, Julian nota as runas desaparecerem da porta...E antes que os outros dois parassem de discutir, Julian abre a grande porta...
Com um rangido muito alto, a porta vai revelando lentamente um aposento enorme! Havia várias tochas nas paredes, porém, todas apagadas. Como na sala anterior, havia um grande pedestal no seu centro e, sobre ele, um minúsculo objeto...que emanava uma luz muito forte, acabando por iluminar a sala inteira. A luz era púrpura, assim como as chamas das tochas dos outros corredores.
No chão, havia dúzias e dúzias de esqueletos, todos, caídos e com os braços e crânios apontando para o pedestal, como se antes estivessem tentando alcançar o pequeno objeto cristalizado.
Julian e Elliot ficam observando, com semblantes sérios, o objeto sobre o pedestal.
"Então, é essa coisinha que está causando todos estes problemas em Solaria?" Ele fala, olhando com desprezo o pequeno Limiar.
"É..." Responde Elliot enquanto observa a energia fluir em volta do Limiar. Vários choques rápidos de energia circundam o objeto, como flashes de luz. Era como se aquele mundo, Solaria, estivesse tentando rejeitar aquele corpo estranho... "...mas essa 'coisinha' tem uma força muito grande concentrada dentro dela. Isso nós já comprovamos em Autonoe."
"..." Julian fica em silêncio, apenas observando os choques psicodélicos de energia em volta do Limiar e de toda a sala.
"Julian..."
"Sim..."
Elliot coloca a mão sobre o ombro do amigo e este suspira, fitando a pequena peça cristalina. Ele começa a se dirigir lentamente até o poderoso Limiar, pensando, por alguns momentos, como havia sido da última vez.
Já há poucos centímetros da pequena peça, ele nota haver um tênue globo de luz púrpura em volta do objeto, que se destacava do resto das outras luzes na sala.
Ele respira fundo e levanta a mão, aproximando-a do pequeno globo de energia...
"...?"
...Mas pára por alguns instantes, ao sentir algo apertando levemente a sua canela. Ele olha para a perna e nota que...uma das muitas 'mãos' que havia em meio aos cadáveres no chão o estava segurando. Porém, não se tratava de nenhum dos esqueletos.
"Ack! O que é isso?" Diz Julian, sacudindo a perna.
Um segundo antes de Spike e Elliot pensarem em ir até o garoto para ajudar, uma leve brisa começa a correr por dentro da sala. Os ossos dos corpos começam se espalhar, ainda mais, pela sala.
"Acho que ele não vai se entregar tão fácil Julian!" Fala Elliot, segurando os óculos que quase voaram com o vento.
Não demora para que a brisa aumente de velocidade e se torne um vento fortíssimo! Os esqueletos e pedaços de ossos na sala começam literalmente a voar pela sala! Elliot e Spike tentam proteger o rosto do vento e de pedaços afiados de rocha e ossos que voavam ao redor da sala como navalhas afiadas. Os três são inevitavelmente atingidos por alguns pedaços de crânios e pedras, principalmente Julian, que tem sua bochecha cortada por uma ponta óssea. O filete de sangue escorre pelo rosto do garoto, apesar do ferimento não ter sido tão grave.
"Argh! O que essa coisa está fazendo?"
O Limiar, então, expulsa uma grande massa de energia negativa que se junta ao vento, causando vários flashes de luz pela sala, causados pelo choque das energias que transitavam ali.
Julian sente a mão que segurava sua perna o soltar e ser levada pelo vento... Por alguns instantes percebe ser a mesma mão da múmia que haviam derrotado na sala anterior...
O vento logo se concentra em um único ponto da sala, formando um pequeno tornado de ossos e fragmentos de rocha e pedras. Com o vento parado e, agora com o rosto sangrando, Julian se vira rapidamente para o Limiar, espantado, e em seguida é arremessado para longe dali, contra a parede da sala, pela energia expulsa do Limiar.
"...ZAP!..."
"Argh!"
"Você está bem?" Diz Elliot, ajudando-o a levantar, agora ao seu lado. Spike empunha novamente a espada embainhada e fica à frente dos garotos, enquanto observa o tornado de ossos parar lentamente...
