Neverending War...
Cap. 8 - Ferida em um Coração de Pano
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...O único som que quebrava o silêncio do aposento era o badalar lento e seco do pêndulo do relógio, preso à parede da sala.
Nos dois sofás do centro, três pessoas se mantinham caladas e visivelmente ansiosas... Pelo menos duas delas.
"..." A garota loira sentada próxima ao braço de um dos sofás, ao lado de sua avó, esfregava as mãos, enquanto olhava para o teto, perdida em pensamentos.
"..." Pulle, sentada em outro sofá, notava o nervosismo de sua princesa... Assim como ela, não conseguia parar de pensar no que estava acontecendo naquele momento. "Princesa..."
Nanae, próxima a neta, demonstrava uma grande calma. Pulle sente um certo incômodo ao ver sua majestade tão serena diante daquela situação...
"Estou muito preocupada..." Diz a princesa, levantando-se. "O que será que está acontecendo? Será que eles estão bem?"
"Todos nós estamos princesa..." Fala Pulle. "Mas, por favor, tente se acalmar. Está assim desde quando eles partiram..."
"Mas é que..."
"Majestade, aqui está!" Waaya surge repentinamente da cozinha, trazendo uma bandeja com algumas xícaras contendo uma bebida fumegante, provavelmente chá. Ele coloca a bandeja em cima da mesa, põe algumas colheres de açúcar em uma delas e então serve para Nanae.
"Muito obrigada Waaya, é muita gentileza sua..."
Nanae pega a xícara calmamente e dá dois pequenos goles no chá... Ela, então, coloca-o sobre a mesa novamente, ainda com os olhos fechados.
"Tente ficar calma minha querida... Eu sei que você está muito preocupada com os bonecos guerreiros e aqueles garotos, mas, no momento, não há nada que nós possamos fazer para ajudá-los." Ela diz, tomando a xícara novamente em mãos e bebendo um gole. "... A não ser esperar e depositar toda a nossa confiança neles..."
"Eu sei disso vovó..." Continua a garota. "Mas eu não consigo evitar... Eu não sei porque, mas... Eu estou com um pressentimento ruim quanto a tudo isso."
"..." Nanae apenas sorri para Licca enquanto coloca o chá sobre a mesa novamente. "Confie neles minha querida... Isso vai ajudá-los muito, acredite."
"... Queria poder fazer algo mais para ajudar..."
"Todos nós queríamos princesa Licca." Fala Pulle. "Mas se nós fôssemos, iríamos apenas atrapalhar."
"É verdade!" Diz Waaya. "Eles iriam tentar nos proteger e não conseguiriam se concentrar no que tinham que fazer."
"Essa batalha é muito diferente daquela em que enfrentamos o Devour. Dessa vez, o inimigo é muito mais terrível..." Continua a velha Nanae, suspirando. "... Essa energia tão hostil não pode ser combatida por meios convencionais... Ela tem de ser removida, com cautela, ou toda a sua fúria pode se voltar contra aqueles que estão a sua volta."
"... Dai... Sumire..." A garota se senta novamente no sofá e apóia a cabeça sobre os braços, com um olhar triste e distante.
Uma repentina brisa gelada entra pelas janelas da casa, levantando as cortinas... E novamente o silêncio cai sobre a sala, sendo quebrado apenas pelo pêndulo do relógio.
"Boneca Licca..."
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De volta ao grande castelo da Cidade das Bonecas, na sala do Trono, a boneca Licca ainda observava estática a figura a sua frente.
Ivan fazia o mesmo, porém sorria, satisfeito com a surpresa que havia causado à boneca...
"Do que você está falando! O que você quer dizer com 'boneco Ivan'! Só existem três bonecos na Cidade das Bonecas. Isamu, Izumi e eu! Nós somos os protetores do reino das bonecas e da família real Kayama! E não loucos como você!" Diz Licca, revoltada com a afirmação de Ivan, que se auto-intitulava um boneco.
"... Heh... Hehehe... Hahahaha!" Ivan apenas escutava e se divertia com o espanto de Licca, soltando uma risada que ecoa gravemente pela sala.
"Qual é a graça?"
"... Hehehe... Ora, eu já sei de tudo isto que você acabou de declamar, pequena boneca. Mas eu, Ivan, sou muito diferente de vocês, bonecos guerreiros criados por Franz, há muito tempo atrás."
"..."
"Eu fui criado pelo poder magnífico e destrutivo do Limiar." Ele continua. "Esse poder você consegue sentir, não é mesmo boneca Licca... Essa energia que flui por este vasto reino é a energia do Limiar..."
"Esse Limiar..." Licca olha para todos os lados e, então, nota uma segunda grande porta na parede atrás do trono real. Era mais do que óbvio que a energia tremenda via de trás daquelas pesadas portas. "... É verdade, eu posso mesmo sentir uma energia muito forte fluindo por todo o reino das bonecas... Mas ela não tem nada de maravilhosa! O que é essa energia toda afinal de contas? O que é este Limiar?"
"... Feh..." O boneco dá de ombros, abaixando a cabeça com um sorriso nos lábios. "Você jamais vai entender a beleza e os propósitos do Limiar... É algo 'profundo' demais para que pessoas, como você, entendam. Apenas tente apreciar, e nada mais..."
"... Apreciar? Essa energia monstruosa é terrível! Eu vou apreciar mais quando já tiver a destruído! Não vou permitir que continue fazendo isso com a Cidade das Bonecas!" Ela diz, novamente girando sua Fiandeira Relâmpago.
"Hah! Mais uma coisa que nos diferencia, boneca Licca... Eu não tenho que me preocupar em defender sua preciosa Cidade das Bonecas."
"Então isso explica porque tentou fazer mal à Princesa Licca!"
"A princesa? Ora, não diga tolices minha cara... A família Kayama pouco me importa."
A boneca pára novamente de girar a veloz Fiandeira, recolhendo-a. Ela fita o inimigo a sua frente, sem entender.
"Mas... Então, porque está fazendo tudo isso? Porque esta invasão e essas criaturas? Me diga!"
"Isso tudo... É por sua causa, boneca Licca."
"..." Licca dá dois pequenos passos para trás, assustada "Por minha causa?"
"Lutar, lutar e lutar... A sua vida, até agora, se resumiu basicamente nisso, boneca Licca... Proteger os cidadãos da Cidade das Bonecas, proteger a princesa, proteger a família Kayama... Heh..." Ivan falava, agora andando em volta de Licca... Esta se mantinha alerta, acompanhando-o com os olhos apenas. "... Mas enfim, de tempos para cá, você começou a experimentar algo totalmente novo para um boneco guerreiro..."
"..."
"Uma força, uma energia... Uma estranha dor no seu peito... Uma dor que, mesmo sendo muito forte, você não quer que passe... Sabe do que estou falando, não é?"
"..." O semblante agressivo da boneca novamente vai dando lugar para uma expressão de surpresa, enquanto escutava as palavras de Ivan... Ele parecia saber exatamente o que ela pensava sobre tudo aquilo. "Mas... como você..."
"Hahaha! Por favor, não fique tão surpresa." Ele fala, parando de andar e fitando-a novamente. Ele então anda em sua direção calmamente e Licca afasta-se alguns centímetros, temendo algum movimento agressivo do boneco. Porém, ele pára a alguns centímetros dela e levanta o braço, apontando para o seu seio esquerdo... "Bem aqui..."
"..."
"Algumas vezes, ele dorme calmamente... E não lhe causa problemas. Porém, quando ele desperta, você sente que está prestes a arrebentar o seu coração. E quando ele faz isso você sente tanta dor, minha querida... E apesar disso, não quer que ele pare..."
"..." Ela começava a se sentir um tanto incomodada diante das palavras e da presença daquele homem a sua frente. Sentia-se estranha... Calma e triste ao mesmo tempo, enquanto ele descrevia perfeitamente o que acontecia dentro de seu peito. Não conseguia fazer qualquer investida, interrompê-lo, nada...
Ivan passa delicadamente a mão no rosto de Licca e esta se vira para outro lado, impedindo que ele continuasse.
"... E isso tem lhe causado um grande sofrimento, Licca..."
"Sofrimento?"
"Sim... O fato de que isso que existe dentro de seu peito nunca vai se concretizar deve ser terrível para você."
"..." Licca ainda escutava Ivan. O semblante de surpresa logo é tomado por um olhar cheio de tristeza... "Eu... Não sei como você sabe de tudo isso, mas... Eu sou uma guerreira. Eu não posso deixar que os meus... problemas... me atrapalhem, enquanto o meu dever for proteger a princesa Licca, e a família Kayama."
