Título: Luz e Sombras
Por: Sissi
Disclaimer: IY não é meu, mas sim, de Rumiko Takahashi.
Capítulo V
A noite avançava como uma cheeta dourada, correndo por pradarias verdes em pleno verão africano, como se correr fosse o seu único destino, o seu único papel nesta estranha peça que é a vida. As estrelas apareceram no céu uma por uma, criando pontos coloridos que formavam diversas formas zodiacais, que os homens relacionaram com seus próprios destinos, acreditando firmemente que o nascimento de um ser pode ser predestinado pelo cosmos. A lua, bela em sua forma mais completa, pairava por entre as estrelas, atuando como a personagem principal de um romance.
O palco estava montado. Faltava apenas os homens caírem no sono, e se entregarem ao Senhor dos Sonhos.
Infelizmente, alguns seres desta espécie lutavam com unhas e dentes contra este feitiço natural. As enfermeiras do hospital perambulavam por entre corredores e alas, com passos lentos e cansados, porém persistentes, firmes em sua resolução. Os pacientes precisavam delas, e dormir seria um sacrilégio. Elas agiam como rainhas, entregando sua vida em troca da do seu povo.
Sango bocejou pela centésima vez.
- Cansada, Sango? – A enfermeira-chefe perguntou à garota que se recostava na parede, com uma mão tapando sua boca à medida que esta se abria, e um som lânguido quebrava o silêncio sepulcral da noite. Sango sorriu timidamente, e endireitou a postura. Seu corpo perdeu o suporto firme que era a parede, e por um momento, ela se viu desnorteada, com joelhos cambaleantes e a cabeça em um redemoinho.
Ela respirou profundamente, abanou a cabeça, e fechou os olhos.
A tontura havia passado.
- Você está bem? – Ayame, uma enfermeira do turno da noite, lhe perguntou. Suas mãos repousaram sobre seus ombros, e com muito cuidado, guiou Sango até a área de espera, onde alguns familiares dos pacientes se encontravam sentados, ora lendo ou fitando o espaço. Sango se sentou em uma das cadeiras, e sorriu para sua colega, verdadeiramente agradecida.
- Estou bem agora, muito obrigada, Ayame- Sango respondeu. Ayame assentiu com a cabeça, e se sentou do seu lado, passando uma mão alva por entre seus cabelos castanhos. Sua mão encontrou um obstáculo, e suspirando, ela tirou o elástico que prendia seu cabelo e começou a penteílo com seus dedos. Ela fez isso por alguns minutos, olhando de vez em quando para Sango, que parecia absorta em seus pensamentos. Ayame puxou todo o seu cabelo para trás, e com a mão desocupada, pegou o elástico e prendeu seu cabelo novamente, aplicando duas voltas, por segurança. Não queria ficar descabelada num hospital.
- Não se preocupe, você logo vai se acostumar a este ritmo- Ayame disse, reclinando-se na cadeira, e pousando suas mãos nos braços da cadeira. Ela olhava o teto com atenção, observando sua cor, sua textura e algumas rachaduras nos cantos da sala.
- Espero que sim- Sango replicou, e afundou na cadeira. As duas garotas ficaram em silêncio, descansando seus corpos cansados. O relógio do outro lado da parede continuava com o seu tic-tac incessante, relembrando as pessoas que o tempo estava passando.
- Sabe de uma coisa engraçada, e que envolve relógios, ou melhor, o tempo? – Ayame perguntou à sua colega.
Sango meneou a cabeça. Ayame riu um pouco, jogando seu rabo-de-cavalo para os lados, balançando como se fosse os galhos fracos de uma árvore sendo empurrada pelo vento, indo e voltando, indo e voltando...
- Minha amiga recebeu, uma vez, um e-mail que a direcionava para uma espécie de site da Internet. Ela preencheu alguns dados como o dia de seu aniversário e o horário em que nasceu. Quando ela clicou o botão pronto´- Ayame abaixou seu tom de voz e começou a se aproximar de Sango lentamente- um relógio digital apareceu na sua frente, e minha amiga- Ayame sorriu, os cantos dos lábios subindo levemente à medida que chegava ao clímax da sua história- entrou em choque, não sabendo o que fazer, porque aquele relógio mostrava há quanto tempo ela estava viva, e os números da parte dos segundos continuavam a correr, e ela pensou em como podia deixar o tempo correr quando ela estava l� parada, sem fazer nada, deixando o tempo escapar. Ela disse que quase morreu de medo.
