5- O Encontro

Estavam ali, gato e rato, um de frente para o outro e com a missão de não transformar esse encontro de paz em mais um conflito. Mas isso não era fácil, para nenhum dos dois.

- Bem, diga-me Potter, porque estou aqui?- perguntou ela, seca, lutando com todas as forças para não tratá-lo mal. Só que nessa batalha ela estava levando a pior.

- Primeiro, por favor, me chame de James. Segundo, não sou eu que tenho de dizer o que você está fazendo aqui. Só posso te dizer que te chamei por uma boa razão.- na mesma batalha interior Prongs estava se saindo melhor. Conseguiu deixar pra trás o orgulho e se mostrar sereno com a garota que amava. Ele bem sabia que para ela seria mais difícil tirar a máscara de grosseira e prepotente.

- Tudo bem, James.- ela enfatizou o nome que parecia queimar ao sair de sua boca.- Qual o seu bom motivo para me chamar aqui?

- Talvez você já imagine, mas...- o rapaz desencostou da parede e começou a andar em sua direção, o que a deixou quase apavorada. Ela não se afastou, mas não por vontade e sim porque de repente suas pernas não a obedeciam mais.

- ... m-mas...?

- Mas eu faço questão de que você saiba pela minha boca, e não por deduções.

- ...pela, pela sua boca?- e de repente seus olhos também não a obedeciam, e ela se pegou mirando fixamente os lábios do garoto que cada vez estavam mais perto.

- Sim!- e ele agora havia parado a alguns centímetros do corpo estático de Lily. As pupilas da menina estavam tão dilatadas que ele se perguntou se ela o enxergava ou havia perdido esta capacidade. Era engraçado ver como ele a afetava apenas com uma aproximação mais maliciosa.

James estava certo quando pensou que ela não o estava enxergando. Bem, pelo menos não o estava enxergando inteiramente, mas apenas aquela parte de seu rosto que parecia convidá-la às mais inimagináveis sensações. O controle se esvaía completamente de sua mente metódica e Lily se via rodeada de tentação por todos os lados.

- Lily?

- Sim...

- Você está bem?

- Não...

- Mas depois disso você vai ficar.

E então aquele poço de desejo tragou-a totalmente indefesa para seu interior obscuro e inexplorado. Tudo ficou branco em seu cérebro e o que sentiu foi muito confuso para ser assimilado na mesma hora. Aquilo estava acontecendo? Ou era mais um devaneio que perturbava seu sono? A mão de James Potter estava mesmo entrelaçada em seu cabelo, afagando sua nuca com uma força estranhamente delicada? Sua outra mão estava mesmo passeando por seu corpo de modo que nenhuma outra pessoa nesse mundo havia ousado fazer igual? Aquilo que estava em sua boca era mesmo a boca de James? Oh céus, era.

Foi ao se dar conta disso que Lily o empurrou sem nem entender porque o fez.

- O que foi?- indagou o rapaz com os lábios vermelhos pela pressão feita á pouco contra os a boca dela. Isso o deixava mais excitante do que o normal, e com aquela expressão confusa e inocente... Merlim, James era tão atraente! E porque raios tudo parecia tão adverso?

Lily não conseguia pronunciar uma palavra sequer, o mundo parecia entrar em parafuso e daquele jeito ela não agüentaria nem ficar de pé.

- Me... segura...- e instantaneamente sentiu os braços fortes e ágeis do jogador de Quadribol a envolverem e ampará-la, pois suas pernas já não o fariam mais.

- Lily... o que está havendo..? Quer que eu te leve até a enfermaria? Quer que eu—

E dessa vez James foi calado pelos lábios trêmulos da ruiva, que agarrara-se ao seu pescoço, num afã que ela própria desconhecia. As mãos da garota se entranharam no castanho de seu cabelo revolto e tudo o que o rapaz pôde fazer foi retribuir da maneira mais calorosa, o que era exatamente tudo o que ele queria e quis, durante todo este tempo.

Sem contar com a força das pernas, Lily se viu deitada no chão com James sobre si, e não sabia se temia ou ansiava pelo desfecho daquela cena de amor. Sua capa já estava servindo de forro para os corpos grudados dos dois. James se desfizera do óculos e de sua própria capa, sem nem ao menos parar de beijar a garota. Ambos estavam num frenesi extremamente perigoso do ponto de vista clínico da ruiva, mas esse ponto de vista agora, estava fora de vista.

- James...- ela tentou dizer sufocada pela boca de seu amante- ... por... que estamos... fazendo isso...?

- Porque... eu te amo... você me ama... e nos queremos... mais que tudo nesse... mundo- respondeu ele, intercalando os beijos, a respiração e a fala.

