Vejo papai passando o alarme na casa. Estou ao lado dele e aproveito que mamãe já estava no carro ajeitando Lory para tirar minha dúvida.

- Jogou fora?- minha cara de séria fazia parte do figurino.

- Sim, senhora. Tudinho?- ele coloca as mãos para o alto, rendido.

- Acho bom...- vamos andando para o carro. Entro e espero que ele dê partida. Vai ser um dia divertido.

Durante todo o caminho pro parque eu fiquei reparando no céu e rezando para que não chovesse. Nós bem que estávamos precisando de uma dia em família, ser filha de dois médicos não tinha la suas vantagens. Os plantões nunca se cruzam.

- Falta quanto pra chegar? – Julie já estava impaciente com a demora. O melhor parque que tínhamos pra idade dela ficavam cerca de uma hora de nossa casa.

- Pouco.. – respondi concentrado no que estava fazendo.

Depois de cerca de quinze minutos finalmente chegamos ao nosso destino. Estacionamos o carro e logo pude constatar que o parque hoje iria encher. Saímos do carro e fomos direto a bilheteria comprar as entradas.

- Duas de adulto e uma de criança..

- Pai? – eu sinto Julie puxando minha camisa – e a Lauren?

- Ela não paga meu amor.. – eu logo respondi vendo John tirar o dinheiro e estender ao caixa.

Julie pegou a mão de John e fomos logo entrando no parque. Quanto mais cedo ela se cansasse, melhor pra gente. Assim poderíamos voltar pra casa e curtir um fim de noite quem sabe igual ou melhor que a noite anterior.

Ela vai andando bem na frente, se empolgando ao ver os brinquedos monstruosos. Eu já me afobo, pensando no que poderia acontecer... O parque já começava a ficar cheio e todo mundo sabe que onde tem muita gente junta, sempre há confusão.

Delícia de parque! Hoje seria um dia incrível! Corro na frente, mas me lembro do que mamãe sempre falava. Se eu não quisesse levar uma bronca logo de cara, teria que esperar. Dou uma olhadinha pra trás e vejo papai se dividir entre esperar mamãe e me alcançar. Assim que eu paro de andar, ele para também até mamãe chegar perto dele com Lory.

O primeiro brinquedo que quero ir é a roda-gigante. Vamos pegar leve, pra eles não correrem daqui tão cedo.

- Pai, posso ir?- ele chega mais perto, acenando. Vou toda orgulhosa até a placa em que se mede a altura -nesse eu posso ir sozinha!- sorrio e passo para o lado de dentro da catraca, assim que mostro minha mão carimbada para o moço que ali estava. Vendo que mamãe se encostava na grade e passava Lory para o meu pai, corro pra dentro pra pegar um gaiola pra mim.

- Já cansou se segurar?- eu pergunto sorrindo, pegando Lory com apenas um braço. Ela realmente estava cada dia mais pesada, e cada vez Abby a agüentava menos tempo.

- Seguro o dia todo se você me livrar de andar nesse trambolhos!- ela disse sorrindo pra mim, olhando com medo para a roda-gigante.

- É inofensiva, Abby - eu a abraço, quase esmagando Laurem entre a gente.

- Eu, hein?- ela larga do meu braço e fica encarando o brinquedo, que começa a rodar. Vejo que Julie acenava pra nós, toda feliz- prefiro me manter longe!

- Que vergonha- vamos zombar um pouquinho -sua filhinha lá mó empolgada...e você aqui com medo- eu volto a abraçá-la, dando um beijo no rosto, vendo que Lory sorria pra nós.

- Disse bem... Ela é minha filha...de 6 anos..Passei dessa época faz tempo, John.

- Caso você tenha se esquecido.. – eu percebo a fila começar a se formar – eu também não sou dos mais novos e vou nesse brinquedo..

- Mas eu sou mais velha que você.. – ele balança a cabeça sorrindo e de alguma forma eu sabia que não iria me livrar dessa. Estendi meu braço me dando por vencida e entramos seguindo Julie que já estava pronta a entrar dentro do brinquedo.

- Que bomm! – Julie sorria tanto que eu decidi disfarçar a minha falta de vontade e me concentrar ali. Afinal não era nada demais. Quando eu era criança também amava isso. Ele só roda, roda, roda.

- John... – eu olho pra Lauren imaginando a cena – você não acha que ela vai vomitar não?

- Deixa de drama Abby.. – ele a abraçou forte – comigo não tem problema..

Já que ele dizia, eu iria confiar.