"Hum..."
"Por isso, você tem razão quando diz que isso que eu trago dentro de mim é algo totalmente novo... Algo que nunca tinha sentido em toda a minha vida... E realmente eu não sei porque comecei a sentir isso..." Ela fala, enquanto uma brisa balançava os seus cabelos e tremulava as velas que iluminavam a sala. Ivan a observa, em silêncio. "... Porém, eu não me importo de... sofrer... não me importo de saber que isso nunca vai sair de dentro de mim."
"... Porque você é uma guerreira, e se importa mais com o bem estar da família Kayama, estou certo, Licca?" Ele indaga, seriamente.
"Isso mesmo... Ivan." Ela fala, voltando a ficar séria, com os lábios trêmulos assim que diz o nome do boneco. "Se é que este é mesmo o seu nome. Você sabe mais do que eu pensava sobre nós, os bonecos guerreiros."
"Mais do que imagina... Mas agora, explique-me, porque eu não consigo achar isto justo?"
"... Ahn...?" Ela pergunta. "Do que está falando?"
Ivan segura firmemente os dois ombros da boneca e a sacode levemente, porém firme, enquanto falava em um tom mais forte.
"Então você acha que não tem o direito de... Amar?" Ele fala, enquanto ela novamente não consegue esboçar outra reação... "Você acha justo que seja tratada como um soldado sem qualquer sentimento? Um objeto que serve apenas para proteger os... Fracos?"
"..." Ela notava o olhar do boneco tornar-se mais profundo à medida que alterava o tom de voz... Ainda sendo segurada pelos ombros, ela fala. "Eu não me sinto um objeto. Tenho pessoas do meu lado... Como a própria família Kayama, e a princesa Licca, que é muito importante para mim. E também, os meus companheiros... Isamu e Izumi."
"Hum..." Ivan solta os ombros da boneca e se vira, dando alguns passos a sua frente, pensativo. "... Heh... Mas não foi isso que eu percebi naquele dia tão especial... Em meio a tantas flores, boneca Licca."
"..."
"É verdade. Você realmente pode estar satisfeita com a amizade das pessoas a sua volta, porém..." Ele baixa a cabeça novamente, com um sorriso sarcástico. "... Algo em você está pedindo por mais."
"..." Novamente, o olhar da boneca torna-se um tanto cristalino... A brisa que soprava na sala agora se tornava mais fria. Sentia a ponta de seus dedos tremerem levemente, mas não tinha certeza se realmente era por causa do frio...
"... Você tenta, mas não consegue esconder... O fato de não poder sentir esta emoção tão forte e de que, provavelmente, a pessoa a quem você destina ela não a corresponda faz com que você sangre por dentro... Heh."
"Que coisas absurdas você...!"
"Não sou eu quem está dizendo isso, sua tola!" Ele grita, interrompendo-a. "O Limiar é quem está fazendo isso! O Limiar entende a sua dor Licca... Assim como eu." Continua Ivan, novamente se aproximando dela. Ela afasta-se alguns passos, mas logo se sente impelida a parar, sem saber o motivo. O rosto dele se aproximava do seu, e em poucos segundos ela poia sentir sua repiração quente... Licca podia sentir as maçãs do seu rosto queimarem, em um estranho momento de tensão e... Alegria.
"... O... Limiar...?"
"Sim! O Limiar é uma energia maravilhosa que tem consciência do que você passa, boneca Licca..." Ele diz, passando uma das mãos pelos cabelos rosados da boneca Licca. "... Ele percebeu o seu sofrimento e, por isso, com a energia liberada por ele e o seu sentimento... Eu, Ivan, fui criado."
"... Mas... Porque..." Imediatamente ela cai de joelhos sobre o chão do aposento. O olhar vazio e triste já não identificava os objetos ao seu redor, apenas Ivan, a sua frente.
"Porque é o seu destino... Um destino criado pela magnificência do Limiar..." Ele se ajoelha e abraça a boneca lentamente e com força, com um olhar sério no rosto. Licca não corresponde ao abraço... Porém, também não se afasta. "Venha comigo boneca Licca... Eu estou aqui para cuidar de você, e é o que eu vou fazer, prometo..."
"..."
"Prometo que irei curar esta sua imensa ferida... Apenas venha comigo, é tudo que eu quero de você."
"... Não... Porque eu não consigo atacá-lo...?" Pensa a boneca, enquanto seus olhos começavam a lacrimejar. "... Eu tenho... Que... Sair daqui, mas... Mas... Não quero..."
Os dois bonecos permaneciam ajoelhados no centro do aposento, Ivan ainda abraçando Licca enquanto esta não conseguia sequer mover um músculo... Por mais que tentasse, qualquer ação contra Ivan... Era impossível. Sentia-se totalmente impotente e vulnerável em meio aos braços do boneco... Mas também, havia um pequeno e estranho sentimento de... Segurança. Sentia, mais uma vez, o seu coração bater rapidamente...
Ivan podia ouvir as batidas rápidas do coração da boneca que segurava... Com os cabelos sobre os olhos, ele sorri, com um semblante diferente de antes... Muito mais agressivo...
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"Então é aqui que estão todos..."
"Isso mesmo... Como podem ver, não vai ser fácil tirá-los daqui."
Julian, Elliot, Spike e Espantalho observavam um dos pontos do grande rio que atravessava a Cidade das Bonecas pelo centro, onde uma grande ponte cinza e prateada cruzava as águas.
Sob esta, havia dezenas e mais dezenas de pessoas... Todas trajadas com roupas comuns, porém bastante esfarrapadas. Com a água fria batendo acima de seus joelhos, as pessoas escavavam com picaretas, ferramentas, e até mesmo com as mãos, as duas margens do rio, das quais retiravam imensos blocos de pedras de Ametista...
Próximos das margens, muitas criaturas do exército invasor vigiavam os prisioneiros, enquanto outras patrulhavam ou buscavam mais escravos. O que mais chamava a atenção, porém, era o grupo de dez criatiras diferentes das demais, sobre a ponte... Estas também eram feitas de Ametista, embora menores e mais esguias, que portavam nos braços afiadas farpas feitas com o mesmo material de seus corpos. Mais farpas cresciam a cada momento, substituindo lentamente as mais 'velhas'.
"Hum, então são aquelas coisas que disparavam aquelas farpas contra a gente e os bonecos guerreiros..." Fala Elliot, pensativo, observando o resto do campo de 'trabalhos forçados'.
"Exatamente... Aquelas criaturas parecem ser mais perigosas que as maiores. Temos que ter muito cuidado se quisermos libertar todas as pessoas, sem que ninguém saia ferido." Diz Espantalho.
"Bah... Deveríamos destruir todos eles antes mesmo que reparassem que estamos aqui!" Fala Spike, tentando desembainhar sua espada. "Se me derem dois minutos posso fazer isso e estará tudo resolvido."
"Sim, claro!" Elliot se levanta rapidamente, fazendo com que os óculos fiquem tortos. "Não acabou de ouvir que as pessoas estão correndo perigo? E se essas criaturas decidirem atacá-las?"
"... Tsc." Spike cruza os braços, emburrado. "... É inevitável perder alguns homens em batalha, lembre-se sempre disso..."
"Er... Acho que talvez a gente possa arranjar um jeito melhor de ajudar todo mundo, não é?" Diz Julian, com uma gota na cabeça.
"Eu concordo com o garoto... Atacar todos estes monstros de frente é loucura! Deve haver mais de cem lá embaixo e as pessoas vão se ferir, com certeza." Fala Espantalho.
"É..." Continua Julian, novamente esticando o pescoço para poder ver o que acontecia. "Mas eu gostaria de saber... O que eles fazem com essas pedras todas. Será que são mesmo mais soldados?"
Neste exato momento, os quatro observam um dos enormes pedaços de Ametista, próxima a ponte, brilhar intensamente... Logo, uma massa de energia negra e pulsante surge acima da pedra e penetra dentro da mesma.
A ametista começa a tomar forma lentamente, enquanto pseudópodes crescem ao longo do 'corpo' principal, causando ruídos altos de rocha sendo quebrada. Em pouco tempo, um novo soldado do grande exército havia sido criado, e ele imediatamente se levanta, indo na direção da cidade com passos lentos e pesados.
"... Bem..." Diz Spike, suspirando. "... Sua pergunta foi respondida."
