Cap. 11 - Lágrimas da Rendição ( Parte II de II )
"... Então é isso?" Indaga Erica.
Cerca de meia hora depois, de volta a casa das bruxas, o grupo conversava sobre o que Elliot havia lhes dito durante todo esse tempo. Os dois soldados que o acompanhavam permaneciam encostados próximos da porta, enquanto Elliot falava, sentado em uma das macias almofadas. Erica escutava e falava de sua mesa de tarô, enquanto que as demais observavam o rapaz, sentadas uma de cada lado do mesmo.
"Você veio do reino de Eve para pedir isso para nós?"
"... Eu sei que vocês todas já têm muita responsabilidades com tanta gente assim... E sei que essas pessoas não são do seu reino... Mas são as únicas que, no momento, podem fazer isso... "
"Bem, eu não sei Elliot." Continua Erica. "... Não sei podemos lhe ajudar..."
"Irmã Erica, porque não aceita o pedido dele? Ele quer salvar todas aquelas pessoas... Nós podemos e devemos ajudar." Fala Wendy.
"Mas não sei se é muito segura se envolver assim nessa guerra... Isso é assunto de bruxas de alto nível. Lembrem-se que nós somos bruxas de baixo nível... Não somos ninguém em frente a elas..."
"Não se preocupem... Vocês não se envolverão. Apenas quero que me façam este grande favor... É importante."
"Hum..."
A bruxa levanta-se de sua mesa e pensa por alguns instantes. Ela se senta novamente e vira algumas cartas do tarô... Ela as observa momentaneamente e então observa o garoto.
"Muito bem, acho que podemos fazer isso por vocês." Ela fala seriamente enquanto as outras duas bruxas levantam os braços, contentes. "... De todo modo, mais cedo ou mais tarde, acho que teríamos de agir também."
"Ótimo! Eu as agradeço do fundo do coração! Muito obrigado mesmo!"
"Mas..." Continua Erica, observando suas cartas. "Se a Blood Pledge vai mesmo fazer tudo isso que você nos disse, então talvez tenha uma ligação com a lua da renovação."
"Hum? O que é isso?"
"É uma lenda que há em Akaira." Comenta a garota de cabelos vermelhos, agora seriamente. "... Dizem que neste dia os poderes antigos são substituídos por novos..."
"Nesse caso, pessoas de poderes antigos perecerão... E as que acordaram para estes poderes recentemente, governarão..."
"... Hum... As outras bruxas com quem falei já haviam me dito algo sobre isso." Lembra o rapaz. "... Então agora tudo está fazendo ainda mais sentido. Ou pelo menos quase tudo."
"Bem... Desculpe por nós não podermos lhe ajudar. Desde o início das eras, nós, as bruxas de baixo nível não nos intrometemos nesses assuntos... Somos apenas espectadoras das guerras que acontecem entre as que têm muito poder."
"E nós com certeza perderíamos a vida se nos intrometêssemos. É a lei de Akaira, infelizmente..."
"Eu acho que entendo, embora não concorde. Mas, não vou desrespeitar a decisão de todas vocês... Já estão fazendo um grande favor para mim." O rapaz se levanta, enquanto olha por uma das janelas... Observava o céu cinza de Akaira... "Eu... Preciso voltar rapidamente agora... E quanto a vocês três... Muito obrigado! Desculpem-nos se tomamos tempo de vocês."
"Não tomou tempo nenhum! Poderia ficar mais tempo se quisesse!"
"Deixe de tolices irmã Sally... Ele tem que fazer algo muito importante agora, não é?"
"Heh... Sim... MUITO importante."
"Então vá... E fique bem Elliot. As cartas dizem que você será bem sucedido... E elas não mentem..."
"Certo... Obrigada a vocês três mais uma vez."
O garoto vai se dirigindo para a porta, enquanto se despede das três. Wendy levanta-se de sua almofada e grita para o garoto.
"Dá próxima vez, quando você estiver com menos pressa, quero que você conheça o meu quarto!"
"...!" Elliot sorri totalmente sem jeito e sai dali, juntamente com os dois soldados. Sally e Erica observam a irmã, com as bochechas vermelhas.
"..."
"Que foi?"
"... Sua tarada!"
-/-
Cerca de três horas depois...
Uma grande sombra, anunciando a chegada do fim, paira lentamente sobre um dos reinos de Akaira... A sombra, feita de metal e fogo, preparava-se para desferir um ataque final contra a frágil vida logo abaixo...
Sob a grande base Phoenix, estava agora a grande catedral das duas bruxas... Soraya e Suzanne. A brisa que passava pelo reino agora se transformara em uma forte ventania gelada... Como se o próprio mundo sentisse calafrios pelo que viria logo a seguir.
Dentro da grande base, o Julgador e a poderosa bruxa Morgan se encontravam em um grande aposento, com muitas engrenagens, fios e aparatos mecânicos...
No centro desta, havia uma gigantesca cúpula de vidro. Dentro dessa uma energia fortíssima era emanada na forma de raios elétricos e energéticos.
"Então é aqui onde toda a 'mágica' é criada, não é?"
"Sim..." Fala o Julgador calmamente, observando a grande cúpula de vidro. Morgan, mais à frente, observa maravilhada a energia fluindo de dentro do vidro, com os olhos bastante próximos do mesmo.
"E então...? Quando tudo começará? Quero fazer o sangue destas criaturas tão inferiores chover sobre Akaira..."
"... Antes disso, precisamos alimentar Phoenix com uma energia poderosa... Assim, nossa arma principal funcionará. A cúpula que está vendo agora é apenas um extrator de energia."
"Oh... Sim..." A bruxa tenta fingir que entendera o que ele havia dito e logo olha para os lados, procurando por alguma coisa ou mais alguém. "E onde encontraremos tamanha energia?"
"... Nós já encontramos."
"...?"
Imediatamente o pequeno fragmento começa a flutuar do meio dos seios da poderosa bruxa... Esta observa aquilo, sem entender o que acontecia. A pequena peça acaba por pousar em uma das mãos do Julgador, que mantinha um dos braços esticados...
"Aaaarrgh!"
Uma luz violeta e fulgurante envolve a bruxa que coloca as mãos sobre a cabeça, sentindo uma dor muito aguda e forte... Logo, uma massa de energia negativa é expulsa do seu corpo, enquanto esta se contorce e grita...
A energia adentra no pequeno fragmento sobre as mãos do Julgador, enquanto Morgan, ofegante e de joelhos no chão, vai se levantando, sentindo-se fraca e tonta...
"... O que..." Ela olha para todos os lados, assustada "Onde... Onde estou...?"
"É uma pena que tenha voltado a si depois de tanto tempo..." Ele diz, enquanto na cúpula logo atrás da bruxa, uma grande abertura surge no frágil vidro. "Seria uma tortura para você saber o que aconteceu para com Eve, por sua causa..."
"Eve?... Minha filha... Quem é você! O que fez para a minha filha?" Ela fala, irritada. A bruxa olha para as palmas das mãos, enquanto sentia-se estranha. "... O que é isso? Porque... Estou sentindo essa energia estranha? Porque estou ouvindo tantas vozes...?"
