Um Epílogo ou Três
Uma data qualquer e irrelevante, ao menos para Remus John Lupin. O vazio que tomava conta de sua alma tanto quanto daquele cômodo. Ele puxava as cobertas da cama de casal e as rasgava, chorando compulsivamente. Pegava a folha de jornal e mirava a foto quase ilegível pelas manchas de lágrimas e as marcas de amasso.
"Você não... Porque justo você?" perguntava para o que fora um dia uma notícia. Deixou-se desabar de vez no chão rolando suavemente e chorando desesperado.
A foto do jornal o mirava risonha, apesar de a imagem ser irreconhecível a gargalhada meio latida era perfeitamente familiar, era a risada de Sirius Black.
"Preso ontem pela manhã," começava a notícia, "o senhor Sirius Black, da antiga família Black, foi preso por genocídio.
Onze trouxas e o bruxo Peter Pettigrew foram mortos pelo assassino que havia explodido a rua e seus passantes. Algumas testemunhas declararam que Black parecia louco, rindo e gritando 'eu devia desconfiar'. Os aurores acreditam que Black estivesse sob efeito de alguma droga ou poção alucinógena.
Black também é acusado de traição à família Potter. Ele entregou o paradeiro dos Potter para Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, mesmo sabendo que ele os procurava e desejava mata-los. Black teria sido o fiel de segredo de Lily e James Potter, e os delatou de última hora para seu chefe. Harry Potter, o menino que sobreviveu, foi o único sobrevivente do massacre.
Peter Pettigrew, James e Lily Potter eram amigos de infância do acusado. Também falam de um outro amigo dele que muitos agradecem ter tido a sorte de estar viajando e não ter morrido nesse ataque louco de ódio.
Temos alguns correspondentes da família e do antigo círculo de amigos de Sirius Black, antigos da época que ele não era um comensal da morte.
'Ele sempre foi estressado e explosivo. E não seria a primeira tentativa de assassinato do meu primo' fala Bellatrix Black, prima do acusado. 'Ah, ele sempre me batia quando eu não fazia o que ele queria. Eu tinha muito medo dele, essa notícia não me espantou' declarou.
'Sempre andavam grudados, o James e ele' Minerva McGonagall, vice diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. 'Eu lembro das travessuras. Era um garoto muito ativo e zombador, mas não acreditava que pudesse ter feito isso.'
'Rebelde é como posso descrevê-lo!' Narcisa Malfoy, irmã de Bellatrix e prima de Sirius. 'Ele sempre batia minha irmã menor quando ela não o obedecia, e me ameaçava caso contasse para a mãe dele' ela parecia assustada ao declarar. 'Ele fugiu de casa aos dezesseis, foi morar com o Potter e olha como agradece. É um infeliz esse meu primo, é bom que realmente esteja longe. Sou casada e ele sempre implicou com meu marido e o seu melhor amigo. Agora que tenho um filho eu temia que ele quisesse se vingar por eu trazer um Malfoy para a família, coisa da qual ele me ameaçou no dia do meu casamento' havia lágrimas nos seus olhos e a expressão de alívio era prova do quanto ela temia o próprio primo. 'Minha irmã Bellatrix está para se casar agora, tenho medo que ele também a ameaçasse, ele não gosta de ninguém que escolhemos, por melhor que seja, e sempre tivemos medo dele' finalizou.
'Não acredito que ele tenha feito isso' disse incrédula Andrômeda Tonks, irmã de Narcisa e Bellatrix e prima de Black. 'Nossa família não é a perfeição que minhas irmãs declararam' havia raiva em sua voz. 'Eles me expulsaram de casa por namorar um trouxa e expulsaram Sirius por ser grifinório. Os Black são um bando de Sonserinos nojentos' declarou arrancando muxoxos indignados das irmãs. 'Ele sempre amou os Potter como se fosse sua própria família, não acredito que ele tenha feito isso por maldade. Houve algo. E eu imploro que investiguem isso.'
Regulus Black, o irmão menor de Sirius, parecia assustado e aceitou a dar entrevista com certa relutância e pedindo que caso houvesse algo e Black voltasse ele tinha que ser protegido, parecia temer o irmão acima de tudo.
'Sirius era um teimoso desobediente' gaguejou. 'Não dêem ouvidos a Andy, ela sempre fez vista grossa para ele e suas brincadeiras de mau gosto. Eu fui para a enfermaria uma porção de vezes por culpa delas. Ele tinha um humor sádico, e eu nunca duvidei de sua natureza traiçoeira' ele alteou a voz, mas logo a abaixou como se imaginasse que o acusado aparecesse. 'Eu sempre tive medo dele. Fico muito feliz com ele longe. Ele ameaçava mamãe de morte' e começou a chorar baixinho sendo consolado pela prima Bellatrix.