Assim que o vento cessa, surge, do meio do tornado, uma grande criatura formada por todos os ossos, crânios e outros restos mortais da sala!..A criatura bizarra possuía dois crânios maiores no topo, agindo como as 'cabeças', enquanto por todo o corpo, outros crânios e membros ficavam expostos.
A criatura exalava energia negativa pelas frestas do corpo formado inteiramente de ossos.
"Há!" Fala Spike, sorrindo. "Agora sim acho que teremos um desafio de verdade!"
Os outros dois garotos se levantam completamente e encaram a criatura...Elliot parecia um tanto pasmo e aterrorizado ao ver a grotesca entidade, enquanto Julian o observava seriamente...
"...Capitão! Capitão!"
"Maldição, o que é soldado? Porque este alarde todo?"
Pela porta de entrada de Anacrópolis, sobre o seu camelo, o soldado que partira ao comando de Rannik chega, apressado. Os guardas das torres de vigília são os primeiros a perceber sua chegada e alertam ao superior presente.
"Ah! Um dos nossos soldados!" Diz o capitão, se aproximando do portão ao vê-lo chegar.
"C-Capitão!"
"Acalme-se soldado, diga o que aconteceu. Onde está o exército? E onde está o comandante Rannik?"
"Fomos vencidos! Eram muitos! Fujin apareceu e nos derrotou facilmente!" Diz o soldado, descendo do animal, enquanto falava, apressadamente.
"O que?" O capitão fica em estado de choque. Não acreditava que o grande número de homens havia sido derrotado... "Mas não me diga que o comandante..."
"Não! Ele está bem...Sobraram apenas o comandante, eu e mais 14 dos nossos."
"Isso é terrível!...O que aconteceu com os garotos?"
"...glub..." Um terceiro homem trás um cantil contendo água para o soldado. Ele toma um longo gole e em seguida respira fundo. "Conseguimos leva-los até o templo. O comandante diz que agora depende deles..."
"Hum, mas me diga soldado,o que veio fazer aqui que não está com o comandante?"
"Fui mandado para alertar a todos de uma grande e nova horda que se aproxima de Anacrópolis! E dessa vez são muitos! Muitos mesmo! E, o pior, estão sobre o comando de Fujin!"
O capitão fica pasmo por alguns instantes...Logo, ele vai até o portão de entrada e olha para o horizonte, não vendo nada além de uma linha negra se aproximando...
"Soldado!" Ele diz para o homem numa das torres de vigília.
"Sim senhor!"
O soldado toma em mãos o que parecia ser uma pequena luneta. Ele olha de um lado para o outro, até que foca a visão em algo e parece ficar totalmente pálido...
"E então soldado?"
"C-Capitão! Um enorme numero de criaturas está se aproximando! São centenas deles!"
"...Droga..."
A população mais próxima escuta o diálogo dos guardas e começa a ficar assustada... A própria guarda da cidade já começava a demonstrar sinais de medo...
Enquanto isso, mais à frente...
"Atenção homens!" Fala Rannik, sendo acompanhado pelos outros 14 guerreiros. "Não conseguiremos alcança-los a tempo se tentarmos ataca-los pela frente! Teremos de atacar assim que os encontrarmos! Ou seja, pelos flancos! Entendido?"
Os soldados concordam e o pequeno grupo apressa o passo sobre as areias escaldantes de Solaria...Já podiam ver a horda de criaturas...Rannik se preparava para o pior...mas faria de tudo para defender sua cidade...
"...!" Julian tem um rápido lapso de memória, mostrando um semblante, agora, preocupado. "Rannik..."
"Ahn?" Indaga Spike, ao escutar o nome do irmão. "O que tem o Rannik?"
"Ele está em perigo!" Diz o garoto, indo mais à frente, observando a criatura, apertando os punhos. "Eles todos estão dependendo de nós agora!"
"..." Spike e Elliot apenas escutam, pensando como o garoto podia saber de tudo aquilo... Elliot percebe algo de diferente no amigo naquele momento, só não sabia exatamente o quê...
"...GRAURRR!...CRÁS!..."
A criatura demoníaca fita os três rapazes e investe contra os mesmos, atacando com um de seus longos pseudópodes ósseos. Os três se jogam para os lados, escapando do ataque por pouco.
No local do impacto fica apenas um grande buraco no solo de marfim.
