Capítulo 3 – Passeio a luz do sol
Pouco antes.
Remus ainda estava se lamentando quando resolveu descer. Deveria espairecer, e ali algum maroto, especialmente um maroto, poderia vê-lo chorando. Lamentando não ser bonito o suficiente para Sirius. Não! Eu devo esquece-lo. Vou evita-lo. Se eu não vê-lo por uns dias posso esquecer o que sinto. Reprimir, guardar fundo o suficiente para não sentir.
Pensando nisso ele desceu, os olhos ainda úmidos. Passou pela garota chata, que fez menção de segui-lo.
"Não – disse simplesmente." Não quero que venha. Quero ficar sozinho.
"Mas... você está tão triste."
"Exatamente por isso quero ficar sozinho."
Passou por ela sem sorrir. Desceu as escadas sem realmente ver onde ia. Uma mão tocou seu ombro gentilmente. Ele corou.
"Lupin, você viu o Potter? Eu queria muito falar com ele. O que é que você tem?"
Era apenas Evans. Mas o que ela queria com o James? Será que seu amigo estava tendo sorte? Ele lembrava que Sirius estava a fim dela. Sirius, aquele beijo retornou a sua memória, aquele momento sublime. Mas a garota a sua frente era quem provavelmente contracenava com seu Almofadinhas na imaginação dele. Ela contracenava com todos os seus amigos nos sonhos deles.
"Remus, você tá bem?" ela estava agitando a mão para cima e para baixo em sua frente. "Você ficou calado de repente."
"Ahn? Desculpe, o que você estava falando?"
"Eu perguntei onde está o Potter, porque eu preciso falar com ele. E perguntei o que você tem, porque está estranho."
"Eu estou bem foi a lua."
"Não me venha com essa de influência de lua com..."
"Não Lily. A lua."
"Ah, sim" ela beijou seu rosto com um sorriso compadecido.
Depois de seus amigos, Lily foi a única a quem ele contou, e somente ela.
"O James estava na torre de do quinto andar ala sul. Na sala de aula, provavelmente estudo dos trouxas. Não sei se vai estar lá."
"Obrigada. E melhoras" sorriu e o beijou novamente.
Ele tremeu. Com toda certeza se sentia atraído por ela. Talvez seus olhos tivessem sido o que mais o atraía, provavelmente Sirius viu isso nela também. Sirius, Sirius, Sirius e Sirius. Quando esse maldito nome ia sair de sua cabeça? Quando aquele maldito sorriso ia sumir dos seus sonhos? Quando aquela maldita gargalhada parecida com um latido ia parar de ecoar em seus ouvidos?
Sacudiu a cabeça, dessa maneira nunca esqueceria de seus sentimentos.
A lua cheia estava chegando, usá-la-ia para desaparecer. Isso. A lua cheia era a solução. Já havia até começado a planejar algo.
Voltou a andar. E descer calmamente até os jardins. Precisaria espairecer mais que nunca agora. Pelo menos, não estava mais tão triste. A perspectiva de encontrar uma solução alegrou um pouco mais a sua mente.
Chegou logo aos jardins. Vários casais passeavam juntos naquele dia. Eles ganharam a tarde de folga, não sabia bem porque, mas ouviu um casal comentando quando passou por ele. De repente ele imaginou Sirius chegando até ele, o puxando pelo braço e sentando perto do lago, ou pior, chegar e beija-lo. Sacudiu a cabeça e sentou sob uma árvore. Fechou os olhos e a imagem de Sirius surgiu em sua mente.
"Por que eu vim para cá e não para o meu cantinho?"
"Quebro coisas, chuto animais" ele escutou Sirius falando.
Levantou e andou para onde pensara ter ouvido a voz. E a sua frente estavam Dumbledore e Black, conversando. No momento Dumbledore estava falando.
"Você devia se entregar um pouco mais aos sentimentos mais doces existentes dentro de si. Imagino que esteja apaixonado por alguém" nesse ponto Remus sentiu seus olhos marejarem novamente. Ele não entendeu o porquê, mas sentiu seu coração doer. "Você devia falar o que sente antes que perca essa pessoa especial. Agora com licença, garotos. Devo-me ir."
Sirius só então percebeu Remus parado a sua frente ele deu um sorrisinho tímido.
Droga, ele fica tão atraente assim pensou Sirius. Remus estava ali parado, e ele sem saber o que fazer, ou o que falar.
"Remus, quer conversar?" perguntou sério.
Não! Responda não! Mas como lhe negar algo? Não Lupin, se quer esquecê-lo, tem que o evitar por uns tempos. Mas ele queria muito ficar, vê-lo falando sua voz doce cantando uma melodia que somente ele conseguia escutar. NÃO!
"Aqui?" foi tudo que conseguiu falar.
"Sim. Pode ser?"
"Não. Eu preciso... eu preciso ir a biblioteca."
"Fique, por favor."
O que está fazendo Sirius? É por isso que o James acha que você está a fim dele. O que aparentemente é verdade. Como você pode estar assumindo isso, seu mongol? Eu não quero assumir.
Enquanto discutia, Remus sentou ao lado dele. Sorrindo ainda muito timidamente.
"O que você quer falar?"
Não consigo. Não consigo, não ele estando tão bonitinho assim. Nunca havia reparado o quanto ele é tão fofinho. Droga o que eu estou pensando?
"Hein? Diga. O que foi?"