"... Com as energias reunidas de todos que morreram, agora em seu corpo, você é quem vai fazer algo a ela... Minha querida."
O Julgador estica a mão com o Limiar e uma lufada poderosa de energia atinge a bruxa que, sem qualquer chance de reação, é lançada para dentro da cúpula...
Diante dos olhos maravilhados do Julgador, o corpo de Morgan é destruído em meio ao extrator de energia... Luzes multicoloridas iluminam o local, enquanto a mesma se desfaz...
Seus últimos resquícios é o eco de um dos seus gritos... Antes de transformar-se em energia pura... Que é distribuída por toda Phoenix imediatamente...
"Senhor!" Diz um dos soldados, por um fone, dentro da sala. "Phoenix está com o canhão pronto para disparo. A energia está em 100."
"... Excelente. Destrua-as... Sem piedade."
Na parte inferior da grande nave Phoenix, uma gigantesco canhão surge lentamente de dentro de suas entranhas metálicas...
Assim como Eagle, um brilho violeta começa a se formar em seu interior. Um brilho tão forte que a própria luz ao redor da nave é sugada, juntamente com a energia acumulada na arma.
Sob a inevitável destruição... Suzanne e Soraya observavam a catedral tremer... As paredes ruíam aos poucos... Os objetos caíam e se quebravam e os vidros, despedaçavam-se...
"Uma de nós finalmente pereceu..."
"... Fora enganada pelo mal..."
"... E nossa hora chegou..."
"Nosso tempo passou..."
As duas bruxas observam a grande luz violeta se aproximar velozmente... Elas dão as mãos como um sinal de amizade eterna e, a seguir, são engolidas pela monstruosa força.
A catedral, então, desaparece em meio à energia destruidora do canhão da Phoenix...
-/-
"..."
Julian acorda sobre o que parecia ser uma maca improvisada ou coisa assim... Sentia o corpo um pouco dolorido, porém, nada comparado a antes... Observa algumas ataduras pelo seu corpo e, só depois, começa a escutar e a perceber quem estava a sua volta.
"Finalmente acordou. Você está bem rapaz?" Indaga um idoso senhor, sentado ao lado da maca.
"Estou... Mas..." O rapaz observa o senhor por alguns instantes, reconhecendo sua face. "... Espere aí! O senhor não é aquele que estava no campo de batalha, aquela hora?"
"Hehe! Vejo que se lembrou de mim! Ainda estou muito agradecido por ter nos ajudado. Nos deu até mesmo um cobertor, lembra-se?"
"Sim, claro que eu me lembro mas... Onde estamos?" Ele se levanta e fica sentado sobre a maca... Após observar o quarto inteiro, nota Spike, encostado na porta do aposento... Tentava desembainhar a Solar, mas, como antes, sem sucesso.
"Foi seu amigo quem nos chamou. Eu e mais algumas pessoas fomos resgatá-los assim que soubemos que ainda estavam em batalha."
"Isso mesmo." Concorda o rapaz, com a espada. "Não foi fácil, mas consegui usar aquela caixa que Natasha tem." Momentaneamente, ele se lembra de quando retirou o Walkie Talkie do meio dos seios da mesma.
"Puxa, obrigado Spike. Mas como está a comandante? Ela está bem?"
"Fique tranqüilo. Ela vai ficar bem, está em outro quarto... Felizmente as balas não atingiram nenhum nervo e conseguimos retirá-las com facilidade."
"É, tivemos sorte que o vôvo aí é médico." Diz Spike enquanto o senhor apenas sorri do comentário.
"... Que alívio... Mas... Porque não estamos no QG?"
"Bem, recebemos um chamado para que evacuássemos o local imediatamente... Ao mesmo tempo recebemos o pedido de ajuda de vocês... Depois que os resgatamos, decidimos não ficar no QG, por segurança. Então, os trouxe para a minha antiga casa. É simples... Mas é melhor que nada."
"Puxa, muito obrigado pela sua ajuda senhor!"
"Já havia me dito isso também!" O rapaz à porta coloca a espada na cintura e volta a falar. "... Mas qual o motivo dessa evacuação tão repentina?"
"Eu não sei ao certo... Sinto muito... Não nos disseram o motivo, apenas disseram que precisávamos sair o mais rápido possível... Os soldados iriam nos levar a um lugar mais seguro, mas nós ficamos entre ajudá-los e partirmos... E então..."
"Hum. Talvez já tenham descoberto onde fica o QG..."
KBOOOM!
Um grande estrondo é ouvido a uma grande distância, interrompendo Spike. A sala onde os três se encontravam vibra com o som alto e logo pára... Os três se entreolham, atônitos.
"O que foi isso...?"
"..."
Os três vão rapidamente até a porta de entrada da casa e observam, próximo a grande usina abandonada, a grande nave Phoenix, aproximando-se.
Os três parecem impressionados com o tamanho do grande objeto voador...
Bastante longe dali... Em meio a uma pequena praça, Eve levanta os olhos enquanto olha assustada para a colossal máquina de destruição aproximar-se da usina...
Ela tenta se livrar das fortes correntes que a prendiam... Mas cada movimento fazia as peças de metal a apertarem cada vez mais...
"Pequena bruxa... Espero que agora possa ver claramente a força da Blood Pledge... Espero que esteja preparada!" Fala uma voz, que ecoa por uma grande distância... Provavelmente, vinda da nave.
"... Não! NÃO! PAREM!"
O imenso canhão começa a emitir um forte brilho, carregando sua força... Julian e todos os demais são iluminados, mesmo estando distantes, pelo brilho da arma e, então, a mesma desaba sua poderosa energia com um poder descomunal sobre a Usina...
"Pro chão!" Grita Spike.
O QG desaparece na frente dos olhos de todos... Uma gigantesca explosão arremessa escombros e fragmentos do que havia restado da grande Usina.
Julian e os demais tentam se proteger enquanto a força do impacto arranca os telhados mais próximos, incluindo a da casa do idoso senhor.
Ao longe, Eve observa tudo sem reação... Sob seus olhos, estava o reflexo da grande Phoenix sobre os restos do QG...
"Não... Eu... Falhei..." Ela pensa, enquanto abaixa a cabeça, desesperada. "... Todas aquelas pessoas... Elliot... Jacob...!"
Passado o forte impacto, todos levantam-se novamente e Julian observa tudo, impressionado com a força da arma... Quarteirões haviam sido destruídos facilmente com a força da gigantesca nave...
Ele olhava fixamente para o canhão da nave, enquanto uma gargalhada ecoava pelo fone da nave.
"O que aconteceu...?" Fala Natasha, surgindo de dentro da casa... Com os cabelos embaraçados, como se houvesse acordado agora. "Ju? Spikezinho? Que barulho foi esse...?"
"..."
"Oh... Você não devia estar de pé comandante! Ainda está muito fraca por causa dos ferimentos!" Diz o senhor.