"...GRAURRR!..."
Separados, os rapazes pensavam em uma maneira de deter a tal criatura. Seria impossível chegar até o Limiar com aquele enorme monstro no caminho!
A entidade gira as duas cabeças esqueléticas na direção de Julian e este fica em uma posição de ataque, improvisada. Ele investe contra o garoto, correndo em sua direção, brandindo diversos pseudópodes (bastante parecidas com colunas vertebrais...) pronto para ataca-lo. Porém, antes disso, Spike o golpeia com a Solar fortemente nas costas, destruindo uma pequena parte da carcaça.
"Tome! Gostou dessa?"
"...GRAURR!..."
"Ugh!" Spike sente algo agarrar-lhe a perna e, antes que pudesse ver do que se tratava, a criatura o ergue no ar, pela perna, com um dos tentáculos macabros. Facilmente o rapaz é jogado contra um grupo de rochas que havia ali por perto, colidindo com o ombro, fazendo a Solar cair de suas mãos com a dor. "Argh...d-desgraçado..."
A criatura desvia sua atenção para Spike e anda, com passos pesados, até o rapaz caído. Spike estica a mão, ainda no chão, para tentar alcançar a espada. A entidade agarra o seu braço, novamente com um dos pseudópodes e o ergue no ar. O rapaz luta para se soltar, chutando e golpeando com o punho livre o corpo da criatura, mas esta nem sequer reage com os golpes...
"...GRAUR!..."
"Me solta maldito! Argh!"
"Droga! O que podemos fazer!" Elliot indaga para si mesmo, enquanto observava o monstro de cima abaixo. "Ele deve ter um ponto fraco! Tem que ter!"
A criatura prepara-se para jogar Spike novamente, mas um pedaço de rocha atinge uma de suas cabeças. Ela move o olhar para Julian novamente, que atirava as rochas na criatura, não surtindo muito efeito.
"Vem me pegar! Vem!"
"...GRAURR!..." A criatura solta Spike, que cai novamente no chão, bem ao lado de sua espada. Ela agora corre em direção a Julian e este tenta guiar a criatura para longe dos amigos, correndo na direção oposta. Seus pesados passos causam um pequeno estrondo na sala.
"Ei, você ta legal?" Elliot se aproxima de Spike e o ajuda a se levantar.
"Argh...Ter seu ombro quase quebrado não significa estar 'legal'...ugh...!"
"Olha, a gente precisa bolar algo para derrubarmos esse monstro. Não vai adiantar continuar batendo nele desse jeito, não está surtindo efeito algum!"
"E o que suge...ugh!...re?"
"Bom, talvez ele tenha um ponto fraco..."
Spike já pensava em chamar Elliot de alguns dos muitos xingamentos que inventara...Mas por um momento tinha que concordar com ele. E uma criatura daquele tamanho não poderia ser totalmente invulnerável...
Julian, do lado mais afastado da sala, chega até a parede, oposta ao que os amigos estavam. Tinha conseguido tirar os dois da atenção do monstro, mas agora...ele não tinha saída.
"...GRAURRR!..."
A criatura se aproximava do garoto, correndo, brandindo os pseudópodes esqueléticos e rugindo alto.
"Droga...!" Julian fita a criatura se aproximar, enquanto fica de costas para a parede. Não vê outra alternativa se não correr para os lados. Logo que a grande criatura se aproxima, ele corre para a sua esquerda...porém, as duas grandes mandíbulas do monstro se abrem antes disso...expelindo um grande cone de energia negativa, atingindo o garoto e causando uma grande explosão. "Arghhh!"
"...GRAURR! FOUSSHHH!..."
"Julian!"
O sopro demoníaco ergue uma cortina de poeira em volta do garoto e da criatura... Elliot e Spike observam, espantados, gritando pelo nome do garoto.
Dentro da cortina de poeira, a criatura ergue o garoto por uma das pernas, agarrando-o com um dos pseudópodes. Ela o leva próximo as suas duas cabeças, que abrem e fecham as mandíbulas, rosnando e expelindo o excesso de energia maligna. Julian não conseguia se mover...e sentia dores por todo o corpo queimado. Suas roupas apresentavam diversos buracos e ranhuras, causados pelo ataque anterior...
"...argh..."