Mais entrevistas sobre Sirius Black e mais detalhes você encontra nas páginas 5 e 6, e na nossa edição vespertina mais novidades."
Assim encerrava a matéria. Remus não conseguia se adaptar àquilo. Um dia saíra para a lua cheia com um beijo e várias promessas de amor e no outro voltava com seu amante preso? Seu mundo ruía de repente, seu conto de fadas achava um fim trágico. Não era como nos romances que lera.
Imaginara tentar suicídio. Seus amigos mortos, seu amante afastado dele e o pior seu amante o assassino deles. Ele também morrera, por dentro. Não podia acreditar, precisava ver Sirius para descobrir suas razões. Não havia motivo para viver além de confirmar a verdade, de perguntar a ele o que estava havendo, perguntar 'Por quê?'.
Mas Black estava inalcançável em Azkaban, mofando com os dementadores, enlouquecendo aos poucos com suas próprias tristezas, definhando por culpa da alegria. Será que Remus seria o motivo de ele definhar? Será que seus momentos juntos foram tão alegres quanto para Lupin?
Era por isso que não podia morrer sem falar com Black antes, tinha que perguntar se ele fora alegria, ou apenas algo qualquer, perguntar o porquê de matar os amigos e o amante.
Fechou os olhos desejando acordar no porão sujo de casa após uma lua cheia particularmente difícil.
Aquele era Sirius que estava em seu sofá esparramado como sua última lembrança trazia. Desleixado e elegante, fora assim que ele sempre fora. Os olhos fechados e a respiração densa fariam qualquer um acreditar que ele dormira, mas não enganava a Remus, ele ainda tinha o que falar, apesar de não ter coragem.
Quando o vira há um ano fraquejara. Quando soubera que ele continuava lúcido perdera as esperanças de ser alguém no coração de Black. Mas ainda tinha que perguntar, se trataram cordialmente naquela noite, porém Dumbledore os pusera novamente frente a frente.
"Então veio por ordem de Albus?"
"É" disse seco. "Dumby me mandou para me esconder."
"Esconder? Pensei que minha casa fosse um lugar óbvio. E pensei que você veio para reunir a Ordem novamente" respondeu com um meio sorriso.
"Se sabia então por que pergunta?" abriu os olhos irritados.
A resposta enviesada o pegara de surpresa. Ele sorriu perturbado e levantou da poltrona em que estivera.
"Vou fazer o jantar" e sumiu na cozinha.
Fechou a porta com mais força que o necessário e ficou apoiado na mesa chorando baixo. O jantar estava pronto há muito tempo. Talvez quando Dumbledore lhe avisara que Sirius ia para lá, Remus tinha começado o preparo do jantar. Apenas um pouco de tudo que ele adorava.
Mas aquela resposta, aquele olhar duro e aquele constrangimento provavam para ele que sua época passara, que o quê continuara amando todo este tempo não mais existia. Sirius não voltaria nunca mais para os seus braços.
"Me perdoe, Remmie" ele julgou que sua tristeza agora o fazia delirar. Agora dera para escutar Sirius pedindo perdão. "Eu fui grosso, não?"
"Será que nem minha mente me deixa em paz?" sussurrou ainda sem se virar. Passos foram até ele e sua mão o virou.
"Não adianta continuar com a farsa, nenhum de nós. Vamos logo ter a conversa que temos que ter e ir dormir. Não consigo mais nem raciocinar com tanta ansiedade."
Remus prendeu a respiração e suspirou.
"Eu só tenho uma pergunta" um aceno o incentivou a prosseguir. Lupin pousou uma mão sobre a de Sirius e a apertou entre as suas. "O que eu representei em toda sua vida?"
Black ficou calado e fechou os olhos. Remus sentiu vontade de sumir ou de morrer, recomeçou a chorar sem lembrar de ter parado. Então um sorriso brotou na face desgastada de Sirius.
"A mais pura felicidade. Você foi minha âncora em Azkaban" ele chegara ao ponto que Remus tanto esperara, mas não tivera coragem de abordar. "Só o sentimento de estar tão longe de você e incapaz de te proteger e te aninhar em meus braços me deixava tão deprimido que os dementadores não conseguiam me afetar. Eu queria tanto te explicar o que estava acontecendo" uma mão dele correu para o rosto de Remus e o acariciou.
