Cap4- Quando o mar encontra a areia

Ele não conseguiu pregar o olho a noite inteira. Quando com um rangido preguiçoso a porta se abriu – após o que pareceu uma eternidade -o rapaz deu um pulo de satisfação; mas se sentou outra vez ao notar, com desapontamento, que eram apenas James e Pedro que retornavam aos tropeços, empanturrados e sonolentos. Poucos minutos depois e já haviam mergulhado num sono profundo, sem dispararem grandes perguntas em relação ao sumiço de Aluado- para alívio de Sirius, que não estava num ânimo muito bom para dar satisfações a quem quer que fosse.

Voltou a aguardar, atento, inquieto. Nada. Como ele infelizmente previra Remo não retornou ao dormitório, nem mesmo para dormir. Pensou em ir atrás dele, mas a idéia se foi tão rapidamente quanto surgiu. Cogitou a possibilidade de mandar aquele último acontecimento para os diabos e entregar-se ao travesseiro; mas adormecer fingindo indiferença provou ser uma tarefa ainda mais complicada...

Sirius murmurou um palavrão qualquer, sentiu o nervosismo começar a aflorar, a tomar conta de cada fibra de seu corpo e, alterado, marchando para a janela aberta do dormitório, decidiu acender um prazeroso cigarro.

Sua mente trabalhava de uma maneira doentia, arquitetando meios de imprensar Remo contra a parede, de obrigá-lo a falar, de arrebentá-lo, de agradá-lo, de ignorá-lo, de repudiá-lo, de tratá-lo como se nada tivesse acontecido...e no ápice de seu labirinto reflexivo cheio de paradoxos, ele deu uma tragada profunda no calmante que mantinha entre os dedos trêmulos.

Inspirou fumaça e expirou alívio uma, duas, três, diversas, infinitas vezes.O vento úmido vindo da janela aberta soprou seus cabelos e rosto durante o que pareceu ser uma angustiante eternidade, enquanto o céu marinho escuro se aquarelava num dégradé que ia de um cinza opaco, meloso, a um azul impregnado pelo cheiro conhecido e frio da manhã.

Trabalhar incansavelmente durante toda a madrugada foi a perdição total da mente de Sirius- não apenas por ela não ter chegado a lugar algum, mas também por ter obrigado seu corpo a arcar com as conseqüências de horas não dormidas: olheiras profundas, olhos lacrimosos e expressão carrancuda; junte a isso falta de atenção e mau humor e você terá uma idéia muito próxima do que era Sirius Black na manhã seguinte ao seu quase delirado momento diante da janela...

Logo no refeitório, James estranhou a comida quase intocada de Sirius, os olhos nublados que se voltavam para todos os ângulos possíveis de hora em hora e, mais uma vez, a pusilânime ausência de Remo. Quando questionado a respeito do paradeiro do licantropo, Sirius dava de ombros, irritado "Eu sei tanto quanto você!" ao que James fazia uma careta- aquele comentário evasivo, dado nos instantes em que a atenção de Sirius estava voltada para o além, cheirava a mentira, ou, no mínimo, a uma misteriosa cumplicidade.

E foi graças a essa desconfiança que James decidiu afogar Sirius com um longo, íntimo, particular e perturbador questionário, o que se mostrava ser algo próximo do impossível com Pedro os seguindo de um lado para o outro feito um cãozinho perdido. Depois de muito esforço e artimanha, finalmente Potter conseguiu convencer Rabicho de que ele e Sirius tinham que estudar Aritmancia, e uma vez que Pedro tinha pavor de números, ele galopou para longe apressadamente a fim de achar alguma outra coisa para ocupar seu monótono fim de semana.

- Qual é o seu problema?- Sirius indagou com urgência enquanto assistia as mãos de James Potter o empurrarem com força para cima de um sofá, onde suas pernas perderam o equilíbrio, forçando-o a se sentar.

-Não roube a minha pergunta! É exatamente isso que eu quero saber!-rebateu o rapaz, acomodando-se com pressa ao lado de um bufante Almofadinhas:

-Você é maluco...

