Meu subconsciente acorda, mas meu corpo não. Sinto a presença de alguém no quarto, mas não me movo. O sono vem chegando, chegando, chegando.

Eu ainda ouvia o alarme tocando quando ele parou de repente. Abri meus olhos ainda com uma certa dificuldade e me deparo com Julie em pé, sorrindo, "admirando" aquela cena.

- O que foi? – perguntei com um mínimo volume na voz. Queria que Abby pudesse ainda dormir um pouco.

- Nada.. – ela pula na cama fazendo com que Abby abrisse os olhos de susto.

- O que aconteceu? – eu olho pro lado percebendo o sorriso se Julie e o olhar de John.

- Nada mãe.. – ela me abraçou forte e me deu um beijo. Eu ate que ia perguntar se ela estava melhor, mas vejo que não precisava. – quer dizer.. – ela se ajeita no meu colo e abre a boca – meu dente ta doendo..

- Doendo? – John me soltou do abraço e a puxou pra mais perto. – Deixe-me ver..

Eu abri a boca e o papai ficou procurando alguma coisa. Pelo que eu saiba quem cuida do dente é o medico do dente e não ele.

- Qual dente que dói? – eu coloco meu dedo em cima do dente e ele faz o mesmo mexendo-o de leve.

- Paraaaa! – grito no susto e fecho minha boca quase mordendo o dedo do papai.

-Ei, calma- ele sorriu pra mim e eu volto a abrir a boca, deixando ele mexer mais um pouquinho.

- Acho que tá mole - eu digo, assim que sinto ele se mexer um pouco- daqui a pouco vai cair- eu sorrio, orgulhoso dela. Minha filha teria o primeiro permanente.

- Cair?- ela já fica toda desesperada- e eu vou ficar sem dente? Como é que eu vou comer?- parecia o fim do mundo pra ela.

- Ah, mãe- ela vem toda dengosa pro meu lado- deixa eu faltar, só hoje, vai?- eu sorri, olhando pra Carter instantaneamente.

- Nada disso, mocinha.

- Mãe, mas meu dente tá doendo muuuuuuuuito- eita, como essa menina era trágica. Acho que o negócio dela era ser atriz. Ela ia é dizer adeus pra Medicina.

Penso melhor sobre o assunto. Que mal havia? Eu não ia trabalhar de manhã mesmo...

- Tá bem- eu mesma me surpreendo. Mamãe me deixou faltar na escola? Será que ela tá dodói?- mas só hoje, hein, Julienne...- eu sorri, voltando a abraça-la e dar um beijo no rosto. Papai cai por cima de mim, me fazendo gritar. Mas como toda alegria minha dura pouco, logo Lory começou a berrar lá no quarto.

- Deixa comigo.. – papai saiu do quarto me deixando a sós com a mamãe. Ela tornou a se deitar na cama e eu engatinhei ate o lado do papai, deitando ao seu lado.

Fui ao quarto de Lauren pegando-a no braço. No mínimo aquilo era fome. Desci as escadas com ela no colo e peguei algo pra ela comer, a coloquei na cadeirinha e ajeitei tudo dando a comida pra ela. Logo ela acaba e eu olho pro relógio vendo que teria que ir dar uma aula dentro de duas horas.

- Alimentada.. – coloquei Lauren no chão assim que entro no quarto. Abby nem Julie se dão ao trabalho de levantar a cabeça. Seguro a mão dela e vamos andando ate a cama onde ela se pendura, tentando pegar no braço de Abby.

- Mamãe.. – eu falo esperando que ela repetisse. Estava mais que na hora de incentiva-la a falar algo mais concreto. Ela ri achando graça em alguma coisa. Pego-a no braço e a sento na cama entre eu e Julie.

- Não adianta Abby... – John senta na cama e eu afasto pra ele não cair – ela vai falar primeiro papai...

- Não.. – Julie sentou na cama puxando Lauren pra perto dela – ela me disse que vai falar primeiro Julie..

E lá fomos nós para mais uma dia. Mamãe ficou comigo quase todo o tempo e quando ela fi trabalhar, papai já tinha voltado pra casa. Nossa rotina retomou e eu tive de ir pra escola no dia seguinte, porque mamãe na me deixaria faltar, mesmo porque ela trabalhava cedinho.

- Vamos dormir?- eu pergunto mas ela ainda insiste em ficar vendo o programa na T.V. As meninas já dormiam há algum tempo e quem sabe hoje nós poderíamos ficar juntos.

- Eu já vou...só vou terminar de ver isso aqui- ela diz, compenetrada na TV. Depois eu é quem sou o viciado.

- Vê no quarto, Abby- eu já estou quase desistindo e vou subindo as escadas.

- Shiu!- ela só se move pra me dar bronca- não, se não eu perco um pedaço...Eu já vou...