"...GRAURR!..."
A criatura começa a concentrar a energia na boca novamente para um segundo sopro...Julian se sente perdido...e fecha os olhos, esperando pelo pior.
"...CRÁS!..."
"...GRAURR!..."
Um som alto de pedras quebrando pode ser ouvido atrás do garoto Julian. Da parede do templo, uma figura misteriosa e encapuzada surge, atacando diretamente o monstro!
Ela golpeia a criatura com tamanha força que forma um grande buraco em seu 'peito'. A seguir, ela puxa fortemente algo que segurava firme em seu interior e o arranca para fora com violência. O monstro cambaleia e ruge alto, soltando o garoto e disparando o ataque de sopro para longe.
Julian sente seu corpo cair rapidamente em direção ao chão...mas logo a sensação muda. Alguém parecia segura-lo com as duas mãos. Não conseguia ver exatamente quem era, por causa da poeira, mas conseguia sentir longos cabelos em seu peito.
"...Quem...?"
A figura misteriosa o coloca vagarosamente no chão, deitado e a seguir fica de pé em frente ao garoto...
Julian apenas via uma grande nebulosidade por causa da poeira...E não demora para que aquela figura suma por completo.
"Julian!"
"Elliot...?"
A poeira cessa e Elliot e Spike s aproximam do garoto. A criatura enorme ainda sentia o impacto do golpe da figura misteriosa e parecia um tanto confusa, longe dali, próxima ao Limiar.
"Ei garoto, o que foi que fez?" Pergunta Spike.
"Eu...?"
"É! Seja lá o que foi, fez um grande estrago naquele monstro!"
"Eu não fiz nada...foi...outra pessoa..."
"Hum?"
"..." A criatura pára de se mover e logo restabelece uma 'ordem'. Ela olha para os rapazes, ameaçadoramente, ainda com o grande buraco no peito. Julian nota algo que se destacava em meio aos ossos, naquele buraco. "Aquela coisa! O que é aquela coisa?"
"Onde...?"
"Ali, no buraco do peito daquele monstro! Rápido!"
"Hum..." Spike olha rapidamente, enquanto a criatura reunia forças para andar novamente para cima dos garotos. "Ei! É uma...mão."
"É a mão que havia me segurado quando eu ia pegar o Limiar! E ela está cheia de bandagens...É a mão daquela múmia!"
"É, parece que sim." Responde Spike, não muito surpreso. "Mas e daí?"
"Tenho um palpite...tente acerta-la! Talvez aconteça alguma coisa!"
"Hum...um ponto fraco heim?" Diz Elliot, gostando da idéia. "Não custa nada tentar..."
"Acho que posso destruir aquela mãozinha lá, mas vou precisar chegar lá em cima com a Solar. Esqueceu que esse monstro é bem alto? E no estado que estou não vou conseguir chegar lá sozinho..." Diz Spike, mostrando o ombro machucado e a Solar na outra mão.
"Hum, eu sei um jeito de chegar lá rápido!"
"...?"
"Ei seu monstro fedorento! Estamos aqui!" Grita Elliot. Julian e Spike ficam de olhos arregalados, enquanto o monstro, um pouco mais fraco, se aproxima novamente a passos pesados. "Pronto!"
"O que está pronto? Essa coisa vai nos matar!" Alerta Spike, brandindo com a única mão boa a Solar embainhada.
"Não se você pedir uma carona!"
"O que?"
Elliot dá um leve empurrão em Spike e este dá alguns passos para frente, quase se desequilibrando. A criatura imediatamente agarra spike pela cintura com um dos pseudópodes e o leva até a altura de suas cabeças, rugindo alto.
"...GRAURR!..."
"Argh! Ora cala essa boca!"
O rapaz ataca com força o pseudópode da criatura, destruindo-o em vários pedaços. Solto, ele começa a cair em direção ao solo, bastante próximo do corpo do monstro. Assim que passa em frente ao buraco no peito, arranca a mão mumificada dali, com todas as forças.
"Háá!"
"...GRAURRRRR!..."
A entidade maligna começa a tremer e a perder diversas partes do 'corpo'. Elliot e Julian sorriem ao ver que o monstro começava a se desfazer!
