Capítulo V - Os últimos dias.

Nos quatros dias restantes, a rotina de acordar cedo continuou. E também a rotina de sentir-se mal logo quando acordava. Por isso, teve que ser transferida para a Ala Hospitalar, Dumbledore achou mais seguro se ficasse logo lá, mas só no período da noite, durante o dia podia ficar passeando pelo castelo (tinha sido dispensada das aulas).

No dia seguinte à discussão com Draco, não o viu por todo o período da manhã e da tarde. Só o encontrou na sessão, depois do jantar. Mais uma vez, o médico explorou o problema de Draco.

"Então, Draco, você pensou no que falei ontem?"

"Sim."

"E agora está pronto para falar como tentou se suicidar?"

"Talvez."

"Está sim, Draco, eu sei que está."

O rapaz permaneceu calado.

"Vamos, comece."- disse o médico.

Malfoy permaneceu calado por um longo tempo, até falar:

"Tudo aconteceu há uns seis dias atrás. Estava no Salão Principal quando recebi uma coruja com a notícia de que meus pais tinham sido executados. A partir daí o mundo em minha volta parou, nada fazia mais sentido. Então, de noite, quando estava deitado em minha cama, decidi que cometeria suicídio. Saí do dormitório e fui para a sala de poções. Pretendia tomar uma dose excessiva de poção do sono, mas parece que alguém já tinha levado tudo."- disse olhando para Ginny- "Então, procurei uma poção mais potente, mas nenhuma parecia forte o bastante. Até que tive outra idéia. Fui até a Torre de Astronomia, subi no parapeito da janela e sem olhar para baixo me joguei. Não durou mais do que 1 segundo, perdi os sentidos quase que instantaneamente."

"Continue."- disse o médico.

"O mais estranho é que não quebrei nenhum osso. É como se alguém tivesse 'amortecido' a queda."

Ginny olhou para o médico e por um minuto ele pareceu suspeito, como soubesse de algo.

"Bem, Draco, você está arrependido?"

"Não. Meu único arrependimento é por não ter morrido."

"Maneira errada de pensar. Olhe para a vida de outro jeito. Olhe para o lado e veja como a vida é bela."

Draco olhou para o lado e viu Ginny:

"Bela, porém pobretona."- disse num murmúrio (que bem audível)

"Você ainda vai se arrepender por essas palavras."

"Não mesmo."

"Veremos. Agora podem voltar para seus dormitórios. Até amanhã."

Os dois saíram e Ginny, ainda sentida pelas palavras de Draco, andou na frente, ignorando a presença do rapaz. Estava tão concentrada em ignora-lo que não percebeu o garoto a seguindo até a porta da Ala Hospitalar. Quando ela pensou em entrar, a voz de Draco a impediu:

"Weasley."

Ginny parou com a mão a poucos centímetros da maçaneta da porta.

"Weasley, desculpe."

"O quê?"- disse virando-se

"Desculpe."

"Espera, eu não entendi."

"D-e-s-c-u-l-p-e."

"Ah Merlim! Eu não pensei que ia viver o bastante para ouvir um Malfoy pedindo desculpas e logo a mim! Sinceramente, Malfoy, você pode não ter quebrado uma perna ou um braço, mas a sua cabeça está com defeito."

"Não...eu...só...ontem...e hoje também... eu te tratei mal."

"Você me tratou assim durante seis anos, Malfoy. Não se desculpe agora, só porque estou a poucos dias da morte."

"Não é isso..."

"Ah, Malfoy, poupe-me das suas loucuras. Não fique preocupado. Eu não vou voltar para puxar seu pé de noite. Eu juro."- e saiu sem dar chances a Draco de falar algo.

O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O.

Os dois dias seguintes foram iguais: Ginny acordava cedo, tomava a poção, ajudava Madame Pomfrey e depois ia para o jardim, de noite ia para a sessão de "terapia" e voltava para a Ala.

