Neverending
War...
Cap. 12 - Um Refúgio em Seus
Olhos
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... No centro de um pequeno apartamento, se encontrava alguém, com um violino sobre as mãos... Tratava-se de uma garota com cabelos longos de cor verde marinho. O som delicado do instrumento de corda preenchia o aposento docemente. Logo atrás da mesma, havia um piano belíssimo, e outros instrumentos, estes, guardados em suas respectivas caixas.
"..."
Ela pára momentaneamente de tocar e, abaixando a mão com o objeto que usava para tocar nas cordas, ela fita as luzes da cidade por uma das janelas do aposento, aberta. As cortinas balançavam lentamente com o vento frio que entrava. Ao mesmo tempo, flocos de neve caiam sem parar lá fora.
A garota coloca o violino sobre o piano logo atrás e anda até a janela, fechando-a. Aproveita aquele momento e vislumbra a neve que caía sem parar...
"..."
Um instante depois... Ela coloca uma das mãos sobre o seu seio esquerdo, apertando com força... Como uma farpa que trespassava o seu coração, uma dor aguda e forte repentinamente surge...
Inclinando o corpo com a dor, ela logo dá alguns passos para trás, desequilibrando-se. Antes de cair, ela ainda tenta se segurar no grande piano, porém, em vão. Sua mão toca no violino que, assim como ela, desaba pesadamente ao chão...
Minutos depois, pode-se ouvir o som de uma chave e a porta do apartamento se abre. Uma segunda pessoa entra no local... Uma garota de cabelos curtos e loiros, mas que trajava roupas masculinas.
"... Mas que silêncio... Michiru! Você está aí?"
Ela fecha a porta e, após trancá-la com a mesma chave, anda calmamente até a sala de estar. Assim que adentra no aposento, ela observa, pasma, o violino ao chão, quebrado, e, ao seu lado, a garota de cabelos azuis, caída e desacordada.
"... Michiro?"
Assustada, ela corre até a mesma e ergue sua cabeça sobre seus braços. Ela chacoalha levemente o corpo da mesma, mas sem sucesso...
"Meu deus... Mas o que aconteceu aqui...?" Ela pensa, preocupada.
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A cama de longos lençóis brancos não parecia mais tão confortável para a garota de longos cabelos loiros sobre esta. Em um bonito quarto, visivelmente feminino, uma jovem vira de um lado para o outro, tentando fechar seus olhos.
Sem uma gota de sono, ela se senta sobre a cama e encosta-se à cabeceira, suspirando com um olhar triste e abraçando os próprios joelhos, encolhendo-se. Os olhos azuis olhavam os pequenos detalhes do lençol, enquanto o pensamento vagava distante...
"... Darien... Amigas..."
"Meow..." Ao lado da cama, uma gata preta com grandes olhos rubros ergue sua cabeça e boceja. Sobre sua testa havia o pequeno símbolo de uma lua. "... O que foi Serena? Ainda não conseguiu dormir?" Indaga a gata.
"Não. Estou sem sono..."
"Hum... É porque Darien e as outras meninas não estão na cidade não é?"
"Sim..." Serena sorri por alguns instantes, voltando a mostrar uma expressão triste logo depois, abraçando seus joelhos. "Sinto muita falta de todos eles... Darien foi para o exterior atrás de uma grande oportunidade de trabalho. Acho que ainda vai demorar para voltar. Estamos nos falando por telefone mas... Não é a mesma coisa..."
"Oh, mas e quanto as meninas?"
"Ah, Ami e Mina também foram para o exterior. A Ami começou a estudar em uma faculdade muito importante, e a Mina foi para a Inglaterra, passar um bom tempo com os parentes dela."
"Bem... A Lita e a Rei ainda estão na cidade, não estão?"
"... É, mas a Lita agora está trabalhando muito duro em um emprego novo que ela conseguiu. Ela quase não tem tempo livre... E a Rei..."
"... Meow?"
"Ei...!" Ela diz, ficando de joelhos sobre a cama. "Agora eu me lembrei que a Rei estava muito ocupada, participando de um concurso de canto... Mas, a essa altura, o concurso já deve ter terminado!"
"Ora, então porque você não aproveita e passa pelo templo dela? Talvez ela já esteja de volta, não é mesmo?"
"Hum, é, você tem razão! Vou passar por lá hoje mesmo! Obrigada pela idéia Luna!"
"Er... Mas eu não fiz nada..."
Ainda com um grande sorriso no rosto, Serena volta a se deitar e cobre-se com os lençóis de sua cama, pensando na visita que faria a sua amiga. Luna observa a garota, pouco antes de saltar até a pequena escrivaninha próxima a janela do quarto.
Os flocos brancos de neve caiam lentamente enquanto a gata os acompanhava com os grandes olhos rubros.
"Já faz tanto tempo que todas as batalhas terminaram... Desde então, as garotas têm vivido tranqüilamente..." Pensa Luna, observando a cidade e a noite fria e escura. "... Mas parece que elas estão um tanto afastadas, desde algumas semanas para cá. Detesto admitir isso, mas mesmo com o perigo... Durante a época que havia inimigos, as garotas eram tão mais felizes... Elas lutavam sempre juntas para defender o mundo do mal..."
A gata se deita e enrodilha-se sobre o próprio corpo. Com a cabeça apoiada sobre as patas ela agora observava Serena, sobre a cama, já adormecida...
"... Não que agora elas não sejam felizes mas... Serena têm estado tão triste ultimamente..."
Logo, Luna abaixa a cabeça e fecha os olhos, tentando dormir... Lá fora, os flocos de neve caiam sem parar, enquanto uma brisa gelada batia suavemente no vidro da janela.
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"Eu to indo!"
"Serena, aonde você vai? Está fazendo muito frio lá fora..."
"Vou até o templo da Rei, mas não se preocupe mamãe, estou bem agasalhada!"
Várias horas depois, a garota de longos cabelos loiros e presilhas vermelhas se encontrava na sala da própria casa, colocando um par de sapatos pretos, sentada sobre um dos sofás. No mesmo local, sua mãe trazia em mãos um cachecol azul, que coloca em volta do pescoço da garota, enquanto esta terminava de se calçar.
"Pronto. Assim você não pega um resfriado."
"Obrigada!" Ela se levanta e se dirige até a porta, abrindo-a e saindo rapidamente. "Agora sim eu to indo! Até mais tarde mamãe!"
"Serena! Por favor, não volte muito tarde! À noite vai esfriar ainda mais!"
"Tá! Eu prometo!" Ela grita, lá de fora, já se afastando.
Da mesma janela da noite anterior, Luna observava Serena, enquanto esta se afastava, correndo pelas ruas enevoadas da cidade.
"Serena..."
