Papai vai me colocar na cama e eu dou um beijinho na testa dele. Ele já ia saindo depois de me beijar também, mas eu o chamei de novo.

- Ei, acho que precisamos conversar, não acha?- ele sorriu, voltando imediatamente.

- Fala, mocinha- sentou na cama e esperou que eu falasse. Ele sabia o que eu queria.

- Faça o favor de rasgar aquele telefone, hein?- eu olhei sério para ele. Eu não estava brincando mesmo.

- Pode deixar- ele piscou pra mim- já rasguei- bom, eu confiava nele.

Ela me olhou uma última vez antes de eu sair do quarto. Caminhei até o quarto de Lory onde Abby ainda a fazia dormir.

- Ei- eu disse sussurrando para não acordar Lory que já devia estar pegando no sono- vamos?- eu vejo que ela olha abobada pra menina e vejo que Lory já devia estar no 7o sono e ela ainda continuava ninando-a.

- Vai na frente- eu queria curtir minha princesinha mais um pouco e ter tempo de pensar em algo para compensá-lo. Hoje eu tiraria a noite pra mimar meu maridinho.

Dei um tempo e coloquei-a no berço. Me certifiquei que ela havia dormido, dei uma ultima checada pra ver se a casa estava fechada e subi as escadas entrando no meu quarto. Vejo-o vendo televisão e passo reto entrando no banheiro pra fazer xixi. Lavo o meu rosto, escovo meus dentes e saio do banheiro espiando se ele ainda estava acordado.

- Vem pra ca.. – ele sorria enquanto eu me encaminhava pra ficar debaixo dos lençóis com ele.

Faço o meu espaço e me sento ao seu lado acendendo a luz do abajur. Olho pra ele e percebo sua concentração no programa esportivo.

- Com sono? – ele nem se vira e continua encanando a tv.

- Não.. – me ajeito de lado na cama e fico observando-o. Penso em mil maneiras de tentar agrada-lo. De vez em quando eu queria ser romântica com ele, mas não sabia como, eu ainda tinha um certo receio e talvez uma certa timidez com essas coisas relacionadas ao lado amoroso. Me aproximo um pouco e recosto minha cabeça no seu peito, logo ele se ajeita e eu me acomodo melhor. Fico assistindo o programa na tv imaginado outras coisas. Um certo momento torno a olhar pra ele e busco sua mão segurando-a no ar.

Acordo no meio da noite e encaro a escuridão do quarto. Perco o sono de uma tal forma que começo a pensar na minha longa vida. Eu estava pensando...será que eu um dia teria um irmãozinho homem? Cada coisa de pensar...me meto a pensar no passeio de amanhã.

Como seria? Só faltava chover! Não, não. Ia fazer tempo bom. Deus não seria tão ruim comigo de fazer chover no único dia que tenho papai e mamãe em casa. Eu iria aproveitar bastante...andar em todos os brinquedos...Pena que Lory era muito pequena e não podia ir comigo. Bem que eu poderia ter uma irmã gêmea! Seria o máximo! Ela poderia ir comigo pra todo canto...é, bem que seria muito bom.

Eu já começo a achar estranhas aquelas atitudes. Que amor era esse? Deitada em mim, fazendo carinho no meu peito? Cafuné? Mãos dadas? Abby não era assim. Não mesmo. Eu até queria que ela fosse, mas ela não era. Não que eu sentisse falta, mas é sempre bom. E se ela mudasse, nem que fosse um pouquinho, eu não acharia nada ruim.

Permaneci na mesma, sem falar nada. Eu não queria que ela pensasse que eu estava estranhando tudo aquilo. Me deixei levar e aproveitei que ela estava conseguindo pelo menos uma vez me dar todo o carinho que eu sei que ela sempre quis me dar, mas que de alguma forma não conseguia. Fechei os meus olhos e ela se aproximava ainda mais, ficando mais colada em mim.

- Com sono? – perguntei quando ele fechou os olhos. Imediatamente ele piscou negando. Sorri tocando o seu rosto e lhe dando um beijo. Assim que nossos lábios se tocaram, ele me envolveu num abraço o qual eu tive uma imensa vontade de permanecer ali ate o dia amanhecer. Abri meus olhos e percebi que ele me encarava. Pensei em me desvencilhar de seu abraço, mas decidir ficar ali. Cedi também aos seus carinhos e recostei minha cabeça no seu peito.

Ele desligou a televisão e esticou o braço apagando a luz. Imediatamente ele acariciou o meu cabelo e me puxou me dando um beijo.

- Boa noite.. – sussurrou ao meu ouvido e eu sorri fechando os meus olhos. Talvez esteja na hora de eu começar a repensar umas coisas.

Sem mais pensamentos sobre irmãozinhos, irmã gêmea ou parque pela manhã, volto a pegar no sono lentamente. A próxima vez que abro os olhos, é com o barulho do choro alto de Lauren vindo do corredor.

Não disse? Ela só chora quando não precisa... Levanto da cama, ainda cambaleando pelo sono e coço os olhos enquanto abro a porta. Vejo papai com ela no colo, balançando pra lá e pra cá.

- Bom dia- ele me cumprimenta assim que me vê, ainda sobre os gritos de Lory.

- Bom - eu bocejo- dia.