O último dia, o sétimo dia, foi o pior. Talvez por ser um dia de sábado, dia de passeio para Hogsmeade (o qual ela estava proibida de ir).Talvez por saber que no dia seguinte morreria ou nem mesmo acordaria. Pela manhã, acordou com a dor no peito forte. Sentir aquela dor era lembra-la do pior.

Assim que melhorou, foi para o jardim e como nos outros dias, sentou-se na grama, olhando para um ponto indefinido, pensando onde estaria amanhã. A idéia de que o amanhã podia não existir não abandonava sua cabeça. Pensou em tudo que tinha vivido naqueles últimos dias, tinha aprendido a perceber as pequenas coisas ao seu redor.

Aprendera muita coisa, as sessões de terapia ajudaram muito, as palavras do médico a fizeram pensar de outra maneira. Até Draco ela estava começando a vê-lo de outra maneira, compreendia que ele era um rapaz normal, como os outros, seu único problema era ter nascido Malfoy.

Pensou em porquê pensava tanto em Draco Malfoy ultimamente. Se estava na Ala, olhando para o teto, pensava em Draco; se estava dormindo, sonhava com Draco; e naquele minuto mesmo, estava no jardim, pensando no porquê pensava tanto em Draco.

Não estaria apaixonada. Claro que não. O fato de pensar em Draco e seus olhos azuis ou Draco e seus cabelos loiros platinados cobrindo os olhos não era paixão. Ela odiava Draco, embora ele fosse muito bonito. Ele era insuportável, mas incrivelmente irresistível. Ah Merlim, estava apaixonada!

E por que isso foi acontecer logo agora? Quando estava prestes a morrer? Sem perceber, começou a chorar (o que era muito normal ultimamente). Nem mesmo sabia se estava chorando pela descoberta que acabara de fazer ou se era porque não ia poder viver aquele sentimento (sendo ele bom ou ruim).

Estava tão absolvida nas lágrimas que nem mesmo percebeu uma pessoa se aproximar. O "intruso" sentou-se do lado de Ginny e, como se ela fosse uma criança, a abraçou e embalou a garota até seu pranto cessar.

Depois de Ginny se soltar do abraço, olhou para o rosto do garoto. Era Draco, a pessoa que ela não gostaria de ver naquele momento.

"Desculpe."

"Não por isso, Weasley."

"Ginevra."

"O quê?"

"Ginevra ou Ginny, me chame assim pelo menos hoje. Amanhã você pode se arrepender."- disse a garota tentando fazer piada com a própria desgraça.

Os dois ficaram calados até Draco falar:

"Desculpe pelos meus insultos. E não diga que estou fazendo isso por causa da sua doença. Pode não parecer, mas estou tentando mudar. As sessões me fizeram ver coisas que eu nunca tinha notado e Merlim sabe o quanto estou arrependido, mas nunca é tarde, não é mesmo?"

"Claro."

"Então, você me desculpa?"

"Tudo bem, Malfoy."

"O que você pretende fazer hoje?"

"Ficar aqui. E você?"

"Não sei. Talvez vou até Hogsmeade. Quer vir?"

"Malfoy-"

"Draco."

"Tudo bem, Draco, nós dois estamos proibidos de ir para Hogsmeade."

"Mas eu não disse o contrário. Você deve concordar que não podem nos culpar de nada se não nos virem lá, não é?"

"Como?"

"Capa de invisibilidade, Ginevra. Seu amiguinho Potter tem uma, não?"

"Sim, mas não vou roubar a capa do Harry."

"Não precisa. Eu tenho uma. Espere aqui um minuto."

Draco saiu e meia hora depois voltou com a capa nas mãos.

"Pronto. Aqui está. Vamos."- disse vestindo a capa, Ginny entrou debaixo da capa e quase quis morrer quando ficou tão próxima de Malfoy.

