6. Seus Olhos
Não sentia a mínima vontade de tocar no jantar. A bandeja sobre a cama com uma grande diversidade de comida continuava intacta desde o momento em que aparecera ali do nada a algumas horas atrás.
Levantou-se da cama em que estivera sentada até então perdida em pensamentos e sentou-se no parapeito da janela. Estava no alto de uma das torres, era obvio, e agora, podia ver o que havia na parte de trás do castelo. Um gramado enorme que levava até um lago, uma floresta que lhe fazia tremer só de pensar em entrar nela, e em frente a ela, uma cabana sem nenhuma luz acesa ou vestígios de habitação.
Ficou ali durante algum tempo apenas observando tudo, e sem que percebesse, as lagrimas começaram a cair de seus olhos. E de apenas algumas lagrimas silenciosas, veio a sua primeira longa crise de choro desde que toda aquela loucura começara em sua vida. Abraçou os joelhos tentando se acalmar e continuou olhando para fora. Teve a impressão de ver alguém andando em direção ao lago, mas no momento seguinte, não estava mais lá.
Deitou-se na cama, sem nem notar que a bandeja havia desaparecido, e fechou os olhos, determinada a dormir. Virou-se inquieta durante um longo tempo de um lado para o outro, e então cansada de ficar ali, levantou-se para andar um pouco e tentar esfriar a cabeça. Seria impossível dormir naquele momento, e de certo não haveria ninguém mais acordado para lhe encher a paciência.
Desceu a escada em caracol para uma sala vazia onde muitos pufes vermelhos estavam espalhados, mas não teve vontade de ficar ali. Então foi direto ao buraco da parede, sem dar bola aos xingamentos da mulher gorda de vestido rosa no quadro, que Penny dissera ser a guardiã daquela torre. Hermione lhe dissera que aquela fora sua casa durante os anos que estudara ali, por isso tinha aquela sensação gostosa de quem reconhece um lugar.
Caminhou sem pensar por longos corredores, subiu escadarias, e estava completamente perdida, quando se viu em frente à porta de uma sala, dando-se conta pela primeira vez, que o tempo todo seu inconsciente lhe instigava para ir até aquele lugar.
Abriu a porta lentamente e não pode deixar de sorrir, maravilhada. Era com certeza a torre mais alta do castelo.
Um amplo espaço redondo que parecia ser fechado por paredes invisíveis mostrava toda a paisagem de fora do castelo e a noite estrelada. Caminhou até o limite da sala, chegando o mais próximo possível da parede invisível e sentiu se arrepiar inteira quando a palma de sua mão tocou a superfície gelada que não podia ver, apenas sentir, como Luke, não podia vê-lo, mas o sentia vivo.
Perdida em seus pensamentos deu um sobressalto, assustada ao ouvir a porta se abrir e uma voz atrás de si:
-Não sei o que faz aqui – disse a voz masculina friamente – mas todos sabem que está torre é proibida. Principalmente durante a noite.
Ginny continuou parada, imóvel de costas para seu interlocutor, sentindo seu corpo ser tomado por uma sensação de medo intenso. Aquela voz lhe causava calafrios.
-Vire-se. – ordenou o homem com firmeza. Não teve coragem de desobedecer. Fechou as mãos fortemente em punhos, e girou o corpo devagar, tentando tremer o mínimo possível.
Manteve-se olhando para o homem a sua frente durante alguns momentos. Alto, forte, os cabelos negros, pele queimada de sol, e óculos redondos tentando esconder os olhos muito verdes. Aqueles olhos verdes. Seu peito apertou, e ao mesmo tempo em que o ar começava a faltar, sua visão foi tomada pelas trevas.
-Mas que merda! – era a terceira vez que ele gritava, furioso em sua ânsia de pular no pescoço de alguém. De culpar qualquer um por aquela situação – Quando vocês pretendiam me contar? Quando?
Hermione permaneceu calada, encarando o chão enquanto Harry andava de um lado para o outro esbravejando e desarrumando seu cabelo ainda mais.
-Sabia que era uma coisa séria sua viajem, e a meu respeito, mas nunca imaginei que você a traria para o castelo sem ao menos me dizer que estava viva! – gritou novamente. – Tem noção do meu choque, Hermione?
-Pare de gritar – Penny que até então estivera calada, apenas olhando Harry, se manifestou – entendo a sua raiva, mas isto é uma ala hospitalar, e você esta se excedendo com todo este melodrama.
-Não venha me dizer que é melodrama! – sentiu uma profunda raiva dos olhos claros de Penny o fitando constantemente, exatamente como Dumbledore fazia quando ele era jovem. – Ela está viva! E esta aqui! Não me diga que não é motivo para ficar furioso por terem me escondido isso!