"Desse jeito vão ser tantos que logo irão nos achar..." Continua Julian. "Droga, o que podemos fazer?"
"Hum..." Elliot arruma os óculos no rosto novamente e então observa cuidadosamente o campo, a ponte, as criaturas farpadas e as demais... Ele esfrega a mão no queixo, pensativo, enquanto algo começava a surgir, aos poucos, em sua cabeça. "Bom, eu até tenho uma idéia..."
"QUAL?" Perguntam os outros três, em coro.
"Acalmem-se... A idéia é simples. Primeiro a gente tinha que arranjar um jeito de distrair eles por um bom tempo ou pelo menos afastar todos os maiores... E então, nós destruíamos aqueles dez restantes."
"Rápidas do jeito que são aquelas farpas? Será que eles não vão nos atingir antes que possamos sequer tentar distraí-los?" Diz Julian.
"Que nada, eu posso acabar com aqueles dez em um piscar de olhos." Fala Spike, rangendo os dentes enquanto observa as criaturas acima da ponte. "Só preciso que me deixem a sós com elas."
"Tem certeza que pode dar conta dos dez?"
"CLARO! COM QUEM VOCÊ ACHA QUE ESTÁ FALANDO? BWEHEHE!"
"Vou considerar isso um sim." Continua calmamente Elliot. "Agora precisamos pensar em um jeito de tirar todos aqueles monstros maiores de lá."
"Mas tem que ser um método muito bom... Se um de nós tentar, vamos ser atingidos por aquelas farpas... Antes mesmo que os maiores nos alcancem." Diz Julian, ainda olhando para as pessoas lá embaixo.
"É, acho que tem razão. Tínhamos de distraí-los com alguma outra coisa..." Continua Elliot, momentaneamente pensando em esquecer do seu plano... Ele observa a roupa e a varinha de Espantalho e levanta uma das sobrancelhas. "Senhor espantalho..."
"Sim garoto?"
"Me desculpe perguntar, mas, o senhor é mágico ou coisa do tipo?"
"Ora, eu sou o grande mágico da Cidade das Bonecas! Sirvo à família Kayama, assim como a boneca Licca e os outros! E não é que eu queira me gabar, mas eu sou o melhor que há em nosso reino!" Ele diz, sorridente, enquanto Spike bocejava logo atrás.
"Hum..." Elliot olha para Espantalho, em seguida para as criaturas. "... Como mago o senhor deve ser um ótimo ilusionista, não é?"
"Claro! Ilusão é algo muito fácil de se fazer para alguém como eu! Mas porque?"
"Bem..."
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Alguns minutos depois, as pessoas continuavam trabalhando exaustivamente, sob a pesada vigília da ponte da cidade. As poderosas criaturas observavam a todos, não dando qualquer chance para descanso.
"... Ufa..."
"... Tchac!..."
"Ah!" Uma pequena menina, que havia parado por alguns instantes para descansar, se assusta, assim que duas grandes fagulhas afiadas cravam próximo a ela... Ela olha para cima, observando as criaturas, que a fitavam, fazendo com que ela voltasse a cavar, com as próprias mãos.
"Minha filha, tome cuidado..." Diz um homem ao seu lado. "Se estes monstros virem você poderão feri-la!"
"Mas papai, eu não consigo mais... Minhas mãos estão doendo muito!" Ela fala, chorando.
"Eu sei querida, mas acalme-se... Logo nós vamos sair daqui, eu prometo." O homem é, então, interrompido por um grande e pesado som, na margem a sua frente. Ele percebe uma das grandes criaturas de Ametista o fitarem, provavelmente pelo fato dele estar falando... O homem volta ao trabalho, fazendo sinal para que a filha não diga nada e a criatura se afasta, virando-se de costas.
A garotinha olha as grandes costas da criatura e repara a imagem refletida de alguém, não muito longe dali, aproximando-se...
"Papai... Papai!" Ela fala, cochichando.
"O que foi minha filha... Se você continuar falando estes monstros podem..."
"Papai olhe!" Ela diz, apontando. "Aquele não é o senhor Espantalho?"
"..." O homem olha, abrindo um pequeno sorriso. "Puxa... É ele mesmo. Quer dizer que a corte real veio nos resgatar, enfim! Mas... Porque ele está se aproximando cada vez mais? Será que não percebeu a quantidade de monstros que há aqui?"
Espantalho aproxima-se calmamente do rio, onde as pessoas eram obrigadas a escavar. As criaturas rapidamente percebem a aproximação do mágico e, então, viram-se na direção deste...
As criaturas acima da ponte arremessam diversas farpas pontiagudas contra o mágico e elas desabam velozmente sobre o mesmo com grande fúria... As pessoas desviam a sua atenção para a cena, a ponto de ver o mesmo sendo trespassado por várias delas.
"Não! Senhor espantalho!" Diz a garota, chorando.
"... Oh deus, não..." Diz o homem, abraçando-a.
As criaturas maiores aproximam-se lentamente do corpo e observam... Todas as farpas cravadas no solo, e, no meio delas, um grande monte de feno... Ou palha. As criaturas olham umas para as outras e então, começam a olhar para todos os lados, procurando pelo inimigo.
"Hah!" Diz Espantalho, em cima de um telhado. "Vocês realmente tem uma péssima pontaria, além de serem muito estúpidos! Não conseguem nem mesmo distinguir o verdadeiro do falso! Hahahaha! Tentem me pegar se puderem!"
O mágico salta de cima do telhado e imediatamente corre para longe dali. O enorme grupo de criaturas o persegue, fazendo um barulho muito alto enquanto tentam correr. Ao mesmo tempo várias farpas são arremessadas na sua direção, vindas da ponte.
"Aaaaaaaargh!" Ele grita, correndo desesperadamente. "Eu só espero que todo este meu esforço valha a pena!"
As criaturas sobre a ponte continuam a disparar furiosamente, até que cessam o ataque, e fitam as pessoas no rio. Estas, temendo serem atacadas, voltam ao trabalho rapidamente...
Sobre a água do rio, passando lenta e discretamente por baixo da ponte, um pequeno número de bolhas dirigia-se para o outro lado da mesma, onde as criaturas farpadas se mantinham de costas.
Uma das criaturas nota as pequenas bolhas e, então, dispara uma farpa rapidamente na direção da água...
"... SPLASH!..." Antes mesmo que o projétil atinja a água, Spike salta para fora do rio, subindo na ponte, com a Solar em mãos, encharcado. "Há! São muito bons com essas suas flechinhas mixurucas! Agora quero ver o que podem fazer corpo a corpo!"
O rapaz se mantém em posição de ataque, enquanto as criaturas viram a sua atenção para o mesmo, formando um círculo em volta dele. Os dez monstros disparam várias farpas contra o inimigo e este salta agilmente, fazendo com que as criaturas atingissem umas as outras! Em alguns segundos, cinco das criaturas já estavam no chão, dizimadas pelas próprias armas.
"Como pensei, são mais rápidos que os outros..." Zomba o rapaz, investindo. "... Mas continuam sendo um lixo para mim! Háá!"
Enquanto Spike atacava as criaturas, as pessoas no rio apenas observavam a batalha, surpresas, tentando imaginar se aquele homem era aliado de Espantalho.
Julian e Elliot surgem logo depois, levantando-se da água do rio, assustando algumas pessoas próximas. Eles recuperam momentaneamente o fôlego e caminham até a margem mais próxima rapidamente.
"... Mas... São garotos!" Fala um homem por ali.
"Não temos muito tempo! Por favor, venham! Temos que aproveitar agora que não há nenhum inimigo por perto!" Fala Julian, fazendo sinal para que as pessoas saíssem dali.
As pessoas olham umas para as outras, enquanto cochichavam e discutiam se deveriam seguir aqueles estranhos...
"O que foi? Porque estão demorando? Vamos logo!" Fala Elliot em alto tom.
"Não podemos fazer isso!" Diz alguém por ali. "O último que tentou fazer isso não conseguiu sobreviver!"
"É, nós não podemos confiar em crianças para nos tirar daqui!" Diz outra pessoa. "Onde estão a princesa Licca e os bonecos guerreiros? Porque eles não vieram nos ajudar?"
"Essa não..." Fala Elliot, dando um tapa na própria testa.
"Por favor, vocês tem que confiar em nós! A princesa Licca está bem e pediu para que nós os ajudássemos, assim como os bonecos guerreiros, que já estão na cidade! Nós iremos tirar vocês daqui, mas precisam vir conosco rápido!" Continua Julian.