Na cidade, havia muita gente nas ruas, cada uma cuidando de suas vidas... Serena corre, entusiasmada pelo meio das pessoas, pensando unicamente em ver Rei, mas logo, pára em uma esquina próxima, tomando fôlego, e então andando calmamente na direção onde ficava o templo da Senshi.
Enquanto andava, a garota de longos cabelos loiros já não pensava no frio que fazia ali fora... Na verdade, de um certo modo, era até bom... Bom ver a neve cair em delicados flocos e encher as ruas com montes brancos e frios. Serena sorri a medida que passa por uma pequena praça e vê várias crianças brincando em meio a neve... Ela observa por alguns instantes, até que um floco de neve cai em seu nariz, fazendo-a espirrar e voltar ao seu caminho.
"Espero que ela esteja no templo... Vai ser bom falar com ela... Estou com tantas saudades das meninas!" Ela esfrega as mãos uma na outra, aquecendo-as com a boca... Algumas imagens vem a sua cabeça naquele instante... Lembranças... Dentre muitas delas, as brigas que tinha com a Senshi de Fogo. "Mas acho que, em especial, da Rei... Heh... Acho que ficamos tanto tempo juntas que..."
A garota pára imediatamente com seus pensamentos e "volta a si", ao passar em frente a um grande edifício branco em meio à cidade. Da porta de entrada, feita de vidro, uma outra garota conhecida surge, visivelmente preocupada. Serena levanta uma das sobrancelhas, surpresa por encontrar tal pessoa por ali.
"Haruka?"
"Hum...? Ah, é você..." Ela diz, desanimada, colocando as mãos nos bolsos. "... Como vai?"
"Haruka... O que aconteceu? Faz tempo que eu não vejo você e, quando encontro, está saindo de um hospital..." Serena diz, aproximando-se.
"Ah, não se preocupe... Comigo está tudo bem... Mas..."
"... Que bom, mas... O que estava fazendo no hospital? Visitando alguém conhecido?"
"... Mais ou menos. A Michiru passou mal na última noite e..."
"A Michiru?" Indaga Serena, assustada, com as mãos ao lado do rosto. "Mas o que aconteceu com ela?"
"Calma, ela teve um desmaio enquanto treinava com o violino, só isso. Eu a trouxe imediatamente para cá..." Ela olha para o hospital, mais precisamente, para um dos andares mais altos. "... Mas felizmente os médicos disseram que não foi nada muito grave. Parece que ela não tem se alimentado direito."
"Puxa..." Ela olha para a porta do hospital, observando as muitas pessoas que circulavam lá dentro, além de enfermeiros e enfermeiras. "... Será que eu não poderia fazer uma visita agora? Eu estava indo visitar uma das meninas, mas... Acho que não vai ter problema se..."
"Heh... É bom ver a sua preocupação, mas infelizmente o horário de visitas terminou. Pode vir amanhã, se quiser, já que ela vai continuar aqui para fazer mais alguns exames."
"Aahh... Se eu soubesse disso, teria vindo mais cedo..."
Haruka desvia o olhar, ainda com as mãos no bolso, enquanto ambas ficam por alguns momentos em silêncio. Serena apenas observava para o interior do hospital, sentindo não poder fazer nada por Michiru, nem mesmo vê-la...
A garota de roupas masculinas anda calmamente na direção da calçada em frente ao edifício e abre a porta de um carro, entrando em seguida.
"... Bem, já que você não pode ver a Michiru, então eu te dou uma carona."
"... Daria mesmo? Obrigada!"
"Claro, entre aí..."
Serena corre até o carro e senta no banco de carona, enquanto Haruka liga o veículo e logo partem dali... A mesma observa o hospital ficar para trás, pelo retrovisor do carro.
A neve caía sem parar em forma de flocos finos e cristalinos sobre as ruas da cidade. Serena observava as pessoas pela cidade, varrendo a frente das lojas, pisando fundo no cobertor branco para chegar até outro lugar, e até mesmo crianças fazendo grandes bonecos com a neve...
"E então?" Indaga Haruka, sem tirar os olhos da estrada. "Para onde está indo?"
"Ah, estava indo para o templo Hikawa e..."
"Templo Hikawa? Ah sim... É onde vive aquela sua amiga, a Rei."
"Isso mesmo... Estou indo visitá-la. Ela é a única que ainda está aqui, na cidade... Todas as outras estão fora ou estão ocupadas demais..."
"Hum... Mas eu sempre pensei que vocês não se desse muito bem... Afinal, estão sempre brigando."
"Er... Não é bem assim..." Diz Serena, com uma gota na cabeça, sem jeito. "... São só algumas briguinhas. Não tenho culpa se ela é meio chata as vezes."
"Heh, se você está dizendo... Mas porque ela não está fora da cidade, ou ocupada, como as outras meninas?"
"Bem, na verdade, ela estava... A Rei havia entrado em um concurso de canto, mas acho que a essa altura já terminou. Por isso vou vê-la..."
"Ah, entendo... Parece que suas outras amigas não estão disponíveis, logo, é a opção que restou."
"N-Não é isso...!" Serena fala, visivelmente constrangida.
"... Heh... Calma, eu estava apenas brincando." Diz Haruka, dando um pequeno sorriso, ao mesmo tempo que dobrava em uma rua. Serena encosta a cabeça no banco, com as bochechas vermelhas, enquanto volta a olhar para a rua e a paisagem urbana que passava. "Então ela estava em um concurso de canto, não é?"
"... Estava sim... A Rei canta muito bem! Eu espero que ela tenha se saído bem!"
"Hum..." Haruka dobra em mais uma esquina, dirigindo-se agora por uma rua mais arborizada, com poucas pessoas. As árvores estavam carregadas com montes e montes de neve branca e fria, bem como as calçadas e os demais carros. "E quanto ao seu namorado, o Darien? Também está fora?"
"... Está." A garota de longos cachos loiros abaixa a cabeça, com um semblante triste, dando um suspiro. "Ele foi para o exterior atrás de uma oportunidade muito boa de trabalho. É claro que eu queria que ele ficasse, mas..."
"... Mas preferiu deixar que ele fosse para que não perdesse a oportunidade, não é?"
"É..."
"Hum..."
Haruka apenas observa o olhar triste e longínquo de Serena enquanto manobrava o carro próximo ao meio fio. Sem dizer quaisquer outras palavras, ela estaciona, parando finalmente.
Logo em frente havia uma grande escada que subia até uma parte cheia de árvores, próxima aquele local... Na frente desta, uma placa anunciava a entrada do templo Hikawa.
"Bem, aqui estamos... Muito mais rápido do que vir a pé."
"Muito obrigada Haruka! Obrigada mesmo!" Ela diz, saindo do veículo. "E Melhoras para a Michiru, está bem? Caso ela ainda esteja lá, vou visitá-la amanhã, está bem?"
"Certo. Ela vai gostar de ver você... Bem, até mais."