- Medo?
Ayame assentiu com a cabeça.
- Sim, medo, porque naquele instante, viver tomou o mesmo sentido que morrer. Quando você vive, você está morrendo.
Sango tremeu.
- Sim, dá muito medo, não é? E, no entanto, eu gosto muito de viver, e se este é o preço a pagar, então eu pago com satisfação.
- Ayame!
- Vamos, garotasé hora de trabalhar- a enfermeira-chefe disse, aproximando-se das duas e levantando uma sobrancelha. Seus dedos batiam de leve contra seu braço, que estava cruzado sobre seu peito. Sango e Ayame se levantaram rapidamente, e desculpando-se, cada um foi em uma direção.
Sango olhou para trás, para a cabeça castanha de Ayame. Seu cabelo dançava com cada passo que ela dava, e subitamente, Ayame virou sua cabeça, e fitou Sango com olhos verdes, muito expressivos. Sango sentiu seu sangue gelar nas suas veias e o seu coração parar de bater. Num instante, parecia que aqueles olhos olhavam para dentro da sua alma, perscrutando-a. Um sorriso se aflorou por entre seus lábios, e aqueles olhos verdes piscaram, fazendo com que a magia fosse desfeita.
- Carpe diem.
Sango assentiu com a cabeça.
Quando Ayame ficou longe o suficiente, Sango coçou a cabeça, e encolheu os ombros.
- Carpe diem- ela murmurou em voz baixa.
Sango bocejou pela milésima vez. A noite avançava, com toda a certeza, pois toda vez que ela verificava seu relógio de pulso, os ponteiros sempre mostravam que um minuto se passara. No entanto, eram sempre as mesmas pessoas que passavam pelos corredores, ou que ficavam sentados na sala de espera. Os mesmos rostos, as mesmas olheiras, o mesmo cansaço.
Ela pegou um prontuário, e se dirigiu ao balcão. Seus sapatos de salto alto faziam um som seco e alto, que reverberava pelo andar, e as pessoas olhavam-na com olhos sonolentos, brilhando com a luz artificial. Elas pareciam estátuas de mármore, com sua pele quase translúcida e suas expressões faciais congeladas em uma só: de dor.
Ela inclinou-se sobre o balcão e entregou a pasta. Roberta abriu o documento, mordeu seu lábio inferior, e começou a digitar furiosamente sobre o teclado, preenchendo dados pessoais sobre cada paciente daquela noite. Sango observava-a com curiosidade e um pouco de inveja. Seus olhos brilhavam à medida que ela observava os dedos daquela garota voarem sobre o teclado, numa corrida furiosa contra o tempo. Sango nunca fora boa com computadores.
Subitamente, seu corpo tremeu, e uma gota de suor deslizou pela sua face. Ela podia senti-la, uma aura maligna que adentrou o andar. Ela esticou suas pernas, endireitou as costas, e recostou-se, de leve sobre o balcão. Com os olhos, ela escaneava o local. Não havia nada de estranho. Médicos, enfermeiras e familiares andavam de um lado para o outro, cada um com suas razões. Ela virou-se de lado, perscrutando as portas fechadas do elevador.
Os números que indicavam os andares brilhavam em ordem crescente. Alguém estava subindo, e ela sentiu seus pêlos eriçarem. Com toda a certeza, ela pensou, preparando-se mentalmente para a luta, o monstro estava chegando.
- Sango?
- Sango, querida, algum problema?
As enfermeiras haviam notado seu estranho comportamento. Não fazia mal; desde pequena, ela era debochada pelos seus colegas de classe pela sua sensibilidade para detectar auras, e este poder só cresceu com os anos. Ela não era nenhuma sacerdotisa com poderes sobrenaturais, pelo menos, ela não acreditava que fosse. Não existia mais este tipo de mulheres, elas estavam enterradas no passado, relembradas apenas quando alguma aula de lendas e mitos era dada. Sango abanou a cabeça.