"..." As pessoas continuam hesitando, todas com medo das criaturas... Caso aquela arriscada fuga falhasse. A pequena menina que falava há pouco começa a se dirigir para fora do rio, aproximando-se de Julian na margem. "... Se vocês estão lutando contra esses monstros, então... Eu confio em vocês!"
"Filha..."
"..." Julian observa a garotinha sorrindo e estende a mão para a mesma. "Venha... Vamos tirar você e os outros daqui, em segurança, eu prometo."
Julian toma a mão da garota e então a leva até a margem...
Imediatamente, uma das criaturas que lutava contra Spike afasta-se momentaneamente da batalha e aproxima-se da beirada da ponte, fitando a cena. Ela cria uma grande farpa em um dos seus braços e arremessa velozmente contra os dois.
"Minha filha!"
"Julian, cuidado!" Grita Spike, ao ver a farpa se aproximando rapidamente.
"...!"
O rapaz se coloca rapidamente entre a menina e a mortal farpa de Ametista, cruza os braços em frente do rosto, com os punhos fechados. A farpa atinge o braço direito do garoto, fazendo um pequeno corte sobre a pele, destruindo-se em vários pedaços.
Um som alto de metal vibrando pode ser ouvido por alguns instantes.
"... Ufa... Quase..." Diz Elliot, aliviado.
"Ai, ai, ai! Você está bem? Pergunta a menina, ao ver Julian ajoelhado, com uma das mãos sobre o pequeno corte.
"... Eu prometi que ficariam seguros... Custe o que custar..." Fala Julian para a menina, agradecendo, naquele momento, o seu braço biônico. As pessoas olham pasmas para a cena, tentando entender como ele havia defletido aquele projétil.
"Nós só queremos ajudá-los! Agora, por favor, venham conosco!" Fala Elliot, na entrada de uma das ruas, fazendo sinal para que o seguissem. As pessoas finalmente decidem seguir os garotos e seguem na direção indicada por Elliot. Julian ia logo atrás, enquanto o pai da menina o agradecia pelo que ele havia feito.
"Háá! CRÁS!"
Na ponte, Spike termina de destruir a última das criaturas, arrancando sua cabeça com um golpe preciso da Solar. O corpo cai no chão, inerte, enquanto uma massa de energia negativa dissipa-se no ar, exatamente como os outros.
"Hunf... Ridículos." O rapaz salta da ponte e rapidamente corre até a frente do grande número de pessoas que saía dali, juntamente com Elliot e Julian. Ele coloca a espada na cintura, enquanto abria um enorme sorriso que brilhava. "Eu falei que seriam muito fáceis!"
"É... Realmente conseguiu acabar com todos..." Diz Elliot.
"Bwehehe! Claro que consegui! Duvidou que conseguiria por algum momento?"
"Não, mas..."
"Hum?"
"... Três minutos!" Diz Elliot, mostrando um relógio totalmente do nada. "Você perdeu! Disse que conseguiria em apenas dois!"
"... O quê? Impossível!"
"Hehehehe! Não resta dúvidas!" Continua o garoto, mostrando o grande relógio digital no pulso. Spike olhava tentando entender o que significavam aqueles números.
"Esta coisa só pode estar com defeito! Grrrr!"
"Er..." Julian, a frente, apenas exibia uma grande gota...
Distante dali, as criaturas maiores que perseguiam Espantalho chegam até uma grande bifurcação em cruz. Outros grupos de criaturas adentram na bifurcação, pelas outras ruas e, então, observam algo no centro do encontro. Era um grande amontoado de palha e feno, com peças de roupa escura sobre este.
Elas se entreolham e, então, preparam-se para voltar rapidamente para o local da escavação...
"... BOOM!..."
Os monstros de ametista param imediatamente ao verem uma pequena explosão de luzes, em uma rua próxima àquela. As criaturas viram-se, a tempo de verem uma outra criatura, como elas, ser arremessada do local da explosão, reduzida a pedaços... Pesadamente, o grande grupo se dirige para lá, assim como várias outras criaturas em diferentes pontos da cidade.
As criaturas chegam até uma pequena praça, rodeada por canteiros muito floridos e algumas casas destruídas pelo exército... No centro do local estavam diversos fragmentos fumegantes de Ametista... Como se mais alguns dos soldados tivessem sido destruídos há pouco tempo
Em frente aos fragmentos, uma pessoa esperava pacientemente pelos próximos monstros... Com uma das mãos na cintura e os cabelos negros balançando com o vento, agora forte, Subaru mantinha-se calma apesar da enorme quantidade de inimigos que haviam surgido.
"..."
As criaturas emitem um som horrendo, semelhante a uma espécie de rugido e não hesitam em partir para cima da Tecnomage... O grande número de passos causa um barulho ensurdecedor, enquanto eles se aproximam com os poderosos e enormes punhos para cima do único inimigo...
Ao mesmo tempo, mais e mais criaturas começavam a chegar, por outras entradas da pequena praça.Era como se o exército inteiro estivesse se dirigindo para aquele ponto da cidade!
Subaru suspira, vendo o grande exército se aproximar...
Ela balança levemente os dedos do braço relaxado, ao lado do corpo, fazendo com que pequenas fagulhas elétricas saltassem de sua mão...
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"Pronto, chegamos!"
Julian, Elliot e Spike se aproximam da saída da cidade, com todas as pessoas... Em frente a esta, alguém os esperava pacientemente.
"Senhor Espantalho!" Diz alguém por ali.
"Ah, garotos! Conseguiram! Que maravilha!" Fala o mágico, assim que as pessoas começam a sair pelo arco de entrada. "Estão todos bem? Não se feriram?"
"Sim..." Diz Julian. As pessoas saiam aos poucos da cidade, chorando e aliviadas, abraçando seus parentes e conhecidos enquanto não acreditavam estarem livres daquele tormento.
"Tiveram muitas dificuldades para encontrar um caminho seguro até a saída?"
"Bem, não..." Continua Julian, enquanto parecia satisfeito ao ver todos sãos e salvos. "Na verdade, isso é bem estranho."
"O que é estranho?" Indaga Elliot, ao ver o amigo com uma expressão de dúvida, enquanto olhava para a cidade.
"Não encontramos ninguém enquanto saíamos... Pensei que talvez algum 'guarda' tentaria nos parar, mas foi bem mais fácil do que eu pensava que seria."
"... É verdade." Continua o garoto de óculos. "Mas foi melhor assim. Vai ficar mais fácil de nos defendermos sem tantas pessoas assim sob a mira desses malditos."
"Bah! Estranho? Eu diria que aquilo é que é estranho..." Fala Spike, apontando calmamente para um ponto na cidade.
Todos observam enquanto um gigantesco feixe de luz ergue-se de um ponto da cidade até os céus, seguida por uma impressionante explosão de relâmpagos ao se chocar contra as pesadas nuvens cinzas que obscureciam a Cidade das Bonecas.
As pessoas e os garotos se mostravam surpresos, principalmente Julian, que se via perdido em meio aquela demonstração de força... Seja lá de onde ela estivesse vindo.
"O que é isso...?" Ele pensa consigo.
"Mas... Quem será que fez aquilo?" Indaga Espantalho. "Serão os bonecos guerreiros?"
"Eu não sei... Mas acho que..."
"Ei, ei!" Fala Spike, chamando a atenção. "Seja o que for, temos coisas mais importantes para fazer, não? Precisamos pensar no que faremos quando as outras criaturas nos alcançarem e..."
"Não Spike... Não vai ser preciso." Fala Julian, sem tirar os olhos dos relâmpagos.
"Como assim 'não vai ser preciso'?"
O garoto dá alguns passos a frente enquanto olha ainda mais surpreso, e um tanto assustado, para a cidade...
"Julian...?"
"Antes, eu conseguia sentir pequenas presenças negativas pela cidade... Por causa que cada uma daquelas criaturas tem um pouco do poder do Limiar dentro delas..." Ele continua, ainda assustado. "... Mas depois daquelas luzes, eu... Não consigo... Não estou sentindo mais nada... Nenhuma presença!"
"..."
"O que?" Diz Spike, bastante alterado. "Você tá querendo dizer que alguém destruiu TODAS as criaturas?"
"..."
"... Eu não sei..."
Todos ficam em silêncio momentaneamente... Enquanto Spike parecia desanimado e Julian muito preocupado, Elliot se vira para Espantalho, lembrando-se do Limiar... Mas outra coisa lhe chama a atenção.
"E agora, o que é isso?" Ele diz, ao observar o bracelete piscar...