"Eu estou bem... Obrigada... Mas..." Ela olha na direção da cidade e observa, ao longe, Phoenix e a enorme destruição que havia sob esta. "... Meu deus... Não!"
"Acalme-se." Spike se levanta enquanto falava e limpava-se. "Não havia ninguém lá. A usina foi evacuada a tempo."
"O que? Tem certeza disso?"
"Sim. Portanto, não comece a chorar."
"... Na verdade, havia alguém..." Diz o senhor, observando o local destruído. "... Eu havia pedido para dois soldados que me acompanharam procurarem por quem quer que estivesse por lá... Oh meu deus..."
"Hah! Então pare de se martirizar velho! Veja quem vem lá."
Um segundo depois, é possível ver um veículo se aproximando rapidamente... Sobre um pequeno jipe, estavam dois homens... Provavelmente, os dois soldados mencionados.
O senhor exibe um semblante de alívio, assim que o veículo estaciona próximo aos rapazes e os dois saem de dentro do mesmo.
"Que Eve seja louvada! Felizmente vocês dois estão bem amigos!"
"... Saímos bem a tempo..." Diz um deles. "Foi por pouco."
"É, ainda bem que os esses jipes são rápidos."
"É verdade. Mas bem, encontraram alguma coisa enquanto estavam por lá?... Algum sinal de Eve?"
"Como assim algum sinal de Eve!" Fala Natasha, nervosa, se dirigindo ao senhor. "A Evezinha não saiu da usina?"
"... Há algumas horas atrás, elas saiu juntamente com quatro dos nossos, mas não retornou mais... Por isso, pedi para que estes dois fossem averiguar... Para checar se ela não teria voltado."
"... Bom, se ela não estava lá menos mal. Não estava, não é!"
"Eu acho que ela não estava." Diz Julian. "... Ouvimos quando alguém da nave falava com ela por um grande auto-falante... Ela deve estar longe daqui..."
"E-Então vamos buscá-la! Agora mesmo!"
"Mas como se nem sabemos onde ela está...?"
"Comandante..." Fala um dos soldados, aproximando-se. "Nós encontramos isso dentro da usina... Talvez tenha alguma ligação com o desaparecimento de Eve."
O soldado retira de um dos bolsos um pequeno papel e Natasha rapidamente o toma em mãos, lendo as letras feitas a mão.
"Certo! Aqui diz o endereço! Se eu conheço a Evezinha, ela foi tentar ajudar essas pessoas! Vamos até lá!"
"... Entendido!"
"Muito bem... É melhor irmos mesmo. Não temos muito tempo a perder." Fala Spike, entrando no jipe.
Todos começam a entrar no veículo, incluindo o velho senhor. Spike, com a Solar em mãos, observa Julian parado, estático, contemplando a nave Phoenix... Com o olhar semelhante ao da batalha contra Eagle...
Na mente do rapaz imagens começam a se formar do que aconteceria... Como uma premonição... Imagens do que aconteceria... Se ele não tomasse uma atitude...
"E então cara-de-lata, você não vem?"
"... Senhor! O local onde nos encontrou é longe daqui?"
"Bem... Não, mas porque a pergunta?" Indaga o velho senhor, surpreso.
"... Eve deve estar precisando de ajuda. Mas eu preciso... Fazer uma coisa. Vão sem mim! E rápido!"
"O que? Ju! Você vem com a gente!" Diz a comandante. "Não vou deixar você andar por aí agora que..."
"... Não! Eu tenho que fazer uma coisa! Apenas vão, ajudem Eve e..." Ele suspira profundamente. "... Confiem em mim."
"..."
"Ju..."
"... Certo rapaz." O velho senhor sorri, enquanto levanta uma das mãos. "Nós confiamos em você... Apenas tome cuidado está bem?"
Os demais ficam em silêncio, pouco a pouco concordando com as cabeças.
"... Obrigado. Agora vão, rápido! E acho que vocês encontrarão o Elliot também... Acho que ele tem algo haver com a evacuação. Vejo vocês depois!"
"..."
O garoto sai correndo, apressado, até o local mencionado, enquanto os outros finalmente adentram no veículo. Um dos soldados acelera o jipe, indo na direção apontada por Spike, que agora tinha o telegrama em mãos.
Natasha observa Julian se distanciar... Visivelmente preocupada.
-/-
Enquanto isso, de volta a pequena praça... A jovem bruxa permanecia presa fixamente ao obelisco de aço negro... Sentia um grande aperto no peito enquanto balbuciava triste e silenciosamente os nomes das pessoas que estavam na usina... Incluindo o do pequeno Jacob.
Mesmo o som repentino de um veículo freando perto dali não chama a sua atenção... Do jipe, surgem rapidamente Elliot e os dois soldados que o acompanhavam, de posse de dois rifles.
"É a senhorita Eve!" Diz um dos soldados, correndo até o obelisco, seguido pelo companheiro e o rapaz de óculos.
"Vamos tirá-la dali, rápido!"
Os dois soldados começam a puxar e a bater nas correntes com o cabo das armas, tentando libertar a jovem. Elliot tenta puxar as correntes na frente de Eve, tentando ajudar os soldados.
"Eve, você está bem?" Indaga o rapaz, preocupado, forçando as correntes. "... Não se preocupe, vamos soltá-la daqui!"
"Porque..." A bruxa escondia o rosto abaixado por detrás dos cabelos azulados, enquanto falava com uma voz profunda... Em meio a lágrimas, que caiam sobre o aço negro que a prendiam. "... Porque... Você não ficou com o meu irmão? As pessoas... Todas elas... Todas elas estão..."
"A salvo." Ele diz, sem parar de forçar as correntes.
"... O que?"
"Você deve estar assim porque viu o que aconteceu ao QG. Eu compreendo... Mas elas não estavam lá... Retiramos todos de lá antes que eles nos atacassem. Eu sabia que isso ia acontecer em pouco tempo... Então pensei que seria melhor tomar essa providência..."
"... Isso é verdade? Estão todos bem?" Com os olhos vermelhos das lágrimas, ela ergue a cabeça, surpresa... Mas abrindo um singelo sorriso, aos poucos. "Mas... Como, você ficou sabendo desse ataque Elliot?"
"..."
"Elliot...?"
O garoto se afasta momentaneamente das correntes, evitando olhar diretamente nos olhos da garota...
"Mas o que foi Elliot? Você parece... Nervoso..."
"Argh!" Os soldados logo atrás param momentaneamente de bater contra as correntes... Do aço negro, estáticas violetas, muito semelhantes à energia do Limiar, repele as armas dos soldados. Nem mesmo tiros rompiam o poderoso aço. "... É forte demais! Arrebentar isso vai ser mais difícil do que pensávamos!"
Nesse mesmo instante, todos param momentaneamente o que faziam. As atenções dos soldados e dos dois jovens é voltada para a grande nave Phoenix... Agora mais próximas da região onde se encontrava Eve.