James ergueu uma sobrancelha, impassível:

- Nem tanto; eu percebi que alguma coisa aconteceu entre você e o Aluado ontem de noite...

Sirius hesitou, avaliando sua situação. Precisava ter cautela para tentar descobrir até onde James sabia, o que sabia, ou o que achavaque sabia. Decidiu ser evasivo, vago, descomprometedor:

- Alguma coisa?

-É, tipo uma briga...

Excelente. Uma briga seria a perfeita escapatória, afinal, aquilo se tornara comum entre os marotos: a convivência fizera com que constantemente discutissem por motivos que iam dos mais tolos aos mais constrangedores, e Sirius, na maioria das vezes, era o sujeito ativo dessas situações graças ao seu gênio explosivo.

-E daí?- fez ele, o alívio explícito em suas feições. James olhava-o de lado, incerto, relutante em se convencer:

-Bem, você temcertezaque foi só isso?-pressionou, os olhos detrás das lentes tomados por desconfiança e até súplica. Sirius deu de ombros; a tática de ser evasivo ainda em ação. Potter crispou os lábios e por fim, em tom definitivo, deu-se por vencido- Então vai atrás dele.

-E onde ele se meteu?-desafiou Sirius.

-E eu lá sei? Use o Mapa do Maroto pra isso, ué!- retrucou o rapaz.

Sirius sentiu ganas de se esmurrar diante daquela resposta óbvia. Perdido em sua nova angústia ele acabara se esquecendo completamente da artimanha mágica que havia construído com os demais marotos. Pensou em revidar aquilo, orgulhoso do jeito que era, mas a pressa que tinha em encontrar seu tão ausente e preocupante Aluado era triplamente maior. Largando um James possuído por um sorriso que era pura mescla de triunfo e satisfação, Sirius marchou para longe, saltou todos os degraus que o levariam aos dormitórios masculinos, cruzou em tempo recorde o corredor que circundava a torre de Grifinória e, por fim, irrompeu pelo seu quarto feito um trovão.

Todos os seus pensamentos, músculos e ordens cerebrais apontavam para um único objetivo: recolher o mapa encantado e, por meio dele, localizar o motivo para todas as suas mais recentes dúvidas e tormentos. Seus primeiros reflexos foram uma mão na maçaneta, outra na varinha e um "Accio Mapa do Maroto"nos lábios - que morreu instantaneamente quando ele quase pulou para fora de sua pele diante de uma certa visão...

Remo estava sentado em sua própria cama, esta ainda forrada e limpa dês da noite anterior. O rosto pálido, os olhos fundos e os cabelos levemente bagunçados ergueram-se subitamente com a estrondosa entrada do animago:

-O que você está fazendo aqui?- Sirius questionou jogando-se de costas contra a porta, que se fechou.

-Eu moro aqui, Sirius.- respondeu Lupin devagar, sua expressão denunciando uma alarmante luta interna para manter a calma e serenidade esperadas.

Rever Sirius Black, aquele mesmo Sirius Back de traços rígidos, expressão firme, fisionomia embargante e possuidor de um olhar que o caçava até mesmo em sonhos foi mais do que o suficiente para fazer todo o seu interior explodir em gritos enrouquecidos, mas mudos. Gritos dolorosos que estavam cansados de tanto se expressarem, mas que ao mesmo tempo não traziam motivo algum para serem calados; afinal de contas, dizem que a dor é somente psicológica...

-Por onde esteve todo esse tempo?-disparou Sirius, braços cruzados, cabelos jogados desleixadamente sobre os olhos de cintilante malícia. Lupin estremeceu ligeiramente antes de responder, vago, forçado:

-Por aí...- "Por onde você não pudesse estar..." ecoaram seus pensamentos malogrados.

Aquilo tudo estava o matando. Até então seu maior e mais irrefreável problema era manter o auto controle - o que conseguia fazer graças ao seu medo de rejeição, sentimento permanente que o mantinha calado, mesmo que para isso ele estivesse usando cada fibra de sua força de vontade.

É, sustentar uma aparência de perfeito amigo já era um sacrifício inumano, mas agora o constrangimento era maior...

