A chuva forte caia do lado de fora, assim como as lagrimas escorriam por seu rosto. O mundo chorava por ela. Sabia disso, sentia isso toda vez que as gotas fortes bombardeavam os vidros da janela causando um barulho já insuportável para seus ouvidos. O fogo dançava na lareira de uma maneira provocante. A velha mulher de cabelos prateados entrou na pequena sala com os passos cautelosos.
-Criança, você tem certeza que deseja fazer isso? – a voz rouca com um sotaque interiorano da velha mulher sobrepôs-se a um trovão.
A ruiva se encolheu. Os olhos quase todo brancos de cegueira da velha lhe causavam tremores. Sentiu-se como uma criança amedrontada. Secou as lagrimas que caiam mais uma vez e respirou fundo.
-Sim. Certeza absoluta.
-Pois bem...Agora, isso pode ser um pouco doloroso. Como toda dor de esquecimento. – a velha lhe estendeu um cálice, parecendo quase temerosa - Mas em breve, não se lembrara de nada, minha deseja. Beba, beba isto.
Ginny pegou o pequeno cálice da mão da velha, e sem pensar duas vezes, virou todo o liquido azul que continha.
Tentou gritar. Era veneno. Estava sufocando. Queria desistir! Viu cenas de sua vida passarem como um flash por sua mente. Lembranças que ela nem mesmo sabia que estavam ali. Sentiu que estava morrendo. O peito apertado, e então, em meio a seu desespero, tudo se tornou escuridão.
1. No Morno
-Cherry, repita de novo, o que nós acabamos de conseguir? – ela falou se jogando em uma poltrona rindo deliciosamente.
-Nós conseguimos o empréstimo! – a loira repetiu pela terceira vez dando pulinhos e logo se sentando ao lado da amiga.
-E claro, temos que comemorar! – o homem se juntou a elas na grande sala branca – Meninas, estava guardando este para uma ocasião especial como essa!
As duas riram ainda mais quando ele mostrou a grande garrafa azul de champagne e lhes entregou as taças. Chacoalhou a garrafa e então a abriu com toda pompa que a ocasião pedia deixando-se serem ensopados de espuma.
-Um brinde a senhorita Ginny Wilde, nossa grande, futura, magnata! – os três riram ainda mais e cada um deu um grande gole de champagne.
-Ah Tom, eu nem acredito! – Ginny riu mais uma vez – achei realmente que ele não me emprestaria o dinheiro quando falei o que pretendia fazer...
-Também, quantos malucos batem na porta dele todos os dias pedindo milhões de dólares para construir prédios gigantes? – Cherry disse virando sua bebida.
-O que importa foi que você, minha maravilhosa, conseguiu! – Tom se levantou e deu um beijo estalado na testa da ruiva. – Ele viu você da minha maneira, uma estrela.
-Pára com isso! – ela disse dando uma almofadada no amigo.
-Agora, vamos aos negócios. Adoro comemorar, mas não podemos ficar com esse dinheiro parado. Eu vou ligar assim que derem quatro horas para confirmar a compra do terreno. As construtoras com que você falou mandaram algumas propostas, nós temos que analisar e ver o que tem qualidade e preço bom...
-Cherry, deixe a Ginny curtir o momento!
-Tom, temos muito a fazer. E você sabe que quanto mais demorar, mais os juros sobem e...
-Sim, você esta certa, Cherry. Tenho mesmo que ir pra casa e analisar tudo que recebemos. – a ruiva se levantou, abraçou fortemente o amigo – Muito obrigado por tudo Tom. Você tem sido um ótimo amigo.
-Querida, fique mais um pouco.
-Não posso. Mas o champagne valeu a pena! – ela jogou os cabelo para trás e apanhou sua pequena bolsa que havia lhe custado um pouco mais do que pensara jamais pagar por uma, e sua pasta de couro. – Cherry, vou revisar tudo e qualquer coisa eu te ligo. Você me ligue caso de algo errado com o corretor.
Tocou a campainha do apartamento que ficava em frente ao seu sentindo-se um pouco incomodada. Estava abusando da boa vontade da velha vizinha. O rosto marcado de rugas, mas ainda mostrando uma certa beleza que estivera ali no passado apareceu com um sorriso bondoso na porta do 210.
-Querida, imaginei que fosse você. – abriu espaço para que Ginny pudesse entrar no antigo apartamento, o cheiro de cravo invadindo agradavelmente seu nariz. – ele dormiu há algum tempo, creio que ainda vá acordar daqui algumas horinhas.
-Muito obrigada Lucy! Não sei o que eu faria sem a sua gentileza.
-É um prazer cuidar do Luke, Ginny. Ele é realmente um amor.
Ginny se aproximou do pequeno cesto onde um bebe de apenas quatro meses dormia tranqüilamente. Colocou o rosto próximo a sua barriga para conferir se ele realmente estava respirando. Lucy deu risada.
