- Acorda meu pequeno… - chamou Saphira.

- Ainda não é hoje, - resmungou ele virando-se na sua cama macia. – então para quê acordar?

- Que positivismo... – concluiu a dragão, empurrando-o com o focinho para fora da cama. – Vamos... Oromis espera-te!

- Ele que espere sentado!

- Levanta-te! E não digas isso! Deves a Oromis algum respeito!

- Oh... Cala-te! – cortou ele levantando-se por fim.

Olhando à volta, para o seu quarto na árvore, apenas viu algo de que estava farto. Estava farto daquelas paredes tão monotonamente feitas de madeira, do chão coberto pelo musgo fino, o tecto aberto que o deixava perder-se facilmente nos seus pensamentos, nas noites de luar, em que Arya lhe assaltava a mente.

- Que se danem os elfos perfeccionistas e amantes da natureza! – resmungou Eragon tentando descobrir uma imperfeição nas paredes perfeitamente lisas do quarto.

Tentando esquecer aquele seu problema com o perfecionismo dos elfos, Eragon tomou banho (uma das medidas impostas pelo "perfecionista do Oromis"), fez a barba (eis uma segunda medida) e saiu do quarto no dorso de Saphira, planando sobre os "elfos-amantes-de-natureza" que já estavam acordados.

- O que fazem eles na realidade? É a fazer isto que passam todo o tempo? – perguntou Eragon a si próprio, sentindo Saphira descer lentamente em direcção do solo.

- Hoje não sou eu quem te ensina, Eragon-finiarel. – disse-lhe Oromis, depois de o comprimentar.

- Então?

- Irás aprender a manejar a espada, coisa para a qual eu já sou demasiado lento para te ajudar...

- Onde, mestre?

- Vanir estará à tua espera no campo de treino. – esplicou Oromis, virando-lhe as costas, reentrando na sua casa.

Eragon voltou também as costas, voltando a montar Saphira.

- Achas que o Vanir será tão bom espadachim quanto o Murtagh é? – perguntou o jovem cavaleiro agarrando-se a um dos picos no dorso do dragão.

- É um elfo... – respondeu Saphira como se aquilo quisesse dizer tudo.

Aquela resposta deixou Eragon a pensar no que tornaria os elfos tão perfeitos. Olhando para o reflexo do sol nas escamas azuladas de Saphira, os pensamentos na cabeça de Eragon sucediam-se.

- Un du evarínya ono varda – cumprimentou um elfo de longos cabelos loiros quando Eragon tocou o solo. – Sou Vanir, e irei ser eu a treinar-te no manuseamento da espada.

«Veremos quem treina quem...» pensou o jovem desembainhado a espada.

We're not gonna be
Just apart of their game
We're not gonna be
Just the victims

(Não vamos ser apenas parte do jogo deles, não vamos ser apenas as vitimas)

Colocando-se em posição de ataque, Eragon esperou pelo movimento de Vanir. O jovem elfo na sua frente não se deixou subestimar, atacando mais rapidamente do que Eragon esperava; a sua espada delicada passou longe da espada defensiva de Eragon, atacando este na anca do lado direito.

- Tens de ser mais rápido – criticou Vanir.

Tentando recuperar, Eragon lançou-se com toda a força para a frente, tentado em vão ultrapassar a espada do elfo.

- Tens de ser mais paciente – criticou Vanir.

«Duas criticas...» pensou Eragon decidido a derrotar Vanir, que lhe lançava um sorriso cínico. Levantando a espada a cima da cabeça, tentando enganar o adversário, Eragon desenhou um Z no ar, tentando, novamente em vão, derrubar Vanir, desta vez através de um ataque nos joelhos.

- Tens de ser mais sábio – criticou-o pela terceira vez Vanir.

They're taking our dreams
And they tear them apart
Til everyone's the same
I've got no place to go
I've got no where to run
They love to watch me fall
They think they know it all

(Eles estão a apoderar-se dos nossos sonhos, e estão a quebra-los, até que todos sejam o mesmo. Não tenho sitio para onde ir, não tenho sitio para onde correr. Eles adoram ver-me cair, eles acham que sabem tudo.)

- Chega por hoje. – despediu-se Vanir com dois dedos nos lábios, depois de ter derrubado Eragon com um golpe certeiro nos joelhos.

- O que se passa com ele? O que é que eu lhe fiz?

- Não sei meu pequeno... Mas ele estava certo... Comparado com ele, lutas como uma cria.

- Não venhas com isso tu também! – reclamou Eragon constrangido pelos olhares e sorrisos cínicos que recebia à medida que ia caminhando na companhia de Saphira por Ellesmera.

I'm a nightmare, a disaster
That's what they always say
I'm a lost cause, not a hero
But I'll make it on my own
I've gotta prove them wrong
Me against the world
It's me against the world
(Sou um pesadelo, um desastre, é o que eles dizem sempre. Sou uma causa perdida, não um herói, mas eu vou faze-lo da minha maneira. Tenho de lhes provar que eles estão errados, eu contra o mundo, sou eu contra o mundo.)

Deixando-se guiar pelos seus próprios pés, sem pensar bem no lugar para onde ia, Eragon deixou-se afogar de novo nos seus pensamentos.

