No meio da conversa com a tia Bárbara ouço o telefone tocando. Não sei porque, algo me dizia que eu devia atender que era pra mim. Pulo da cama e vou correndo ao telefone, atendendo-o.

- Pai? – falei esperando ouvir a confirmação.

- Serve a mãe? – eu sorrio já pulando de felicidade. Eles ligando.. era um bom sinal!

- Mãeeee! – eu gritei mais forte que eu podia. – quando vocês voltam?

- Amanha.. – ela me fala e olho pra tia Bárbara que já havia percebido quem estava falando comigo.

- E os meus presentes? – já que eles tinham viajado, nada que explora-los um pouquinho..

- Vou providenciar, princesa- ela parecia feliz, apesar da voz um pouquinho baixa e calma demais.

- Sabe quem tá aqui?- eu pergunto, vendo tia Barbara sorrir pra mim.

- Não, bebê. Quem?- fico pensando um pouco, tentando achar qual o grau de parentesco entre elas duas.

- Cunhada- titia susurra eu repito pra mamãe ouvir.

- Ah! É mesmo?- eu vejo Abby mudar totalmente de humor. O que Julie teria tido a ela- seu pai vai gostar de saber disso...- opa...o que eu ia gostar de saber?

- Que foi?- eu não resisto em perguntar, mas ela me faz um sinal com a mão para esperar.

Ela fala mais um pouco com Julie até se despedir, e antes de eu poder dizer que queria falar também, ela já havia desligado.

- Poxa, eu queria falar- ela sorri, me dando um beijo no rosto.

- Desculpa, mas você não vai imaginar que tá lá. Já chegou!- eu digo, tentando fazê-lo esquecer da ligação.

- Barbara?- ele diz de primeira. Poxa, e todo o mistério que eu ia fazer?

- É- eu digo levantando do banco. Acho que já estava bom de cemitério por hoje. Pego na mão dele e me ofereço para carregar Lory. Eu sei o quanto ela pesava e ele já estava com ela há um tempão.

- Eles chegam amanhã!- eu não disfarço minha empolgação.

- Que bom..- titia se levanta, me convidando pra descer. Pego na mão dela e saímos do quarto, descendo as escadas.

Conforme nós íamos descendo, vejo um moço sentado no sofá da sala. Quem seria aquele?

Saímos do cemitério e olhei pra Abby que parecia estar mais leve. Agora nada melhor que uma boa comida pra melhorar o dia. Dei a partida no carro e fiquei olhando pra ela tentando saber se ela daria alguma opinião.

- Então.. – falei vendo-a virar o rosto e levantar a sobrancelha pra mim.

- O que? – ela olhou pra trás conferindo Lauren e tornou a olhar pra mim.

- Pra onde estamos indo! – ele tomou o rumo pra avenida e eu sorri tentando imaginar algum canto.

- Se eu soubesse... – eu olhei pra ele que balançava a cabeça – sei lá.. vai reto.. em algum restaurante a gente chega..

- Quem é o moço? – eu me pendurei no sofá vendo-o sorrir pra mim. Hum.. ele ate que era bonito...

- John... – ele se virou entendo a mão a mim.

- Igual meu pai.. – eu olhei pra tia Bárbara e pro vovô que sorria do canto da sala.

- É.. – ela senta no sofá ao seu lado e segura a mão dele. – e brevemente ele vai ser também um pai...

Eu continuei sorrindo sem entender o que ela disse. Eu hein.. esses adultos tinham cada uma..

Chegamos a um lugar que parecia agradável. Não estava muito cheio. Sentamos em uma mesa e ela ficou com Lory no colo o tempo todo, dando alguns "cheirinhos" de comida.

- Tadinha, nem sabe o que é bom ainda...- eu digo, vendo os pedacinhos minúsculos que ela comia.

- Ela não sabe nem 1 dos prazeres da vida ainda...- ela sorri pra mim, morendo o lábio inferior. Uhum! Me provocando...

- Pois é..- eu apenas concorda, me calando pra não falar bobagem. Depois de um tempo de silêncio, ela volta ao assunto "pai".

- Sabe o que eu estava pensando?- eu olho pra ela, que já tinha terminado de almoçar.