Sirius já o tocara outras vezes, é verdade, mas nada que pudesse ser levado em conta. O que ocasionalmente acontecia eram tapinhas amigáveis, esbarrões, tropeços, empurrões; alarmantes sim, tentadores talvez; mas irremediavelmente dilacerantes de corpo e alma não. Definitivamente não.

O toque profundo, o toque fatal, o toque de sucção total de todas as suas energias é que pesara fortemente do outro lado da balança; o toque dos lábios, da língua, dos braços, da pele...o toque de motivação ainda inexplicável para Remo, o toque que ele pretendia com toda a sua racional desconfiança apagar da memória... Sirius o beijara. Sirius, o cachorro insensível, o provara; Sirius o testara; Sirius quase o matara!

Sim, Sirius era sempre uma dessas coisas das quais não havia escapatória.

-Você não ficou chateado comigo por..?-começou Sirius.

-Não!-adiantou-se Lupin, muito mais depressa do que uma pessoa realmente não chateada teria feito. Sirius murmurou um "Ah"; Remo corou com um "Pois é".

O silêncio que se perpetuou por entre os dois foi dos mais desconfortáveis possíveis. Remo sentia-se sufocado, como se Sirius estivesse respirando todo o pouco ar que parecia ter naquele dormitório, como se as quatro paredes do lugar estivessem se fechando sobre ele, como se uma mão invisível estivesse tapando suas narinas, obrigando-o a arfar pela boca feito um cachorrinho exausto. Seu batimento arterial alcançava picos extraordinários no momento.

E foi então que ele ouviu algo externo, algo além do som oco e compassado das marteladas de seu coração: passos. Sirius caminhava até ele, mãos nos bolsos, semblante misterioso. Mais uma vez o cérebro de Remo ordenou um recuo imediato a fim de mantê-lo na "linha de segurança", porém, seu corpo não se moveu. Falhas de comunicação entre seus neurônios, talvez, mas o fato é que ele não se mexeu, não contraiu nenhum músculo, nada. Apenas o peito subia e descia conforme Sirius se aproximava.

Seus olhos alarmados seguiram cada movimento do companheiro, desde sua aproximação até sua parada total diante dele. Mais um grito interno ordenou furiosamente que o lobisomem se afastasse; era como se ele tivesse um alarme pronto a alertá-lo sobre a distância segura -ou não- de seu imã proibido. Remo sentiu o alarme disparar, desejou obedecer, mas nada aconteceu; estava paralisado, seus dedos apertando cada vez com mais força o colchão em que estava sentado.

Sirius ajoelhou-se diante dele, o rosto denunciando uma expressão decidida. Remo fechou os olhos, com medo de fitar tamanha e angustiante realidade: seu Almofadinhas estava ali, tão próximo, tão palpável e, ao mesmo tempo, tão longe e inacessível, que o licantropo não mais conseguia distinguir loucura de sonho, dor de amor, ou razão de martírio.

-O que foi dessa vez, Aluado?-acalentou a voz aveludada do animago. Remo engoliu em seco. Os olhos ainda cerrados:

-O de sempre...

-Que seria?

-Você.

Sirius ergueu-se imediatamente, dando um pulo para trás. A respiração de Remo entrecortou-se junto a um soluço arrependido ao perceber tal reação.

-O que exatamente você quer dizer com isso? -pressionou o moreno, a voz límpida, mas nervosa.

Ele vinha aguardando aquele momento de esclarecimentos há muito tempo, porém, agora, não conseguia se decidir se aquilo era realmente necessário ou se ele acabara de cometer um grande erro... Afinal, talvez as coisas estivessem melhor antes; talvez eles não precisassem passar por todo aquele sufoco, por tanto desconforto... Sirius recuou mais um pouco. Nada no mundo havia o preparado para aquilo; fugirfoi uma das milhares de propostas que passaram como relâmpagos por seu cérebro -e que instantaneamente foram descartadas. Não. Ele não era um covarde. Ele decididamente não era um covarde.