Eu olhei pra cara de preocupada da mamãe. Talvez teria sido melhor ela ficar lá embaixo com a Lauren nos esperando. De repente o brinquedo começou a se movimentar e eu não pude deixar de sorrir com aquilo. Minha vontade é de girar a roda que esta na minha frente e ver tudo girando. Penso em fazer isso, mas sei que mamãe logo brigaria. Ela é tão medrosa pra essas coisas.

- Ta gostando Julie? – papai pergunta cortando meus pensamentos. Eu aceno e mamãe se aproxima de mim, colocando o braço por trás. Vendo que estávamos chegando ao topo levanto meu braço pro ar, a minha vontade era ficar ali ate que o dia terminasse!

Até que a cara de Abby ia melhorando, principalmente quando íamos chegando perto do chão. Saímos da gaiola e Juli estava encantada, mas ainda tinha um parque todo pra ser explorado.

- Que quer fazer, princesa?- eu sorri, pegando na mão dela antes que Abby me desse uma bronca.

- Na verdade...- aquele jeitinho. O que sera que ela queria? - dá pra você me carregar no pescoço, como antes fazia?- o quê? Além de eu dizer que não conseguia mais a pegar no colo, ela queria no ombro? Oh, Deus! Tudo pela integridade familiar. Só espero que ela se empolgue logo e desça logo.

- Sem problemas- Abby parecia surpresa com minha aceitação. Eu me abaixei e ela pulou em mim. Levantei, com uma certa dificuldade, me pondo em pé em equilibrio.

- Cuidado com as costas, seu louco!- a Maria Preocupação começou a reclamar. Fiz um sinal pra ela deixar quieto...Que custa fazer um gosto da menina?

Ok, ele que depois não viesse reclamar.

Eles começaram a querer ir em uns brinquedos que era impossível da Lauren acompanhar. Com minha paciência multiplicada por vinte esperei cada brinquedo, ate que decidimos ir a aqueles sem muita emoção.

- Quer tentar ganhar um urso? – avistei a barraca e torci para que Julie aceitasse aquela idéia.

- Claro...! – ela saiu correndo em disparada ate se pendurar na frente da barraquinha.

- Quantos arremessos são? – John se aproximou tirando o dinheiro da carteira.

- Três.. e pode escolher o premio que quiser.

Eu peguei as bolas e papai me colocou em cima de um balcão para que eu tivesse uma visão melhor do que deveria derrubar.

- Atira bem no meio.. – papai deu a dica e eu me concentrei jogando a primeira bola.

Nada. Acho que eu era meio ruinzinha de pontaria. Tentei mais uma vez, agora mais concentrada. Passou perto, mas não deu certo. Essa era a última. Lory começou a chorar e mamãe foi um pouco afastada com ela.

- Calma, respira e joga- eu escutei papai dizer mais uma vez e olhei fixamente pro alvo. Senti a mão dele se juntar a minha e jogar. Batata! Certinho no alvo!

- Pronto, mocinha! É só escolher seu prêmio...- a moça simpática da barraca me disse e eu olhei pra todos ele. Vi, ao lado, mamãe tentando fazer Lory parar de chorar.

- Pai...- eu vejo-a olhando pra Abby e depois pra mim- o que você acha de eu escolher um ursinho pra Lory? Quem sabe ela não para de chorar, né?- Ah! Minha filha era única! Que docinho! Mesmo morrendo de ciúmes, ela se preocupava com Lauren.

- Acho ótima a idéia, filha!- eu sorri a ela- Lory vai adorar. Então ela escolheu um bichinho pink e lá fomos nós de encontro a elas.

- Mãe! - Abby desvivou sua atenção um momento e sorrio pra ela, que vinha toda feliz com o bicho na mão- olha que eu ganhei pra Lory!

- Que lindo, meu amor- eu abaixei Lory pra que Julie mesmo o estregasse. Ela começou a fazer graça e instantaneamente o bebê parou de chorar.

- Você tem jeito com ela, Julie - eu sorri e ela m deu um beijo no rosto.

- Na verdade eu gosto dela...- ela disse baixinho- Pai! Tô com fooome!- a mudança de assunto era brusca. A quem será que ela tinha herdado essa mania de querer esconder o que realmente sentia?

- Boa... – finalmente algo me animou naquele dia inteiro – estava mesmo começando a sentir meu estomago roncar..

Sentamos a mesa da praça de alimentações enquanto John comprava algo para comermos tirei uma mamadeira que havia preparado pra Lauren e comecei a alimenta-la enquanto a minha comida não vinha.

- Cansada Julie? – tentei puxar algum assunto com ela que de repente havia ficado calada demais.

- Não.. – ela procurava com o olhar pelo pai naquela multidão – eu ate iria em tudo de novo...

Que disposição. Sorri pra ela e passei a mão no seu cabelo que estava assanhando. Ela se aproximou de mim se encostando no meu ombro. Definitivamente ela estava cansada.