"Siri..."
"Minha vez de perguntar. O que eu representei para você?"
"Tudo."
Não havia nada para olhar, só um homem sentado na mesa do pub tomando alguma bebida e segurando uma arma. Bem todos ali seguravam uma arma. Era um local freqüentado pela elite da polícia londrina. Ninguém entraria ali se não fosse da SWAT inglesa, como alguns brincavam. Mas talvez aquele loiro de aparência frágil não fosse policial e conseguira entrar. Ele não saberia dizer.
O loiro parecia triste e deprimido, falava sozinho ria um pouco então voltava a chorar, aí bebia um longo gole da bebida espumante em suas mãos. Foi se aproximando lentamente como um leão se aproxima da vítima. O rapaz era muito lindo. Rapaz não, era um homem, não muito velho, porém não mais rapaz. Embora seu corpo fosse pequeno e frágil, dava para ver os traços maduros em seu rosto e isso o excitara ainda mais.
Sentou ao lado dele sem ser visto com um sorriso manhoso e ambicioso. Escutou o homem sussurrar algo como corpo e encontrado no meio das palavras confusas.
"Oi?" perguntou fazendo-o tomar um susto e sobressaltar-se.
"O-oi" apesar de todo álcool que tinha tomado, sim, o observava há muito tempo, sua voz soava sóbria.
"O que faz aqui sozinho e tão desolado?" perguntou passando um braço em volta do seu ombro.
"Acharam" murmurou somente.
"O que acharam?" perguntou mais baixo, fazendo o outro estremecer com a proximidade e as palavras sussurradas.
"O homem que amo" ele não pareceu se importar em revelar que era gay, ou quem sabe não estivesse tão bêbado a ponto de não perceber que o rapaz que acabara de chegar também o era.
O constrangimento foi visível no rosto do outro.
"Homem que ama?"
"Sim, eu ainda tinha esperanças, mas... com o corpo..."
"Corpo?" ele estava confuso. A polícia não achara nenhum corpo recentemente, pelo menos não naquele dia, se houvesse ele saberia.
"Sim, ontem a noite."
"Então porque veio apenas hoje?" perguntou cauteloso e para seu agrado o loiro se agarrara a ele.
"Hoje foi o enterro" sussurrou. "Eu tive esperanças por todos esses anos, acreditava que ele só estava perdido longe de mim, mas não morto. Não o meu Sirius" e enterrou novamente o rosto no peito do rapaz moreno.
"Sirius?" aquele nome era conhecido, embora não fizesse a menor idéia de onde o escutara.
"Ele parecia você" pela primeira sua voz soou ébria e suas palavras não concordavam completamente. "Cabelos pretos, olhos azuis, pele clara e esse cheiro salgado de suor... completamente excitante" sussurrou por fim atirando-se em seus braços e o beijando suavemente.
O beijo foi correspondido avidamente. Aquele estranho era incrível, parecia completar sua alma, como se tivesse sido feito para ele. Como se juntos fossem capaz de brilhar com Sirius, a estrela mais brilhante do firmamento. Sim, Sirius era a estrela da Cão Maior. Fora daí que escutara nome Sirius.
O beijo cálido perdurou por muito até que ele o levasse para seu apartamento, o loiro esquecera a arma na mesa. Mal pisou no apartamento o jogara na cama, outra coisa voltou a sua mente.
"Este lugar pertencera a um tal de Black, Sirius Black" começou o agente imobiliário. "Ele morava aqui com um tal de Lupin, Remus, lembro do nome porque é a minha lenda grega preferida, a de Romulus e Remus" ele estava farto do falatório sem graça do homem, mas fingia ouvir atentamente. "Não entendi direito, mas parece que depois que se mudou Black foi preso..."
A lembrança terminava aí. Lembrava de ter tentado tirar tudo do homem, mas fora inútil. Remus Lupin, esse era o nome do seu lobo em pele de cordeiro. Lhe caía muito bem.
Quando a mão quente e macia de Lupin insinuou-se para dentro de suas calças ele sussurrou seu nome, Remus murmurou um Sirius em resposta, embora o policial não tenha escutado.
Ao final da noite ele acordou imensamente feliz. Sentou na cama esperando a visão se acostumar com a penumbra, porque algo o perturbava, além da ausência do amante na cama.
"Remus?" perguntou baixinho.
"Foi aqui" sussurrou, soando extremamente psicótico. Ele virou para a poltrona do quarto e divisou a silhueta do homem. Aparentemente ele ainda estava nu.