As portas metálicas se abriram silenciosamente, e Sango fechou suas mãos em forma de punhos. Suas unhas pressionavam sua pele, porém nenhuma marca de dor aparecia em sua face.
Um homem de estatura média, com cabelos escuros presos em um pequeno rabo-de-cavalo surgiu. Seus olhos estavam fixos no prontuário que segurava em sua mão direita, o qual estava enfeitada com um colar de contas enrolada várias vezes em torno de seu punho. Parecia um talismã de boa sorte. Seus passos decididos ecoaram pelo andar, e seus lábios estavam pressionados um contra o outro. Ele não franzia a testa, porém seus olhos inteligentes estavam concentrados unicamente na folha de papel na sua frente. Ele levantou seus olhos para observar o ambiente apenas uma única vez, porém podia-se ver nenhum brilho de curiosidade em seu olhar. Ele passou por entre as enfermeiras, que haviam pausado em suas atividades, e quando nada aconteceu, elas se entreolharam, perplexas. Sango não entendia a reação delas, mas continuava observando este médico. O seu avental, o seu crachá e o seu estetoscópio em volta de seu pescoço bronzeado indicavam sua posição dentro do hospital.
Era o Doutor Miroku.
Quando ele estava ao seu lado, ela confirmou a sua suspeita. Sim, a aura negra era dele. Ela franziu a testa. Não era uma aura m� mas com más intenções. Podia sentir que ele iria atacar a qualquer momento. Quando e onde, ela não fazia idéia. Ela podia sentir cada vez mais suas unhas cortando a sua pele. A atmosfera do local vibrava de tensão, com raios elétricos a se espalharem pelos ares, atingindo a todos, inclusive ela.
Repentinamente, ele atacou. Sango nem ao menos teve tempo de se desviar, e com um grito de terror, ela levantou a mão, e sua pele entrou em contato com a dele, e um estalido ressoou pelo hall. As pessoas olharam aterrorizadas a cena, com olhos arregalados e de bocas abertas. O estalido morreu em pouco tempo, e o silêncio reinou mais uma vez. O som de tecido se movendo, atritando-se contra a pele podia ser ouvida, juntamente com a respiração dos expectadores e dos dois personagens principais da peça.
Miroku levantou sua mão, e começou a massagear sua pele sensibilizada, que começava a ficar vermelha. Inicialmente, com o choque, o sangue havia parado de correr pelos seus vasos, e por isso, sua bochecha estava branca como uma folha de papel novinha em folha. Porémà medida que o tempo ia passando, a histamina começou a entrar em ação, e o sangue começou a se fazer presente, e sua bochecha, agora, estava vermelho, com a forma de uma mão. Com a forma da mão de Sango.
- Seu tarado! – Sango gritou com toda a sua força. A sala entrou em caos, e as pessoas começaram a rir sem parar. Sango arregalou os olhos, mal podendo acreditar no que estava acontecendo. Miroku sorriu, e passou uma mão na testa, afastando sua franja para o lado, em vão.
- O que está acontecendo? – Sango perguntou para as enfermeiras em geral, porém elas davam uma olhada para ela, e caíam na risada mais uma vez. Ayame, que assistira tudo de perto, apertava sua barriga com força, e de seus olhos escorriam lágrimas. Sango abanou a cabeça, porém tudo ainda parecia surreal.
Miroku caminhou em sua direção, e Sango começou a andar para trás. Cada passo que Miroku dava, Sango dava dois para trás, até que ela ficou encurralada no canto da sala. As pessoas se amontoaram atrás do jovem médico, e todos tinham sorrisos em seus lábios. Sango sentiu suas costas encostarem a parede, e engolindo em seco, preparou-se para o pior. Ela sentia que algo terrível iria acontecer. Ela podia vislumbrar isso nos olhos dele, e as pessoas sussurrando umas com as outras deixavam-na ainda mais nervosa.
