Vejo-a desligar o telefone quando já estamos na rua de casa. Paro o carro, vendo-a descer pelo outro lado. Abro a porta e ela sobe sem dizer uma só palavra. Talvez fosse melhor conversar com ela antes que Abby chegasse. Ela sempre exagerava um pouco... Bom, esperaria ela tomar banho pra que pudéssemos conversar.

Fui até a cozinha ver o que poderíamos jantar mais tarde. Encontro só o que tinha sobrado do almoço de sábado. Eca! Isso já deveria estar é estragado... Ponho no lixo e ouço o telefone de casa tocar.

- Mas Kerry...- eu tentava argumentar, em vão. Sabia que Weaver o faria trabalhar a noite pelo tempo que ficou fora a tarde. Poxa, ninguém merece. O único tempo que eu tinha pra ficar com o meu marido e ele com a família... hoje, já era.

Me conformei e tratei de terminar o meu plantão sem deixar pendências. Eu ainda teria metade de uma tarde pra ficar com ele, apertar minha bebê e ter uma boa conversinha com a dona Julie.

- Posso entrar? – papai aparece na porta do meu quarto e eu nem me levanto da cama já sabendo o que vinha por ai. Ele vem andando na minha direção, puxa a cadeira e senta pegando uma almofada apertando. – Agora podemos conversar ou vai ficar ai caladinha?

Eu o encaro e ele não parecia muito bravo. Talvez seja melhor falar agora pra ele aliviar com a mamãe.

- Falar o que? – eu finalmente solto minha voz.

- Você sabe perfeitamente no que eu estou querendo falar... – ele solta a almofada e senta na minha cama ao meu lado – me diga direitinho o que aconteceu hoje na escola..

- Hum... – eu procurei a melhor forma de falar – ela que começou...

- Eu não quero saber quem começou.. – ele me interrompeu – quero saber o que houve pra eu ter que sair do trabalho pra lhe pegar.

- Mas é verdade.. – eu abaixei o meu olhar – ela ficou dizendo que eu era feia.. que meu pai era feio, que minha mãe era chata e que a Lory era mongol...

- Julie... – ele me encarou.

- É... – eu sorri pra ele – talvez ela so tenha te chamado de feio..

Eu sorri a afirmação dela. Julie era mesmo a coisa mais preciosa da minha vida. A nossa afinidade era algo mágico. Não que eu não tivesse com Lory. Minhas filhas eram os seres mais amados dessa Terra. Isso também não interfere na relação dela com Abby, apesar de Abby sempre dizer que a mimo demais.

- Julie, isso não é motivo pra brigar com a menina...- eu passo a mão no cabelo dela- não importa os que os outro pensem...entendeu?- eu a olhei, vendo que ela me encarava.

- Mas pai...- o negócio era não deixá-la argumentar. Fazer ela entender e encerrar o assunto antes que Abby estivesse chego em casa.

- Nada de mais, Julie. Você não deve dar importância pro que as pessoas falam ou deixam de falar, entende? O que realmente vale a pena é levar em conta o que você e a sua família pensam, entende?- ela parece compreender, apesar de continuar com aquela carinha de emburrada.

- Mamãe não acha você feio...- ela disse, dando aquele sorrisinho mais ameno.

- É- eu sorri a ela também- espero que não...

Ela voltou a me sorrir, se levantando e me dando um abraço.

- Sem mais brigas, ok? Se não, da próxima vez, vou mandar mamãe falar com você - sabia que era tiro e queda.

- Não!- ela foi taxativa. Eu sorri, dando o ponto final na conversa.

- Peça desculpa pra ela amanhã, ok?- ela acenou e eu fiquei satisfeito por resolver tudo antes que...

- Oi - eu entro no quarto, vendo-os sentados na cama dela

- Ola... – ele sorri e ela me olha com receio. – chegou agora?

- Foi... – eu fui andando pra dentro do quarto – e já peguei a Lory, deixei ela no cercadinho por enquanto..

- Hum... – ele encara Julie que teima em não olhar pra mim. – estão com fome?

- O que houve hoje na escola Julie? – eu me sentei na cadeira que estava perto da cama e ela se aproximou de John encarando as mãos.

- Houve um desentendido.. mas já foi resolvido.. – John passou a mão nas pernas dela que finalmente me encarou. Ela sabia que eu não ia sossegar enquanto não saísse aquilo da boca dela.

- Falaram coisa feia do papai... – ela o encarou e eu fiquei calculando o que poderia ser feio pra ela. – ficaram dizendo que ele era feio.. que o pai dela era mais bonito...

- Só isso! – eu me surpreendo com a reação da mamãe. Será que eu estava fazendo tempestade em um copo d´água.

- Foi... – papai falou me ajudando de novo. O que seria de mim sem ele?

- Me poupe também essa coordenadora... – mamãe se levantou da cadeira e veio me dar um beijo – eu já sei que seu pai conversou com você.. espero que esteja tudo esclarecido e não se rebaixe mais a essas piadas sem graças das suas amigas.

- Rebaixar? – eu os encaro em duvida. O que era isso!

- Se deixar abalar por isso, brigar por pouca coisa- eu explico, encarando Abby. Acho que chegava por hoje.

- Ah, legal- Julie sorri pra mim, levantando da cama. O clima pesado desapareceu com a reação inesperada de Abby e todos já haviam como se nada tivesse acontecido.

- To com fome...- ouço Julie dizer quando ia começar a descer as escadas. Abby pára no meio do corredor e eu decido mudar de rumo.

- Deixa que eu dou, vai trocar de roupa- ela pisca pra mim e vai em direção ao nosso quarto. Passo meu quarto de Lory, pegando-a no colo.

- Oi, bebê- dou um beijo no rostinho dela e ganho um sorriso e um gemido de volta.

Vou pra cozinha e vejo que Julie já estava postada em frente a T.V. É, certas coisas nunca mudam.