Em meio a um grito agudo, a criatura explode em mil pedaços, lançando-os para todos os lados da sala. Os três se protegem como podem, enquanto a energia negativa do corpo se dissipa.
"Boa!" Diz Julian, sendo levantado por Elliot. "Conseguimos!"
"Heh...eu disse que ele iria dar uma carona!"
"...hunf!" Spike coloca a Solar nas costas novamente e olha com desprezo para os pedaços de ossos no chão. "Estou enjoado de tantos ossos...Já vi muitos por hoje...Julian, faça logo que tem que fazer!"
"Er...sim!"
Enquanto Julian novamente se aproxima do Limiar, Spike vai se limpando e Elliot o observa, sorrindo.
"...E VOCÊ ESTÁ RINDO DE QUE?"
"Hehehe...nada não..."
Após alguns segundos de respiração profunda, Julian se aproxima novamente do Limiar... Ele pode notar toda a energia negativa do monstro ser drenada para a pequena peça cristalizada...
O garoto respira fundo uma última vez e coloca a mão no globo de energia...
...Imediatamente o globo cresce e um vento muito forte começa a correr pela sala, como da primeira vez...em Autonoe. A sala é invadida por relâmpagos enquanto a mão do garoto se aproxima da peça. Elliot e Spike protegem seus rostos do forte vento enquanto Julian, mais a frente era empurrado vagarosamente para trás, numa última tentativa do Limiar de não ser tomado...O garoto, porém, forçava a aproximação, adentrando dentro do globo de energia.
"Vamos amigo. Agora falta pouco!" Pensa Elliot...
"...Hum..." Spike apenas observava, de um certo modo impressionado com a energia que agora era liberada do tal Limiar...
Julian toca na peça cristalizada e um clarão toma conta dos olhos dos três...
"Capitão! Veja!"
"Mas o que...?"
"Oooohhh...!"
Toda Anacrópolis vislumbra o horizonte de Solaria tornar-se púrpura por alguns instantes...A visão é realmente deslumbrante e impressiona até os mais assustados com a horda de Fujin...
Não muito longe dali...próximos a horda de criaturas, Rannik e os outros guerreiros param com o seu início de ataque e observam a luz no horizonte...
"Comandante o que é isso...?"
"...Julian." Ele diz, sorrindo. "Os garotos conseguiram..."
As criaturas da grande horda repentinamente perdem a aura pesada que tinham a sua volta. Seus olhos voltavam a se tornar neutros... Lagartos e Besouros olham para todos os lados tentando entender o que acontecia e não demora para que a grande horda se disperse rapidamente...
O grande elemental do Ar, Fujin, também perde a aura negativa que possuía em seu corpo... Seus velozes ventos começam a se dissipar, e ele logo já não está mais ali, unindo-se com o vento fresco que agora corria pelos desertos...
Em Anacrópolis, a noticia do fim da grande horda chega rapidamente a população e a cidade inteira comemora imediatamente, aliviados pelo fim de uma terrível ameaça! As pessoas abraçam umas as outras, aliviadas, enquanto que os soldados vibram com a vitória dos garotos.
Rannik respira fundo, aliviado...
"Enfim acabou..."
Vários minutos depois...Julian começa a abrir os olhos novamente...
Ele se levanta e, assim que se acostuma com os raios de sol de Solaria, observa a sua frente Elliot e Spike, ambos bastante sujos, como ele.
Ele olha ao redor...não estavam mais no templo. Estavam novamente do lado de fora.
"Você perdeu um 'show'..." Diz Elliot, dando dois tapinhas nas costas de Julian.
"O-o que?"
"Ora, nada demais. O templo de Rehzuma retornou para as profundezas do deserto. Provavelmente não irá mais sair de lá." Diz Spike, sentando por ali mesmo, exausto.
Era verdade...Não havia sequer nenhum sinal do templo ao redor...
Julian sente seu punho fechado e o abre. Na palma da mão...o segundo Limiar, agora 'adormecido', como o primeiro.
"Foi difícil, mas finalmente conseguimos." Diz Elliot, sorrindo.
"...Finalmente conseguiram, rapazes."
"Rannik!"
Rannik surge nesse momento, juntamente com os outros guerreiros que o acompanhavam.
"Vocês conseguiram libertar Solaria de sua maldição...Nós devemos muito a vocês." Ele diz, colocando a mão no ombro de Julian.