Miroku se ajoelhou diante dela, e Sango prendeu a respiração. Uma gota de suor escorreu do lado de sua têmpora, e caminhou em direção do seu pescoço, até escorrer pelo vale entre seus seios. Miroku observava esta gota com muito interesse, e ela pensou, por um instante, que ele iria devoríla. Seu corpo todo tremia de antecipação. Miroku pegou as duas mãos de Sango, envolvendo-as com as suas, que estavam quentes, e a olhou com calor irradiando de seus olhos. Sango abriu a boca, porém nenhum som saiu de seus lábios. Ela piscou algumas vezes, porém a aparição na sua frente não desapareceu.
- O que você...
- Shh...
Miroku colocou seus dedos sobre seus próprios lábios, apertou as mãos dela, e levantou seu rosto, e seus olhos se encontraram. Sango corou, e Miroku sorriu docemente, com seus olhos faiscando com a luz da lâmpada.
- Você teria a honra de ter meu filho?
Sango piscou uma, duas vezes. E quando ela verificou que sim, era tudo real, ela gritou. E o mundo acabou naquele instante.
Começava a Terceira Guerra Mundial.
Sango limpou a mão no avental que vestia. As enfermeiras olhavam-na com olhos brilhantes. Não era todo dia que elas presenciavam uma de suas companheiras bater no jovem médico Miroku, que era tarado, com toda a certeza, mas ainda assim, um médico. E muito bonito e galante. O pobre homem, ainda vestido com seu avental e com seu estetoscópio em volta de seu pescoço, estava caído no chão, com o rosto todo vermelho, com alguns arranhões, e com alguns galos na cabeça. Ele massageava sua nuca vagarosamente, e toda vez que ele tocava numa região dolorida, ele franzia a testa, e emitia um grunhido.
Sango abaixou seus olhos, os quais repousaram no jovem médico. Ela fechou suas mãos em forma de punhos, e proibiu-se de bater nele novamente. Suas mãos já estavam muito vermelhas, e ela sabia que tinha quebrado algumas unhas. Ela cerrou seus dentes, uma veia saltando de sua têmpora. Ela levantou suas mãos para massagear suas têmporas, uma de cada lado, com cada uma fazendo movimentos circulares.
- Que ótimo, estou ficando com uma dor-de-cabeça- ela resmungou, e as pessoas em volta do local começaram a debandar rapidamente.
A cena de luta estava acabada.
A paz que havia retornado com o fim da luta foi facilmente quebrado com a chegada de uma enfermeira toda esbaforida e sem ar. Suas faces estavam rosadas, e seu cabelo, em completo desarranjo. Ela se aproximou da enfermeira-chefe, colocou as duas mãos sobre os seus joelhos, e começou a respirar profundamente. O suor começava a se formar na sua testa e sobre o seu nariz. Ela passou uma mão sobre estas áreas e, olhando as pessoas no local, explicou:
- A paciente do quarto 133 está histérica. Não encontrei ninguém no andar, e vim para cá. Alguém sabe se podemos aplicar algum calmante nela?
Sango arregalou os olhos.
É uma garota japonesa, não muito alta, que acordou hoje?
A outra garota assentiu com a cabeça. Sango sentiu seus joelhos ficarem fracos, e apoiando uma mão na parede, ela perguntou novamente:
- O que aconteceu exatamente?
- Ela simplesmente acordou e começou a gritar. Começou a bater nas paredes e na janela com os punhos, e quando não ficou satisfeita, começou a bater sua cabeça. Por favor, alguém faça alguma coisa! Rápido!
Os enfermeiros que estavam descansando prontamente se dispuseram a subir e seguríla, enquanto que a enfermeira que estava responsável pelo computador rapidamente acessou o prontuário de Kagome. Seus olhos relancearam rapidamente sobre as informações necessárias, e com uma voz firme, replicou que um calmante poderia ser ministrado. Aparentemente, ela não oferecia nenhum tipo de alergia a medicamentos em geral.
- Certo! – A enfermeira que viera correndo exclamou, correndo para o elevador e batendo a ponta de seu pé no piso.
- Quem são os médicos responsáveis pela paciente 133? – A enfermeira-chefe perguntou.