Ainda assim, nem mesmo o transtornado estado emocional de Almofadinhas poderia se comparar ao infernointerior em que Remo vivia. De olhos fechados, ainda apertando o colchão loucamente contra os seus dedos, o lobisomem decidiu-se por dar fim ao seu tormento. Para sempre.

-Eu gosto de você. -murmurou, debilmente.

-Eu sei. - respondeu Sirius facilmente, fazendo Remo perceber, com um soco invisível e doloroso no estômago, que ou Sirius havia deliberadamente o interpretado mal, ou realmente não fazia a menor idéia do que ele queria sinceramente dizer. Respirou fundo, tão fundo que sentiu até mesmo sua alma encher-se de ar:

-Não, eu gosto gostode você...

Abrir-se era o mesmo que sentir seu mundo inteiro desandar; era o mesmo que desfazer sua própria muralha de proteção, construída e arquitetada com um esforço desumano; era como botar fogo em sua própria fortaleza...era como o suicídio, mas ele continuou. Estava farto!

– Eu sempre penso em você e eu...eu sinto vontade de tocá-lo, de beijá-lo, de tê-lo só pra mim...e-eu realmente querovocê. M-me desculpe, mas eu não consigo me controlar; eu tentei! Eu juro que tentei! M-mas...- lágrimas amargas queimavam os olhos desolados de Remo, cujo ódio que sentia de si mesmo crescia mortalmente a cada nova gota formada. Ele sem querer piscou e as deixou escorrer pelo seu rosto torturado. Ele nunca planejara aquele momento; nunca, nem em pesadelos, imaginara a cena daquela forma, tão humilhante, tão patética...seu pranto doloroso de angústia e perdão,para ele, não se passavam de provas indignas de sua mais pura e rebaixada fraqueza. E Sirius o assistia (provavelmente com um sorriso diabólico de descrença); o mesmo Sirius que até então o considerava um amigo, um de seus melhores amigos...

O poço fora escavado, ele mesmo saltara para dentro e agora, com um repentino desejo diabólico de dar ênfase àquela auto mutilação, finalizou, num gemido definhado, mas decidido:

-Eu te amo; essa é a verdade...

"Oh", fez Sirius suavemente. E então se fez o silêncio, um silêncio crescente em que lhes faltou o ar, durante o qual seus miolos e sanidade pareceram se devorar, seu vigor se esvair, até que Remo chamou meio choroso, baixinho, hesitante:

-Almofadinhas?

Sirius virou sua cabeça.

-V-você me odeia?

Sirius sorriu languidamente, meio abatido, frouxo, negando com um aceno. Remo calou-se; o esboço do que parecia ser um sorriso desfalecido no canto dos lábios; uma última lágrima terminando de percorrer seu caminho por sua bochecha.

-Eu sinto muito. -balbuciou, mordendo os lábios úmidos. Parecia ser o culpado por um crime terrível e inconsolável.

-Não sinta...

Remo ergueu os olhos para ele pela primeira vez naquele dia. Sirius viu-se espelhado ali, naquele par aguado e infinito de dolorosos pensamentos- que provavam para ele como a frase "os olhos são o espelho da alma" estava precisamente correta. Sensitivamente correta. Remo estava acabado; sua alma visivelmente definhada, açoitada por sofrimentos que iam muito além da imaginação, que iam muito além da dor física, da doença, do ferimento palpável. Esta afeição que fora contrair em relação a Sirius levou sua alma a expandir-se completamente, subindo seu pequeno amor ao nível de rematada cegueira...

E era por isso que Sirius não se permitia ficar apenas comovido. Aquela lealdade sem tamanho e aquele sacrifício a que o amigo se submetera mereciam uma troca com o mesmo e grandioso valor. Mereciam não apenas um gesto, mas um sentimento verdadeiro que Sirius não sabia se possuía, ou, ainda, se era capazde possuir. Remo sofria terrivelmente, e ele era o culpado. Ele fora o causador de toda aquela fatal enfermidade no companheiro, e mesmo sabendo que era o único capaz de curá-lo não conseguia se decidir por qual remédio optar. Aliás, ele nem sequer conhecia o remédio correto!