"... Ora! Parece que o garotinho veio salvar a princesa, não é mesmo?" Fala uma voz, vinda da enorme nave. "Não adianta fingirem que estão tristes... Já percebemos que nos enganaram! Ninguém morreu na destruição do tal QG! De todo modo, a cidade é pequena para Phoenix... Destruiremos tudo e a todos se for preciso! Eu... Julgador, uma criação do Limiar!"
A tal revelação parece deixar todos espantados. O Julgador era, de fato, uma criação do Limiar!
Mas entre os olhares apreensivos, Elliot mantinha-se calmo, com um semblante ligeiramente irritado, cerrando fortemente os punhos, fitando a enorme nave que se aproximava lentamente.
"Então esse é o tal Julgador... Somente alguém ou alguma coisa feita a partir do Limiar poderia ajudar a arquitetar tudo isso. Eu já esperava por isso..."
"... Criação do Limiar? O Julgador...?" Pensa Eve, presa. Ao fundo ouvia-se o som das pancadas das armas dos soldados sobre a corrente negra.
"Vejo que não está surpreso moleque..."
"Não muito... Eu suspeitei disso desde o início, quando me falaram de você... Agora, tudo está se confirmando."
"Heh... É mesmo garoto? E o que seria? Você parece saber mais do que aparenta. Vejo que andou investigando enquanto esteve em Akaira, 'forasteiro'..."
Elliot cerra os punhos novamente e abaixa a cabeça, em silêncio... Os soldados tentam soltar Eve, em vão... A bruxa observa o garoto, sem entender o porque daquela reação.
"... Apareça." Ele continua, erguendo a cabeça novamente. "Eu já sei que é você que está por trás disso tudo garoto... Vamos, apareça!"
"Garoto...?"
A voz que era emitida da grande Phoenix emudece-se momentaneamente... Alguns segundos depois, uma segunda voz pode ser escutada no grande autofalante.
"... O senhor é inteligente senhor Elliot. Muito inteligente..."
"... Essa voz..." Diz Eve.
"Jacob."
A jovem bruxa arregala os olhos, incrédula, assim que escutara o nome do irmão sendo pronunciado por Elliot...
Naquele momento queria que aquilo tivesse sido um engano cometido pelo rapaz... Mas a voz jovial do autofalante entrava em sua cabeça a cada palavra dita... Em choque, a jovem bruxa continua escutando a voz longínqua...
"J-Jacob...? M-Mas... O que...?"
"Olá mana... Muito surpresa em me ouvir?"
"O que...? O que... Está acontecendo aqui? O que está acontecendo! Eu não consigo entender! Alguém me explique por favor! Porque a voz de Jacob está saindo de dentro daquela... Daquela coisa...?"
"..." Elliot, de costas para a garota, fitando a nave, começa a falar... "Jacob... O seu irmão... Estava por trás de tudo desde o começo Eve... Sinto muito por não ter lhe falado antes... Mas eu não tinha provas nem nada que comprovasse isso. Eu... Sinto muito."
"..."
Dentro da gigantesca Phoenix, sobre um pequeno palanque, o garoto Jacob, de fato, segurava o microfone metálico, enquanto falava e observava todos, logo abaixo, por um grande monitor próximo a um painel de controle, com muitos operadores. Ao seu lado estava o Julgador, que segurava o fragmento de Limiar em uma de suas mãos.
"Parece que o senhor Elliot foi o único a perceber..." Ele diz ao microfone. "Sinal de que ele é muito inteligente."
"... Mas até mesmo eu estou impressionado." Diz o Julgador, por outro microfone. "Poderia nos contar, apenas por curiosidade, como descobriu?"
Do lado de fora, Elliot falava para Jacob e o Julgador, na Phoenix, enquanto atrás deste, uma Eve em choque ouvia tudo... Seu olhar parecia perdido enquanto tentava raciocinar...
"... Eu tinha algumas suspeitas desde o início, mas pensei que fosse coisas bobas e sem sentido. Não consegui descobrir um motivo para tudo o que aconteceu aqui, infelizmente... Mas consegui juntar algumas das peças do que acontecia aqui. As primeiras, como eu já disse, não faziam sentido... Como o simples fato de você ter demonstrado não gostar muito do fato do Julian e todos nós estarmos por aqui. Também fiquei pensando quando Eve me disse que sua mãe, coincidentemente, havia retornado depois de muito tempo de ausência... E agora não estava sozinha..."
"..."
"Sua irmã disse que você não sabia do que havia acontecido com a mãe de vocês, mas eu duvidava que mesmo você, um garoto muito jovem, não soubesse de nada depois de tudo o que ela fez... Podemos também somar a isso o fato de que Eve confiava cegamente em você... Ela nunca tentaria ler sua mente ou coisa do tipo."
"..." Os soldados param o que faziam enquanto observavam o garoto falar. Sua voz ecoava pela cidade através dos grandes alto-falantes da nave... O julgador mantinha-se sério, enquanto o jovem Jacob sorria ao ver as palavras do garoto serem captadas pela nave e transmitidas pelos alto-falantes.
"... E já que estou falando em coisas bobas e 'coincidências', porque não, citar aquele repentino telegrama entregue para Eve, escrito com uma letra idêntica a que havia em seus cadernos? Além disso, é bem estranho um garoto da sua idade ler um livro que fala sobre a lenda do 100° descendente!"
"Lenda...?" A garota pergunta, confusa.
"Sim... O 100° descendente das bruxas de Akaira..." Responde o garoto, olhando para Eve, e em seguida fitando novamente a grande nave. A bruxa pensa no que poderia ser aquilo, ainda muito confusa... Não conseguia tirar a voz de Jacob de sua cabeça... "Diz uma lenda que o 100° descendente de uma das mais poderosas bruxas despertará o seu poder somente após todas as bruxas que vivem sobre Akaira serem eliminadas deste mundo. Só assim ele conseguiria o poder absoluto para reinar absoluto..."
"..."
"... Mas você sabia que não conseguiria destruir as bruxas tão facilmente... Sem contar que era muito mais prático destruí-las junto das pessoas que as apoiavam, para que você não tivesse resistência. Por isso, aceitou a ajuda do Julgador... E do Limiar. Também podemos citar outro pequeno fato... O de terem descoberto repentinamente onde se encontra o tal QG... Vocês o encontraram muito rápido, de uma hora para outra, e só poderiam fazer isso recebendo algum sinal ou coisa assim... Vindo de alguém de dentro do próprio QG... Alguém que sabia detalhadamente sua localização... E só estava esperando o momento em que Eve se distanciaria para que pudesse entregá-la, sem ser descoberto... Porque você sabe que, com todas as pessoas do lado de Eve, ela provavelmente os defenderia com todo o poder que ela tem... E você não conseguiria destruir ninguém!"
"..."
"Eu expliquei aos soldados pelo walkie-talkie quase toda a história e pedi para que retirassem as pessoas daquele lugar e as levassem para o pequeno e distante reino das bruxas de baixo nível... Eu sabia que você não se importaria muito com elas de início... Ah sim! Lembro que agora, fiquei assustado ao saber, pelo walkie-talkie, que a velhinha que o levou para 'passear', foi encontrada morta... E você havia desaparecido."
"..."