-Ainda com medo de que ele não esteja respirando, meu bem?
-Sim, - a ruiva falou angustiada – não sei porque, mas é bom sempre conferir! Lucy, muito obrigada novamente. Vou deixa-la dormir em paz agora! Já abusei muito por hoje. Boa noite.
-Que é isso! Sabe que qualquer coisa que precisar estou logo aqui. – as duas trocaram sorrisos.
Ginny pendurou a bolsa de fraldas no ombro e pegou o cesto onde Luke ainda dormia. O apartamento estava exatamente como deixara logo cedo, uma bagunça. Ajeitou Luke em seu berço e tratou de ligar a babá eletrônica no quarto, mesmo a distancia até a sala, conjugada com a cozinha, sendo mínima.
Ajeitou rapidamente a cozinha, ferveu as chupetas de Luke, botou o lixo pra fora, e então finalmente se jogou no sofá. Estava cansada. Começava a adormecer vendo o noticiário das oito quando a campainha tocou.
Esperou um tempo, pedindo que fosse engano, mas quando o visitante insistente não desistiu, Ginny obrigou-se a levantar e abrir a porta.
-Danny – olhou o moreno a sua frente confusa. Não haviam marcado nada para aquela noite – o que esta fazendo aqui?
-Vim vê-la! – ele abriu um sorriso branco e encantador – você não atendia o celular, fiquei preocupado. – adentrou o apartamento abraçando-a forte, tirando-a levemente do chão, com o rosto em seus cabelos – sinto sua falta quando some assim, querida.
-Obrigado por vir. – ela sorriu – desculpe a bagunça, não estava esperando...Deveria ter feito algo para comermos!
-Não. Vim de surpresa porque sabia que se te avisasse iria se desgastar na cozinha. Pedi comida chinesa para nós.
Ela obrigou-se a sorrir, odiava comida chinesa, mas ele estava sendo tão gentil, que não teve coragem de assumir.
-Você é ótimo, querido.
-Agora, sei que você vai gostar da idéia que eu tive. – ele sorriu entusiasmado enquanto comiam sentados no tapete da sala – Reservei um lugar para nós em um hotel ótimo para comemorarmos nosso terceiro mês de namoro.
-Seria ótimo, mas sabe que não posso deixar o Luke, Danny.
-Mas quem falou em deixa-lo? Sou seu medico, Gin, jamais iria sugerir que uma mãe se separasse do bebe no quarto mês de nascimento.
A ruiva sorriu radiante.
-Neste caso, vamos achar ótimo aceitar seu convite, Dr. Daniel. – ela disse feliz, abraçando-o e lhe dando um longo beijo.
-Não quero saber! – Ginny gritava furiosamente ao telefone – Se o mármore não estiver aqui até amanha ao meio dia, a entrega será cancelada, e creio que seu concorrente ficara muito feliz com a novidade.
-Minha querida, assim você vai ter um ataque dos nervos. – Tom disse enquanto andava atrás dela por toda a construção bebericando seu café no copo descartável.
-Tenho que ser durona, ou serei passada para trás, Tom. – ela disse sem dar atenção aos olhares que recebia dos operários.
-Ginny – Cherry apareceu ao lado dos dois, sorridente – O prédio já esta quase todo vendido. E estamos recebendo uma porção de consultas.
-Isso é ótimo – respondeu Ginny distraída.
-Teremos lucro de volta em menos de dois meses. – continuou Cherry, até seu celular tocar.
-Querida, onde você esta com a cabeça? – Tom parou de caminhar e encarou a amiga.
-Vou viajar com o Daniel no fim de semana, mas estou com um pressentimento estranho...
-Você não quer deixar de vistoriar a obra nem por apenas dois dias? – Tom riu, conhecia bem a amiga para saber que afasta-la do trabalho não era boa idéia.
-Não é só isso...Tem algo mais.
-Bem, eu acho que vai ser ótimo se afastar um pouco, namorar aquele Adônis o final de semana inteiro e cuidar do sarampinho...
-Ei, não chame o meu bebe de sarampinho! – ela disse dando um fraco empurrão no amigo, mas rindo. – não sei o que vocês gays têm contra bebês!
-Só não gostaria de nenhum melequento chorão estragando meu brilhante final de semana! – defendeu-se Tom.
-Mas não é o seu fim de semana, então pare de falar assim! – ela disse ainda rindo – O Luke nunca vai estragar nada na minha vida. Ele é tudo que eu tenho, Tom.
-Ele e eu, meu bem. Nunca se esqueça. – o amigo pegou sua mão, dando uma piscadela cômica.
N/A – Este foi o primeiro capitulo, ainda só pra mostrar como andava a vida da Ginny, e que ela não se lembra de nada do passado, a partir do próximo, as emoções começam! Esta como disse no titulo do capitulo, "morno", mas melhora! Juro! Obrigada a quem leu, mandem sua opinião! Beijos