-Pare Aluado, eu não agüento te ver assim!- exclamou em desespero, puxando os cabelos para trás com os dedos trêmulos. Remo novamente dirigiu a ele aquele mórbido olhar que Sirius não suportou encarar e, por isso, desviou-se. –Eu...eu não sei o que fazer...

Lupin ergueu-se vacilante. Frêmitos passavam em ondas por todo o seu corpo.

-Eu não devia ter te contado isso...você não precisava saber...

-Não! É claro que precisava! Porque você acha que sempre consegue enfrentar tudo sozinho? Porque você se maltrata tanto e nunca pede ajuda a ninguém? Porque? Porque?-com uma exaltação extremamente indignada Sirius atirou-se para o outro a fim de envolvê-lo apertado em seus braços, como se quisesse protegê-lo de si mesmo.

E mais uma vez uma garra invisível apertou o coração do licantropo com força, fazendo-o sufocar um ganido de dor. Sirius estava o abraçando, o apertando vivamente contra si com a melhor e mais amável das intenções, e o que é que lhe vinha à cabeça? Explosões de desejos, visões enlouquecidas, impulsos, e aquele maldito sentimento triplamente maior do que a mera amizade. Desgraçado! Remo Lupin, você é um desgraçado!Você não merece tanta devoção, não merece nada disso...

-Me solte...você não entende...está só piorando as coisas...fique longe...

-Eu não posso te deixar sozinho!-vociferou o animago, intensificando aquele abraço tentador. Remo continuou lutando debilmente, quase sem forças físicas ou mentais:

-Não, Sirius! Você me mata desse jeito! Temos que ficar longe!

-Não vou deixar que você fuja mais uma vez.-decretou o moreno, firme, o queixo encostado sobre os cabelos suaves do lobisomem. Remo estremecia feito um epilético, as contrações de seu corpo surgindo involuntariamente, o coração parando de bater:

-Por favor...

Mas Sirius não cedeu. Muito pelo contrário; ele manteve seus braços firmemente ao redor de Remo até senti-lo perder a resistência, até senti-lo pender a cabeça em seu peito, relaxar os músculos, soltar os braços, murchar o corpo e, gradativamente, cessar os ganidos baixinhos e comprimidos.

E a paz reinou novamente no ambiente. O par continuava abraçado, sendo que Remo desaparecera em meio ao refúgio de Sirius enquanto este, firme, quieto, com os olhos fixos na janela do outro lado, parecia mergulhado em profundo estupor. Estava apopléctico.

Se passaram alguns segundos, minutos, horas ou dias os rapazes jamais saberiam. Por não saberem como resolver o problema, decidiram interrompe-lo com um abraço (gesto simples, sem muita margem para interpretações) que poderia ter durado para sempre...mas que infelizmente não foi o que aconteceu.

A porta do dormitório foi escancarada com a entrada do destrambelhado e materializado antônimo da sutileza; Pedro Pettigrew. O gordinho pareceu não notar nada no início, por isso, foi logo entrando aos assovios com sua cara redonda e rosada empinada, toda serelepe. Foi preciso apenas um olhar mais atento para que visualizasse a imagem dos dois marotos envolvidos por um abraço intensamente caloroso, bem no centro do quarto. Ele estancou, assustado. Sirius e Remo soltaram-se de imediato, o constrangimento estampado em seus rostos.

Pedro parecia estar esforçando-se ao máximo para tentar formular uma pergunta decente (os outros dois podiam notar isso pela ligeira baba que se formava no canto de sua boca), que lhe permitisse compreender a situação. Na falta de neurônios funcionais para esta atividade, grunhiu:

-O que estão fazendo?

-Nada, sua anta! O que é que você quer?-rugiu Sirius, voltando olhos assassinos para o baixinho, que se escondeu atrás da porta entreaberta, apenas o nariz pontudo espiando os dois, cauteloso:

- Eu queria...bem, esse é meu quarto também, e eu pensei...

-Pode entrar, Pedro!-interveio Remo, sorrindo nervosamente.