- Harry eu descobri apenas há alguns dias...- defendeu-se Hermione com um fio de voz, chamando a atenção do moreno para ela novamente.
Hermione teve medo dele voltar a gritar. Mas surpreendeu-se quando o amigo se sentou ao seu lado, as mãos cobrindo o rosto enquanto apoiava os cotovelos na perna.
-O Rony já sabe? – perguntou, a voz abafada por suas mãos ainda sobre o rosto.
-Não. Íamos contar amanha, e pensar em uma forma de não deixar todos nervosos, como você ficou. – informou Lupin, que até então estivera calado. – Por mais difícil que isso fosse...Não custa tentar apaziguar.
-Ótimo. Pelo menos não sou o último á saber. - tirou as mãos do rosto, e voltou a ficar de pé. Hermione o conhecia muito bem para saber que o amigo estava a beira de lagrimas. E o conhecia bem demais também para saber que ele jamais choraria na presença de Penny e Lupin. Era orgulhoso demais para isso.
-Harry – disse a morena, cuidadosamente – há mais uma coisa que você deveria saber...
Mas no momento todos desviaram sua atenção, voltando o olhar para a porta que se abriu atrás do moreno. Jane, a enfermeira sorriu tranqüila para os outros:
-Ela está acordada, e deseja falar urgentemente com você, Hermione.
Antes que qualquer um dos quatro protestasse, porem, Harry já se desviara de Jane e adentrava ao cômodo seguinte, sem hesitar sequer um instante.
Ginny olhou para a porta sentindo-se ainda tensa e assustada. Aquele homem, o mesmo que a fizera desmaiar se aproximava de seu leito. O ar de toda a enorme ala hospitalar parecia ser sugado a cada passo que ele dava em sua direção, mas antes que sua visão ficasse turva novamente, ela se manifestou:
-Não se aproxime. – disse fazendo muita força para falar e respirar ao mesmo tempo.
Ele parou imediatamente sua caminhada, não sabia o que fazer. Ginny abaixou a cabeça, sentindo ainda os olhos verdes dele fixos no topo de sua cabeça.
-Ginny, está tudo bem. – Hermione entrou no quarto, e não foi impedida pela ruiva de se aproximar o suficiente para sentar-se ao seu lado. – Este é o Harry, um grande amigo. Não há motivos para sentir-se intimidada.
-Não estou intimidada. – Ginny disse, levantando pela primeira vez os olhos, e encarando Harry, ainda em pé a alguns passos de sua maca. – Eu conheço os olhos dele. – fechou seus próprios olhos, sentindo algumas lagrimas quentes escorrerem por seu rosto. Sentiu-se tola por chorar sem saber a razão, e não tirou sua mão quando Hermione a segurou, dando-lhe segurança.
-Ginny, você reconhece os olhos dele, porque se conheciam muito bem. Eram muito íntimos. Assim como nós duas.
Harry sentiu toda sua confiança se evaporar quando notou que Ginny não se lembrava de mais nada alem de seus olhos. E que tinha medo dele. Olhou por mais algum tempo a ruiva segurando a mão de Hermione, como uma criança assustada que procura proteção, e ficou ainda mais nervoso com a situação.
Toda a sua vontade de entrar no quarto e brigar com ela por ter sumido durante mais de um ano tinha sido substituída por um nó na garganta, que não permitiria a saída de sequer um sussurro de sua boca, por mais que tentasse.
Sentindo que ele próprio teria alguma reação inapropriada, virou-se o mais rápido possível e disparou da ala hospitalar, deixando Ginny ainda mais confusa e amedrontada.
A manhã chegou com a saída de Ginny totalmente recuperada da ala hospitalar.
Durante o inicio da tarde, Penny a fez pegar sua varinha e treinar alguns feitiços, e para sua grande surpresa, ela realmente podia usar uma varinha. Por mais que nenhum de seus feitiços funcionasse de maneira apropriada.
Lupin passou a manha conversando com Molly e Arthur Weasley, e depois de um longo período de histeria da mulher insistindo em ver a filha imediatamente, ele conseguiu convence-la de que naquele momento seria melhor se concentrarem na tarefa árdua de contar aos irmãos sem fazer alarde ou chamar a atenção de toda a comunidade bruxa, como normalmente faziam os Weasley.
-Mesmo assim, Arthur. Quero dar uma espiada nela, apenas de longe... - disse Molly insistente.
O sr Weasley temendo um terceiro ataque de choro incontrolável da esposa, e levando em conta sua própria curiosidade, a acompanhou até o jardim, onde Lupin dissera estar Ginny e Penny.
