Cheiro de rosas
Ele nunca havia pensado nisso a sério, mas um dia teve uma constatação súbita: o amor tem cheiro de rosas. Pegou-se refletindo sobre como fôra tonto de haver se dado conta disso segundos atrás, se há anos tinha ao seu lado um ser que exalava aroma floral em cada poro, peça de roupa e fio de cabelo.
Intrigante mesmo era Yusuke pensar nisso enquanto Kurama estava distante, preparando na cozinha o chocolate quente de todos os domingos de inverno.
A vontade de inebriar-se de rosas fez o detetive sobrenatural finalmente deixar a cama, embora o calendário de tarefas pendurado na parede do quarto ao lado de um jogo de setas indicasse que ele poderia ficar mais tempo deitado, já que naquele dia coube a Kurama preparar o café da manhã.
Kurama estava de costas para a porta. Mas o faro de youko o fez estragar a intenção de Yusuke de pregar-lhe um susto.
– Você bem que podia me deixar brincar disso de vez em quando.
– Você não cresce, né?
– "Não quero que você mude..." – Yusuke tentou provocar, imitando mal a voz suave de Kurama. Foi calado por uma grande colher repleta de uma bebida encorpada, marrom e doce.
– Hum... Raposa, você prepara chocolate quente como ninguém.
Kurama sorriu, menos pelo elogio do que por aquele "raposa" na boca de Yusuke.
Ele o chamava de raposa como ninguém...
Contemplou os olhos contentes do namorado que, ainda de pé, se servia de uma xícara da bebida fumegante.
– Chocolate me lembra amor – falou.
O cenho franzido de Yusuke interrogou o jovem ruivo, que sorriu e completou a idéia de maneira impensadamente singela.
– Seus olhos... Eles têm cor de chocolate.
Os braços quentes do dono dos olhos em questão responderam com um abraço de malha de lã. Sua raposa era boa nisso até quando não tinha a intenção de esnobar.
Mas nem as palavras de Kurama poderiam demover o detetive sobrenatural da sua nova e deliciosa descoberta. Ali estava a prova, nos cabelos dele, onde Yusuke afundou parte do rosto.
– Pode até ser, raposa... – sussurrou. – Mas, para mim, o amor tem cheiro de rosas.
Fim