"Foi aqui o quê, Remus?"
"Que eu fiz amor tantas vezes com Sirius" murmurou tristonho. "Como nesta noite que o álcool me fez vê-lo em você" aquelas falas, aquele choro, aquele sentimento. Tudo remontava para as cenas de suicídio que ele vivenciara. Com rapidez acendeu o abajur e viu sua arma na mão de Lupin.
"Remmie, não..."
"Não me chama assim, ele me chamava assim" sua voz era calma e controlada. Mas o desespero se mostrava na expressão e não na voz.
"Podemos começar uma vida juntos, não precisa se lembrar dele. Não faça isso" murmurou.
"Como sabe meu nome?" perguntou baixando um pouco a arma e conseguindo um esgar de sorriso na face do policial.
"O agente imobiliário. Ele falou de você e o Sirius Black, ele lembrou do seu nome porque era a lenda preferida dele" falou se aproximando cautelosamente.
"A lenda de um irmão que mata outro por poder? Assim como Bellatrix matou o próprio primo?" perguntou irônico. "E como me pede para que eu recomece de onde minha vida parou? Eu saí deste lugar uma vez por não suportar as lembranças de quando ele fora preso injustamente, e agora quer que eu volte quando ele se foi de vez?"
"Remus... eu não quero que faça nada. Eu me mudo daqui, vou para bem longe deste lugar, saio até de Londres se preferir" inquiria choroso.
"Não. Você me lembra muito ele, não quero tentar viver com você o que eu vivi com ele" a arma ergueu-se novamente, o outro homem parou.
"Eu mudo" falou baixinho. "Pinto o cabelo, troco o penteado, uso lente, mudo todo meu guarda-roupa. Só não faça uma besteira."
"Você quem não deve cometer uma besteira. Ficar comigo é pedir pelo fim. Não sou alguém com quem você deva conviver. Meu passado é sombrio e meu futuro incerto."
"Assim como o meu, sejamos felizes juntos. Eu nunca senti nada assim, por ninguém. Eu já senti muita coisa, menos amor, e o que eu sinto agora, por você, neste instante, eu sei que é, eu sei que finalmente estou amando alguém. Por mim, não faz isso. Não precisa vir comigo, só continue."
"Se realmente me amar não quer que eu sofra. Se eu viver vou sofrer mais e mais" seus olhos se abaixaram e ele posicionou o revólver sob o queixo. "E afinal, eu não sei quem você é."
"Por ele" falou. Remus abaixou a arma e o mirou curioso. "Viva para manter as lembranças da vida dele" pediu choroso.
A arma foi toda baixa e ele suspirou de alívio.
"Você fala como ele. Mas por mais que se pareça com ele, você não é ele" uma lágrima correu pelo seu rosto, sendo seguida por outras mais. "E o Sirius sabe o quanto eu sou fraco sem ele" então mais rápido do que o policial foi capaz de reagir a arma voltou ao queixo de Remus e ele puxou o gatilho.
O outro homem gritou e correu até o corpo morto do seu amado, percebendo agora o quanto ele sofrera, e quem sabe por quanto tempo. Ele limpou seu sangue que escorria por sua face e beijou de leve seus lábios.
Ele só vivera uma noite com o amor da sua vida, enquanto Remus tivera uma vida inteira de lembranças. Não, ele não imaginava sequer pelo que Remus tinha passado.
"Jonathan Dodder, meu amor, agora você me conhece" sussurrou entre as lágrimas.
FIM
N/A: Cabou... Eu não deixaria o Remus ser de mais alguém, deixaria? Para aqueles empolgados com Alma Gêmea, não! O Nathan (já simpatizei com o persona q acabei d criar) não é reencarnação nem nada do Sirius, e seria impossível, já que ele era vivo quando o Sirius tb era vivo. Não descrevi a aparência do Nathan pq ele é super parecido com o Sirius na característica geral, mas detalhes como espessura de sobrancelha, tamanho do nariz etc são diferentes, mas num precisa por, neh?
Brigada os que acompanharam até aqui e aturaram minhas crises e desculpe os que não queriam que ninguém morresse, mas é uma pequena tara minha (olha pro banner que ganhou num challenge q vem bem grande no topo 'Assassina-mor'... soh pq eu matei tds personagens que apareceram...). Bem fiquem com Doce Como um Sukkubo (embora eu devesse por Inkkubo que eh o masculino de Sukkubo, mas sukkubo soa mais bunitinho...) que deverá estar por aqui no máximo em janeiro...