- Não, o que?

- Ele disse que foi lá e eu era enfermeira...Será que foi no início? Quando eu larguei a faculdade? Quando eu estava com Luka? Com você? Sozinha de novo?

- Quem sabe, não é?- ele não tinha muito o falar mesmo. Isso era irrelevante, apesar de muito curioso pra mim.

- Quem sabe tem alguma pista disso lá naquela caixa ainda?- ele disperta o meu desejo de vasculhar aquilo mais uma vez. Eu aceno e volto a pensar no meu filhote.

- Sabe outra coisa que eu pensei?- eu olhei pra ele, que já pedia a conta ao garçom.

- Você tá pensando demais hoje...- ele ri pra mim, mas eu nem lhe dou ouvidos.

- Por que será que sua irmã veio?

- Han? – eu sentei ao seu lado vendo-a colocar a mão sobre a barriga. Ela tava com dor de barriga? Será? Pena que meus pais não estavam aqui.. eles podiam curar isso rapidinho.

- Você vai ter um priminho – ela sorri e eu encaro a barriga dela, tornando a olhar pra ela de novo.

- Primo? – eu sorrio. – Jura? – eu pulei no sofá e comecei a me empolgar com aquela historia. – e cadê ele?

Tia Bárbara olhou pra todos na sala e eu não entendi o silencio. A cada dia que passa eu entendia menos essas fofocas de adultos.

- Daqui a uns sete meses ele vai chegar.. – ela sorri pegando na mão do moço.

- Ah... – eu vou pra perto dela e coloco a mão na sua barriga – oi primo...

Todos riram de mim e titia respirou forte.

- Ele ta aqui ne? – eu apontei pra barriga dela. Eu sabia que os bebes viam dali porque a Lauren veio dali. De uma hora pra outra mamãe tava com um barrigão de depois ele ficou pequeno de novo. Será que um dia eu também vou ter um bebe assim?

- E eu sei? – eu paguei a conta e fui me levantando da mesa sendo seguido por Abby. – Talvez ela veio cumprir só mesmo suas obrigações de filha, irmã e tia...

- Não sei não- ué, que cara de desconfiada era aquela?- isso tá me cheirando mal...

- A Lory não sujou a fralda?- eu acho espaço pra fazer uma piada sem graça.

- To falando sério, John- nós vamos indo pro carro e eu abro a porta pra ela depois de ela coloca o neném lá trás. Mesmo ainda meio perdido, eu me acho e com algumas indicações dela, consigo chegar na casa de Maggie novamente.

Entramos e eu já não agüentava mais carregar Lory a pus na cadeirinha no sofá da sala pra que pudéssemos arrumar as coisas. Queria sair bem cedinho na manhã seguinte.

- Como foi lá?- Maggie me pergunta, antes que eu pudesse entrar no quarto.

- Normal..Bom- eu não sabia muito o que dizer- cadê o Eric?- acho que estava chegada a hora de eu falar com o meu irmão, afinal, o pai era dele também.

- Meu pai e minha mãe me explicaram porque menina é diferente de menino- diante daquele silencio, eu quis puxar um assunto. Acho que esse não era muito indicado, haja visto a cara de vovó pra mim.

A cara da vovó já não estava nada boa. Teria algo a ver com o meu "priminho"? Acho que não.

Voltei a sentar no sofá e vovó disse que iria servir algo pra comer pra tia Barbie. Comecei a olhar como ela segurava a mão do tal outro John. Assim que vovó saiu, eles se aproximaram mais e ele deu um bejo nela.Na boca!

- Isso é nojento- eu não podia deixar de dizer o meu parecer sobre a coisa.

O resto da tarde passou rapidamente. Eu e Abby descansamos um pouco e Maggie ficou um tempo com Lauren. Aproveitamos e fomos comprar ali perto alguma coisinha pra que Julie não reclamasse. Voltando de novo a casa de Maggie, deixamos as coisas no quarto e fomos a cozinha, onde nos prontificamos a jantar junto com todos.

- Enfim te vi.. – Eric se levantou da mesa e veio abraçar Abby.