"Nós é que agradecemos. Sem a sua ajuda e a de Spike não teríamos conseguido..." Julian se lembra da batalha que houvera na entrada do templo. "Mas, e as criaturas?"
"Elas todas se libertaram da influência maligna do Limiar. Todas voltaram ao normal...Nossa cidade está salva agora."
"...É isso mesmo."
Após a chegada de Rannik e os seus guerreiros, uma segunda leva de camelos e outros guardas aparece no local. Entre eles, montado em um dos animais, estava o sacerdote de Anacrópolis.
"Senhor Hennet!"
"É bom vê-los são e salvos, meus jovens!" Diz o sacerdote, felicitando-os. "Agora Solaria poderá finalmente seguir sua ida em paz..."
"É mas..." Julian olha para trás, procurando algum vestígio do templo. "...o templo de Rehzuma, que era tão importante para vocês, mergulhou nas areias novamente e..."
"Ora, isso não tem importância!" Continua Hennet. "O que importa é que o mal que havia se apoderado daquele local finalmente foi retirado...Tenho certeza que o grande Rehzuma está olhando para vocês de algum lugar!"
"Obrigado senhor!" Agradece Elliot.
"E parece que vocês não apenas conseguiram encontrar o Limiar..." Rannik observa Spike próximo dali, tentando retirar de todas as maneiras a bainha da Solar. "Parece que eu estava certo sobre você ir atrás desta arma, não é Spike?"
"Tudo bem, um pouco!" Ele confessa. "Mas agora serei invencível com esta arma ao meu lado! Bwahahahaha!"
"Heh...isso quando você conseguir retira-la da bainha sagrada."
"..." Spike olha para Rannik, e em seguida olha para a espada...Repete este procedimento diversas vezes...até que... "ESPERA AÍ! ENTÃO VOCÊ SABIA O TEMPO TODO QUE...?"
"É claro que sabia..." Ele diz, rindo ironicamente. "Isso fazia parte de seu teste final...Mas parece que finalmente passou. O símbolo máximo de Solaria é seu, enfim..."
"ORA SEU...!"
Todos começam a dar algumas gargalhadas da situação...e antes de Spike perguntar o porquê...Uma nova explosão de luz, rápida como um flash, surge atrás dos garotos.
Um novo portal começava a se abrir...
"É hora de partir..." Diz Elliot. Julian concorda, colocando o Limiar dentro do compartimento de seu corpo. Rannik e os demais não se assustam, já que Julian havia explicado tudo na Guilda.
"Mas...já vão meus jovens?" Pergunta Hennet. "Devem estar exaustos, porque não ficam conosco mais um dia talvez?"
"Não podemos..." Fala Julian. "...Não sabemos quanto tempo esse portal vai ficar aberto e..."
"...e você tem pressa para salvar seu mundo, não é mesmo?"
"...Sim."
"Eu compreendo. É uma pena que não possam ficar...ao menos para descansar."
"Acho que descansar é uma coisa que vamos ter de começar a fazer menos, senhor Hennet..." Fala Elliot. "Mas nós agradecemos muito por toda a ajuda que nos deram...muito mesmo!"
"Nós é que agradecemos meu jovem...Vocês são os salvadores aqui. Provavelmente os outros Limiares estejam causando cataclismas em outras dimensões, e cabe a vocês salva-los. Nós de Solaria, desejamos a vocês uma boa jornada amigos..."
"Obrigado senhor Hennet...obrigado por tudo."
Os dois garotos se viram na direção do portal mas...para a surpresa dos dois, Spike se coloca entre eles e a passagem dimensional.
"Hunf! Como vocês dois não irão conseguir ir muito longe sem alguém poderoso como eu, irei com vocês." Diz o rapaz.
Elliot e Julian ficam de olhos arregalados com a decisão de Spike... Rannik se aproxima do rapaz, com um semblante de dúvida.
"Mas o que está falando Spike! O seu teste agora terminou, você deve permanecer aqui e..."
"Rannik." O sacerdote coloca a mão sobre o ombro de Rannik. "O teste do rapaz irá começar a partir de agora. Ele precisa ir...E encontrar o seu destino."
"Mas..."