Os dois se meteram entre os alunos e caminharam, com calma, até o povoado. Uma vez em Hogsmeade, evitaram os locais onde os alunos costumavam ir, ou seja, o Três Vassouras, a Dedosdemel e principalmente, a Zonko's. Passearam por outras lojas e a qualquer sinal de um aluno, corriam para se esconder. No final do dia, pararam numa loja nova que vendia artigos para presentes. Ginny olhava tudo maravilhada, achava tudo lindo, mas o que mais chamou a atenção dela foi uma espécie de bola de cristal, dentro havia dois bonecos pequenos, era um casal, os dois estavam sentados em um banco, abraçados. Podia parecer uma coisa simples, mas para ela parecia fantástica a idéia de colocar aqueles bonecos dentro do vidro com tanta perfeição. Mas não compraria, custava muito mais do que ela tinha levado, na pressa não tinha levado dinheiro suficiente.

Assim que iam saindo, Draco pediu para a garota esperar um pouco do lado de fora da loja enquanto ele resolvia um problema.

Depois de cinco minutos o rapaz voltou, trazendo um embrulho nas mãos.

Os dois seguiram para Hogwarts e depois de mais ou menos uma hora chegaram na Escola. Draco acompanhou Ginny até a Ala, quando ela ia se despedir, ele disse:

"É para você. Um presente para 'selar' nossa amizade."- disse entregando o embrulho.

Ginny abriu o presente e lá estava a bola de cristal que vira alguns minutos atrás. E mais uma vez chorou, era incrível como chorava com tudo. Sentiu os braços de Draco a envolverem novamente, permaneceram assim até Draco falar:

"Você não gostou?"

"Adorei, mas eu não esperava. Obrigada."- e num impulso deu um beijo na bochecha de Draco

Percebeu as bochechas pálidas do garoto ganharem um leve tom de vermelho. Ah, Merlim, ele estava envergonhado!

"De nada, Ginevra."- disse se recompondo.

"Bem, até amanhã, então. Talvez..."- disse se despedindo.

"E a sessão? Você não vai?"

"Não. Eu fui dispensada, você sabe... a qualquer momento..."- e sem dizer mais nada, entrou na Ala.

Deitou-se na cama e pensou se aquela teria sido a última vez que tinha visto Draco. Chorou mais um pouco até adormecer.

O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O.

Abriu os olhos.

Um teto.

Um teto igual ao da Ala Hospitalar.

Certo. Não tinha morrido. Ainda.

Levantou-se, tomou banho, vestiu-se e foi para o Salão Principal tomar café da manhã. Era muito cedo, os elfos ainda não tinha terminado de preparar o café quando ela sentou-se à mesa grifinória. Esperou muito tempo até o café surgir magicamente na mesa. Comeu sem pressa nenhuma, aproveitaria cada momento daquele dia.

Logo depois voltou para a Ala Hospitalar, tomou a poção para dor, pegou o presente que Draco lhe dera na noite passada e seguiu para o jardim. Estava entretida pelo seu novo presente, quando sentiu alguém sentado ao seu lado. Era Draco.

"Olá."- disse escondendo o presente.

"Olá, Ginny. O que foi que você está escondendo?"

"Nada."

"Ah, diz."

"Não é nada, Draco."

"Eu vi que tem algo aí. Mostra."

"Não tem nada. Veja."- disse mostrando as mãos.

"E nos bolsos?"

"Pelo amor de Merlim, você está parecendo o Filch."

"Não me insulte desse jeito. Eu vi você segurando uma coisa. O que era?"

"Eu não sabia que Malfoys eram curiosos."- disse tentando desviar a conversa (não queria mostrar o que estava olhando, por mais que agora fossem "amigos", não ia dar motivos para Draco se sentir o máximo.)

"Se você não mostrar, eu descubro."

"Só quero ver como."

Draco deu um sorriso cínico, antes de derruba-la e começar a procurar o objeto nos bolsos do casaco da garota. Achou o "mimo" sem maiores problemas.

