Título: Luz e Sombras

Por: Sissi

Casal principal: Sesshoumaru/Kagome

Disclaimer: Inuyasha pertence a Rumiko Takahashi.

Capítulo I

O dia estava nascendo. À medida que os raios dourados do sol entravam pela janela de um quarto escuro, tentando ultrapassar a barreira que era formada por longas e azul-escuras cortinas, um corpo adormecido sobre uma longa cama de casal se mexeu. Os dedos lentamente se abriam e se fechavam, e a respiração tornava-se cada vez mais rápida. Virando para o lado, e abrindo as pálpebras com a mesma rapidez que uma folha amarelada do outono cai sobre um lago, cujas águas azuis seriam tão límpidas quanto o céu na primavera, olhos dourados focalizaram uma pintura um tanto rústica pendurada na parede.

Não se lembrava desta pintura, apenas que era presente de alguém. De quem? Coçando os olhos, e penteando seus longos cabelos, prateados como a própria lua, Sesshoumaru se levantou da cama, seu corpo tremendo quando a primeira rajada de ar fria tocou-lhe a pele.

Seu robe estava pendurado sobre as costas de uma cadeira. Levantando-o com dedos um tanto trêmulos, ele cobriu seu corpo nu, enlaçando a fita em volta de sua cintura, não com muita força, mas o suficiente para que o leve material não se soltasse.

Com passos vagarosos, ele entrou no banheiro e acendeu as luzes. Fitando o espelho por um instante, não conseguindo crer que a figura de um homem acabado era, na realidade, ele, ele endireitou sua coluna e enxaguou seu rosto com água fria. A ressaca iria durar por mais algumas horas. Abrindo a gaveta do lado, nada havia, excetuando-se alguns perfumes e pentes novos que ele havia comprado alguns dias antes. Onde estavam os remédios?!

Talvez, ele pensou, um bom banho de água fria pudesse tirar aquela maldita dor que martelava sua cabeça. Um som, um estranho ruído permanente lhe tirava a concentração. Molhando seus lábios ressequidos, ele bebeu um pouco da água que fluía da torneira que ainda não havia fechado. O frio líquido, viscoso e delicioso, acalmou o seu ânimo.

Entrando debaixo do chuveiro, ele soltou um suspiro, mal contendo a satisfação de sentir a água relaxante e quente molhar e tocar seu corpo. Que se dane a água fria! Ah, como a água podia ser um bem maravilhoso, mais valioso que o próprio petróleo...

E não seria verdade que a água é o bem mais precioso que o homem já descobriu sobre a face da Terra? Este líquido transparente, tão comum, era responsável pela existência de vida no planeta. Cada célula precisa de água, não apenas para seu metabolismo, mas para sua própria constituição. Quem dissera que o corpo humano é formado por oitenta por cento de água estava correto, pois mesmo que o corpo pareça sólido, as células que o compõe são formadas por um pequeno núcleo e uma grande quantidade de citoplasma ou hialoplasma. Água e outras substâncias, para ser mais exato.

Nada de filosofar, Sesshoumaru disse para si mesmo. O relógio do quarto tocou, assinalando seis horas da manhã. O sol já havia nascido, o que não é de todo estranho se for considerado o fato de ser horário de verão.

Fechando a torneira, ele pegou uma toalha e começou a se secar. O dia poderia estar ensolarado, mas isso não significava que a temperatura estivesse elevada o suficiente, especialmente em seu apartamento de piso de pedra e com o aquecedor quebrado. Afinal, quem precisa de aquecedor se o país em questão é o Brasil?

Meneando a cabeça, e vestindo sua camisa branca e um par de calças de mesma cor, Sesshoumaru estava pronto para mais um dia de trabalho. Sua maleta estava em cima da mesa da cozinha, com tudo arrumado. Estetoscópio? Checado. Prontuários de casos recentes a tratar? Checado ( e lembrar que aquele menino com um tumor no cérebro não tem mais salvação ).

Ah, o dia estava belo. Não importava que as pessoas já estivessem a xingar umas às outras, ou que o ar já estivesse poluído devido ao trânsito de uma cidade grande, ou que houvesse pouco verde no bairro. O dia estava bonito, porque era a sua cidade, sua amada São Paulo. Ele nunca sairia deste lugar, nunca. Vamos, ele pensou. Mais um dia de trabalho, mais um dia perdido.

O hospital onde ele trabalhava localizava-se perto de seu apartamento, o que significava ausência de meio de transporte para chegar ao local. Uma boa caminhada de dez a quinze minutos seria o suficiente. Ainda bem, ele sussurrou.