- Famintas? – papai chega com a bandeja e coloca em cima da mesa.

Eu aceno me ajeitando na cadeira. Eu não queria assumir mas uma cama agora seria bem vinda. Vou pedir pra ir em so mais um brinquedo antes de ir embora. Eles também devem estar loucos pra dormir.

Comemos o lanche e só depois mamãe come, assim que Lory acaba de comer. Esperamos e assim que papai foi jogar tudo no lixo, eu pedi pela última vez.

- Podemos ir em um último brinquedo?- escuto Juli dizer assim que chego de volta na mesa. Abby não parecia muito animada com o pedido, mas isso já nãe era novidade.

- Acabamos de comer- ela prontamente responde, como se isso fosse desculpa.

- Só mais um, mãe- ela se encosta no braço de Abby com toda a manha possível- o último, vai?

- Depende...qual?- será que ela ia ceder?

Ha-ha-ha. Julie era uma figura mesmo. Ela aponta justamente para o brinquedo que mais rodava, girava e rodopiava no parque e que, só para um agravante a mais, na idade dela, precisava de um acompanhante obrigatório.

- Nem nos seus sonhos...No tanto que você comeu? Tá loca?- eu sabia que era uma desculpa. Não custava nada pra mim

- Papai vai com você, filha- Abby me dá aquele olhar mortal.

- Ela vai vomitar, Carter!

- Vai, nada! Que mania!- eu a deixei balcando lá e fui levar Julie no brinquedo.

Entramos de novo na roda gigante. Abby ficou esperando a gente. Se ela fosse aqui era capaz mesmo de Julie vomitar tudo.

- Você esta bem Julie? – perguntei pra assegurar que não teríamos problemas.

- To sim.. – ela sorriu se aproximando de mim – nunca estive tão bem..

Eu ate agora não estava concordando muito com aquela idéia. Mas já que era o ultimo brinquedo deixei ela se divertir mais um pouco. Lauren já estava começando a pesar demais e decidi que era hora dela andar um pouquinho. Segurei sua mão e ela ficou se equilibrando tentando dar o primeiro passo.

Sentei do lado do papai e esperei a roda subir mais pra poder girar aquilo. Sem a mamãe aqui eu poderia girar, girar e girar isso. Apoiei minha mão na roda e sob o olhar do papai deu um giro de leve. Ele sorriu balançando a cabeça e eu vi que poderia girar mais. Mamãe tinha cada uma, o que uns giros dessas iriam me fazer vomitar?

- Gira menos Julie.. – eu já estava começando a sentir meu estomago embrulhar. Imagine ela. Ela logo me obedeceu e soltou a mão da roda. Vi que sua cara não estava la das melhores. Porque eu tinha mesmo que concordar com isso? – Você esta bem? – passei a mão no seu cabelo e ela acenou que estava. Talvez eu so estava sendo muito cauteloso com a minha menina.

Aquilo rodou mais umas duas vezes antes de parar e abrir a portinha. Eu encara Julie, que já não aparentava estar muito boa.

- Que você tem?- eu perguntei, preocupado.

-Tá girando...- ela parecia meio tonta- tá doendo!- ela apontou a barriga. Eu comecei a procurar Abby, mas ela tinha sumido- chama a mamãe, pai! Tá ruim.

Quando Lory está quase conseguindo, eu tenho a feliz idéia de olhar pra trás e vejo um Carter me procurando. Pego a menina no colo rapidamente e vou pra perto deles.

- Não brigue comigo, mas eu acho- ele nem precisava terminar. Eu vi Julie pálida e meio atordoada. Nesse sol e rodar depois de comer. Que mãe e médica irresponsável!

- Eu disse, né, Carter?- passei Lory pra ele e me abaixei pra olhar no rostinho dela- o que ta sentindo?

- Dor..- ela coçou os olhos com aquela carinha enjoada. Olhei pros lados e não vi a presença de farmácia alguma e eu tinha que ter esquecido o remédio pra enjôo.

- Compra água gelada Carter.. – a puxei pra mais perto de mim e fui levando-a ate o banco que eu estava antes com Lauren. – Respira fundo.. – abaixei sua cabeça mas ela começou a gemer ainda mais de dor.

- Aiii.. – ela levantou o rosto – ta doendo mãe.. – a essa altura ela não evitava e começou a chorar. Eu me senti perdida ali, como medica agiria num segundo, mas como mãe o desespero bate e a gente fica sem a menor reação.

Foi questão de segundos. Foi so eu me levantar de novo, me virar pra ela que eu senti algo melado e quente vindo em minha direção. Ah não.. olhei pra baixo e vi o estrago em mim e nela.