"E, ainda por cima... Você fez com que tudo pudesse ser feito no dia de hoje, o dia da Lua da Renovação! Você quer ter certeza que os poderes novos, os seus, vão tomar o lugar dos poderes de sua irmã e de todas as outras bruxas!"
"... Heh... Parece que esse garoto é genial!" Fala o Julgador, ao lado de Jacob.
"..."
"Eu posso ter me enganado em alguns detalhes... Mas acho que, no geral, isso é tudo... Eu poderia passar um bom tempo falando mais e mais... Porém, isso já é o suficiente... Acho que todos que escutaram entenderam... O recado."
"É..." Fala Jacob, pelo alto-falante. "Você tá certo... Realmente é muito inteligente!"
"Não... Eu... Não posso acreditar..." Eve, desesperada com tudo aquilo, fita a grande nave próximo a eles... "Jacob... Você fez tudo isso... Matou tanta gente inocente... Porque...? Porque Jacob?"
"... Porque desde o início você escondia de mim as guerras... A luta... E isso me deixava muito zangado! Então fiquei sabendo a muito tempo da Lua da Renovação... Decidi fazer tudo isso, depois que soube que eu era o 100° descendente. Desde o início eu só enganei a mamãe... E ela acreditou, quando eu a convenci de que o Limiar era uma coisa muito boa."
"... Você deu o Limiar para a mamãe? E por isso... Por isso ela ficou daquele jeito?"
"Sim. Com a ajuda do Limiar e do senhor Julgador, a mamãe achou que quanto mais pessoas morriam, mais seus poderes aumentavam..."
"... Na verdade, o Limiar estava armazenando toda essa energia no corpo frágil dela... E agora vocês podem ver esse resultado! A mais poderosa arma de guerra! A fantástica Phoenix! O sacrifício daquela bruxa foi fenomenal...! Hahaha!" Diz o Julgador, complementando a fala de Jacob.
"... A mamãe... Você deixou que matassem a mamãe Jacob!" Ela grita, desesperada, enquanto presa nas correntes. Elliot abaixa a cabeça, apertando seus punhos ao ouvir sobre a mãe da jovem. "E tudo por causa... De poder?"
"É isso mesmo..." Continua o garoto. "O jeito que você me tratava... Estava me dando nojo... Eu não agüentava mais, argh! Você me trata como uma criança o tempo inteiro! Mas eu sou e vou ser o mais forte de todos em Akaira mana!"
"Mas Jacob... Eu... Amo você... Eu... Amava você... Foi... Por isso que..." Ela fala, entre lágrimas.
"Pára com isso! Eu não agüento mais seu amor! Não agüento mais suas lágrimas! Eu... Não preciso do seu amor! O que eu preciso é ser forte! Muito forte!"
Próximo dali, em uma das muitas ruas da cidade... Todos sobre o Jipe escutavam, pasmos... Natasha permanecia imóvel e incrédula, enxugando os olhos, depois de tudo que ouvira pelos alto-falantes de Phoenix. Spike, logo ao seu lado, apertava com força o cabo da Solar, furioso...
"Aquele moleque...!"
"... Eu... Não acredito que... O Jacobzinho... O irmãozinho da Eve..."
"Ele enganou a todos nós." Fala o senhor que os acompanhava no veículo. "É triste... Mas é a verdade..."
Julian, que já havia chego ao local da batalha contra Eagle, fitava a Phoenix ao longe nos céus e escutava tudo. Seus olhos refletiam as luzes provenientes da grande nave, bem como a imagem da mesma.
Ao lado da grande carcaça do tanque Eagle, ele cerra os punhos com força, sentindo uma raiva tão profunda, que parecia estar no lugar de Eve em alguns momentos...
"Como ele pôde... Sua própria mãe... Sua própria irmã..."
Elliot fitava a jovem bruxa, que ainda tinha um olhar incrédulo no rosto... Ela abre um pequeno sorriso lentamente no canto da boca.
"Eu já sei! Ele... Ele está sendo controlado pelo Limiar, assim como a nossa mãe estava! É isso! Só pode ser! S-Se conseguirem capturar o tal Limiar ele..."
"Não, ele não está Eve!" Diz Elliot, serio. O sorriso da garota vai se desmanchando... "Ele nunca esteve sob controle do Limiar! Se ele estivesse, eu ou qualquer um dos outros teria sentido alguma presença. Mesmo o Julian, que sente melhor que ninguém a energia do Limiar, não detectou nada nele... Nada."
Com Elliot olhando em seus olhos seriamente, a jovem perde as forças que tinha para dialogar... Sabia que era verdade. Nem mesmo ela conseguia sentir qualquer energia vinda de Jacob... Teria sentido se isso fosse verdade...
Mas não queria acreditar nisso...
Entre as nuvens negras dos céus de Akaira, surge uma imagem rara, ao menos nestes últimos dias... A luz se revela finalmente, brilhante e gigantesca no céu... Era a famosa lua da renovação... Olhando o reino ferido sob sua luz.
"Bem senhores... O grande momento chegou. O descendente supremo do poder de Akaira, agora, estará um passo mais próximo de governar absoluto." Volta a falar o Julgador.
"Ah... Depois vai ser fácil matar aquelas bruxinhas mais fracas longe daqui. Assim como eu vou fazer com todos vocês... E você mana!" A voz do garoto não parecia se abalar sequer por um momento... Não era possível ver o seu rosto mas pelo tom de sua voz, supunha-se que estava sorrindo, com uma alegria macabra e mórbida.
Imediatamente o Jipe de Natasha, Spike e os demais chegam na pequena praça, iluminada por grandes holofotes vindos de Phoenix. Os soldados imediatamente freiam e saltam do veículo, indo ajudar os outros companheiros a soltar a bruxa.
"Elliotzinho!"
"V-Vocês por aqui? Mas... Porque não estão com as outras pessoas longe daqui?"
"Hah! Achou que ia virar o herói sozinho, quatro olhos!" Spike aproxima-se de Elliot e lhe dá um pequeno cascudo.
"Não é isso! Só que... É muito perigoso e... Ahn... Espera aí, cadê o Julian?"
"Ele está longe daqui..." Fala Natasha, agora ao lado de Eve tentando animá-la, que ainda fitava a nave sobre eles... E o grande canhão que começava a virar em sua direção. "E pediu para confiarmos nele."
"... Confiar? Mas o que ele vai...?"
Spike se junta aos soldados, logo atrás, e diz para se afastarem. Os soldados se entreolham e dão de ombros, depois de muitas tentativas sem sucesso de desturir as correntes. Ele ergue a Solar sobre sua cabeça e desfere um forte golpe contra o aço negro.
As correntes caem em pedaços no chão e Natasha retira Eve de perto do grande monolito negro.
"... Snif..."
"Evezinha..."
Sobre os braços de Natasha, a bruxa ergue a cabeça com um semblante de desespero... Através de suas lágrimas ela observa a grande nave e o enorme canhão acima deles.
Ela estica as duas mãos lentamente... E um brilho azulado as envolve...