Haruka manobra o carro até a rua novamente e então se afasta dali. Serena observa a garota se distanciar, e acena para a mesma.
Logo, ela se vira e observa as grandes escadas do templo Hikawa, sorridente. Sem hesitar, ela corre pelos degraus tomados pela neve, subindo o mais rápido que podia.
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Em frente ao templo, uma garota de cabelos longos e negros, trajando uma roupa de sacerdotisa, varria constantemente a neve acumulada na fachada do mesmo. Após juntar um grande monte de neve em um dos cantos do grande pátio em frente ao templo, ela volta para dentro do mesmo e esfrega a testa, suspirando e colocando a vassoura próxima a uma das paredes.
"Mas que coisa... Não pára de nevar!" Fala Rei, olhando para o céu, observando os flocos brancos que não paravam de cair. "Desse jeito eu vou ficar aqui varrendo o dia inteiro..."
Ela aproxima-se mais uma fez da fachada do templo e passa os olhos pelo grande pátio... As árvores pareciam bonitas, mesmo com toda aquela neve sobre suas folhas... Mesmo o pátio em si fazia a garota sorrir levemente...
Enquanto observa cada canto do lugar, ela fixa o olhar, em dado momento, em um ponto em especial: entre várias das árvores que estavam por ali, havia uma, tombada, com o tronco totalmente enegrecido... Como se tivesse sido queimada, ou algo do tipo.
A imagem faz o pequeno sorriso de Rei desmanchar-se rapidamente...
... Catapultando-a imediatamente de seus pensamentos, uma voz familiar ecoa pelo lugar. A voz chamava pelo seu nome e era acompanhada de sons de passos vindos da grande escada da entrada.
"Rei! Rei!"
"... Mas o que...? Serena? É você?"
Após subir rapidamente o grande lance de degraus, Serena pára por alguns instantes, retomando o fôlego e então fita a garota em frente ao templo com um grande sorriso no rosto.
"Ei Rei! Então você já voltou?" Ela diz, acenando.
"... Serena, o que você está fazendo aqui? Como saiu de casa com esse frio?" Indaga Rei, surpresa, enquanto Serena se aproxima, passando correndo pelo pátio. "V-Você pode ficar doente deste jeito..."
"Ahn... Eu vim aqui te fazer uma visita e é assim que você me recebe? Com sermão?"
"Não é nenhum sermão! Só que... Eu... Não pensei que alguém viria me visitar hoje. Ah! Só alguém irresponsável como você viria com um tempo como esse."
"Ei, pára com isso tá bom! Eu vim porque todas as garotas, e o Darien, estão viajando, ou muito ocupadas para que eu possa vê-las, então, como você era a única que provavelmente ia estar aqui..."
"Ah..." Ela cruza os braços e vira o rosto, com um semblante de desagrado, com as bochechas cheias. "Então como eu sou a única que está na cidade, virei a sua única opção, não é?"
"... Ahn... N-Não é nada disso! E-Eu..." Serena fecha os punhos e cora momentaneamente, antes de falar. "Eu vim p-porque..."
"Hum...?"
"P-Porque... Eu estava com saudade sua! E também porque eu queria saber como você foi no concurso de canto..."
"Hum... Queria é?" Rei devolve o olhar para Serena, ainda com os braços cruzados, pouco convencida das reais razões pelas quais a garota havia ido até ali... Serena apenas coça a nuca com uma das mãos, com uma gota descendo pela testa.
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"Você tirou quarto lugar...?"
"Sim..."
Serena e Rei se encontravam no interior do templo, uma de frente para a outra, ajoelhadas ao chão. Entre ambas havia uma pequena mesinha, onde, sobre ela, estavam alguns livros e revistas, além de páginas de artigos recortadas.
Em muitas delas havia imagens do tal concurso de canto, e de sua vencedora.
"Puxa... Eu acho que você devia ter tirado o primeiro lugar! Não imagino alguém cantando melhor do que você!" Serena toma alguns dos artigos em mãos e observa, curiosa, a vencedora... Uma belíssima mulher com um longo vestido rosa e cabelos loiros.
"... Ora, não exagere... Tem muita gente que canta bem melhor que eu. A moça que você vê aí foi quem venceu o concurso... Ela é simplesmente incrível. Eu não tinha nenhuma chance..."
"Oh... Bem, ela devia mesmo cantar melhor que você."
"Sim."
"É... Acho que o público gostou muito mais dela... Ela é bem mais simpática que você..."
"... Sim." Rei segura uma das revistas em meio ao punho, apertando cada vez mais forte.
"E eu acho que o vestido dela devia estar bem mais bonito que o seu, não é?"
"... Grr... Sim...!"
"Sem contar que ela é bem mais bonita que você..."
"TUDO BEM, EU JÁ ENTENDI SERENA! JÁ CHEGA!" Grita a garota, enquanto cuspia fogo pela boca, furiosa. Serena se protege atrás de uma das revistas, apenas rindo.
"Hahaha! Ah... É só brincadeira, não precisa ficar tão brava..."
"E então? Veio aqui só pra rir de mim, ou ainda não está satisfeita?" ¬¬
"Bem, eu já disse pra você... Eu estava com saudades... Do tempo em que ficávamos todas sempre juntas..."
"..."
"Era aqui que a gente estudava. Sempre juntas. Eu lembro, como se fosse ontem, das nossas risadas... Das nossas brigas..."
"..." A garota de cabelos negros relaxa os braços sobre a pequena mesa, escutando Serena falar, sentindo uma certa nostalgia. O semblante sério dá lugar a uma expressão triste, enquanto ela desvia o olhar para um dos cantos da sala, pensativa.
"Eu lembro de todas as tardes que passamos aqui. Lembro da Ami nos ajudando com as tarefas, do jeito como a Mina fazia a gente rir... Lembro até do gosto dos bolinhos que a Lita fazia pra gente, lembra? Até mesmo... Do jeito que eu e você sempre estávamos brigando, lembra?"
"... Serena..."
"... Pode não parecer, mas, eu andei pensando... E acho que naquela época éramos mais felizes, apesar de estarmos sempre lutando..."
"..."
"... Ah!... Eu acho que estou sendo um pouco egoísta... Talvez eu é que me sentia assim... Mais feliz... Eu não posso falar pelas outras."
"Serena... É claro que pode." Diz Rei, com um tom de voz mais brando. "... Você tem todo o direito de dizer que era feliz naquela época... Nós estávamos todas juntas como uma família. E eu tenho certeza absoluta que as outras garotas sentem o mesmo... Inclusive o Darien, que está longe agora..."
"... Será?"
"É claro, não tem porque duvidar. Mas..."
"Hum?"
"... Mas eu não gosto do jeito que você fala... Parece que tudo isso aconteceu há tanto tempo... Mas faz menos de um ano em que estávamos aqui, lembra?"