"Ah se era isso, por que você não quis me mostrar?"- disse sem perceber que estava deitado sobre ela.

"Bem... é que..."

"Tudo bem... esquece."- disse levantando-se

"Ah, Draco, não fica com raiva. É que você sempre foi muito presunçoso e eu tive medo de que se visse eu olhando o presente ia ficar rindo de mim."

O rapaz ficou parado, de costas, até que sentou de novo e disse:

"Ok. Dessa vez passa."

Ginny apenas riu e ele continuou:

" Como está se sentindo?"

"Bem, mas eu sei que de hoje não passa."

Os dois calaram-se e assim permaneceram muito tempo, por horas, talvez. Preocupados apenas com os próprios sentimentos, não perceberam a aglomeração de nuvens, deixando o céu nublado. A chuva caiu quase que instantaneamente e Draco foi logo dizendo:

"Vamos, você não pode ficar na chuva."

"Alô? Meu problema é no coração, não é pulmão ou outra coisa assim."

"Mesmo assim faz mal."- disse Draco estendendo a mão.

Ginny olhou para a mão estendida e pensou no que sempre fazia quando chovia. A chuva nunca lhe fizera mal. Aceitou a mão de Draco, mas ao invés de segui-lo até o castelo o puxou. Faria uma travessura antes de tudo terminar:

"Vem, Draco."

"Para onde?"

"Não sei. Apenas corre."- disse correndo e puxando o rapaz pelo braço.

Draco a seguiu sem entender.

"Ginevra, você enlouqueceu?"

"Não, apenas sinta, Draco."

"O quê?"

"A chuva."

E saiu correndo, brincando com as poças de água que começavam a se formar.

Draco, sem acreditar no que estava fazendo, a seguiu.

Brincavam chamando a atenção dos alunos que os olhavam das janelas dos dormitórios. Era demais para eles verem Malfoy e Weasley juntos, ainda mais brincando como duas crianças.

Pararam apenas quando a chuva parou. Estavam exaustos, mas felizes.

Depois de tentar muito, conseguiu alcançar Ginny. Aproximou-se dela, a segurando pela cintura.

"Ginny...eu..."

"Draco..."

"Eu...bem..."

"Draco...eu..."- disse a menina cansada.

"Eu..."

"Draco...eu...estou...sem...ar..."- disse com a mão no peito.

"O quê?"

"Ar...Chegou...a...hora...Eu...vou...morrer..."- disse com a voz chorosa.

"Não, Ginny, você vai ficar bem."

"Não...essa...dor"- disse com uma mão no peito, o rosto contraído pela dor- "eu...vou...morrer..."

"Não. Eu vou te levar para a Ala Hospitalar. Você vai ficar bem."- disse a pegando no colo.

Ginny o abraçou pelo pescoço. A menina tentava dizer algo, mas o ar que ainda restava nos seus pulmões não era o suficiente. Estavam próximos da Ala quando a dor no peito da garota aumentou. Queria gritar, mas não conseguia. Sentia o ar fugindo. Tudo parecia mais gelado. Frio, sentia muito frio. Depois de chegar ao ápice a dor diminuiu um pouco, deixando-a falar:

"Draco...eu...quero...que...você..."

"Não fala nada."

"...saiba...nesses...dias...você...foi...o...que...aconteceu...de...melhor...na...minha...vida.."

"Por Merlim, não fala nada."

"Talvez...seja...desde...ontem...ou...desde...que...te...vi...mas..."-disse buscando ar- "eu...te..amo..."- e sem agüentar mais perdeu os sentidos.

O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O. O.O.

Nota da Autora: Até que enfim! Ae...hehehehe...quase ninguém está lendo mesmo, por isso não preciso caprichar nos capítulos... Próximo capítulo é o penúltimo (aleluia!)

Agradecimentos à Lanuxa, Maiah e Anita Joyce Belice, espero que vcs tenham gostado desse capítulo! Beijos!

É isso ae...até o próximo!

Beijos

Manu Black