"Desista mana... Você não tem coragem de atacar a mim... Nem mesmo teve coragem de atacar a mamãe. Abaixe as mãos... E desista, tá?"
"..."
A garota abaixa as mãos lentamente enquanto a aura ao redor das mesmas desaparece aos poucos... Ela então se ajoelha e pões as mãos no chão, com a cabeça baixa... Suas lágrimas brilhantes molham o chão de pedra enquanto balbuciava o nome do irmão...
"Calma Evezinha, por favor..."
"Natasha... Snif... O Jacob... Ele... Ele...!"
"Eu sei... Eu sei..." A comandante abraça com força a garota, tentando acalmá-la e Elliot, logo atrás, via tudo... Sentindo-se extremamente mal por não poder fazer nada naquele momento.
O canhão pára de se mover e, em seu interior, um brilho violeta começa a se formar... Eve continua nos braços de Natasha, molhando seu ombro... Elliot, Spike, os soldados e o velho senhor, que agora se aproxima, fitam a luz próxima da nave ser literalmente sugada pela arma, que carregava o disparo.
"... Vamos todos sair daqui, rápido!" Fala o senhor. "Se ficarmos, será o nosso fim!"
"... Não vai adiantar velho." Spike coloca a Solar em sua cintura, enquanto fitava o canhão brilhante no céu. "... Mesmo que fujamos, essa coisa com certeza vai nos alcançar."
"É verdade..." Elliot, impressionado pelo fato de Spike saber daquilo, também olhava o grande canhão... Mas não conseguia deixar de escutar o choro de Eve ao fundo. "... Essa coisa deve ter muita força..."
"Evezinha..." Diz natasha tentando acalmá-la.
"Mas... Então porque viemos até aqui? Pensei que salvaríamos a senhorita Eve!"
"E salvaremos. Apenas precisamos esperar pelo cara-de-lata..."
"... O garoto? Mas ele está longe daqui! O que ele pode fazer!" A luz violeta ilumina toda a área aos poucos... A energia sobre eles ia se acumulando cada vez mais.
"Eu não sei. Seja o que for..."
"... Vai dar certo." Completa Natasha, logo ao lado, ao escutar a conversa.
"..."
O velho senhor se cala e então abaixa a cabeça, logo depois, concordando com a comandante... Precisava mesmo dar um voto de confiança ao tal garoto. Todos, agora, dependiam de Julian...
Longe dali, Julian notava o enorme canhão de Phoenix carregar a sua estrondosa energia... Apressadamente, ele olha para todos os lados e fita a carcaça do grande tanque Eagle...
"... Eu preciso fazer alguma coisa... Eu não vou... Não posso deixar que eles matem o Elliot e os outros!"
O rapaz imediatamente tem um brilho no olhar e se dirige para a carcaça do tanque. Retirando com grande força a tampa de entrada, ele chega até o interior do veículo... Tudo estava em péssimo estado, já inutilizado. Havia fios expostos, lançando faíscas para todos os lados e as telas e painéis estavam destruídos...
"Droga..." Ele aperta alguns botões no painel mais próximo, mas a máquina não exibe qualquer reação. "Funciona! Funciona!"
Ao ouvir, do lado de fora, as gargalhadas do Julgador e de Jacob, ele aperta todos os botões de outro painel mas ainda sem sucesso. Desesperado, ele bate com as duas mãos sobre os botões, implorando que alguma coisa acontecesse.
Do lado de fora, ao longe... A luz violeta finalmente se estabiliza. O canhão de Phoenix estava enfim carregado.
"Agora é hora de partirem." Diz Jacob, com calma. "... Adeus a todos."
Julian arregala os olhos... E ele sua frio... Todos iriam morrer... Todos!
"AAAAAAAAHHHH!"
O rapaz crava os dedos com violência no painel à sua frente. Imediatamente, um som ecoa pelo veículo... Como o de um motor... Logo as luzes dos painéis e de vários botões, bem como as lâmpadas que iluminam o local, ainda destruídas, voltam a se acender!
Microscopicamente... Os milhares de nano-robôs ao redor do rapaz podiam ser vistos espalhados por todo o enorme tanque. Cada minúscula unidade apresentava uma função dentro da máquina... Algumas consertavam velozmente o tecido metálico de Eagle, enquanto outras alimentavam as partículas de plasma, e outras ainda faziam a eletricidade correr pelo sistema... Tudo incrivelmente organizado...
"Sistema Eagle ativado." Fala uma voz, vinda de dentro do veículo.
Julian fita por uma das fendas na máquina a grande nave, prestes a destruir todos... O canhão principal de Eagle move-se lentamente e aponta para Phoenix... Um brilho azulado começa a se formar em seu interior...
E em meio a um grito de Julian... O canhão de plasma de Eagle é disparado com uma força descomunal! O gigantesco feixe contínuo azulado rasga os céus, atingindo com toda a força a nave Phoenix... Próximo ao 'cockpit' principal.
"Estamos sendo atingidos!" Diz um soldado, dentro da enorme nave.
"O que? Mas Julgador... Você disse que ninguém poderia nos atingir!" Fala Jacob, incrédulo.
"Mas que maldição! Quem está fazendo isso!" Um pequeno tremor começa em toda a nave... O próprio julgador e os demais seguram-se rapidamente para não caírem ao chão.
"Não sabemos! Mas está adentrando no sistema principal e... CRASH! ARRGHH!"
"ARRRGH!"
O enorme painel de controle explode completamente, arremessando os soldados para longe... Em segundos tudo se encontra em chamas, e o caos é espalhado! Enquanto o Julgador grita ordens para que os soldados mantenham o controle, o garoto Jacob range os dentes, irritado...
E um instante depois, o chão sob eles se desfaz completamente... O feixe de plasma atravessa toda a grande sala, destruindo tudo ao redor... Os soldados e o Julgador são engolfados em meio a luz azul, desaparecendo por completo, este último, em meio a um macabro grito de agonia...
Jacob é erguido no ar pelo plasma poderosíssimo... Ele fecha os olhos enquanto vê tudo ao seu redor se desmanchar, exatamente como o seu corpo...
Antes disso... Ele nota uma figura em meio às chamas do plasma destruidor... Uma figura angelical e flamejante.. Que se aproximava dele, ameaçadora... Como em seus pesadelos...
"Não! NÃO! ARGH!"
Várias explosões começam por todos os lugares da grande nave, enquanto o rastro azul atravessa a mesma... Indo em direção aos céus.
As explosões arremessam pedaços e escombros para todos os lados, alguns, muito próximos de Eve e os demais... Elliot e os outros se abaixam, protegendo-se como podiam dos projéteis flamejantes.
Natasha abraça Eve forte e a protege, enquanto esta observava a enorme nave iluminar os céus com suas chamas... Seus olhos pareciam incrivelmente surpresos com tal cena.
Nunca havia visto tanto fogo...
E em meio àquelas chamas, estava seu irmão... E sua mãe...
"Eve..."
"..." Ela fecha os olhos lentamente, enquanto sua cabeça cai pesadamente, desacordada. Natasha suspira, enquanto passa a mão sobre seus cabelos, preocupada.