"Nada" disse simplesmente. Apoiando a cabeça nos braços entrelaçado e deitando. "Eu esqueci o que tinha a dizer. Então deite aí e relaxe."
Não devo me martirizar tanto. Ele apenas quer falar qualquer coisa. Vou me deitar ao lado dele e discutir sobre a lua cheia. Mas não alterarei meus planos, não importa o que ele diga. Ele deitou com Sirius. Perto o suficiente para sentir o calor que emanava dele.
"Vocês já pensaram qual vai ser a brincadeira da semana que vem?"
"Hm?" Sirius estava tão distraído olhando as nuvens que Remus se inclinou para ver o que ele tanto fitava.
Quando seu olhar o encontrou ficou sem ar. Ele estava sonolentamente admirando as nuvens. Seus cabelos negros caíam sedosamente na grama. Seu olhar era sério, e um sorriso intruso lhe brincava na face.
Sirius percebeu que estava sendo observado e virou. Deparou-se com Remus inclinado ao lado dele. Seus cabelos castanho-claros caindo lateralmente sobre seus olhos. O corpo a centímetros do seu. Sua mão alcançaria a cintura dele facilmente e o traria para si num piscar de olhos. Seus olhares se encontraram e eles mantiveram o contato. Sirius lutava para que sua natureza impulsiva não arrastasse Remus para um beijo num lugar público.
Quando a força de vontade de ambos estava para ceder, uma bomba d'água caiu sobre ambos. James e Peter apareceram rindo feito tagarelas. Na verdade, James ria e Peter fazia coro. Pontas se agachou perante os amigos encharcados.
"Se querem se agarrar façam isso num lugar mais privativo, por favor."
Ambos lançaram-lhe olhares de extremo ódio.
"Ok, ok. Não está mais aqui quem atrapalhou o encontro de vocês" e riu. Pet temia se aproximar.
"James, por que raios que você não tá na sala?"
"Pelos raios que Dumby cancelou todas as aulas de hoje. Vocês saíram no meio do almoço e não souberam. Não perceberam que hoje o castelo estava cheio?"
"Bem, falando nisso a Lily me perguntou onde você estava James."
Era fato conhecido que James ainda nutria um forte sentimento por uma determinada ruivinha. Ele se eriçou e passou a mão no cabelo. Sorriu o mais sensual que pode, embora no momento não fizesse diferença alguma porque ela não iria vê-lo.
"Jura? Onde ela está?"
"Não sei. Ela saiu."
"O que ela queria?"
"Não me falou. Ela não achou você?"
"Não" James os puxou para se sentarem bem próximos dele. Para que pudesse sussurrar e ser ouvido apenas por eles. "Eu saí com ela faz uns dois dias, mas ela me pediu para eu não contar a ninguém, e eu não tinha achado brecha para falar para vocês. Nesse encontro eu falei tudo que sentia, e ela passou a me evitar. Se ela quer falar comigo, talvez eu tenha grandes chances" e sorriu.
Remus mal ouviu o que ele falava. Sua mente estava divagando sobre o ato de estarem tão perto que sua mão tocava a de Sirius. E ele não queria e nem tinha coragem para tirá-la dali, pois Sirius poderia perceber o movimento. Ele estava levemente corado.
"Poxa James, podia ter contado pelo menos para a gente né?" retrucou Sirius.
Black brigava firme com James, mas em momento algum tirou sua mão debaixo da do Lupin. Fingia não ter percebido. Mas ao menor toque dele sua pele explodiu, implorando por mais contato e Pet escutou o lamento de seu corpo e empurrou Lupin para cima dele fazendo uma mão ficar sob a outra.
"Me desculpe Sirius, mas eu também tenho sentimentos e estava abatido com o fato de estar sendo ignorado pela mulher que amo. Agora senhor rabugento me dê licença que eu vou procurá-la."
"Eu vou comer" gritou Peter. E também saiu se rastejando e esfregando a mão em direção a cozinha.
Ambos ficaram lá imóveis. Nenhum querendo interromper o contato das mãos. Mas Remus, achando que não suportaria mais, tirou sua mão de cima da de Sirius lentamente, aproveitando para de certa forma acaricia-la.
Sirius sentiu a mão do amigo se arrastando sobre a sua. Sua pele queimando e o corpo implorando para que ele não fizesse isso. Num impulso louco segurou a mão de Aluado no instante em que ela ia sair de cima da sua. E ficou ali, parado, segurando o pulso dele.
Remus sentiu seu corpo tremer com a atitude de Black. E num momento alucinado ele puxou seu pulso para entrelaçar as mãos. No instante que fez isso temeu a rejeição de Sirius. Mas esse se manteve indiferente.
Indiferente até o ponto em que levantou, ainda com as mãos entrelaçadas, e começou a puxar o outro para um canto do jardim.
Parou apenas quando eles chegaram do outro lado do castelo. Quase ninguém gostava dali, era bem mais calmo, e hoje particularmente possuía apenas dois visitantes, um animago e um lobisomem.
Que eu fiz? Que eu fiz? É o meu melhor amigo. Eu não posso estar querendo... por favor, meu corpo, diz que não. Por favor, não com ele.
Remus puxou sua mão e olhou para Sirius. Este sentiu seus olhos marejarem ante a rejeição, mas de onde vinham as drogas dessas lágrimas? De onde? Por que motivo elas vinham? O motivo você sabe.