Sirius voltou para ele um olhar incrédulo. Remo o evitou, afastando-se para ir trancar-se no banheiro. Rabicho invadiu o quarto, mais tarde foi James quem deu as caras, e mais uma noite foi perdida sem que Sirius conseguisse dar grandes avanços em seu problema...

XXXXXXXXXXXX

3:00 AM.

Expira, inspira, expira, inspira-Remo podia ouvir Sirius dormir na cama ao lado enquanto ele próprio se mantinha acordado, revirando-se na cama desconfortavelmente, os olhos em chamas...ele sempre parecia estar em chamas, assim como sempre parecia estar acordado-ou algo próximo a isso. Mesmo sonhar parecia exaustivo! Quando desfalecia após uma transformação, sempre acabava atordoado com imagens obscuras de lugares por onde nunca passara, com gritos de criaturas que nunca chegou a conhecer, com cenas e ações que até então não se lembrava de ter feito... e, uma vez ou outra, com alguns animais correndo euforicamente ao seu lado, suas patas deslizando pelo gramado de uma maneira que ele apenas imaginava mas nunca conseguia se recordar de ter visto.

Virou-se de lado para assisti-lo. Sirius ficava inacreditavelmente lindo quando dormia, talvez ainda mais do que quando estava acordado, pois naquele momento ele desligava-se do mundo, relaxava completamente, livrava mente e corpo de todo o peso de qualquer problema –e isso de maneira tão intensa que chegava a mudar suas feições. Ele finalmente aparentava estar em paz.

Remo fez um movimento como se fosse ir até ele, depois parou. Com o coração apertado, lançou um olhar furtivo para as outras camas – James dormia profundamente, cortinas arreganhadas, óculos na cabeceira, braços esticados; Pedro Pettigrew parecia ou ter morrido ou virado pedra, pois dês do momento em que despencara sobre a cama não movera mais um músculo. Bom sinal. Os olhos amarelados de Remo jogaram-se carinhosos para o rapaz adormecido, cujo peito nu subia e descia em ritmo moderado. Apenas uma pequena faixa de luz noturna adentrava pela janela, semi-iluminando a cena...Remo sentou-se silenciosamente. A respiração falhou por um segundo, mas ele logo se esforçou em resgatá-la. Ergueu-se. Sirius imóvel, ocupando-se apenas em deleitar-se em toda a sua confortável tranqüilidade...Remo o assistia, agora se aproximando gatunamente, sem produzir ruído algum a não ser o de seu coração desenfreado – seu único, teimoso e provável delator.

Já estava próximo o suficiente para tocar seu foco de atenção – expirando e inspirando, os cabelos negros escorrendo por sobre as pálpebras suavemente fechadas. Ele próprio cerrou os olhos, tomando coragem; o autocontrole tantas vezes requisitado já estava escapando-lhe por entre os dedos, que esticou, hesitante. Sirius nunca iria perceber...

Primeiro ele tocou o braço de Sirius, tão trêmulo e rasteiro que provavelmente o toque havia sido quase imperceptível. Levantou os olhos para o rapaz, receoso, mas o adormecido continuava lindamente indiferente, encorajando-o a continuar...isso,só mais um pouco...ele só queria senti-lo,nada mais, apenas se assegurar de que Sirius estava ali,próximo,palpável, real...Remo continuou o afagando, cautelosamente. Em seguida correu os dedos para a clavícula do moreno, para seu pescoço quente, para seu maxilar levemente áspero. Tão perfeitamente delineado, Sirius...Meu Sirius...

O rapaz fez um pequeno barulho em algum lugar entre um suspiro e um gemido, obrigando Remo a recuar, imediatamente embaraçado. Se Sirius estivesse acordado, oh, que explicação lhe dar? Ele quis retornar, quis voltar para sua própria cama apressadamente; mas bastou um pequeno momento para um olho cinzento se entreabrir e considerá-lo solenemente.

-Você...-sua voz saiu rouca, um tanto rasgada; ele limpou a garganta antes de continuar- Você não precisava ter...parado.