"O que foi isso!" Indaga o velho senhor, surpreso, fitando o rastro azulado.
"Foi o Julian..." Diz Elliot, enquanto observava Phoenix cair lentamente para a destruição certa... Aquilo finalmente tinha chegado a um fim... "... Mas a que preço..." Ele pensa, distante...
-/-
2 dias depois...
"... Como ela está?"
"Ela já acordou há algum tempo. Natasha está lá dentro com ela, desde então."
"Hum."
Dias após todo o incidente com a Blood Pledge... Elliot e Spike se encontravam no corredor de um grande edifício. O rapaz de óculos permanecia sentado sobre um grande banco, próximo a uma porta branca. Spike, com os braços cruzados conversava com o mesmo, encostado na parede à frente de Elliot.
"Desde que tudo acabou, você têm agido estranho." Fala Spike. "O que há quatro-olhos? Será que esqueceu que a bruxinha está bem?"
"Eu sei disso..." Ele responde, em voz baixa. "... Mas me sinto mal... No fim, não consegui cumprir a promessa que fiz a ela..."
"..."
"... E, depois de tudo, o preço que tivemos de pagar por este Limiar... Foi grande demais..."
"Não diga asneiras!" Fala o rapaz, seco, abaixando o tom de voz assim que escuta um 'sshh' vindo de algum lugar... "De um jeito ou de outro, aquele moleque iria acabar tentando destruir a bruxinha e todos os outros."
"..."
"Além disso... Você talvez não tenha conseguido cumprir a tal promessa, mas, fez o que deveria ter feito. Você salvou muita gente... E ela está grata por isso."
"... É... Talvez..."
"É claro que sim!"
"... Mas... Isso não faz com que eu me sinta melhor..."
"..."
"Eu só espero que ela fique bem..."
Dentro do pequeno aposento, sobre uma maca com lençóis brancos... Estava a jovem bruxa, sentada, encostada na cabeceira da cama... Com um semblante sério e distante...
Ao seu lado, sentada em um pequeno banquinho, estava a comandante Natasha, também séria... O silêncio da sala era apenas quebrado pelas vozes dos dois rapazes, do lado de fora, ao corredor.
"..."
"..."
"Natasha..."
"Evezinha?" A comandante sorri ao ouvir, enfim, a garota pronunciar uma palavra, depois de um bom tempo.
"..."
"Hum?"
"... Não foi um sonho, não é?"
"..." A comandante morde levemente o lábio inferior... "... Não Evezinha... Foi tudo real..."
"Eu... Já esperava..." Ela sorri, abaixando a cabeça, com os cabelos em frente ao rosto.
Novamente a sala é tomada pelo silêncio... O tic-tac de um pequeno relógio de pêndulo, pendurado em uma das paredes, é tudo o que se escuta por ali...
"Estão... Todos bem? Elliot... Julian... E Spike?"
"Hum-rum..." Responde a comandante. "... Mas... E você Evezinha, já está bem?"
"... Sim." Ela fala sorrindo. Era claro para Natasha que aquilo era uma tentativa de não preocupá-la... Era impossível que estivesse bem depois de tudo...
"Eu... Ahn..." Natasha, sem jeito, tenta iniciar uma frase... Ela brinca com os próprios dedos sobre o joelho, tentando quebrar o gelo... "... Er..."
"Hum? Sim? Pode falar..."
"Er... É que... Uma das enfermeiras me disse que você queria falar algo comigo... E você tinha dito a ela que era algo muito importante..."
"... Sim..."
"Quer falar agora sobre isso? N-Não precisamos se você não quiser..."
"... Acho que quero sim... É melhor... Falar o quanto antes."
"Tudo bem... Sou toda ouvidos."
"..." Eve fica em silêncio mais uma vez e Natasha sua frio, embora não soubesse o porque. Talvez fosse o seu medo de falar algo que pudesse fazer a bruxa chorar... "Natasha eu..."
"Sim...?"
"Quero lhe falar algo bastante sério, mas... Antes, me diga uma coisa, até quando Elliot e os demais irão ficar em Akaira?"
"..." Mesmo sem entender o porque da pergunta, Natasha responde. "O Ju me disse que eles iriam embora hoje, mais precisamente daqui a pouco. O tal portal que eles aguardavam já se abriu há algumas horas... E eles não podem esperar mais."
"Entendo."
"... Mas... Porque a pergunta, Evezinha?"
"... Eu quero lhe pedir um favor... Um grande favor..."
"... C-Claro! Peça...!"
-/-
Akaira estava mudada, após estes dois dias... A começar pela mudança mais visível de todas: o céu.
As nuvens cinzas que, por tanto tempo fechavam e escondiam as estrelas e o sol daquele mundo agora haviam desaparecido. O que se via naquele momento era um sol radiante, sobre um céu azul e limpo.
Sob os céus de Akaira, nas grandes cidades, muitas e muitas pessoas circulavam pelas ruas... A maioria estava empenhada na reconstrução de suas casas e moradias, bem como os grandes edifícios e arranha-céus...
Em um grande terreno, sobre um enorme monolito de concreto, encontrava-se Julian... Ele fitava as pessoas ao longe, empenhadas com o que faziam, e, em dados momentos, desviava o olhar para uma grande massa de energia e luz tênue, a alguns metros a sua frente. Tratava-se de um dos portais dimensionais...
Com os cabelos balançando com a brisa que passava pela cidade, ele abre a palma da mão direita, fitando o Limiar de Akaira...
"Julian, você está aí!"
O rapaz olha na direção da voz que o chamara e observa Spike e Elliot se aproximando... Ambos observam o grande portal a frente, enquanto falavam com o rapaz, acima do monolito.
"Ah... Elliot, Spike. Vocês já se despediram de Natasha e Eve?"
"... Não." Elliot suspira, com um olhar triste. "... Eu... Não acho que vá ser necessário..."
"Eu falei com a comandante Natasha há algumas horas... Disse a ela que partiríamos logo... Também disse para falar isto para Eve, assim que ela acordasse."
"Certo..." Elliot observa Spike, logo ao seu lado, coçando o queixo, pensativo, enquanto observava a cidade. "... Ué... Você tá PENSANDO ou é só impressão?"
"... O QUE VOCÊ QUER DIZER COM ISSO SEU...?" Grita o rapaz, brandindo a Solar enquanto Elliot segurava um riso. "Eu... Só estava pensando o que aconteceu com os soldados da tal Blood Pledge. Afinal, eles tinham um exército muito grande. Não havia tantos corpos assim quando... Aquela coisa voadora gigante caiu."
"Hum é verdade..."
"..." O rapaz sobre o monolito fecha o punho direito e então, com um rápido movimento, ele coloca o Limiar em sua perna, junto com os demais. "Algumas pessoas me disseram que, quando foram averiguar o local onde a base ficava, encontraram todos os soldados derrotados... Suas armas tinham sido inutilizadas e eles não tiveram qualquer chance de vencer..."
"..."