Mas que saco. Eu nunca sento aqui pra ver nada. Quando consigo um programa menos idiota que me chama a atenção, ele se incomoda? Que saco! Na verdade eu sabia qual era a dele...Mas eu trabalhei o dia todo, tava morta...eu diria "sem chances".

Em menos de 10 minutos acabo de ver o documentário e vou verificar as portas e o cachorro antes de subir.

Tudo certo, subo as escadas. Antes de entrar no meu quarto, dou uma passada no de Lory. Dormia como um anjo. Acho que a fase de acordar de cinco em cinco minutos havia passado, para nossa alegria. Saio do quarto dela, entrando agora no de Julie. Vou até a cama e a cubro. Também um anjinho. Vou saindo quando escuto ela me chamando.

- Mãe...

- Que foi? – mamãe se aproxima e eu me sento na cama esperando ela chegar mais perto.

- To com medo mãe.. – eu seguro sua mão olhando pra cima.

- Medo? – mamãe senta ao meu lado – de quê?

- De engolir o dente e morrer.. – eu a abraço forte começando a chorar – eu não quero morrer mãe..

- Que bobeira Julie.. – mamãe me abraça mais forte – é claro que você não vai morrer por causa disso, o seu pai já não explicou tudo pra você?

Me deito na cama e encaro o relógio de dois em dois minutos. Porque ela demorava tanto? E logo hoje que eu estava planejando uma noite especial pra nós dois? Pense em ir chama-la mais uma vez, mas pelo que eu conhecia do seu gênio, ela iria ficar "puta" com isso e se recusaria a fazer qualquer coisa além de dormir.

De repente eu ouço um barulho vindo do corredor, era ela que estava chegando. Me ajeito na cama e aumento o meu sorriso o maior possível. Eu não queria saber de desculpas essa noite. Ela estava cansada, eu também, mas nem por isso eu iria virar pro meu lado e dormir.

- Pronto.. – eu vejo o sorriso dele murchar assim que eu entro pela porta com Julie nos meus braços.

- Oi pai!- Julie corre pra nossa cama- vim dormir com voces! Legal, né?- ela começa a pular na cama.

- Muito, filha..- ele não consegue disfarçar. A veia artística dela definitivamente não vinha de John. Eu sorri aquilo tudo. Não que eu a tivesse usado pra dar uma desculpa, mas não vou mentir. Foi ótimo, assim ele não pode me acusar de má vontade e eu não fico mal com ele.

Papai não sorri muito. Será que ele não tinha gostado? Não importa! Mamãe tinha e assim, eu não ficaria mais com medo.

Vou pra perto dele com meu travesseiro, me ajeitando. Mamãe logo deita e eu me sinto a maioral, ficando no meio deles.

- Alguém quer fazer uma massagem em mim?- eu sorrio, lembrando. Papai começa a rir e eu não entendo nada. Que tinha demais nisso?

- Eu faço...- ele faz um sinal e eu viro de costas. Logo sinto a mão dele nas minhas costas. isso era tão divertido! Por isso que mamãe gostava...

Eu não contenho o riso quando ela faz aquilo. Mal sabia Abby a conseqüência de sua mentira. Passo a mão nas costas dela de levinho e ela parece curtir a sensação. Satisfazer uma menina era inúmeras vezes mais fácil do que satisfazer uma mulher.

Não me agüento e, ainda massageando a pequena, vou me aproximando mais do rosto dela, tirando proveito da boca, que está colocada com a minha. Vejo que Julie estava de bruços...que mal teria em passar de um selinho?

Que ele estava pretendendo? Eu não me movi, permaneci como estava, iria ver ate onde ele faria alguma coisa. Sinto o seu rosto se aproximar do meu e, enquanto ele ainda fazia "massagem" em Julie, sua boca buscava a minha pra um beijo. Cedo aos seus "caprichos" e me deixo ser beijada. Retribuo o beijo que logo é interrompido, quando ele percebe que tem dar mais atenção a Julie.

- Gostando Julie? – ele abaixa o rosto e procura saber se ela havia dormido ou não.

- Sim.. – abro o meu olho vendo o rosto do papai colado no meu. – amando..

Fecho meus olhos novamente e sinto as mãos de papai nas minhas costas de cima a baixo. Mamãe talvez também tivesse querendo um pouco disso e eu tava aqui, so atrapalhando eles.

- Pai.. – abro meus olhos me mexendo um pouco – faz massagem também na mamãe.. ela deve estar querendo...

Papai ri novamente, dessa vez acompanhado da mamãe. Eu, como sempre, não entendia bem o motivo daquele riso todo. Me viro na cama e bato no colchão, mostrando pra mamãe que era a vez dela de se deitar pro papai fazer aquilo.

- Deita Abby.. – eu aceitei a proposta de Julie e decidir fazer um jogo sujo com Abby.

Ela pareceu um pouco na defensiva, mas Julie acabou por convence-la. Ela deitou e Julie ficou fazendo cafuné no cabelo dela. Ah...isso estava bom demais pra ela. Eu iria dar um jeito dela se arrepender.