Nota: Bem pessoal, demorei um bocado a fazer o terceiro capítulo porque ando com pouco tempo. Apesar de ele ser um bocado grande espero não vos desapontar. Este capítulo incide principalmente na Veronica, mas não se preocupem que fica desde já prometido que os próximos vão ter muito mais acção e algum romance :)
Reviews: Muito obrigado pelos vossos reviews, adorei todos os elogios. Respondendo à pergunta de Rafinha: Esta é a minha primeira fic mas espero vir a escrever muito mais porque escrever é a minha paixão. Espero que gostem!
À Noite
Quando luz do dia começou a diminuir transformando a selva num belo palco ao pôr-do-sol, a expedição ainda se encontrava reunida na aldeia. Finn fora com Marguerite, Challenger, Roxton e Assai fazer umas compras na aldeia. Com a inesperada seca a assolar o planalto, havia alguns excedentes (como o sal e uns frutos extremamente parecidos com cerejas) que poderiam ser vendidos em troca de produtos que faziam falta na aldeia. Assai mostrou-lhes que os Zanga estavam a apostar também no artesanato – tudo para conseguir sobreviver. As crianças mais velhas ajudavam os pais e as mais novas ficavam em casa. O calor é do mais mortal possível, explicava Assai, e se elas não andarem a correr um lado para outro menos água e energia é necessário.
Entretanto, aproveitando a curta ausência dos companheiros, Veronica aproximara-se de Malone para falar com ele. Este, sentado na entrada da cabana, parecia embrenhado nos seus próprios pensamentos. Veronica achava que Ned estava continuamente a criar páginas de livros e de memórias na sua mente, para depois as transcrever para os seus diários. Sentou-se ao lado dele e, sem esperar que este dissesse alguma coisa contou-lhe tudo, desta vez nãoomitindo a parte final do sonho. Malone escutou atentamente – essa era uma das suas qualidades, sempre fora um bom ouvinte.
- Se queres a minha opinião, essa criança deve ser enviada para te transmitir uma mensagem. O mais estranho é essa mensagem ser sobre Avalon.
- Mas como é que ela entra nos meus sonhos, Ned? – perguntou Veronica confusa
- Veronica, durante estes anos no planalto perguntei-me muitas vezes como é que era possível haver tantas coisas sobrenaturais no mesmo sítio. O facto de uma criança te mandar uma mensagem através de um sonho é relativamente normal comparado ao que já vi aqui. Lembraste dos nossos sonhos com Sumerlee? E dos teus sonhos comigo? Afinal eu estava noutro mundo, completamente diferente, e consegui enviar-te uma mensagem de socorro.
- Achas possível alguém ter conseguido transmitir-me uma mensagem através das minhas próprias memórias de criança?
- Acho bastante possível – respondeu Malone – Mas porque está ela aqui então? Se é um pedaço da tua memória, porque é que todos nós a conseguimos ver?
- Ned, a Marguerite e o Challenger já tiveram duas pessoas retiradas integralmente da sua memória atrás delas. William Maple White e…
Ned interrompeu-a agarrando na sua mão e acariciando-a ao de leve.
- Não vamos estar a rebuscar o passado, Veronica. O que acontecer aconteceu. Se tivermos que ir procurar Avalon vamos. Quero apenas que saibas que eu vou atrás de ti para onde quiseres e vou estar sempre aqui a apoiar-te. Sei que isto tudo é muito importante para ti. Eu não quero estar aqui a magoar-te mais remexendo nas tuas memórias.
Veronica comoveu-se com a doçura de Ned, e com a sua compreensão. Sem mais uma palavra sobre o sonho, encostou-se a ele sentindo-se embalada pela calma que ele lhe transmitia.
Pouco depois o resto da expedição estava de volta e organizaram-se em dois grupos – Veronica, Marguerite e Roxton preparam-se para ajudar no jantar enquanto que Challenger, Malone e Finn procuravam o caminho já pouco visível. Estes últimos alcançaram a Tree-House pouco tempo depois, quando a noite já era cerrada.
Assai fez comida para todos eles, não aceitando qualquer tipo de ajuda. A noite estava bastante quente por isso comeram à volta de uma pequena fogueira com mais alguns Zangas. Durante o jantar, apesar da boa disposição dos membros da tribo, Marguerite, Roxton e Veronica estavam bastante inquietos esperando ansiosamente por notícias vindas da cabana.
No entanto, após o jantar a criança desconhecida continuava profundamente adormecida. Desanimados, os exploradores esperaram até a aldeia ficar silenciosa e quase todos os Zanga se terem recolhido. Por fim Assai levantou-se com os olhos ensonados.
- Vou para dentro – disse ela – Desculpem não ficar aqui com voçês. Vêm depois para dentro ou ficam aqui?
- Ficamo-nos por aqui Assai – respondeu Veronica que não parava de andar de um lado para o outro. – Não vamos incomodar ninguém.