"Mas quem diabos pode ter feito isso? Vencer um exército inteiro! Será que as tropas de Eve...?"
"Eu duvido que tenham sido elas. Mas... No momento, acho que não tem como a gente saber..." Responde o garoto. Ele desliza até o chão, descendo do monolito e limpando-se. "Bom, acho que é hora da gente ir..."
"Também acho! Já enjoei de tantos edifícios a nossa volta. Argh." Fala Spike, coçando a nuca.
"Certo..."
Os rapazes vão se dirigindo até o grande portal luminoso. Algumas pessoas mais próximas dali se aproximam e observam os rapazes. Muitas acenam, desejando-lhes boa sorte e que tomassem cuidado.
Enquanto os três agradeciam as calorosas despedidas, todos desviam sua atenção para um homem mais distante, que grita alto.
"É a senhorita Eve! E a senhorita Natasha também!"
"... O que?"
Os três param imediatamente e dão meia volta, ao verem as muitas pessoas por ali abrindo caminho para Eve e Natasha... As duas se aproximavam apressadas, correndo o máximo que podiam.
Ao chegarem em frente aos três rapazes, as duas tomam um pouco de fôlego, exaustas.
"Esperem! Por... Favor..." Fala Eve, tomando ar.
"Comandante Natasha...? Eve? Mas o que..."
"Vocês... Não podiam... Ir... Sem antes... Ouvir algo que... Temos a dizer..." Fala Natasha, com a sua arma, presa em suas costas.
"... Mas o que foi? V-Você não devia sair do hospital e correr desse jeito..." Diz Julian, preocupado.
"..." Após recuperar o fôlego, a bruxa volta a falar. Enquanto as pessoas ao redor também escutavam. "... Enquanto eu estava adormecida... Eu... Tive um sonho..."
"..." Os três escutavam atentamente... Elliot, ao lado de Julian, fazia o mesmo... Embora devesse imaginar o quanto Eve o odiava agora...
"... E bem... Eu... Queria... Pedir... A vocês..."
"Hum?"
"Queremos ir junto com vocês, rapazes." Fala Natasha sorrindo.
"O que?"
"M-Mas... Irem conosco? Er..."
Os rapazes e as pessoas ao redor se mostram surpresas... As pessoas cochicham várias coisas umas nos ouvidos das outras, enquanto outras se perguntam o porque daquele pedido.
"Por favor Julian... Nos deixem acompanhá-los. Eu sei que você deve estar pensando o porque disso tudo, mas, é muito importante para mim seguir viagem com vocês..."
"Mas... É muito perigoso... Nós não sabemos quem iremos encontrar atrás desse portal, e muito menos onde vamos dar..." Diz um Julian nervoso, com uma gota na cabeça. "... E, também, quem cuidaria de todas estas pessoas?"
"... Acho que nós podemos fazer isso!"
Os três observam três figuras coloridas saírem do meio da multidão... Elliot imediatamente as reconhece... E abre um pequeno sorriso no canto da boca.
"Mas... O que..."
"Nós podemos ajudar e 'tomar conta' de todas as pessoas por aqui!" Diz a bruxa Sally. "Agora que as guerras acabaram... Será um prazer fazermos o possível para ajudar!"
"... A lua da renovação cumpriu o seu dever." Diz a misteriosa Erica, com seu grande chapéu. "O novo poder surgiu, tomando o lugar do velho... E este poder... Está agora, ao nosso redor... São todas as pessoas que agora, trabalham unidas, para reconstruir o mundo..."
"É isso mesmo! Além disso podem confiar em nós! Não é mesmo garoto de óculos bonitão?" Wendy, a bruxa de cabelos avermelhados, dá uma piscadela para Elliot, que com uma grande gota na cabeça, concorda levemente com a cabeça...
"... Você conhece estas três?" Cochicha Julian.
"Er sim... Elas são boas pessoas. Foram com elas que todas estas pessoas ficaram durante o ataque ao QG..."
"Hum..."
Eve olha para as três bruxas e sorri, agradecida... As três retribuem do mesmo modo...
As pessoas ao redor se entreolham e, então, um senhor, já conhecido por todos ali toma a palavra...
"... Vá com eles senhorita Eve... Comandante Natasha..." Ele diz, amigavelmente. "... É hora de erguermos Akaira novamente com as nossas próprias mãos... E, também, confiamos em vocês para ajudar esses jovens..."
"... Obrigada! Muito obrigada senhor...! Obrigada... A todos...!"
Todos fazem silêncio, logo a seguir, enquanto esperavam pela resposta de Julian...
"... É mesmo importante para você?"
"Sim... Muito importante!"
"E onde a Evezinha for, eu irei junto para defendê-la!" Natasha ergue sua arma e a gira no ar, alegremente.
"Bem... Então... Já que todos estão de acordo... Acho que vocês podem vir conosco... Nós não vamos negar a companhia de vocês..."
"Aaaahh! Ótimo Julianzinho! Então vamos! Vamos!"
Natasha abraça Julian com força, enterrando seu rosto entre seus seios mais uma vez... O garoto sente o seu corpo ferver... Ao mesmo tempo em que fica mais vermelho que um tomate.
Eve agradece, sorrindo... Ela anda ao lado dos garotos, fitando o portal.
"... Bem vinda Eve..." Fala Elliot, sem olhar para a bruxa. "... Tem mesmo certeza de que... Quer vir conosco?"
"... Hum-rum!" Ela diz, sorrindo... O que deixa Elliot surpreso, ao ver que, pelo menos em aparência, esta não se referia a ele com raiva...
"Certo! Chega de melodramas! Vamos de uma vez!" Spike entra na grande luz, desaparecendo rapidamente, emburrado.
"Calma Spikezinho! Não seja apressado!"
"Argh!" xx
Natasha entra logo depois, arrastando Julian pelo pescoço, sem perceber...
"E então...? Você disse que tinha tido um sonho..."
"Sim..."
"E... Eu posso saber... O que era?"
"..." A jovem sorri com ternura para o garoto de óculos. "Um dia eu lhe conto tudo..."
"Não está com medo?"
"Não..." Ela fita o portal. "... Porque eu estou com vocês."
Elliot sorri e, juntos, adentram na forte luz mística... As pessoas observam os rapazes, a comandante e a bruxa partirem de Akaira, sob aplausos e acenos...
E, enfim... Akaira tenta retornar a sua vida normal... Depois da presença maléfica do Limiar...
-/-
Algumas horas depois...
Sob uma noite incrivelmente estrelada... Uma figura com longos cabelos observava o portal, ainda aberto... Mas prestes a desaparecer por completo. As pessoas já haviam tomado os seus caminhos e a passagem dimensional havia sido momentaneamente esquecida...
Subaru coloca uma das mãos dentro de sua roupa, como se procurasse por algo. Rapidamente, ela retira um pequeno e prateado objeto, colocando-o sobre seus longos fios negros... Uma nova presilha...
Ela anda lentamente até a passagem e a atravessa... Partindo daquele mundo...
O portal, após alguns segundos, desaparece por completo...
-/-