Quando o raciocínio começou a voltar à mente de Lily, ela entendeu que aquilo devia parar imediatamente. Se continuassem mais um minuto com aquela loucura, as conseqüências seriam irremediáveis e ela tinha muito medo de se arrepender. E como se suas preces tivessem sido ouvidas numa velocidade incrível, os dois ouviram uma batida forte e urgente na porta. James foi mais veloz ainda em levantar-se e correr até o Marauder's Map deixado para trás.

- Quem é!- perguntou ele ao mesmo tempo em que desenrolava o pergaminho mágico.

- Sou eu Prongs, Remus! Vocês têm que sair daí!

James confirmou a presença do rapaz do outro lado da porta, e foi abrí-la. Lily preocupava-se em voltar à compostura antes que alguém mais a visse naquele estado.

O lobisomem entrou na sala e James fechou novamente a porta. Remus demonstrava muita apreensão quando começou a falar.

- Filch está vindo para cá, parece que alguém delatou vocês dois.

O casal se entreolhou e a expressão era a mesma: perplexidade.

- Como assim alguém nos delatou!- indagou o outro animago na sala- Quem mais sabia do nosso encontro?

- Eu não sei, Prongs- respondeu Lupin

- Lily, onde você jogou o pergaminho que eu escrevi o bilhete?- Remus não pôde deixar de contestar mentalmente a afirmação do amigo

- Eu não joguei em lugar nenhum, está aqui, no bolso da minha capa!

- Convenhamos que isso não importa agora, mas vamos sair daqui antes que nos dêem detenção!- ponderou Moony muito sensato como sempre.

James checou novamente o mapa e viu que Remus não estava exagerando. Em poucos minutos Filch estaria virando a esquina do corredor da sala onde se encontravam.

- Vamos então!

Depois de uma pequena corrida para estarem à salvo do zelador mais rabugento de toda a comunidade mágica, James, Lily e Remus chegavam como quem não quer nada ao Salão Principal e se sentavam à mesa da Grifinória que estava praticamente vazia.

- Moony, muito obrigado por ter nos avisado. Teríamos sido pêgos numa situação realmente embaraçosa...

A monitora-chefe da escola lançou-lhe um olhar cheio de pudor, e logo Remus respondeu:

- Não precisa me agradecer, James.- e ele foi irônico ao dizê-lo, aludindo o acontecido antes do encontro dos dois- Bem, mas eu vou subir ao Salão Comunal, depois a gente se vê ok?

O lobisomem sabia que essa decisão foi conveniente ao casal, que provavelmente não conversou nada durante o tempo em que ficaram naquela sala, julgando pelo estado dos dois ao encontrá-los e pelo o que Prongs acabara de dizer.

James, então, se apoiou com os braços na mesa e se inclinou, conseguindo olhar mais de perto nos olhos verdes de sua amada, olhos esses que pareciam assustados ainda.

- Acho que precisamos concluir o objetivo do encontro, não é mesmo?

- Concluir! Concluir o que? Do que você está falando?

- Calma, calma...- disse ele entre risos- É que acabei não dizendo nada do que pretendia...

Ela pareceu mais aliviada.

- Sim, então pode dizer.

- Eu sinto muio por não ter comparecido ao nosso encontro ontem à noite. Queria que soubesse que eu estava pronto para ir mas tive que socorrer Sirius, uns sonserinos pegaram ele e—

- Tudo bem, já sei disso- ela interviu

- Então... eu nunca quis te deixar esperando, principalmente porque eu finalmente havia conseguido uma chance com você.

Sinceramente, a ruiva jamais o tinha visto com uma expressão tão firme e decidida. Como ela podia ter dúvidas do amor que ele dizia sentir?

- E essa chance... foi tudo pra mim.

Os dois agora estavam absortos em olharem um nos olhos do outro, sentindo toda a intensidade do momento. James gentilmente tomou as mãos de Lily entre as suas e as acariciou como se fossem frágeis porcelanas. A monitora por um momento achou que estava tocando as nuvens mais tenras de todo o firmamento.

- Eu te amo, Lily Evans. E você sempre esteve certa em tudo o que achava, ou acha não sei, sobre mim. A única coisa que você não percebeu é que, se eu te importunei por tanto tempo, foi apenas tentando chamar a sua atenção para meus sentimentos, mas por falha minha, ou talvez por distração sua, não deu muito certo...- o rapaz ainda sorriu levemente lembrando-se de alguns momentos de arranca-rabo entre eles.

Quando o Marauder terminou de falar, a ruiva tinha lágrimas nos olhos. Mesmo que ainda tentasse manter o seu orgulho característico, a emoção que tomava conta de seu coração aflorava as lágrimas aos seus olhos e ela não podia contê-las. Não havia mais medo. Não havia mais decepção. Não havia mais prepotência. Não havia mais desconfiança. Não havia mais nada além de James Potter e seu amor que acabava de desabrochar como uma flor de primavera. Como um lindo lírio.