- Você trabalha logo no dia que eu fico aqui! – ela se afasta dele e da um tapinha em seu ombro.

- E já to vendo que vou ter pouco tempo.. – ele vem me abraçar e logo se afasta – quando vocês dois se juntam naquele quarto.. não quero nem pensar...

- Quem sabe vem mais um neto por ai.. – Maggie fez o favor de complementar aquilo e eu olhei pra John que so faltava enfiar a cabeça dentro de uma panela de tanta vergonha.

- Vamos comer, ok? – eu peguei a mão de John e me controlei pra não rir daqueles comentários. Era tão bom ver que eles estavam bem, estavam medicados. Enfim eu acho que estou tendo uma vida normal com a minha família, e espero que isso dure pra sempre.

Eles foram para a mesa, e apesar da vontade de ficar mais com a minha tia, e ouvir mais coisas sobre o tal do "primo", eu fui obrigada a subir e fazer o dever de casa. Ainda bem, não era muito e eu pude logo me livrar daquilo. Quando pensava em descer, Tina abre a porta.

- Sua avó mandou eu te dar banho, mocinha...- ela riu, mas eu não estava nada animada com a idéia.

- Eu sei tomar sozinha- eu disse e fui pro banheiro, cumprir as ordens. Quando terminei, ela ajudou a me vestir e logo eu estava pronta pra ir jantar.

- Faz uma trança?- eu pedi antes que saíssemos do quarto.

- Eu não sei- afe! Um trança! Será que era tão difícil?- minha mãe sabe...- eu resmunguei quando ela pegou minha mão e descemos as escadas.

Enquanto Abby e Maggie ajeitavam a cozinha, Eric me chamou para ver uma coisa na sala. Eram fotos e recordações de todas as épocas da vida dele. Aproveitei que estávamos relativamente longe das duas e achei melhor dar um toque.

- Você vai dar uma conversada com a sua irmã?- eu disse, baixo, esperando que ele entendesse.

- Fica tranqüilo, John. Deixa ela comigo- ele piscou e aquilo bastou para que eu relaxasse e voltasse a ver o que ele me mostrava.

Via aqueles dois no sofá da sala, altas risadas. O clima estava realmente mais leve e acolhedor. Se eu não tivesse uma princesinha me esperando em Chicago, poderia até mesmo ficar aqui mais um ou dois dias.

Terminamos ali na cozinha e Maggie foi pra sala também ligando a tv. Aproveitei a oportunidade para dar mamadeira a Lauren para que ela pudesse descansar também.

- Posso entrar? – Eric aparece na porta e eu aceno pra que ele sentasse ao meu lado. - Ela esta enorme.. – ele pega no pezinho dela e sorri na minha direção – parece um pouco com o tio...

- Só se for a cor dos olhos.. – falo ajeitando-a no meu braço esperando que ela dormisse logo.

- A cor dos olhos de nosso pai.. – ele me encarava e eu virei para falar melhor com ele. – eu mostrei a ele.. antes de morrer.. uma foto de vocês...

- Você falou com ele? – porque ninguém tinha me dito isso?

- Com sono Julie? – John pergunta depois que eu bocejo.

- Não.. – eu estava com sono mais não ia falar. Meus pais não deixavam eu ficar acordada ate tarde.. então enquanto eles estavam longe, eu tinha era que aproveitar... – vamos brincar? – eu sugeri a todos depois que vi que o silencio tomava conta daquela sala.

- Com saudades de Julie? – Maggie interrompe o silencio e senta ao meu lado pegando o controle remoto.

- Muito.. – eu passei as mãos no meu cabelo – não imagina o quanto.. eu nunca fiquei tanto tempo assim longe dela..

Ela sorri pra mim e eu sinto o sono chegar. Como será que iam as coisas lá no quarto? Voltei minha atenção pra tv. Às vezes Maggie pegava para falar de algo, mas logo o silencio retornava.

- Ele achou sua família perfeita- ah, droga! Lágrimas malditas.

- Quando ele falou com você?

- Um dia antes dele...- ele parou de falar. Parecia ser mais forte do que ele- ele veio se despedir, Abby- ele começou a chorar e pela primeira vez eu vi meu irmão fraco e derrotado, desde que tinha saído da crise e estava medicado. Era uma reação dele, não provocado pela doença.