Continuo a acalmá-la até que ela para um pouco de chorar. Mesmo com todo esse berreiro, Abby não dava nenhum sinal de que estava para acordar.

- Ei- eu vou até nossa cama, ainda com o neném nos braços e mexo nela, pra ver se ela acorda. Nada. Ela tinha que me ajudar com Lory. Eu já não sabia o que fazer pra ela parar de chorar.

- Oi- eu finalmente me deixo acordar com os chamados dele. Ele não insistira em algo se não fosse necessário. Logo ouço os chorinho de Lory e estendo os braços para pegá-la.

- Que ela tem? – balanço e percebo que ele havia tentado do que podia para que ela parasse de chorar.

- Eu já tentei de tudo o que sabia.. – ele sentou ao meu lado e ficou olhando pra Lauren em meus braços – eu não tenho a mínima idéia do que seja..

- Espero que não seja nada demais.. – coloquei-a na cama e olhei pra porta – senão a outra ali teria um enfarto...

John sorri mas logo eu volto minha atenção a Lauren. Talvez ela so estivesse precisando de atenção e de um pouco de carinho materno.

Papai não agüentou o berreiro de Lory e logo levou ela pra mamãe. Ela sempre dava um jeitinho de calar ela e deixar com o maior sorriso do mundo. Pra apressar as coisas, resolvi ajeitar minha cama e me arrumar logo pra dar menos trabalho a mamãe. Mas ouvindo o desespero da Lauren aumentar, largo o que ia fazer e vou ate o quarto deles vendo-os sentados na cama e Lauren deitada a sua frente.

- Que foi? – vou me aproximando e me deito no canto da cama observando aquilo.

Nenhum dos dois respondeu. Resolvi ficar calada olhando aquilo, ela que não inventasse agora de ficar doente e estragar o nosso domingo.

Abby tentou algumas coisas e recorreu a fazer uma massagem nela. Havíamos aprendido algumas técnicas de relaxar bebes. Lauren diminuía o choro e começava a balbuciar algumas "palavras". Vi um suspiro de alivio vindo de Abby. Acho que havíamos encontrado a solução dos nossos problemas.

- Acho que mamãe acaba de salvar nosso passeio, princesa- eu digo, piscando a Julie, que parecia tão aliviada ou mais quanto Abby, talvez por motivos não muito iguais.

- Então nós vamos?- ela perguntou a mim. "Não diga nada, olhe pra sua mulher", é o que dizia o mandamento do bom casamento.

Olhei pela janela pra ver se colocava das uma desculpa "climática", mas o sol estava a pino. Sem chances. Olhei pra ela que me sorria, esperando por uma resposta afirmativa.

- Vamos, Julie - ela sorriu mais e veio até mesmo agradar Lory, que voltava ao normal aos pouquinhos.

Ela se esparramou na nossa cama e ficou cuidando de Lory enquanto eu tomava banho. John desceu um pouco para cuidar do cachorro. Deixei a porta aberta caso ela precisasse de algo e fui logo tomando meu banho.

Me enrolei na toalha e fui pro quarto, onde as duas ainda estavam quietinhas.

- Ela não reclamou mais não? – mamãe procurava uma roupa e eu permaneci ali cuidado de Lory.

- Não ate agora.. – sorri passando a mão na cabeça dela. Isso menina boa.. fique bem quietinha que eu te dou um premio depois.

Observei a mamãe se vestir. Ela tinha umas roupas tão bonitas. As vezes eu tinha vontade de vesti-las, mas eu sei que ela brigaria se eu fizesse isso.

- Que foi Julie? – mamãe sentou ao meu lado e colocava o tênis pra apressar logo as coisas.

- Nada... estava so te olhando...

- E você mocinha? – eu apareço na porta do quarto vendo Julie ainda de camisola – vai se trocar não?

- Ih... – ela olha pra si – é mesmo.. já estava esquecendo..

Julie sai correndo e eu passo a mão no seu cabelo quando cruzo com ela. Sento na cama e fico onde Julie estava, provavelmente fazendo o mesmo que ela.

- Ansiosa para o nosso dia no parquinho?- eu digo ironicamente, assistindo à expressão dela.

- Empolgadíssima!- ela conseguia ser mais falsa do que eu.

- Vai ser gostoso- eu sorrio, pegando Lory no colo- não é bebê?- eu vejo que Abby olhava pra mim enquanto eu falava com a neném.

- Tem dinheiro?- ela remexia na bolsa, checando o talão de cheques. Eu sorri a cena.

- Ficou traumatizada, foi?- sorrimos e logo vi Julie entrar no quarto, ja vestida. Não o bastante para a mãe, devo dizer.

- Só essa camiseta? Nem pensar! Pega uma jaqueta, Julie- eu disse, logo que vi a roupa que ela tinha escolhido.

- Ô, saco- ela foi resmungando pro quarto enquanto eu corri ao de Lory pra pegar uma roupas mais quente também. Não era ser exagerada, apenas precavida.

Voltei ao quarto onde Carter também parecia pronto. Ajeitou a carteira no bolso e foi até o banheiro, ajeitando o cabelo.

- Pronto?- eu pergunto, e logo vendo Julie voltar.

- Tá bom assim?- eu observo e aceno.

- Então vamos...- Carter diz e eu pego Lory no colo antes de começarmos a descer as escadas.