Tudo o que Remo pôde balbuciar foi um trêmulo "Ok" antes de esticar sua mão novamente, indeciso, confuso, estupefato, mas ainda assim internamente realizado. Ele correu os dedos pelo braço de Sirius mais uma vez, ajudando-o a fechar os olhos. Apenas assim, sem ser assistido, é que se atreveu a deslizar sua mão um pouco mais além, percorrendo o mesmo caminho anterior. Pulsando de contentamento, agora sem interrupções, ele alcançou as carícias até a bochecha macia de Sirius que, de repente, inesperadamente, moveu a cabeça para pressionar os lábios na mão de Remo. O jovem pausou, mente, alma e corpo inertes por alguns segundos...os lábios de Sirius estavam molhados, ardentes,macios. Expire, Inspire, expire, inspire! ...até que com um leve espasmo Remo sentiu o toque cessar; Sirius voltava sua cabeça para o travesseiro.

Remo fez uma pausa para conter um sentimento afoito que subia por sua garganta, algo como um pungente prazer, mas conteve-se; simplesmente guiou gentilmente seus dedos por entre o longo, lustroso e desordenado cabelo de Sirius, assistindo a expressão deste alterar-se furtivamente para um sorriso.

Um sorriso certamente agradecido, com uma pitadinha manhosa de algo mais...

Bem que se quis

depois de tudo ainda ser feliz

mas já não há caminhos pra voltar.

E o que é que a vida fez da nossa vida?

O que é que a gente não faz por amor?

Mas tanto faz,

já me esqueci de te esquecer porque

o teu desejo é o meu melhor prazer

e o meu destino é querer sempre mais

a minha estrada corre pro teu mar

Agora vem pra perto vem

vem depressa vem sem fim dentro de mim

que eu quero sentir

o teu corpo pesando sobre o meu

vem meu amor vem pra mim,

me abraça devagar,

me beija e me faz esquecer

Bem que se quis

N/A: NÃO DEU pra terminar a fic, simplesmente NÃO DEU! O Sirius é mesmo osso duro de roer, e eu aqui, uma pobre infeliz brincando de escritora de fic, não consegui mudar isso XD Os capítulos terminaram, afinal; o próximo e último (dessa vez eu JURO POR DEUS que é o último!) eu vou chamar de "Epílogo", e será (mais uma vez eu JURO!) muito mais curto do que seus irmãozinhos que o precederam. Agora faço uma pausa, chega de explicações; ta na hora dos agradecimentos. Primeiramente, eu gostaria de agradecer de joelhos, beijando sapatos e tudo o mais, aos diversos leitores que se converteram a meus leitorese fizeram a caridade de deixar reviews. Vocês é que são os verdadeiros responsáveis por esta fic ter ficado do tamanho que ficou, com atualizações lerdas, mas atualizações, além de terem sido os causadores da minha extrema felicidade e satisfação! Não sou muito católica, mas ainda assim: Que Deus os abençoe! Vale aqui dar uma bronca nos leitores anônimos que preferem ler atrás da moita e não contar pra ninguém; humpt! Eu gosto de críticas poxa, não custa nada clicar em "submit review" lá no final da página;) E agora, o momento sublime...chegou a hora do grande e esperado agradecimento: Pri! Muito obrigada por ter se tornado minha Beta clandestina,ilegal e não identificada! Obrigada pelos conselhos, dicas, correções e comentários construtivos!Obrigada por me pressionar a escrever, por gritar comigo no msn ás 4:00 da manhã exigindo "mais uma cena!" Obrigada por acompanhar a fic e exigir todos os dias uma continuação!Obrigada por se dispor a não apenas ajudar, mas suportar toda essa ladainha! Enfim, obrigada por tudo!

N/A2: Não me poupei nem um pouco pra escrever tudo isso aí. Espero que fiquem satisfeitos pro resto de suas vidas!

N/A#: Com certeza vocês não irão se livrar de mim tão cedo!Na próxima e definitiva atualização, vcs terão mais notas de rodapé de macpotter! MUAHAHAHAHA! Tchans!—some no meio de uma fumaça de purpurina.