"... Ah, essa não! Provavelmente os bonecos guerreiros estão com problemas!" Fala o mágico, nervoso. Julian e Spike observam os seus braceletes e reparam também estarem piscando.
"Bom, então não temos tempo a perder! Vamos logo para o palácio!"
"Eu posso colocar vocês lá dentro em um piscar de olhos!" Continua Espantalho, girando a varinha, e indo à frente. "Vou levá-los até lá imediatamente! E quanto a todos vocês, afastem-se da cidade o máximo que puderem! Não sabemos mesmo o que aconteceu com todos aqueles monstros, portanto, será mais seguro se manterem distância!"
As pessoas concordam e, aos poucos, vão se afastando, agradecendo rapidamente aos garotos e ao 'Mestre Espantalho'.
"Muito bem garotos, vamos! Espero que estejam prontos!
"Sempre estivemos..." Diz Spike, coçando a ponta do nariz, um tanto decepcionado por não haver mais criaturas. "... E chega de enrolar."
"Ei Julian, tá tudo bem?" Indaga Elliot, colocando a mão sobre o ombro do amigo.
"Ahn? Ah, sim claro..." O garoto sacode a cabeça, tentando esquecer rapidamente do que acabara de acontecer. "Vamos! Temos de ajudar a boneca Licca e os outros!"
"Certo, vamos!"
Eles então seguem o mágico, enquanto este se dirige para o castelo... Julian corre logo atrás, pensando no que poderia estar acontecendo com os bonecos, no castelo.
-/-
"Hááá!"
Isamu e Izumi continuavam lutando contra a poderosa criatura feita de Ametista dentro de um dos quartos do castelo. Ambos pareciam bastante esgotados e com alguns ferimentos, mas continuavam investindo contra a aberração.
Isamu voava pelo aposento, enquanto a criatura tentava atingi-lo com o ferrão. Este se desvia e atira diversos raios de sua espada que, desta vez, parece fazer algum dano real.
O monstro cambaleia sobre as patas, sentindo o ataque de Isamu, até que Izumi, logo atrás, arremessa o seu bastão voador, destruindo o enorme ferrão da criatura, que finalmente desaba, inerte...
"Isamu!" Fala Izumi, tomando a mulher que estava no aposento nos ombros e vendo seu companheiro descer até o chão, lentamente. "Você está bem?"
"Sim eu... Estou bem boneca Izumi. Agora, por favor, leve ela daqui." Ele se recompõe rapidamente, indo até o corredor e olhando para o fim deste. "Eu irei até a sala do trono para ver se está tudo bem com a boneca Licca."
"Tudo bem, eu farei isso... Tome cuidado, logo eu me juntarei a vocês." Ela diz, saindo dali apressadamente com a mulher, ainda inconsciente.
Assim que Izumi parte, Isamu, ainda sentindo os ferimentos da última batalha, sai da sala e voa na direção do fim do corredor, chegando até uma grande porta dupla.
"É estranho, este silêncio..." O rapaz tenta abrir a porta empurrando-a levemente, mas sem sucesso... Ele então bate diversas vezes com as duas mãos. "... Tem algo errado. Boneca Licca! Você pode me ouvir? Boneca Licca!"
Sem resposta... Por alguns instantes sentia-se como se estivesse sozinho naquele lugar... Apesar da terrível energia negativa, logo atrás daquela porta.
Isamu afasta-se da mesma e então investe contra a porta, abrindo-a violentamente com o encontro.
Dentro da sala... Isamu pára por alguns instantes, com a espada em mãos, ao presenciar Ivan e Licca, ambos no chão.
O boneco de cabelos esverdeados tocava levemente os lábios da boneca, em um pequeno beijo...
"... Boneca Licca?" Fala Isamu, surpreso. Ivan afasta seus lábios dos dela e sorri, sem olhar para o recém chegado.
"Hum, parece que temos visitas minha cara."
"Quem é você?"
"... Ah, boneco Isamu..." Continua Ivan, agora se levantando, segurando a alabarda com uma das mãos, fitando o boneco. "... Vejo que conseguiu se livrar de um dos meus melhores soldados. E onde está Izumi? Terá sido destroçada por eles?"
"O que? Cale essa boca!" Ele fala, brandindo a espada. "Eu perguntei quem era você, mas vejo que não vai ser preciso! Se aquelas coisas são seus soldados, isso significa que é você quem está por trás disso tudo!"
"... Heh, excelente percepção meu caro. Mas eu não gosto de começar uma conversa sem antes me apresentar, é claro... Meu nome é Ivan, boneco Ivan."
"..." Isamu fica sem entender quando ele se refere a si mesmo como um 'boneco'. "Boneco Ivan? O que quer dizer com isso?"
"É uma história um tanto longa para ser repetida agora... Mas não se preocupe, a boneca Licca já sabe de tudo... Tenho certeza que ela ficará feliz em contar para você."
"Boneca Licca!" O boneco olha para a boneca e esta permanecia ajoelhada. Ele se aproxima rapidamente dela e se ajoelha, levantando a sua cabeça cabisbaixa. Repara em seu olhar distante, vazio, enquanto algumas lágrimas corriam pelos cantos das pálpebras. "Boneca Licca! O que há com você? Reaja!"
"A doce Licca ficaria feliz em saber que você está aqui, ao lado dela, neste exato momento, boneco Isamu." Diz o boneco, segurando a alabarda enquanto observava o esforço do outro para acordá-la. "É uma pena que ela não tenha mais coragem de olhar em seus olhos..."
"... Maldito! O que você fez com ela? O que você fez com a boneca Licca?" Ivan apenas sorri, sarcástico... Isamu novamente levanta a grande espada, fitando fixamente o boneco. "Eu não sei o que você fez, mas vai pagar por tudo! Eu juro!"
"Ora... Então finalmente teremos uma luta de verdade por aqui." O boneco gira a alabarda no ar, satisfeito... Seus olhos emitiam um leve brilho esverdeado, enquanto preparava-se para investir contra Isamu. "Vai ser muito interessante, embora possa ficar... Sem graça, já que você não está muito bem depois da luta com os meus soldados, não é mesmo?"
"Eu vou mostrar se eu estou bem ou não! Háá!"
Isamu salta e então ataca Ivan com diversos raios disparados da espada... Ivan mostra-se incrivelmente ágil, saltando de uma parede à outra, desviando dos ataques desferidos...
A luta começa... e Licca, no centro, parecia estar em um profundo transe...
-/-
Izumi levitava pelas escadas em espiral do palácio, apressando-se em chegar até o primeiro andar... Sentia claramente a dor dos ferimentos e, também, uma grande fraqueza... Impedindo-a de voar.
"Preciso... Me apressar!" Ela diz, chegando até uma grande sala, com uma outra escada para o andar de baixo... Assim que ela se aproxima, pode ouvir alguns ruídos familiares próximos a ela. "...?"
Ela olha para todos os lados, voltando ao chão... Não podia ver ninguém, apesar de sentir que não estava sozinha. A única coisa que notara era uma das janelas abertas, e um forte vento adentrando no palácio, sacudindo as cortinas. Ela se aproxima e percebendo que ainda estava muito alto...
"Se eu conseguisse pelo menos..."
"... CRÁS!..."
"O que?"
Das paredes, antes ocultos magicamente, três grandes criaturas surgem a frente da boneca... As três, idênticas a que ela e Isamu haviam enfrentado, brandiam as poderosas pinças e ferrões, enquanto se aproximavam aos poucos.
"Não!Vocês de novo!"
A criatura mais próxima ataca com uma das garras e a boneca salta, ainda com a mulher sobre os ombros, desviando do ataque.
Ela se pendura em uma tapeçaria bastante alta e as outras duas saltam na parede, aproximando-se rapidamente. Ela salta novamente e atira seu bastão com força, atingindo e destruindo a cauda do primeiro monstro que havia atacado.
Para a surpresa da boneca, a criatura cambaleia e rapidamente cai, inerte.
Ela abre um pequeno sorriso por alguns momentos, mas logo sente os braços serem sobrepujados. Inevitavelmente, Izumi é jogada no chão, com os braços presos ao solo pelas pinças de uma das criaturas que a ataca com grande velocidade. O corpo da moça cai perto dali, mas longe de seu alcance... Bem como seu bastão.
"Não! Droga!" Ela tenta se soltar, mas a criatura mostra-se mais forte, prendendo-a ao solo. "Maldito! Me solte!"