"... É, acho que tem razão... Acho que fui eu que fiquei emotiva de repente, haha!" Ela ri alto, passando a mão atrás da cabeça, tentando disfarçar... Rei a observa seriamente, pois sabia o que Serena sentia quando falava daquele tempo... "Eu nem sei porque to falando nisso, não faz muito tempo mesmo, haha... Haha... Atchim! Func"
"Hum... Veja só, eu disse que você ia pegar um resfriado vindo até aqui num dia como esse." Ela levanta-se um tanto zangada e anda até um outro aposento, parecendo ser uma pequena cozinha.
"... Ahn, o que você vai fazer?"
"Bem, já que você veio até aqui vou fazer um chá quente para nós. De todo modo, você ainda é uma visita, não é?"
"Hum... Obrigada!"
Serena e Rei ficam em silêncio após a retirada da primeira até a cozinha. A segunda observava a chama do fogão que aquecia a água do interior de uma chaleira. O vapor saía calmamente pelo bico do recipiente...
"Rei... Eu posso te fazer uma pergunta?" Indaga Serena, do aposento ao lado da cozinha.
"Uma pergunta?" Fala Rei, um pouco surpresa, da cozinha. "... Tem algo haver com o concurso? Porque se houver, eu não quero mais falar disso!"
"Er, não tem, não se preocupe...!"
"Bem, então faça." Rei cruza os braços novamente, fitando a chama atentamente...
"Você disse que tinha certeza que as outras garotas também sentiam o mesmo... Que elas também se sentiam mais felizes na época em que todos estávamos juntos, e isso inclui o Darien..."
"Sim."
"Mas, e você Rei?"
"Hum?"
"Você também sente o mesmo? Você às vezes não tem vontade que... Aquela época volte?"
"..."
"...?"
Rei fecha os olhos e suspira, em frente à chaleira de água fervente... Em sua mente, apenas as imagens das batalhas vinham em sua cabeça...
"Mais ou menos..."
"Mais ou menos? Mas porquê?"
"..." Ela morde levemente uma das unhas, ainda pensando... Serena, na sala, esperava por uma resposta, mas a garota volta a ficar em silêncio. "... Acho que tenho um pouco de saudades daquele tempo, por causa que estávamos sempre juntas. Era tão... divertido... Mas... Serena... Você é uma tonta mesmo! Estava sempre em perigo... Mas... Era tudo muito melhor... Melhor do que estou passando agora..." Ela pensa.
"Rei, o que aconteceu?"
"Gah! Ai!"
Subitamente, Serena surge ao lado de Rei, na cozinha, perguntando pela mesma. A garota, perdida em pensamentos, instantaneamente volta a si, arregalando os olhos e acabando por bater com uma das mãos na chaleira quente.
Ela retira a mão com uma pequena queimadura rapidamente, enquanto a chaleira cai no chão, ao lado do fogão, espalhando a água.
"Sua tonta! Porque me assustou? Ai!"
"Ai, ai, ai, Rei! Você se machucou?"
"Não, eu adoro queimar a minha mão na chaleira! Grrr!"
"Essa não!" Serena toma a mão da garota e observa. A pele havia se tornado vermelha sobre as costas da mão com a queimadura. "Iiiih... Isso tá muito feio... Melhor colocar na água fria, e rápido!"
"Ahn..."
Serena estica o braço de Rei até a pia logo ao lado do fogão e abre a torneira. Rapidamente ela coloca a queimadura da amiga sob a água fria que corria pela torneira, enquanto segurava a mão da mesma com suas duas mãos.
Serena sorria brandamente enquanto olhava e enxaguava com delicadeza a mão da amiga. Rei apenas observava o que a garota fazia, sem dizer uma palavra... Fitando o seu rosto e sentindo a água e o toque de Serena em sua mão...
"... Está melhor?"
"... Sim..." Ela responde, com as maçãs do rosto levemente coradas.
"Que bom. Desculpa Rei, eu não pensei que fosse te assustar daquele jeito."
"J-Já está tudo bem. Não foi grande coisa. Nada que uma pomada não resolva." Ela diz, afastando a mão da de Serena, e secando-a levemente com um pano, enquanto se dirigia para a pequena sala anterior. "E não foi culpa sua, eu estava distraída, só isso."
"Mas mesmo assim, pode deixar que eu limpo esta bagunça!"
"Hum? Ah, bem, se você não sujar ainda mais..."
"Ei, eu posso fazer isso, está bem?"
Alguns minutos depois... Rei, de joelhos em frente a pequena mesinha da sala, parecia pensativa e distante. Fitava a sua própria mão, agora com um pequeno curativo sobre a queimadura... Mais uma vez, seu rosto cora levemente, enquanto a toca com a sua outra mão...
"Ufa! Pronto, tudo arrumado novamente!" Serena vai até a pequena mesa e se ajoelha, sorrindo, esfregando a própria testa.
"Hum... Arrumado mesmo? Depois eu vou ver os outros estragos que você fez."
"Argh! Pára com isso, eu arrumei tudo direitinho! Se quiser, pode ir ver depois!"
"Hum... Certo."
"..."
Um silêncio pesado cai sobre o local mais uma vez, enquanto Rei voltava a olhar para as costas de sua mão, acariciando o pequeno curativo e Serena suspira profundamente, enquanto olhava para uma das janelas... O sol começava a se esconder aos poucos, anunciando a chegada da noite.
"Ela não quis responder quando eu perguntei sobre o que ela sentia..." Pensa Serena. "Acho que ela não gostou de eu ter tocado no assunto..."
"Ahn..."
"Hum?"
"E onde está o seu avô, e o Nicola?"
"Ah, eles ficaram no lugar onde se passou o concurso de canto... O vovô disse que tinha coisas para fazer mas..." Imediatamente, a imagem do velho avô e seu companheiro vem até sua cabeça, ambos correndo atrás de muitas garotas. Uma pequena veia salta de sua testa. "... Eu posso imaginar que cosias são essas."
"Oh... Mas... Você não está se sentindo sozinha?"
"Ora, eu posso me virar muito bem sozinha. E pra falar a verdade, também tenho coisas parar resolver aqui, por isso não ficarei muito tempo aqui no templo."
"Ah..." Com um olhar um pouco abatido, Serena olha novamente para a janela, observando o céu tornar-se nitidamente escuro. "... S-Sabe, agora me lembrei de uma coisa. Quando estava vindo para cá, encontrei Haruka saindo do hospital."
"... Hospital? Aconteceu alguma coisa com ela?"
"Ah, não! Com ela está tudo bem, mas ela me disse que a Michiru está com alguns problemas e por isso vai passar lá essa noite."
Com os longos cabelos negros em frente aos olhos, Rei continuava escutando atentamente...