Titia até que conversou e brincou bastante comigo. Eu mesma já começava a ficar com sono e via que a qualquer momento podia pegar no sono.

- E sua mãe, garotinha, como tá?- ela prguntou, quando estávamos sentadas no chão da sala.

- Bem...- eu disse bocejando- eles chegam de manhã.

- E sua irmãzinha, tão linda quanto você?

- Quase- eu sorri, bocejando mais uma vez.

- Vem- ela levantou do sofá e por um milagre soltou a mão daquele cara- vou te colocar na cama. Bom, não era a mamãe, mas era legal. O bom era dormir sabendo que quando eu acordasse na manhã seguinte, papai e mamãe poderiam já estar lá.

- Vocês pensam em ter mais filhos? – Maggie desliga a televisão e me encara. Taí.. uma coisa que eu não sabia direito..

- Talvez.. mais um.. quem sabe...

- Abby ta ficando já sem idade de ter filho.. – ela olha pra porta.. – afinal já são 40 e poucos anos.. não é mesmo?

- Eu não acho.. – eu a encaro sem crer naquele comentário – hoje em dia a medicina ta tão avançada que idade não é bem mais um empecilho pra se ter filhos saudáveis..

- Eu poderia ter vindo me despedir também.. – eu o encarei e ele olhou pra Lauren.

- Ele achou melhor não... – ele tornou a sorrir – ele não queria que você deixasse suas filhas pequenas sozinhas...

- Mas de alguma forma eu tive que deixar.. – eu já pensei em Julie – eu poderia ter dito adeus.. ter falado tudo o que eu queria falar...

- Ele pediu pra dizer que não esqueceu de você um so momento na vida... – ele segurou minha mão e eu o encarei - e que ficou feliz ao saber que havia conseguido se formar em medicina..

- Eu sei que desde criança eu dava uma de medica.. – eu sorri a recordação - mas era coisa de menina

Deitei na cama e ela me cobriu.

- Boa noite, garotinha- ela piscou pra mim e foi se afastando. Tubo bem. Não teve o beijo da mamãe, mas pelo menos uma piscadinha rolou.

Encostei naquele travesseiro recordando que o dia de hoje tinha sido bem legal e eu só esperava que amanhã fosse ainda melhor.

- Ela sempre quis ter um menino...- Maggie insistia no assunto.

- É uma coisa a se pensar, mas sinceramente?- eu olhei pra porta, só pra garantir que não falaria coisas sem saber ao certo, com perigo dela escutar- eu acho que encerramos por aqui.

- É, quem sabe?- ah! Isso me dava medo.

Eric pegou Lory no colo e nós fomos para sala. O clima ali estava estranho e achei que tudo o que eu podia fazer, era tirar meu marido dali, fosse qual fosse o motivo.

- Bom.. – eu me aproximei do sofá e fui chama-lo pra me acompanhar – vou dormir.. amanha preciso acordar cedo...

Prontamente ele se levanta e se junta a mim.

- Boa noite a todos.. – ele me abraça pela cintura e acena pra eles. Eu faço o mesmo e vamos andando ate o quarto fechando a porta atrás de nos.

- Será que papai ta dormindo? – resmunguei tentando pegar no sono – será que a mamãe ta precisando de massagem?

Poxa... eu não pensaria que eu precisaria tanto dos beijos e abraços dele pra poder me sentir bem. Assim que eles chegarem eu vou escalar o pescoço dos dois e encher de beijos.. e também em Lauren.. tadinha, não sabe nem andar, nem falar direito, talvez eu deva ensinar algumas coisas a ela...

- O que vocês estavam conversando? – ela perguntou assim que eu fechei a porta.

- Nada de importante – ah.. so que ela tava falando que nós estamos ficando velhos e que não devemos ter mais filhos.. nada demais mesmo..

- Sei.. – ela puxou a colcha da cama e pegou a camisola que estava debaixo do travesseiro, colocando-a na ponta da cama.

Legal. Conversando que estávamos velhos? Ok, sem comentários.