-Ali estão elas. – apontou ele, para a beira do lago, onde os cabelos longos e ruivos de Ginny esvoaçavam com o feitiço de tubo de ar laçado por Penny, que fazia a outra rir enquanto tentava contra-atacar.
-Arthur, nossa filha. Nossa filhinha esta ai, e nos nem ao menos podemos ir até lá abraça-la.
-Ela não vai nos reconhecer, Molly. Você ouviu o que Remo nos disse. Temos que ter paciência e nos concentrar em fazer todos se acalmarem depois da noticia. A vida do nosso neto corre risco, afinal.
Ela engoliu em seco contendo todos seus instintos desesperados de mãe e pensou em seu neto que ainda nem conhecia nas mãos de comensais, e dominada por uma grande força de vontade, pegou a mão do marido sentindo-se mais determinada do que nunca.
-Vamos recuperar este bebê. Nem que seja a ultima coisa que eu faça.
-Sabe, você até que agiu muito bem na ala hospitalar. – Hermione falou suavemente, sentando-se ao seu lado no peitoril da janela do alto da torre mais alta do castelo, lugar preferido de Harry desde que ele e Ginny haviam começado a se encontrar escondido ali no sexto ano.
Ele permaneceu calado durante mais algum tempo, olhando os dois pontos de cabelos perto do lago; um prateado, e o outro que mexia tanto com seu coração, o vermelho ainda tão vivo e belo quanto há um ano e meio atrás.
-Olha Harry, sei que isso mexeu demais com você, e que está chateado. – disse ela, notando que não obteria resposta se não pegasse pesado com o amigo – Mas estamos encrencados de verdade.
Ele permaneceu calado, então, com toda sua coragem e atrevimento, Hermione falou com a maior naturalidade que conseguiu:
-O filho de Ginny foi raptado por comensais.
Pela primeira vez, ele se virou para encarar Hermione. Os olhos verdes exageradamente arregalados. Pelo menos provocara alguma reação, pensou ela.
-Filho?
-Sim. Filho. – ela respirou profundamente – Seu filho, pelo que tudo indica, Harry.
-Meu? Mas nós...Ela... – ele olhou para o lago, e as duas já não estavam mais lá. Voltou a olhar atônito para a amiga, esperando uma explicação.
-O bebê tinha quase cinco meses. – continuou ela, ignorando a cara que o amigo fazia. – E prefiro lhe dizer tudo de uma vez, pra você fazer esta cara somente uma vez. O bebê foi levado pelos comensais. Não temos idéia de como eles a descobriram, mas Voldemort não os mandaria seqüestra-lo se não fosse importante. Daí vem a minha certeza de que Luke é seu filho, alem é claro da idade dele...Nove meses de gravidez e cinco meses de vida do bebe. Exatamente um ano e dois meses, foi antes dela desaparecer.
-Luke? – Harry não era capaz de pensar direito em tudo que ela dizia, sua cabeça estava tomada por uma confusão inexplicável. Ginny havia tido um filho, dele, era tudo que conseguia pensar; Luke.
-Sim, é o nome dele. Luke Wilde. Wilde foi o nome que Ginny adotou já que não se lembrava do seu próprio nome.
-Hermione. – Harry pareceu sair de seu choque momentâneo – eu tenho um filho. Era por isso que minha cicatriz tinha voltado a doer depois de tanto tempo. Era por isso...Esse final de semana tudo pareceu tão errado.
-Harry, sei que tudo é muito chocante, mas se não agirmos rápido, podemos perder a chance de recuperar esse bebe. Seu filho e de Ginny.
-Temo que reunir a Ordem urgentemente. Chame os Weasley, precisamos contar para todos.
-Eles já sabem. – disse ela corando – Remo se reuniu pela manha com Arthur e Molly. Devem estar agora mesmo contando para os outros.
-Ótimo. Vou falar com ela. Preciso contar a ela tudo isso.
-Não! – a morena se sobressaltou – Ela já esta atordoada demais. Por enquanto você será apenas um amigo.
-Hermione, nós somos casados! – Harry explodiu, levantando-se de onde os dois estiveram sentados.
-Mas ela já esta mal demais com tudo isso, Harry. Você não pode revelar isso agora. Pense bem, seja racional, Harry.
Ele fez uma careta, e então se virou. Ela se tranqüilizou, sabia que pelo menos por enquanto, ele não faria Ginny pirar ainda mais.
NA: Gente me desculpem a demoraaaa! Mas foi uma semana bem difícil!
Não deveria contar, mas a Hermione vai mudar de par romântico...Ela e o Chirstopher não andam muito bem, então, pra quem é RH talvez hajam algumas surpresinhas!
Vou postar o próximo capitulo o mais rápido possível!
Muito beijos a todos!
MANDEM REVIEWSSSS DANDO OPINIÃO, HEIM!