"Nada de mas irmão. EU já decidi, irei junto de qualquer maneira. Até porque...quero me vingar pelo que esse Limiar dos infernos fez com Solaria!" Ele diz, girando a Solar no ar.
"..." Rannik vê que não conseguiria convencer o irmão de nenhuma outra forma...até mesmo Hennet estava do lado dele... "Seu...tolo..."
"..."
Rannik vai até Spike e coloca sua mão sobre seu ombro, apertando-o firmemente. Spike percebe que as dores até mesmo havia passado.
"Boa sorte, irmão." Diz Rannik. "No que quer que você for fazer..."
"...Obrigado Rannik..." Spike sorri...o que era raro de se ver.
"Mas...o que estamos fazendo? Deveríamos perguntar para os dois jovens aqui se não há uma objeção, não é?" Indaga Hennet, sorrindo como sempre.
"Bem..." Diz Julian, surpreso. "...nós não sabemos aonde vamos parar, tem certeza de que quer mesmo ir conosco?"
"Ora você não me conhece bem...portanto vai conhecer a partir de agora. E agora cale a sua boca e vamos logo atrás dessas malditas pedras!" Diz Spike. "Lembrem-se que vocês estariam perdidos sem mim!"
"...ou COM você..." Cochicha para si mesmo, Elliot.
Os três garotos terminam de se despedir e se dirigem para o luminoso portal, enquanto Spike vai berrando com Elliot. Este último apenas ria, de pirraça.
...Eles, então, desaparecem, dentro da passagem...
"...Agora você já pode entrar." Diz Hennet.
Rannik, ao seu lado, tenta entender o que ele queria dizer com isso e, do meio dos soldados, surge a frente uma pessoa com um grande manto encapuzado. A figura olha para o sacerdote e então se dirige para o portal.
"Quem é aquele?" Indaga Rannik.
A figura retira o manto e o joga ao vento...
...Os longos cabelos negros de Subaru balançam com o vento mágico do portal. Ela olha seriamente para as pessoas ali e segundos depois, caminha para dentro da passagem dimensional... Essa começa a se fechar.
"Mas o que...?"
"Você acredita em Anjos da Guarda, Rannik?" Pergunta o sacerdote, com um ar misterioso.
O portal desaparece por completo, não deixando qualquer outro vestígio...
Rannik e os demais ficam observando o lugar, em silêncio.
"...Será que um dia voltarão?"
"Mesmo que não voltem...ficarão bem." Responde Hennet para Rannik. "Passarão por muitas dificuldades...mas ficarão bem."
"..." Rannik retira o turbante do rosto, respirando profundamente.
"Voltemos para Anacrópolis..." Fala o sacerdote, tomando o ombro do comandante em mãos. "...Temos muito o que fazer Rannik."
"Sim, voltemos..."
E o grande grupo parte dali...deixando para trás os três garotos, agora...muito longe dali...
O portal de energia começa a se abrir novamente...De dentro da explosão de luz e dimensão, surgem Julian, Elliot e Spike...
Após alguns momentos de ofuscação pela viagem dimensional, os três sentem um grande alívio ao sentirem os pés novamente em chão firme.
Assim que recobram a consciência aos poucos, começam a abrir os olhos e a perceber o mundo ao redor...
Tratava-se do que parecia ser um belo jardim, com muitos canteiros floridos e uma fonte, ou chafariz, bem ao centro.
E apesar de não estarem tão perto assim da fonte, sentiam-se completamente molhados. Apenas alguns minutos depois, os sentidos começavam a voltar ao normal...Incluindo tato, audição...
O som e o barulho característico faz com que percebam estar embaixo de chuva, sob um imenso céu enegrecido.
Enquanto as gotas escorriam pelo seus rostos, seus olhos agora observavam o que havia a frente. Uma grande e bonita casa branca, e, bem à frente, havia duas pessoas.
Mais precisamente uma senhora idosa, em vestes brancas e cabelos completamente grisalhos, presos e uma menina, aparentando ter cerca de 15 anos ou mais, com cabelos longos e loiros, ao seu lado. A menina segurava um guarda chuva rosa que protegia ela e a senhora da chuva forte.
Os dois grupos ficam se olhando por alguns segundos...até que a senhora sorri amigavelmente.
"Enfim chegaram..." Ela diz.
Continua...