Assai afastou-se rapidamente deixando-os sozinhos com a fogueira e alguma comida. Veronica sentou-se finalmente e apreciou aquela noite rara pela sua tranquilidade e a sua calma. Uma brisa suave refrescava-os do calor abafado.
Veronica observava a paisagem à volta da fogueira. Apesar de ser muito escuro a lua emitia uma luz prateada e suficiente para admirar a beleza daquele lugar. A selva abundava na entrada e na saída da aldeia como uma mão a fechar-se sob uma concha. Um ligeiro nevoeiro parecia vir de Oeste, e apressava-se na direcção da brisa.
Veronica desviou o seu olhar e reparou que ambos os seus companheiros dormitavam. Levantou-se esforçando-se para não os acordar visto que um sono na selva era um sono leve. Passeou um pouco pela aldeia admirando a sua evolução ao longo dos anos. Tinha havido uma mudança muito gradual desde os seus tempos de criança. A aldeia estava maior, com mais cabanas e mais população. Parecia mais forte do que Veronica se lembrava.
De repente, quando se preparava para regressar, uma mão poisou sob o seu ombro. Apanhada de surpresa, Veronica virou-se e colocando os seus braços em volta do pescoço do atacante pô-lo no chão num instante. Passado alguns segundos compreendeu que era apenas um Zanga e ajudou-o a levantar-se, atrapalhada pelo seu engano.
- Desculpa. Eu não…
- Não fazer mal – interrompeu ele num inglês fanhoso e com uma pronúncia carregada – Eu só querer avisar que criança continuar adormecida. Nós querer que tu tomar conta dela para ir comer.
Veronica mostrou-se um pouco confusa, ainda envergonhada pelo seu ataque. Estivera tão embrenhada nos seus pensamentos que não ouvira uma pessoa aproximar-se. Tinha de começar a ter cuidado; não era agora que ia deixar de lutar pela sua sobrevivência desleixando-se daquela maneira.
- Sim – respondeu – Sim está bem.
Veronica seguiu o aldeão até à entrada da pequena cabana. Dali conseguia verificar que tanto Marguerite como Roxton continuavam adormecidos. Um por um os Zanga saíram da cabana até ao último, o feiticeiro, que parou em frente de Veronica. Murmurou umas palavras e poisou a sua mão na testa de Veronica. Esta pareceu um pouco incomodada mas não disse nada. Por fim o feiticeiro fez uma vénia em sinal de agradecimento e desapareceu. Passado uns minutos os únicos sinais de vida da aldeia provinham do Zanga que assustara Veronica e que se encontrava muito perto da fogueira quase apagada e dos seus companheiros. Estranhando, ela hesitou olhando para a luz proveniente da cabana. Decidiu-se a averiguar e tentou perceber o que este fazia. Afastou-se ligeiramente da porta e viu que o Zanga remexia no pote de água onde Marguerite e Roxton tinham bebido durante o jantar.
- Ei! – gritou ela correndo para ele
No entanto o Zanga foi mais rápido e quando esta chegou ao pé da fogueira já este tinha alcançado as primeiras árvores. Em poucos minutos Veronica deixou de ouvir o restolhar das folhas e a respiração do homem que aparentemente se fazia passar por um Zanga.
A sua primeira reacção foi tentar acordar Marguerite e Roxton, mas em vão. Os dois companheiros que pareciam estar adormecidos num sono leve, encontravam-se profundamente embrenhados nos seus sonhos. Procurou o pote e observou que a água encontrava-se límpida e clara. Perscrutou o chão com o olhar e imediatamente descobriu um pequeno saco de veludo onde se encontrava um pó preto e brilhante que Veronica identificou como sendo um veneno paralisante, semelhante ao dos escorpiões. Compreendeu que quem quer que tivesse envenenado os seus companheiros ou não lhes queria mesmo fazer mal ou tinha acabado de fazer uma espécie de aviso. Mas se eles não queriam fazer mal porque estava o homem a tentar pôr mais veneno na água? Queria mantê-los afastados durante mas algumas horas? E se era um aviso porque é que ela não tinha sido envenenada? Pensou nas tribos dispersas e na rivalidade entre elas durante o período de seca. Mas depressa afastou esses pensamentos – nem Marguerite nem Roxton pertenciam à aldeia e mesmo que aquilo fosse uma tentativa de aborrecer os amigos da aldeia, todas as tribos conheciam um antídoto para aquele veneno. Hesitou em chamar Assai mas achou que não valeria apena incomodar os Zanga só porque a Marguerite e o Roxton estavam a ter uma boa noite de sono. Mesmo que fosse uma boa noite de sono indesejada.
Perturbada, regressou à cabana e entrou. Sem hesitar aproximou-se da cama e sentou-se à beira da criança. Esta parecia calma, confiante e até estava desenhado um pequeno sorriso no seu rosto, como se tivesse a ter um sonho agradável.