- É... ouvi dizer que nem esteve próximo de derrotar o Vanir... – comentou um elfo de ombros largos e compridos cabelos negros como a noite entrançados.

- Um humano... – criticou uma outra voz, à qual Eragon não pode atribuir um corpo.

- O mais banal dos humanos... E estamos nós a por o nosso destino e o de todos, nas mãos dele... – constatou uma elfo de olhos repuxados e cabelos doirados, virando-lhe as costas ao seu passar.

Saphira parou, olhando para as costas da elfo que imobilizou, sentindo o movimento do dragão.

- Não faças nada... – tentou acalma-la o jovem Cavaleiro.

- Eles não têm direito...

- Eles... – cortou Eragon, acabando por não conseguir responder. – Talvez eles estejam certos... Sou um humano, sem ti não seria nada...

- Eragon, lembra-te, o meu ovo passou por todos eles, e foi a ti que eu te escolhi.

We won't let them change
How we feel in our hearts
We're not gonna let them control us
We won't let them shove
All their thoughts in our heads
And we'll never be like them

(Não vamos deixar que eles mudem o que sentimos nos nossos corações, não os vamos deixar controlarem-nos, não os vamos deixar empurrarem-nos)

Aquela afirmação incontestável pareceu por um ponto final àqueles pensamentos. Juntos, Cavaleiro e Dragão, caminharam até um pequeno rio de águas cristalinas.

Eragon ajoelhou-se mirando as águas que corriam livres, sem controlo, pelas terras sagradas dos elfos, pelos domínios daquelas criaturas perfeitas.

- Que fazes? – perguntou-lhe a voz grave de Murtagh.

- Penso no tempo que ainda teremos de passar aqui... – respondeu-lhe Eragon continuando a fitar as águas.

I've got no place to go
I've got no where to run
They love to watch me fall
They think they know it all

(Não tenho sitio para onde ir, não tenho para onde correr. Eles adoram ver-me cair, eles acham que sabem tudo.)

- Já queres partir? – Eragon anuiu. – Por causa de Arya?

- ... Não...

- Então?

- É que… eles são perfeitos! O que é que eu posso aprender com quem se acha perfeito? Com quem me acha uma nódoa? - confessou Eragon desviando finalmente a sua atenção, fixando os olhos castanhos do amigo.

I'm a nightmare, a disaster
That's what they always say
I'm a lost cause, not a hero
But I'll make it on my own
I'm gonna prove them wrong
It's me against the world
Me against the world

(Sou um pesadelo, um desastre, é o que eles dizem sempre. Sou uma causa perdida, não um herói, mas vou faze-lo da minha maneira, vou provar-lhes que estão errados. Sou eu contra o mundo, eu contra o mundo.)

- Eles não são perfeitos... Basta pensarem que o são para deixarem de o ser...

- É... Se calhar tens razão... – sorriu o jovem Cavaleiro levantando-se. – Luta comigo.

Murtagh não estranhou o pedido do outro, apenas lhe sorriu e ergueu a espada.

Numa luta de aço contra aço, homem contra homem, os dois se debateram corajosamente durante mais tempo do que haviam pensado.

- Continuas a achar que luto como uma cria? – perguntou Eragon a Saphira, enquanto estendia uma mão para ajudar o companheiro a erguer-se.

- Não...– respondeu-lhe a dragão.

Now I'm sick of this waiting
So come on and take your shot
You can spit all your insults
But nothing you say is gonna change us
You can sit there and judge me
Say what you want to
We'll never let you in

(Agora estou farto desta espera, então vêm e dá o teu tiro. Podes mandar fora todos os insultos, mas nada o que digas vai mudar-nos. Podes-te sentar aí e julgar-me, dizer o que quiseres, mas nunca os vamos deixar entrar.)

- Ainda bem...

- Terminámos? – perguntou Murtagh ainda a tentar recuperar o folgo.

- Se assim quiseres. – respondeu-lhe Eragon sentando-se na relva brilhante, para descansar.

- Estás a lutar melhor... – constatou Murtagh depois de alguns minutos em silêncio.

- Capaz... – respondeu o outro sem grande entusiasmo. Melhor não era o suficiente, ele tinha de derrotar Vanir. Podia não ser agora, podia não ser para já, mas ele ia faze-lo.

I'm a nightmare, a disaster
That's what they always said
I'm a lost cause, not a hero
But I'll make it on my own
I've got to prove them wrong
They'll never bring us down

We'll never fall in line
I'll make it on my own
Me against the world.
(Sou um pesadelo, um desastre, é o que eles dizem sempre. Sou uma causa perdida, não um herói, mas vou faze-lo da minha maneira. Vou provar-lhes que estão errados, eles nunca nos irão derrubar. Não iremos cair no que vocês querem, vou faze-lo da minha maneira, eu contra o mundo.)

N/A: Parece milagre, mas eu inspirei-me e escrevi mais um capítulo para a fic! D

Está um bocadinho difícil escrever porque não me quero afastar do verdadeiro livro, mas por outro lado, há lá certas coisas de que eu não gostei e por isso mudo-as aqui, aos poucos e poucos.

A música é "Me against the world" dos Simple Plan e… eu achei que tinha MUITO a ver com a história, até mesmo com a que o Paolini escreveu, e portanto...

Bem... não se esqueçam das reviews (e uma música para um próximo capítulo era bem vinda)!

JkS