"... Puxa..."
"Eu tentei visita-la para ver como ela está mas já era tarde. Acho que apenas poderei vê-la amanhã."
"Hum..."
"Por isso... Não gostaria de ir comigo até lá? Eu acho que vai ser bom para ela se nós formos até lá falarmos com ela. O que acha Rei?"
"... Acho que... Bem, porque não?"
"Ótimo!" Serena levanta-se, calçando-se, sorrindo. "Então agora eu vou indo embora, está bem? Já está escurecendo e prometi a minha mãe não chegar muito tarde. Mas amanhã, iremos até lá juntas está bem?"
"Certo Serena... Iremos juntas, não se preocupe." Ela diz, levantando-se logo em seguida. "E também acho que é melhor mesmo você ir agora. Já está muito tarde."
"Tá bem, então... Nos vemos amanhã!" Rei acompanha Serena até a porta do templo. A primeira abre a mesma e um vento frio entra no aposento. Serena abraça a si mesmo, tentando se esquentar e, logo depois de se despedir, sai do local rapidamente, andando pela neve fofa do lado de fora. Rei observa a mesma se afastar.
"Até amanhã Serena..."
A garota fecha a porta do templo e volta próximo à mesinha que antes estava a sua frente, sorrindo, enquanto observava a mão com o curativo... Por mais que tentasse, não conseguia esquecer aquele momento, na cozinha... Sentia seu rosto muito quente, apesar do frio que fazia...
"Seren... Ack!"
... Antes que possa se sentar novamente, ela pára por alguns instantes e coloca as mãos no peito, enquanto uma espécie de luz violeta escapava por entre seus dedos...
Saindo de dentro do seu corpo, a luz ilumina todo o ambiente, enquanto causava dores terríveis para a garota, que cai repentinamente no chão do local.
"Ah não... Isso de novo... Agh... Droga... Droga...!"
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Algumas horas depois, sobre um dos grandes edifícios da movimentada cidade, uma rápida explosão de luzes multicoloridas passa despercebida pelas pessoas nas ruas lá embaixo...
As luzes logo tomam uma forma circular característica e, em segundos, um novo portal estava aberto! De dentro da passagem extra-planar, um grupo de cinco pessoas surge alguns instantes depois, pairando suavemente sobre a cobertura do enorme edifício.
Julian, Elliot, Spike e, logo depois, Natasha e Eve olhavam ao redor, observando os imensos prédios e muitas luzes no local. O portal logo atrás começa, então, a se dissipar... Até que desaparece por completo...
"Que ótimo! Outra cidade!" Fala Spike, aborrecido ao ver tantos edifícios e pessoas nas ruas abaixo.
"Hum... Ela parece um pouco com Akaira, antes das guerras..." Diz Natasha.
"... É, mas esta é muito mais iluminada..." Lembra Eve, observando a cidade e sentindo o vento frio balançar seus cabelos. "E parece ter mais pessoas também. É linda!"
"É bonita mesmo... E bem grande... Argh." Fala Elliot, coçando a cabeça. "Imagina o trabalho que teremos para encontrar uma coisa tão pequena no meio dessa cidade enorme..."
"Bem, de todo modo, o lugar é realmente bonito. Gostaria de saber onde nós..." Antes mesmo que pudesse terminar a frase, Julian fita um ponto em meio as muitas casas e prédios da grande cidade. "Estou sentindo..."
"O que? Frio?" Fala Spike, enquanto tremia dos pés a cabeça. "Bah! Esse lugar é mais frio que o meio dos desertos de Solaria, a noite! E o que diabos é essa coisa branca que há por todo o lugar?"
"Chama-se neve..." Fala Elliot, com o dedo indicador levantado. "Em Pasiphae Não temos muita variação climática mas, estas, quando ocorrem, são em abundância."
"É verdade... Também neva em Aka..." Natasha arregala um dos olhos e sacode a cabeça, lembrando-se do que Julian falara. "Ai! Mas o que estamos dizendo! Ju, o que você sentiu?"
"Er... Bem... Um Limiar. Consigo sentir a presença de um deles, porém, muito fraco..."
"E distante daqui..." Continua Eve, que estava calada até agora, observando o horizonte da cidade, coberta pela neve branca das ruas. Os demais parecem surpresos com as palavras da garota.
"Como assim Evezinha? Você também consegue sentir a presença daquela pedrinha? Eu não sinto nada..." Elliot e Spike concordam... Ambos os três não sentiam qualquer energia.
"... A-Acho que sim... Só um pouco. Mas como Julian disse, está muito fraco."
"Hum... Deve ser por isso que não conseguimos sentir como vocês" Fala Elliot.
"Certo, então temos duas pessoas que podem detectar muito bem essas coisas. Perfeito, assim vai ser mais fácil. Argh... Frio dos infernos!"
"... É verdade. Com você ajudando Eve as coisas vão se tornar mais simples."
"Ah... Eu espero poder ajudar bastante." Ela responde, sorrindo.
"Bom, agora é melhor descermos." Sugere Julian, olhando as muitas pessoas no local, lá embaixo. "... Ficará mais fácil se procurarmos lá por baixo... Assim a presença vai se tornar mais clara."
"Estão malucos? Ninguém aqui voa! Como acham que vamos conseguir descer até..."
Enquanto Spike falava, o resto do grupo se distanciava, descendo calmamente por uma escada de emergência que havia logo ao lado do edifício.
"Spikezinho! Você não vem não? Se continuar reclamando aí vamos te deixar para trás!"
"Argh!"
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"Então eu não posso vê-la...?"
Cerca de duas horas depois... Mais precisamente em frente a recepção do grande hospital da cidade, encontrava-se uma jovem de cabelos longos e negros, trajando calças jeans e um casaco para o frio.
Rei e a recepcionista conversavam, enquanto esta última observava um bloco de notas com muitas anotações sobre o balcão.
"Sinto muito... Mas o horário de visitas já terminou... Se quiser terá de voltar amanhã, está bem?"
"..." A garota de cabelos negros sorri, um tanto decepcionada e abaixa a cabeça, enquanto pensava rapidamente em algo. "Ahn... Será que poderia, ao menos, me dizer o número do quarto e o andar para que eu possa voltar amanhã? Quero ir diretamente até ela quando chegar..."
"Claro. Um momentinho, irei verificar." A recepcionista desliza a cadeira de rodinhas até uma gaveta próxima, ficando de costas para a garota. Ela toma em mãos alguns arquivos e então começa a folheá-los, procurando pelo nome. "Michiru... Michiru... Ah, aqui está. Michiru Kaiou. Ela se encontra no quarto 815, oitavo andar..."
A recepcionista vira-se novamente para falar com a garota, mas esta havia desaparecido completamente. Estava sozinha na recepcção e não havia qualquer sinal dela...
"Que estranho..."