Sem se aperceber disso, Veronica sorriu também. Afagou os cabelos loiros da rapariga e a sua pele macia como a de um bebé. Relaxou como se tivesse a entrar no sonho dela. Quando estava prestes a fechar os olhos a porta da cabana fechou-se subitamente com ruído fazendo Veronica saltar.
"Estão a acontecer demasiadas coisas estranhas por aqui" – pensou
- Veronica!
Desta vez Veronica quase caiu da cama ao ouvir a voz aguda e musical proveniente da criança. Olhou-a a viu que esta se encontrava sentada, com os olhos muito vivos e sorridentes e as mãos entrelaçadas.
- Veronica! – repetiu numa voz mais suave que ressoava pela cabana.
- Eu… - murmurou Veronica chocada – Eu estou aqui.
- Eu sei que estás aí. Demoraste bastante tempo a vir aliás – queixou-se
- Como te chamas? – perguntou Veronica passando da surpresa para a curiosidade.
- Sheena. Ouve, não tenho muito tempo para fazer isto, em breve vão voltar esses aldeões que acham que me podem curar. Já tivemos que mandar para aqui Addranry e Rynvan para impedir que os teus amigos interferissem na minha missão.
- Que queres dizer com "já tivemos"? – perguntou Veronica – Quem é que te mandou para aqui? Foste tu que envenenaste Marguerite e Roxton?
- Não já te disse que foram Addranry e Rynvan. Encarregaram-se de separar a comida boa da comida envenenada. Ma eu estou aqui apenas por um motivo – Sheena afastou o cobertor de pele e observou com interesse a face de Veronica. – Eu disse-te durante o sonho.
- Procurar Avalon? – interrogou Veronica passado uns segundos – Mas tu…?
Sheena agarrou nas mãos de Veronica e esta sentiu um choque. A pele da criança parecia transmitir-lhe toda a paz e segurança do mundo.
- Eu apareci no teu sonho, e também nesta aldeia, sob uma forma muito semelhante à tua quando eras uma criança. Foi a única forma que tive de chamar a tua atenção. Mesmo assim apimentei um pouco o teu sonho com os teus maiores medos, assegurando que tu lhe ias dar alguma importância.
Veronica não disse nada, mordendo os lábios.
- Fui enviada para te transmitir uma mensagem – continuou Sheena – Compreendi que se eu fosse simplesmente ter contigo à tua casa o mais provável seria ser rejeitada ou analisada incansavelmente pelos teus amigos alimentados pela desconfiança. Por isso passei por esta aldeia fingindo-me de abandonada e carenciada de ajuda. A única forma de te fazer passar a mensagem era meter Assai na história. Arranjei maneira de, através das minhas palavras, Assai procurar a tua ajuda. Infelizmente com ela vieram todos os teus companheiros e demorou até agora para tu me encontrares.
- Então que língua era aquela que falaste para os Zanga?
- Inventei essa língua. Tinha medo que eles me torturassem e me extraíssem informação. Nos tempos de hoje as lutas entre as tribos por causa da seca tornam bastante perigoso andar ao abandono. A palavra-chave foi Avalon.
Sheena inclinou-se.
- Ouve, tens de fazer isto, é muito importante. O caminho para Avalon não pode ser feito em conjunto. Tens de simplesmente deixar-te guiar pelo teu coração. Não deixes os teus amigos para trás mas também não os juntes. A amizade é muito importante. Vão te contactar em breve numa forma inocente, quando menos esperares. Não planeies uma viagem. Segue apenas o teu coração. Não é assim tão difícil.
- Vens de Avalon?
Sheena sorriu mas nada disse.
- Eles estão à tua espera Veronica. Já passou demasiado tempo. Quase todas as provas foram superadas. Esta será a mais simples. Admiro-te muito sabias? Todos te esperam.
Veronica ouviu vozes na entrada e Sheena começou a falar mais rápido.
- Não te posso contar mais do que isto. A minha missão foi cumprida. Descansa em paz, Veronica. Todos te esperam.
Quando os Zanga entraram Sheena estava imóvel na cama, como morta.
- O que aconteceu? Ela parou de respirar! Não falaste com ela? Meu deus chamem o feiticeiro!
- Parem por favor. Ela quer descansar em paz. Dêem-lhe a dignidade que ela merece. A criança lutou para chegar aqui mas não sobreviveu. Talvez isto seja uma lição de vida.
Veronica observou o efeito das suas palavras. Os Zanga ajoelharam-se iniciando um ritual. Sheena continuava imóvel, as suas mãos sob o seu peito e os seus olhos fechados. Parecia ter toda a paz do mundo. Se aquela paz provinha daquele lugar tão procurado, e enchia as crianças de alegria e de harmonia, Veronica queria apenas encontrá-lo. Pensou nos seus pais. Pensou em toda a expedição. Iria fazê-lo.
