- Sr. Carter? – uma moça se aproxima na minha direção.

- Sim.. sou eu... – eu sorrio a ela que não parecia lá muito feliz com o que estava acontecendo.

- Precisamos conversar a sós.. me acompanhe por favor.. – ela indica uma porta e eu olho pra Julie que estava com uma carinha... mas não era pra ter pena, eu tinha que ver o que ela havia aprontado, se merecia ou não castigo.

Acompanho a mulher que indica que eu sentasse. Puxo a cadeira, me sento e a vejo enrolar um pouco antes de finalmente começar a falar o que me interessava.

- O sr. Já soube que sua filha teve uma briga? – ela de repente havia ficado seria. Será que era tão grave assim?

- Sim... – eu engulo em seco. Era a primeira vez que eu era chamado na escola por causa de uma confusão. – mas, como foi essa briga?

- Sabe como é criança.. cada uma diz uma versão dependendo do seu ponto de vista – ok.. ela iria começar a enrolar. Eu não falei nada e fiquei esperando que ela continuasse. – quando nós vimos as duas já estava chorando e prestes a se atracarem ali mesmo na sala de aula.

Nossa. Realmente por isso eu não esperava. Julie era tão calminha, tão fofa e meiga... a não ser em dias...É, tudo bem. Na verdade ela não era tão calminha assim. Talvez fossem meus olhos de pai, como Abby sempre dizia. Eu jogava a culpa nela, dizendo que Julie herdara seu gênio.. Bom, de quem quer que fosse a "culpa", isso não vinha ao caso. Agora eu tinha que resolver o problema.

- Sinto muito...-tinha outra coisa pra falar?- vamos conversar com ela sobre isso...

- Vocês têm outra filha, certo?- ela perguntou, pegando um papel onde deveria estar anotado algo.

E lá se foram algumas horas e nada dele ligar. Odeio quando ele faz isso. Me deixa preocupada e não dá notícias. Termino mais um Trauma, encaminhando o garotinho para a cirurgia. Nada mal nosso atendimento hoje.

Saio rapidamente até a recepção para contatar Carter antes que outra ambulância chegue.

Ótimo. Agora já estava me irritando ao máximo. Toca, toca e nada.

Vejo o papai pegando o celular não mão, que vibrava enquanto ele terminava de falar com a mulher. Sem pensar muito, poderia adivinhar quem era.

- Vamos?- vejo papai chamando e pego minha mochila, estendendo a mão para mim.

Saímos pela porta e ainda vejo minha professora nos olhando e acenando.

- Tchau, Julie...e sem mais briguinhas, ok?- ah! Mulherzinha chata!

Fomos andando até o carro e pulei no banco de trás vendo o papai dando a partida no carro. Pra onde será que estávamos indo? Tava cedo pra pegar a Lauren e provavelmente papai tinha interrompido plantão pra me pegar. Será que iríamos pro hospital? Mas a mamãe ta la! Eu to morta! Era uma vez uma Julie.

- Pai? – ela pergunta mas eu não desvio o olhar – pra onde estamos indo?

- Pra casa... – respondo, finalmente – porque?

- John? – eu finalmente consigo fazer com que ele atendesse o telefone – você quer me matar do coração ou alguma coisa parecida?

- Calma Abby... – ele fala com toda a calma do mundo – eu ia te ligar assim que chegasse em casa...

- Sim... – eu falo vendo começarem a chegar alguns traumas - ta no carro é?

- To Abby... – ele definitivamente odiava falar quando estava dirigindo.

- Passa o telefone pra Julie... – minha voz começou a se alterar um pouco mas eu sei que não adiantaria fazer isso - eu sei que ela esta ai com você...

- Julie.. – papai me estende o celular – telefone pra você...

Ah meu Deus! O meu coração começou a acelerar. Pro papai me dar o celular, era caso de morte! Com certeza era a mamãe que não deveria estar gostando nada dessa historia de briguinha.. eu devia ter me agüentado e ter deixado ela falando sozinha.

- Alo? – eu atendo já com medo do seu grito.

- Oi...-ela milagrosamente parecia calma- que foi que a senhora aprontou?- é, realmente só aparência.

- Desculpa, mãe...- eu falo com todo o charme que aprendi ao longo da vida.

- Bom, conversamos quando eu chegar em casa...- ela parece distraída- mais trabalho- parece cansada também -um beijo...- ela mal termina de falar e desliga o telefone. Ah, eu adoro esses pacientes.