A outra criatura se aproxima e apenas observa, enquanto balança o ferrão e as pinças... A criatura que a prendia levanta o afiado ferrão de ametista e desfere um ataque mortal contra a cabeça da boneca. Esta não consegue fazer outra coisa, a não ser fechar os olhos e temer pelo pior...
Mas... Para a sua surpresa, o mortal ferrão não chega até o seu alvo...
Ela abre os olhos lentamente... Para observar uma mão, segurando com força o ferrão da criatura...
"...?"
"... GRAURRR!..."
... Subaru surge novamente, desta vez detendo a poderosa criatura com uma das mãos. O monstro solta as pinças de Izumi, afastando-se e tentando freneticamente libertar o seu pseudópode da mão da tecnomage, que o segurava com facilidade.
A criatura se arrasta e puxa o membro, até que Subaru arranca violentamente o ferrão de ametista, esmagando-o em mil pedaços com a própria mão. A criatura ruge e cambaleia, caindo no chão inerte.
A segunda criatura salta sobre a tecnomage velozmente, colidindo ambos, em uma das paredes do palácio. Uma pequena nuvem de poeira sobe na sala pelo impacto, obscurecendo a luta.
Izumi anda até o corpo da moça caída ao chão e a recolhe novamente nos braços, assim que a cortina de pó desce.
A criatura rugia e rosnava, tentando se libertar da tecnomage, que agora segurava suas duas pinças afiadas...
Ela salta com o monstro e, em seguida, fecha e abre violentamente os braços, literalmente RASGANDO a criatura ao meio, destruindo-a em segundos! Izumi olhava impressionada, um pouco afastada.
Logo Subaru volta ao chão, pisando sobre dois pedaços de ametista e esmagando-os facilmente.
"..."
"... Ahn..." Izumi aproxima-se alguns centímetros, cautelosa, pensando quem seria aquela pessoa. "... O-Obrigada."
"..." Subaru olhava a boneca fixa e seriamente, virando de costas e andando na direção pela qual Izumi havia descido.
"Espere!" Fala a boneca. "Poderia... Dizer o seu nome?"
Subaru pára momentaneamente e então vira o rosto, ainda séria, fazendo um sinal com o dedo indicador sobre os lábios, como se pedisse para que ela ficasse calada quanto aquilo...
Em seguida, ela volta a andar, enquanto seu corpo lentamente some...
Izumi ficara pensando quem seria a sua salvadora, mas logo se lembra que tinha pressa e se vira para a escada novamente... Porém, pára a alguns centímetros ao ouvir uma voz familiar, vinda de um canto da sala.
"... Boneca Izumi?"
"... Ah, garotos!"
De baixo de alguns azulejos, surge à cabeça de Julian, Elliot e Spike, e logo,a de Espantalho.
""Boneca Izumi, o que aconteceu?" Fala Elliot, subindo com a ajuda dos demais. "Você... Está muito ferida!"
"Que bom que encontramos você, assim vai ficar tudo mais fácil..." Diz Julian, subindo em seguida.
"Eu não tenho muito tempo para explicar, preciso ajudar Isamu e Licca, que estão na sala do trono! Mas antes eu preciso levar esta mulher para fora daqui... Ela corre perigo."
"Ora, ora boneca Izumi!" Fala Espantalho, subindo logo depois de Spike. "Eu vim trazer os garotos até o castelo e logo voltarei até onde as pessoas estão, portanto, se quiser... Eu posso levá-la para você."
"Vocês conseguiram resgatar as pessoas?" Ela indaga, um pouco mais aliviada.
"Sim! Não foi fácil mas..."
"... Mas tudo foi possível porque eu mostrei minhas habilidades em combate, hehehe!" Diz Spike, vangloriando-se.
"Er..."
"Muito bem... Então por favor Espantalho, leve ela até onde é seguro, sim?" Diz Izumi, entregando a moça para o mágico.
"Não se preocupem! Eu farei isso! Quanto a vocês, lhes desejo uma boa sorte!"
Espantalho volta a descer pela entrada secreta, desaparecendo rapidamente da vista dos demais. Izumi vai até a escada e volta o olhar os garotos.
"Quanto a vocês, vou levá-los até a sala do trono também... Provavelmente é lá onde está o tal Limiar, não é?"
"Bem, se for de lá que está vindo toda essa energia..." Diz Julian, sentindo a presença do objeto. "... Então vamos! Não podemos mais perder tempo! Licca e Isamu podem estar precisando de ajuda!"
"Bah! Agora dá pra sentir aquela coisa bem perto daqui..." Diz Spike, com a Solar em mãos. "Argh... É como em Solaria..."
"Certo rapazes. Vamos!"
A boneca sobe rapidamente e os garotos a seguem... Julian conseguia sentir a energia do Limiar pulsar, enquanto eles se aproximavam cada vez mais...
-/-
Na sala do trono, a batalha entre Isamu e Ivan prosseguia... Ficava cada vez mais visível a enorme vantagem que Ivan levava sobre o boneco de cabelos azulados, por causa de sua exaustão e seus ferimentos.
Isamu continuava afastando-se do inimigo e disparando seus raios. Ivan desviava tão facilmente que parecia dançar em meio aos tiros do boneco. Entre cada volta da 'dança', ele desferia um ataque com sua alabarda, errando por alguns milímetros o pescoço de Isamu. Um rastro luminoso e esverdeado formava-se no ar quando Ivan atacava com a alabarda.
"... Argh..."
"Você parece muito cansado... Acho que terei que pô-lo para dormir mais uma vez!" Ivan salta por cima de um dos raios de Isamu e ataca-o, cortando o seu peito verticalmente... O boneco sente a aguda dor da lâmina rasgando-o e ele cai no chão, enfraquecido. Sua espada desaba pesadamente ao seu lado logo em seguida.
"Ack...!"
Isamu vira o rosto lentamente na direção de Licca, que ainda se mantinha dentro de um profundo transe... Distante...
"Droga boneca Licca... O que aconteceu... Com você... Ack... Eu não entendo..."
Ivan desce lentamente até o chão, próximo ao trono real, com a alabarda em mãos. Ele sorria satisfeito com o que via... Licca, perdida em seus sentimentos... E Isamu, caído, diante da força do Limiar.
"Isamu, você apenas está atrapalhando algo muito importante entre Licca e eu. Você não deve continuar vivo!" Grita Ivan, sarcástico... Isamu apenas escutava, enquanto pensava e observava Licca... Derramando lágrimas sobre o chão da sala. "Você é apenas um inútil, como todos os outros! Hah! Acha que com essa sua força medíocre você é páreo para mim, que tenho o DESTINO ao meu lado? Você não é merecedor de ser chamado um boneco guerreiro, seu imprestável!"
Isamu apenas ouvia, com os cabelos em frente dos olhos... Uma pequena gota de sangue escorria pela sua testa, caindo no chão, como as lágrimas de Licca...
"... Você não é capaz de proteger ninguém... Nem mesmo, a boneca Licca! Hahahaha!"
"..."
Neste momento, Isamu aperta os dois punhos fortemente, sentindo um calor estranho dentro do peito... Com grande dificuldade, ele começa a se levantar novamente...
"Hah! Vejam só! Que cena patética!" Continuava Ivan, zombando do boneco, que agora havia se levantado e tomado sua espada em mãos... O pequeno filete de sangue continuava descendo pelo meio do rosto do boneco, parando em seu queixo.
"..."
"Heh! E o que vai fazer agora? Disparar seus pequenos flashes de luz contra mim?
"..."
Imediatamente, Isamu ergue a espada com as duas mãos e parte para cima de Ivan... Este fica surpreso por ver o adversário tentar um ataque físico pela primeira vez e salta, com a alabarda ainda em mãos. A lâmina da espada raspa no solo criando diversas fagulhas azuladas de energia, até que ele salta atrás de Ivan, com a espada envolta em grandes chamas.
".Mas o que...!"
"... Ryuukinsen! Háááá!"
Ivan rapidamente tenta se defender com o grande cabo da alabarda, que se choca com a poderosa lâmina da espada de Isamu, lançando fagulhas de energia para todos os lados!
A lâmina atravessa o cabo da poderosa alabarda, quebrando-a ao meio e atingindo com todas as forças o rosto de Ivan.
"Argh!"
O impacto do ataque arremessa Ivan contra o teto do aposento, enterrando-o no concreto maciço! Isamu, logo, cai de volta ao solo, com a espada exalando uma fumaça branca...