As portas de vidro abriram-se instantaneamente quando o detector acima de sua cabeça captou seu movimento. As enfermeiras viraram seus rostos e suas faces coraram com a mesma rapidez de um leopardo correndo atrás de sua presa. Ele sorriu arrogantemente. Mulheres. Fáceis de manipular, e inocentes para não perceber que elas eram apenas brinquedos para ele.

Bem, não importa. Caminhando em direção do balcão, onde, atrás, as enfermeiras-chefe davam ordens às mais novas e menos experientes, Sesshoumaru levantou os olhos e fitou uma enfermeira recém-contratada sendo molestada por um médico nada discreto. Ele suspirou. Miroku, como sempre.

Repentinamente, um som alto e áspero chegou-lhe aos ouvidos. Suas pálpebras levantaram-se significativamente quando uma marca vermelha com a forma de uma mão começou a tomar forma na bochecha esquerda de Miroku. Franzindo um pouco, Sesshoumaru leu o cartão com o nome desta mulher bastante interessante. Será que seu charme funcionaria nessa mulher?

Sango. Um nome bastante exótico, mas ela era bastante bonita. Longos cabelos negros, olhos castanhos, e uma leve maquiagem em seu rosto. Um pouco comum, talvez. Um rosto simétrico, não havia o que negar, mas seus olhos eram castanhos, uma cor já muito comum para seu gosto. Ele gostaria de uma cor mais diferente. Castanho, a mesma cor que o tronco de uma árvore. Por que não verde? Ou talvez, azul?

Talvez não neste hospital, ele suspirou. Hora de trabalhar. Ele caminhou até o elevador e esperou as portas metálicas se abrirem. Alguns minutos depois, ele entrou. O cubículo branco, com um espelho plano em volta, estava bastante vazio.

O elevador parou no sexto andar. Sua sala se encontrava no final do corredor, e com passos largos e decididos, ele entrou no seu refúgio. O branco dava-lhe náuseas, e, de uma certa maneira, ele agradeceu aos céus por ter sido um aluno exemplar, e com isso, conseguir ter alguns privilégios, como a decoração de sua sala.

As paredes eram azuis, mais para o tom escuro que para o claro. Algumas pinturas estavam expostas nas paredes, a maioria contendo paisagens calmantes, com cores neutras e leves, como um cinza, um branco ou verde claro. Sua mesa, onde alguns papéis espalhados se encontravam, era relativamente grande e feita de mogno, raríssimo nos dias de hoje. Uma loja de antiguidades foi-lhe bastante útil, ele se lembrou.

Sentando-se na cadeira, ele abriu sua maleta. Prontuários e mais prontuários. Os papéis com minúsculas letras e nenhuma foto de nada lhe lembravam de pessoas. Esses documentos poderiam facilmente se passar por boletim de ocorrência, ou uma mera notícia de jornal contendo os sintomas dos pacientes. Onde estava a humanidade de sua profissão?

- Entre, ele ordenou. O som de punhos batendo na sua porta cessou, e a garota Sango entrou. Ela estava segurando uma folha branca, mais um prontuário. Ele fechou os olhos e suspirou.

- A garota que o Dr. Bankotsu operou dois dias atrás apresentou seqüelas do acidente. A operação não previa isso. O diretor quer que você tome nota dela.

Ele fitou o papel. Mais uma paciente, mais trabalho, e menos hora de descanso. A medicina poderia ser uma carreira bastante odiosa, como naquele momento. Pois bem, façamos o que temos que fazer.

- Qual é o nome dela?

- Kagome Higurashi.


Fechando a porta atrás dela, Sango suspirou aliviada. Sesshoumaru não era tão mal assim, como alguns colegas seus a haviam avisado previamente. Ele era bastante bonito, com uma beleza clássica e um ar de superioridade. Agarrando a prancheta e pressionando-a contra seu peito, Sango fechou seus olhos, e esperou que seu coração parasse de bater tão rapidamente.

Observando as folhas na sua prancheta, ela notou que deveria estar no quarto 133, desta garota chamada Kagome. Coitada, ela pensou. Perder a visão aos dezoito anos era terrível demais, com toda a vida pela frente. Some-se a isso o fato de ela ter perdido sua família no mesmo dia.

Coitada.

Bem, a vida continua, e com estes pensamentos fluindo pela sua mente, Sango entrou no elevador e apertou o botão do décimo terceiro andar.

Uma pequena nota de papel caiu no chão quando as portas do elevador fecharam-se com um clique, e ficou esquecida para sempre. Assim são esquecidas as alegrias e as tristezas, com a mesma facilidade ao se perder uma folha de papel.

Editado em Dezembro