No oitavo andar, no quarto antes mencionado... A garota de cabelos azuis parecia sofrer com alguma visão em seus sonhos... Ela pressiona com força as pálpebras dos olhos, suando frio, enquanto balbuciava algumas palavras desconexas. Da janela era possível ver a grande cidade do lado de fora, iluminando o quarto escuro...
O elevador do hospital subia rapidamente... Dentro deste, Rei observava fixamente o número dos andares mudar a cada momento, sem demonstrar alguma expressão no rosto calmo... 2° andar... 3° andar... 4°...
Logo, o som do elevador parando quebra o silêncio, abrindo a porta logo a sua frente.
Rei sai do elevador e entra em um andar tão silencioso quanto o resto do hospital. Não havia qualquer pessoa nos corredores naquele horário. Todas estavam em seus respectivos quartos, provavelmente adormecidos.
A garota segue em frente, distanciando-se do elevador e passando pelas portas do corredor. 805... 806... 807... Procurava sem hesitar o quarto mencionado pela recepcionista, solitária em meio aos corredores silenciosos do 8° andar.
O corredor faz uma curva para a direita mais a frente e, dali, podia-se ouvir outros passos, que não os seus, vindo na direção contrária a sua. A garota de cabelos negros pára momentaneamente e observa um homem com roupas brancas surgir da "esquina". Com um tipo de prontuário em mãos, ele se mostra desatento e, apenas alguns segundos depois, percebe e fita Rei, a alguns metros a sua frente, imóvel e sem demonstrar alguma surpresa ou espanto. Tinha uma expressão calma no rosto...
O homem de roupas brancas levanta uma das sobrancelhas, surpreso.
"... Ahn... Garota, o que faz aqui há esta hora? Não deveria estar aqui. O horário de visitas já terminou e..."
... Repentinamente a garota corre na direção do homem sem mudar a expressão de seu rosto e agarra seu pescoço firmemente com apenas uma das mãos. O homem, provavelmente um médico, segura o pulso da garota com as duas mãos, deixando o prontuário cair no chão, surpreso e assustado, tentando livrar-se da mesma, enquanto coloca um dos joelhos no chão...
"Argh... Mas... O que signi... fica... Argh!"
"..."
Os olhos da Senshi inflamam-se repentinamente em uma luz violeta e brilhante, para horror do médico... Este sente o seu pescoço ficar cada vez mais quente... E, antes que consiga se livrar, um estalo ecoa pelo corredor.
A cabeça cai pára trás, com o pescoço quebrado... Rei observa, sem mudar a expressão, soltando o corpo que cai pesadamente no chão.
"... D-Doutor?"
Próxima a curva, uma enfermeira joga os prontuários no chão, aterrorizada com o que via. A garota apenas a observa, sem mudar a expressão fria do rosto, instantes antes de dar alguns passos em sua direção...
Próximo dali, no quarto de número 815, Michiru suava frio, deitada sobre a cama... Como se estivesse passando por um terrível pesadelo. Ao fundo, podia-se ouvir o som de gritos abafados do lado de fora do quarto, no corredor, seguidos pelo som seco de algo caindo no chão. Michiru virava a cabeça de um lado ao outro, apertando com força as próprias pálpebras...
Logo, a porta do quarto se abre lentamente... Rei, agora diante de Michiru, observa fixamente a mesma e se aproxima da cama...
-/-
"Como? Alguém veio ver a Michiru?"
Alguns andares abaixo, em frente à recepção, estava a garota de vestes masculinas, Haruka. Esta conversava com a recepcionista, intrigada.
"Sim... Era uma garota de cabelos escuros muito bonita. Disse que era uma amiga e que queria vê-la, mas, como o horário de visitas já terminou eu disse à ela para voltar outro dia."
"Hum..." Haruka volta a sua atenção para o som das portas do elevador, que estava de volta ao térreo, se abrindo. Visivelmente desconfiada, ela coça a cabeça e se dirige para o elevador rapidamente.
"E-Espere senhorita! Você não pode ir! O horário de visitas..."
"Eu só quero checar uma coisa! Prometo voltar logo!"
Antes que a recepcionista pudesse falar qualquer outra coisa, Haruka entra no elevador e as portas se fecham, subindo...
-/-
Ainda em frente à cama, Rei fitava a garota de cabelos azuis sobre a mesma sem pronunciar nenhuma palavra... Sua expressão um tanto mórbida começa a mudar para uma expressão de dor...
"... Ack!"
Ela coloca as mãos sobre o peito, como da última vez, sentindo uma dor muito aguda. Ao mesmo tempo, um brilho violeta sai de dentro do seu peito...
Mas diferente da última vez, em meio a forte luz, era possível ver a silhueta de um minúsculo objeto... O Limiar!
Do corpo de Michiru, ainda adormecida, um segundo ponto violeta brilha em seu peito, mas com uma intensidade mais fraca. Rei se afasta, apertando o peito e tentando se segurar em algum lugar, perdendo o equilíbrio e acabando por derrubar alguns objetos sobre uma pequena mesinha ao lado da cama.
"... Argh... Droga...! Isso... Está doendo muito... Aaaahh!"
Instantaneamente, o quarto é inteiramente iluminado por poderosas labaredas de fogo que envolvem e engolfam o corpo da garota! Assim que estas se dissipam, a garota trajava uma roupa diferente...
Havia se transformado em Sailor Mars!
Segundos depois... Seu rosto novamente adquirira a expressão anterior, vazia de sentimentos... Ela, então, aproxima uma das mãos do peito de Michiru, sobre a cama, que havia parado de brilhar...
BLAM!
"..."
"... O-O que está fazendo aqui!"
Rei pára imediatamente o que fazia e vê Haruka, em frente a porta, fitando-a atônita.
"O que você...?"
Sailor Mars vira-se e salta rapidamente na direção de Haruka que se surpreende, esquivando por pouco das mãos da Senshi. Próximo ao seu rosto, o caminho do ataque havia sido marcado no ar por um fino rastro flamejante.
Ela continua atacando e investindo, enquanto Haruka escapa, esquivando-se e defendendo-se como podia. Ainda sem entender o que estava acontecendo, ela detém um dos ataques de Rei com os braços, mas acaba sendo queimada pela palma da mão da garota.
"Argh!" Haruka afasta-se, com o braço envolto em uma fumaça branca e a camisa com um grande buraco. A pele, ferida pela alta temperatura que saia das mãos de Rei, que a olhava sem demonstrar qualquer reação. "O que está acontecendo aqui? Porque você está me atacando Sailor Mars?"
Rei volta a atacá-la e esta esquiva-se rapidamente. Das palmas das mãos de Rei, pequenas faíscas saltam e caem sobre as cortinas da janela do quarto que rapidamente começam a pegar fogo...