Um segundo depois, a porta da sala abre-se violentamente após Julian e os demais aplicarem alguns rápidos chutes. Os quatro param, estáticos, assim que vêem a cena de Ivan... Caindo no solo, imóvel, junto com alguns fragmentos do teto.
"..." Licca pisca e esfrega os olhos, que agora pareciam ter voltado ao normal. Ela percebe Isamu se aproximando e colocando um dos joelhos no chão, ferido. "... I-Isamu?"
"Você está bem... Boneca Licca... Argh...!"
"Eu estou, mas... Boneco Isamu..." Licca levanta-se e ajuda o companheiro a se levantar, com dificuldade... Logo, Julian e os demais se aproximam.
"O que aconteceu aqui... Está tudo bem?" Indaga Izumi, preocupada.
"Eu acho que sim, mas..." Ela fala, observando Ivan, em um canto mais afastado, inerte no chão.
"... Heh." Spike abre um pequeno e debochado sorriso ao ver o corpo, caído. "Provavelmente esse era o tal líder de que haviam falado. Parece que ele não vai nos incomodar mais, não é mesmo?"
"... Não... Acho que não..." Responde Licca, enquanto ajudava Isamu a ficar de pé.
"Seja como for, acho melhor acabarmos com tudo isso de uma vez... Julian?" Fala Elliot, olhando para o amigo.
O rapaz faz um sinal positivo com a cabeça e, então, olha para a porta atrás do trono. Ele, Spike e Elliot se aproximan, abrindo lentamente a porta. Izumi ajuda Licca a carregar Isamu, pegando em seu outro braço.
A porta se abre lentamente com um rangido alto...
... Um aposento enorme, iluminado por uma luz semelhante a cor das ametistas, é revelado assim que a porta é aberta... No centro, sobre um pequeno pedestal de vidro, o pequeno fragmento de Limiar pulsava continuamente, expulsando energia negativa para todos os lados... Em volta da peça, diversas estáticas multicoloridas surgiam repentinamente... Numa tentativa desesperada da dimensão de se livrar do perigoso artefato.
"Então... Esse é o Limiar..." Diz Izumi, observando-o.
"Ele mesmo..." Continua Elliot.
"Muito bem..." Julian suspira e então, começa a andar na direção do mesmo... Antes, porém, ele pára por alguns instante, ao ouvir uma voz atrás de todos.
Todos se viram e observam Ivan, levantando-se com dificuldade, muito ferido. Apesar disso, ele ainda mostrava um sorriso... Psicótico, com os cabelos esverdeados desgrenhados e cortes por todos os lados.
"Hehehe... Não vai ser assim tão fácil... Tomar este Limiar de mim, o poderoso boneco Ivan!" Ele levanta uma das mãos e uma esfera de energia de mesma cor da que o Limiar expulsava começa a se formar na palma da mesma.
"Hunf, muito bem, deixem que eu acabo com este maldito de uma vez..." Diz Spike, com a Solar em punhos.
"Não, espere!" Fala Licca, colocando-se na frente do rapaz e falando. "Ivan, já está tudo acabado! Desista agora!"
"... Boneca Licca..." Ele fala, sorrindo ainda mais. "Você ainda pode mudar de idéia. Se quiser vir comigo, acredite, será muito feliz... E vai reinar junto comigo! Pense bem!"
"..." Ela abaixa a cabeça, sorrindo, serena. Em seguida ela ergue-se novamente, com um olhar diferente. "Eu não preciso ir com você."
"..."
"Eu não preciso... Eu tenho muitas pessoas do meu lado... Pessoas com as quais eu me importo, e que se importam comigo." Ela fala, enquanto os outros escutavam logo atrás.
"... Grr!"
"Portanto, o seu plano acabou! Pare com essa loucura agora mesmo!"
"... Feh..." O boneco maligno levanta as duas mãos e uma esfera ainda maior começa a surgir. "Nesse caso, destruirei todos que estão neste castelo! Incluindo aqueles pirralhos na masmorra! Sintam agora o poder de um Limiar!"
"Masmorra?" Pensa Julian. "Devem ser Dai e Sumire... Droga, quase esquecemos deles!"
Uma forte ventania surge em meio às salas... Licca e os outros bonecos observavam Ivan enquanto este concentrava mais energia provinda do Limiar.
"Boneca Licca..." Diz Isamu, estendendo sua mão.
"Sim boneca Licca. Está na hora." Diz Izumi, estendendo a sua.
"Isamu... Izumi..."
Licca sorri e toma a mão de seus companheiros... Os três são envoltos imediatamente por uma aura impressionantemente brilhante e branca. Os garotos protegem os olhos com as mãos, enquanto Ivan observava Licca sair de dentro da luz, agora com um grande vestido branco...
"... Isso tudo é inútil! Morram!"
Ivan dispara um forte raio de energia negativa contra o grupo, mas Licca levanta uma das mãos, disparando outro feixe de energia... As duas forças colidem-se por alguns instantes emitindo raios para todos os lados da sala...
Em poucos instantes, o feixe de energia branca ganha mais força e engolfa a energia maligna do Limiar, atingindo Ivan, englobando-o no meio de um forte clarão esbranquiçado.
"Aaaarrghhh!" Grita Ivan, desaparecendo no meio da energia...
A luz vai se dissipando aos poucos e os garotos vão se acostumando a claridade... No lugar onde estava Ivan, agora, restava apenas uma nuvem de fumaça negra que subia lentamente e desaparecia juntamente com a energia branca...
"..."
"... Está terminado." Fala Licca, sorrindo, com um semblante um pouco triste. "... Garotos, agora é com vocês..."
Spike e Elliot olham para Julian e os três fazem um sinal de positivo com a cabeça. O garoto, então, vai andando até a pequena peça de Limiar que, para a sua surpresa, não reage a sua aproximação.
Ele toma a peça em mãos com cautela e imediatamente, a energia luminosa e negativa desaparece... Dissipando-se totalmente.
"Pronto!" Fala Julian, suspirando. "Conseguimos, finalmente...!"
O céu sobre o Reino das Bonecas começa a se abrir, permitindo que os raios de sol atravessassem as nuvens cinzas e alcançassem aquela vasta terra...
As pessoas distantes da cidade observavam encantadas toda a energia maligna se dissipar e o brilho da Cidade das Bonecas retomar pouco a pouco a sua força de antes.
"Há! Eles conseguiram!" Fala Espantalho, junto das pessoas que comemoravam. "Estamos salvos!"
Longe dali, na grande casa branca de Nanae...
"Enfim acabou." Diz a velha senhora, olhando para o céu, na varanda da casa... A princesa Licca ao seu lado parecia aliviada e feliz, bem como Pulle e Waaya, logo atrás.
Julian coloca o Limiar dentro de sua perna, juntamente com os outros dois que possuía... Ele faz um sinal de positivo para os outros companheiros, que respondem da mesma maneira.
-/-
Um dia depois...
"O estrago foi grande..." Diz Julian, olhando para a cidade por uma das mais altas torres do castelo. "O Limiar afetou bastante esse lugar tão bonito."
"Sim, você tem razão meu jovem..." Responde Nanae. "Mas felizmente o estrago foi apenas físico. Em pouco tempo, nós ergueremos a Cidade das Bonecas mais uma vez."
Nanae e Julian permaneciam na mais alta torre do castelo da Cidade das Bonecas. Eles conversavam enquanto podiam ver todas as pessoas andando pelas ruas, ajudando umas as outras a reconstruir tudo o que fora destruído pelo ataque do exército de Ametista.
"É, a senhora tem razão." Os dois desciam pelas escadas, agora chegando até a sala do trono... Lá estavam Spike, Elliot, Espantalho e, também, Isamu e Izumi. Até mesmo Pulle e Waaya estavam presentes, ao lado de seu querido mestre Espantalho, além de Dai e Sumire, obviamente já livres, ao lado da princesa Licca.
"Mas então..." Fala o garoto Dai para Julian. "... Já vão partir, assim tão de repente?"
"Sim. Apenas estamos esperando o portal se abrir. Não deve demorar muito agora."
"Bem, com tudo isso eu não tive tempo de agradecer. Ahn... Muito obrigado por terem nos ajudado."
"É, muito obrigado! Nós teríamos muitas outras dificuldades se vocês não estivessem conosco!" Fala Sumire, quase chorando.
"Heh... Foi um prazer ajudá-los." Continua o Julian "Embora nós tenhamos feito muita coisa, foram os bonecos guerreiros que lutaram bravamente contra aquele tal Ivan."
"Concordo... Grrr..." Spike rosna logo atrás, decepcionado por não ter podido lutar contra o inimigo.