"Michiru!" Grita Haruka, se dirigindo para a garota na cama, vendo que não demoraria para o resto do aposento se incendiar. "Michiru, acorde! Precisamos sair daqui!"
Rei observa Haruka sair da batalha e abaixa as mãos. Ela olha para a janela, em meio às cortinas engolfadas nas chamas e corre na direção da mesma, saltando através do vidro, destruindo o mesmo!
"O que está fazendo? Pare!"
Haruka toma Michiru nos braços e aproxima-se da janela, atônita. Para sua surpresa, a Senshi de fogo encontrava-se de pé, sobre um edifício menor, ao ladodo hospital, observando-a, intacta!
"Mas o que ela está pretendendo...? Porque é que está fazendo isso...?"
-/-
GAME OVER
"Aaahh! Mas que...!"
Em frente a uma tela de "arcade", Serena bate com força sobre os vários botões de controle, enquanto pragueja contra a mensagem de fim de jogo. Estava em um aposento grande, com muitas e muitas máquinas de jogos... Mas estava sozinha. Não havia mais ninguém no local naquele momento...
"Sem as garotas não tem tanta graça..."
Ela se levanta, emburrada, e sai andando pela rua, com as mãos no bolso do casaco, enquanto o vento frio que havia parado por alguns instantes, começa a soprar novamente. Suas duas longas mechas de cabelos dourados esvoaçam contra o vento gelado, enquanto esta fecha os olhos, protegendo o rosto.
"Que frio... Acho melhor voltar logo para casa. A mamãe deve estar ficando preocupada e eu prometi a ela que não demoraria..." Apesar do frio, em dado instante, as maças do rosto da garota tornam-se rosadas. Ela abre um pequeno sorriso enquanto continuava a andar, pensativa... Uma imagem em particular não lhe saía da cabeça... "Porque não consigo parar de pensar... Nos olhos da Rei...?"
Alguns minutos de caminhada depois, após dobrar uma esquina, o som alto de uma sirene chama a atenção da garota. Algumas quadras a frente, ela nota dois grandes caminhões vermelhos, de bombeiros, em frente a um grande edifício branco...
"... O que? Bombeiros...? M-Mas aquele é..." Ela pára momentaneamente, surpresa com a agitação das pessoas na frente do local e nota em um dos andares do mesmo uma espessa nuvem de fumaça e labaredas de chamas saindo por uma das muitas janelas... Ao se dar conta do que acontecia, ela corre na direção do lugar sem hesitar. "... Aquele é o hospital onde a Michiru está!"
Pisando fundo na calçada forrada pela neve branca e fria, Serena chega em poucos instantes na frente do grande hospital. Após parar por um momento pára recuperar o fôlego, ela vê vários bombeiros entrando e saindo do lugar, retirando as pessoas do interior do edifício, enquanto os funcionários do local acalmavam as pessoas do lado de fora. Uma extensa escada sai de um dos caminhões na direção do edifício, enquanto água é arremessada sem parar na direção das labaredas que surgem nas janelas.
Serena anda pelo meio das pessoas e médicos, olhando para todos os lados, preocupada... Não parecia haver qualquer pessoa ferida, porém, era possível ouvir os bombeiros perplexos com um incêndio daquele tipo em meio a um inverno tão rigoroso como aquele.
Sem dar muita atenção aos comentários, Serena abre um sorriso de alívio ao ver, mais a frente, Haruka, em frente a uma maca, onde estava Michiru, adormecida, sendo cuidada por alguns médicos.
"Haruka! Que bom que está por aqui! O que aconteceu?"
"Ah, é você..." Ela diz, segundos antes de notar a figura conhecida de Rei, sobre o edifício ao lado do hospital. Esta, após fita-la por alguns momentos, vira-se e começa a se afastar dali, por cima dos edifícios da rua.
"É bom ver que você está bem! E a Michiru também!" Ela fala, antes de notar Haruka observando o edifício mais próximo... "... Haruka? Tudo bem?"
"... Por favor, cuidem dela!" A garota com as vestes masculinas rapidamente se afasta dali, correndo pela rua, observando a silhueta da Senshi de fogo locomovendo-se sobre os edifícios. Serena fica sem entender ao ver a garota correndo apressadamente.
"Ei Haruka! Onde você vai? O que está acontecendo?"
Haruka continua se afastando, sem responder. Parecia concentrada demais para escutar o que Serena falava...
Esta, por fim, observa Michiru adormecida sobre a maca e volta a olhar para Haruka, já longe dali.
"... Se ela pediu para que cuidassem da Michiru por ela, então é porque tem algo de muito errado acontecendo! Eu vou descobrir o que é!" Serena afasta-se do local e corre o mais rápido possível logo atrás de Haruka, seguindo o rastro da mesma. "... Mas... Porque estou com esse estranho mau pressentimento..."
-/-
"Como assim? O que quer dizer com 'entregue a espada'?"
Enquanto isso, não muito longe dali, o grupo de Julian, Elliot, Spike, Eve e Natasha enfrentavam 'pequenos' problemas...
Próximo a eles dois policiais fitavam fitava Spike e Natasha, com os braços cruzados e visivelmente impacientes.
"É... Eu também não entendi. Porque eu tenho que entregar a minha querida para vocês, senhores policiais?" Indaga Natasha, logo ao lado de Spike. Os demais observavam tudo ao fundo, imóveis e em formato SD, enquanto as pessoas que passavam próximas a cena se afastavam logo em seguida, assustadas.
"Eu já disse! Vocês não podem andar com essas armas no meio do centro da cidade! Entreguem-nas e nos acompanhem até o departamento de polícia, certo?"
"Mas a minha belezinha nem está carregada." Fala Natasha, com riachos de lágrimas saindo pelos olhos. "E eu não vou machucar ninguém! Evezinha, diga isso para ele! Buaaaa!"
"Calma Natasha... Esses senhores só estão tentando manter a ordem deste lugar. Acho que aqui é proibido andar com esse tipo de coisa na frente das pessoas..." Explica Eve, sorrindo.
"Argh! Ninguém vai levar a minha Solar embora! Nunca! Nunca!" Spike abraça a espada, enquanto uma gota desce pela testa dos demais, inclusive dos policiais.
"Essa não... Essa espada trás mais problemas para nós do que o Limiar, haha!" Diz Elliot, sorrindo, enquanto Spike o fulmina com o olhar.
"Er..." Julian apenas engole em seco, vendo o quão embaraçosa estava a situação. "A-Acho melhor vocês entregarem as armas para eles. Depois nós podemos recuperá-las e..."
"MAS ISSO NUNCA! EU PREFIRO SER MORTO AGORA MESMO A ENTREGAR O QUE TENHO DE MAIS VALIOSO!" Grita o rapaz, enquanto Julian se encolhe de medo e as pessoas ao redor olham, curiosas e surpresas.