"Mas e a boneca Licca?" Indaga Elliot. "Onde ela está?"
"Ela disse que ia ajudar as pessoas que estavam na cidade." Fala Isamu, já curado de seus ferimentos. "Mas disse que iria se despedir antes que vocês fossem embora."
"Hum..." Nanae olha para fora de uma das janelas, um pouco pensativa. "Isamu, venha até aqui..."
"Sim senhora." Os dois se distanciam um pouco dos demais, que ficavam conversando. "Algum problema majestade?"
"Nenhum... Apenas gostaria que me fizesse um favor."
"Claro majestade, o que seria?"
"Por favor, fale com a boneca Licca, sim? Eu a vi voltando da cidade e ela parece estar em uma das torres deste castelo. Diga a ela que logo os garotos irão partir..."
"Claro majestade, eu volto logo!"
O boneco sai voando pela janela a frente deles... Nanae apenas sorri calmamente, voltando a falar com os outros.
-/-
Sobre a torre em que tivera uma conversa com a princesa anteriormente, a boneca Licca mantinha-se sentada sobre o parapeito, observando o pôr do sol e a enorme Cidade das Bonecas logo abaixo...
Ela suspirava, perdida em pensamentos, com as mãos apoiadas sobre os joelhos, e a cabeça sobre estas.
"Boneca Licca?"
"... Ahn?" Ela se vira, observando Isamu voar lentamente logo atrás dela, descendo sobre a torre. "... Isamu..."
"Nossa Majestade pediu para que eu viesse chamá-la. Julian e os outros irão partir em breve e ela gostaria que você também se despedisse deles."
"Eu... Irei daqui a pouco Isamu, não se preocupe..."
"Hum." O boneco voa lentamente até a boneca e se senta ao seu lado. Ambos ficam em silêncio por alguns momentos... "Você está bem...?"
"Hum rum..." Ela fala, com a cabeça sobre os braços, balançando positivamente.
"Sabe..."
"O que?"
"... Eu não cheguei a perguntar quem era aquele tal Ivan. Apenas tinha uma idéia por tudo o que ele tinha dito naquela hora."
"..."
"Mas... Depois que Izumi, você e eu nos unimos... Eu compreendi algumas coisas."
"..." Licca continuava ouvindo, em silêncio, sem mostrar o rosto vermelho.
"Compreendi o seu sofrimento, aquilo que você estava sentindo... E porque você estava tão abalada quando eu cheguei."
"Isamu..."
"Mas boneca Licca..." Fala o boneco, interrompendo-a. Ela levanta a cabeça, olhando para ele, sem conseguir deixar de ficar corada. "... Licca."
"..."
"Eu quero que saiba que eu a admiro muito." Ele continua, olhando para ela. "Você é uma companheira sem igual... É forte, determinada... É uma inspiração para Izumi e eu."
"Isamu eu..."
"... E também..." Ele fala, sorrindo. "... Você é muito especial para mim."
"..."
Os dois se olham por alguns instantes, enquanto o sol tornava o céu rosado, anunciando a chegada da noite... As maçãs do rosto da boneca quase se igualavam à cor do céu...
"Isamu eu... Eu acho que..."
"Hum?"
"... Eu acho... Que você também é muito forte e determinado... Até mais do que eu." Ela fala, suspirando. "... E você também é muito especial para mim Isamu."
Os dois ficam se olhando por alguns instantes enquanto o vento balançava seus cabelos... O sol no horizonte logo se esconde atrás das montanhas, e a noite chega lentamente... As estrelas pareciam muito próximas naquela noite.
"B-Bem, acho que agora os garotos devem estar prontos para partir." Fala Isamu se levantando, e planando lentamente no ar. "Você vem também?"
"Eu já vou... Prometo."
"Tudo bem... Nos vemos com os demais daqui a pouco." Ele diz, sorrindo, e então voando na direção da janela pela qual havia saído.
Licca levanta-se do parapeito e dá alguns passos para o centro da torre, com a cabeça baixa...
"... Na verdade... O que eu acho... É que..." Duas lágrimas descem pelo seu rosto lentamente. "... É que eu amo você..."
"Boneca Licca?"
"..." Da escada da torre, surge Nanae, com um semblante sereno no rosto. " Snif... Majestade...?"
"..." A senhora apenas sorri docemente. "Em todos estes anos, esta é a primeira vez que eu a vejo chorando minha querida..."
"Majestade..."
Nanae anda até a boneca e a abraça... Licca devolve o abraço, chorando sobre o ombro de sua majestade. Apesar de tudo, Licca sorri... Sentia-se bem e aliviada com as poucas palavras de Isamu. Nanae acaricia a cabeça da boneca, dizendo para que ela chorasse o quanto quisesse... E que aquela dor que estava sentindo era uma coisa boa, afinal.
Na escada, encostado na parede, com os braços cruzados, Spike observava a cena, com um sorriso no rosto...
"Heh..."
-/-
Alguns minutos depois, todos se encontravam na sala onde o Limiar havia sido capturado anteriormente... Sobre o pequeno pedestal do centro, um ponto de luz começava a se formar...
"Mais uma vez, obrigada por tudo Julian, Elliot e Spike." Fala a princesa Licca, na frente de todos. "Nós não temos como agradecer vocês por tudo o que fizeram."
"Nós fizemos apenas o que deveríamos fazer, princesa." Fala Julian. "Nós é que agradecemos pela sua hospitalidade e ajuda."
"Era o mínimo que poderíamos fazer." Fala Nanae, ao lado da neta.
"É uma pena termos nos conhecidos há tão pouco tempo." Fala Dai. "Mas obrigado por tudo novamente."
"Aliás, a propósito!" Diz Elliot, retirando o bracelete do pulso, bem como Spike e Julian. "Quase íamos esquecendo. Tomem, acho que isso é de vocês."
"Ah sim, obrigada!" Agradece Sumire.
"Vocês trouxeram nosso mestre em segurança! Muito obrigado a todos! Buáááááá!" Pulle e Waaya choravam cachoeiras de lágrimas, enquanto abraçavam as pernas de Spike.
"Argh... Não precisam agradecer..." Fala o rapaz, tentando se livrar dos dois.
"A população da Cidade das Bonecas também agradece. Venham nos visitar novamente quando puderem!" Diz Espantalho.
"E, é claro, tenham boa sorte na sua jornada." Fala a boneca Licca, ao lado de Izumi e Isamu.
O portal, enfim, se abre, em meio a uma explosão de energias... A passagem dimensional surge, criando uma forte corrente de vento pela sala e emitindo diversas luzes que saíam pelas janelas, sendo admiradas pelas pessoas da cidade
Os garotos terminam de se despedir e adentram no portal, acenando para todos os que ficaram... Em alguns segundos eles desaparecem da vista de Licca, Dai, Sumire e todos os outros...
"Lá se foram eles..."
"É..."
Izumi é a única a perceber uma movimentação no ar, em frente ao portal...
A presença adentra na passagem logo em seguida e a boneca apenas sorri.
"Seja quem for, eu espero que também os ajude..." Pensa a boneca, consigo mesma.
O portal vai se fechando aos poucos e, com um grande clarão, some da vista de Licca e os outros...
A grande passagem vai se abrindo novamente, em um diferente mundo, muito distante do último... Com um grande clarão e em meio a diversos choques de energia, o portal se expande totalmente.
Julian, Spike e Elliot surgem logo em seguida, saindo de dentro do grande portal luminoso. Este se fecha logo atrás deles, causando um grande estrondo.
"Argh! Cada vez mais escandaloso." Fala Spike, sentindo seu ouvido doer.
Julian e Elliot observavam ao redor os grandes edifícios que os rodeavam... Apenas agora, pareciam estar em meio a um cruzamento de ruas. O silêncio dominava o local, assim como a noite...
"Bom, onde será que nós..."
"... PÁ!..."
"...!"
O garoto de óculos é interrompido por diversos projéteis, que passam zunindo pela sua cabeça e a de seus amigos. Pareciam balas!
Os três se afastam dali rapidamente, mas logo percebem estar cercados por muitas pessoas, que surgem de trás de carros tombados e pilhas de destroços. Todos portavam armas com canos longos e apontavam para o trio.
"Então vocês tiveram coragem de vir nos atacar de frente seus malditos?" Fala um dos homens, portando uma arma. "Agora vão ter o que merecem!"
"Er..."
O enorme bando engatilha as armas, enquanto os garotos se viam em meio a um GRANDE problema...
Continua...