"Ah Ju... Não quero entregar minha querida... Sem ela eu não vivo! Buaaaaaa!"
"Bem, nesse caso acho que vão gostar de passar uma noite atrás das grades por resistir as ordens de uma autoridade e..."
Enquanto o policial falava, Julian e Eve imediatamente erguem o olhar ao sentirem uma rápida faísca de energia... No edifício logo atrás, uma silhueta passava rapidamente de uma ponta a outra, pulando para o próximo prédio.
"... Eve, você sentiu isso?"
"Sim... Está muito perto... Mas agora está se afastando..." Eve fecha os olhos e permanece em silêncio por alguns instantes... "Mas não consigo saber de onde e para onde vai... A presença está estranha..."
"É... Está difusa, ou algo assim."
Os dois olham para todos os lados, procurando a fonte da energia... Elliot levanta uma das sobrancelhas, tentando entender o que os dois estavam fazendo... Mas logo, a 'ficha' lhe cai.
"... O-O que foi? Não me digam que... Vocês sentiram?"
"Sim... O Limiar..." Fala Eve, ainda observando as pessoas que passavam por perto.
"Hum..." Julian afasta-se alguns metros dos demais e observa as pessoas que passavam pelo local. Apesar do frio e do horário, havia diversas pessoas no local, indo e vindo, o que dificultava tudo ainda mais... "Droga... Se estava se movendo, então é óbvio que estava com alguém... Mas... Pode ser qualquer um!"
Em seguida, do meio da multidão de pessoas, uma pessoas passa correndo apressadamente entre os policiais e Spike. Os três observam a pessoa se distanciar, atônitos...
Julian, que observava a garota se distanciar, não nota quando outra pessoa se aproxima repentinamente e tromba em seu ombro... Felizmente, nenhum dos dois cai, e ele se recompõe a tempo de ver uma garota de tranças longas e loiras, virando o rosto em sua direção.
"... Desculpe-me!" Ela diz, fitando Julian, e em seguida, correndo atrás de Haruka novamente.
"..."
Ela se emaranha no meio das pessoas, enquanto Julian e os demais olham uns para os outros... Sem pensar duas vezes, o grupo faz um sinal positivo com a cabeça e logo depois correm na direção das mesmas garotas, se misturando à multidão.
"Tchau moços policiais! Não se preocupem! Não vamos fazer mal a ninguém!" Diz Natasha, antes de sumir em meio as pessoas.
"Ei! Voltem aqui! Não terminamos de...!" Dizem os policiais, tentando alcançá-los, mas os perdendo de vista rapidamente. "... Ugh... Com licença! Com licença... Argh... Droga! Voltem aqui!"
-/-
Um pouco distante dali, Rei salta de um dos edifícios e assim que toca o chão do que parecia ser um beco sem saída, uma grande labareda inflama-se ao seu redor, sumindo logo em seguida.
Ela permanece imóvel, com a cabeça baixa, e sem demonstrar qualquer expressão... Até que uma sombra começa a surgir em frente ao beco.
Na entrada do mesmo, ofegante por causa da corrida, surge Haruka... Já nervosa com aquilo.
"..."
"Eu... Não sei... O que está acontecendo... Mas tem algo de muito errado com você!" Ela diz, enquanto ambas se fitam. "E eu quero que você me diga agora! Porque fez aquilo com a Michiru? Porque tentou matá-la?"
"..."
"Responda!
"..."
... Um círculo de chamas envolve a Senshi imediatamente, iluminando o beco. Haruka protege os olhos enquanto Rei flexiona os braços e uma flecha flamejante em um arco vermelho surge em suas mãos. Ela puxa o fio do arco, apontando e mirando na garota à sua frente.
Haruka arregala os olhos enquanto sente um enorme peso no peito ao ver a flecha de fogo afiada, apontada na sua direção...
"... O que é que está pretendendo fazer?"
"..."
Próximo dali, Serena ainda procurava por Haruka, em uma parte da cidade quase deserta... Abraçando a si mesmo para se proteger do vento frio que passava, ela olha para todos os lados, em busca da amiga.
"Haruka onde você tá? Essa não... Quis ir atrás da Haruka para entender o que está acontecendo e acho que acabei me perdendo..." Serena esfregava as mãos uma na outra, tentando se aquecer... Nesse instante, nota próximo dali uma iluminação... Ela vai se aproximando cuidadosamente e então nota ser um pequeno beco entre dois edifícios... Para sua surpresa, Haruka se encontrava na entrada, olhando fixamente para o fundo. "Ah! Ali está a Haruka! Acho que agora ela vai poder me explicar o que..."
Assim que ela se aproxima da entrada, ela nota, no fundo do beco, o que a garota observava, assombrada...
Serena pára de andar e abre bem os olhos, perplexa, com a boca semi-aberta...
"... R-Rei?"
Imediatamente, Sailor Mars estica completamente o fio de fogo e o solta. Flecha de chamas voa mortalmente na direção de Haruka, que continuava sem reação...
"... Cuidado!"
"... O que?"
Serena corre e salta sobre Haruka empurrando a mesma e retirando-a da rota do projétil... Esta cai pesadamente no chão macio de neve, salva...
"...!"
"Tchac!...!"
A flecha de fogo atinge o peito de Serena com tanta força que o atravessa facilmente, criando um rastro de luz vermelha no ar.
Naquele instante... Os olhos de Rei parecem voltar ao normal... E, estampada sobre os mesmos, estava a imagem de Serena caindo lentamente no chão... Com uma expressão perdida, enquanto Rei abria os olhos cada vez mais, em terror...
"..."
"... Bumpt" A garota de cabelos loiros cai de costas no chão, com os braços abertos e a cabeça virada para um dos lados, inerte. A boca, semi-aberta, não pronunciara sequer um gemido de dor no momento do impacto... Estava silenciada...
Haruka levanta-se do empurrão e observa, assustada, à cena... Rei, do mesmo modo, parecia aterrorizada, ainda muda...
O único som no local era o assobio do vento passando pelo beco... O mesmo vento que balançava as longas tranças de Serena, caída ao chão.
Instantes depois, outra figura surge em frente ao beco... Julian... Que pára, surpreso, ao ver a cena...
"... S... Se... Serena... Serenaaaaa!"
Com um grito alto, a Senshi é envolta em poderosas labaredas de fogo desaparecendo em meio a elas, deixando para trás nada mais do que um rastro de fuligem sobre a neve branca...
Não demora para que Eve e os demais surjam logo após...
A pequena bruxa coloca as mãos sobre a boca, aterrorizada, enquanto os outros, olhavam atônitos, estarrecidos...
... Sobre um edifício muito alto, bastante longe dali, Subaru sentia o vento gelado balançar os seus cabelos, enquanto esta olhava para o céu escuro...
Continua...