- O Dr. Sesshoumaru e a Dra. Kikyou.
- Telefone para os dois imediatamente.
- Sim, senhora!
- Se a senhora me permite, eu posso dar uma olhada nela- uma voz ressoou pelo andar. Todos os funcionários voltaram seus rostos para o médico caído, e, por um momento, Miroku pensou que eles iriam pular sobre ele. Ele engoliu em seco, e com o rosto suado, riu desajeitadamente. As pessoas trocavam olhares entre si, enquanto que alguns mordiam seus lábios, e outros, coçavam a cabeça.
- Mas o senhor é um cardiologista, Doutor Miroku! – a enfermeira-chefe exclamou. Os outros funcionários concordaram com ela, e Miroku, por sua vez, coçou a cabeça, e olhou para o chão com as faces rosadas.
- Bom, mas eu fiz seis anos de medicina, e teoricamente, também sou um clínico geral. E depois- Miroku estufou o peito, sorriu, mostrando seus belos dentes brancos, e com os olhos semicerrados, olhou as enfermeiras ao redor- há uma vida em risco, e não posso deixíla na mão.
Sango revirou os olhos, e cerrou os dentes. Um vento atrás de si chamou-lhe a atenção, e girando o corpo, ela abriu a boca, exasperada. Enfermeiras jovens e belas corriam e lutavam entre si por um local ao lado do médico. As unhas de uma ruiva arranhavam o rosto de uma loira, enquanto uma coreana empurrava uma italiana para o lado. Miroku observava a cena com olhos brilhantes, assobiando de vez em quando.
Sango levantou a mão. Ela iria pôr um pouco de bom senso neste médico.
Miroku segurou seu pulso a meio centímetro de distância de seu rosto. Ele sorriu, e virou o rosto.
- Garotas, por favor, tem Miroku para todas. Entertanto, tenho uma paciente para cuidar, então, se me dão licença...
Ele começou a andar em direção do elevador, ainda segurando Sango. Ela tentara, em vão, separar-se dele, mas ele era forte. Ela suspirou, olhou as outras garotas olhando-a com inveja, e só pôde sacudir os ombros. Não era escolha dela acompanhar Miroku, mas os deuses pareciam querer vê-los juntos. Ela quase levantou sua mão livre para os céus; não era hora de ficar brava com seres invisíveis e onipotentes.
Miroku balançou a cabeça, e com um movimento de seus dedos, chamou os dois enfermeiros, que prontamente se dispuseram a segui-lo. Sango virou o rosto para trás, mas eles simplesmente sacudiram seus ombros. Ela suspirou. Não havia modo de escapar.
Sango e Miroku ficaram perto um do outro dentro do elevador. Ela preparava sua outra mão para um próximo inesperado ataque. Ela não havia se preparado para o anterior, e não cometeria o mesmo erro. Nenhum veio, e ela saiu do elevador confusa. Miroku abriu a porta do quarto 133, e olhou o quarto com cuidado. Ele arregalou seus olhos ao ver Kagome caída no chão, com uma pequena poça de sangue em volta de sua cabeça.
- Kagome! – Sango gritou da porta, e correu para a garota. Os enfermeiros seguiram seu exemplo, e se ajoelharam ao redor de Kagome. Eles viraram seu rosto, checaram sua respiração e pulso, e suspiraram contentes. Ela estava viva.
- Rápido, virem-na e coloquem-na na cama. – Mroku disse com voz autoritária, feita de ferro e aço.
Sango abriu a boca, e fechou-a rapidamente, engolindo em seco.
Os enfermeiros colocaram a paciente na Kagome com muito esmero, e Sango passou uma mão trêmula na testa de Kagome. Ela estava suada, e seu rosto estava pálido. Miroku afastou todos da paciente, e com as mãos inspecionou-a. Ele abriu as pálpebras fechadas dela, massageou sua cabeça e crânio, e utilizou o estetoscópio para verificar seu ritmo cardíaco. O coração estava batendo adequadamente, porém Miroku franziu a testa. Algo não estava certo.
- Acho que não precisaremos do calmante. Sango, injete algum adrenérgico na veia. Ela está braquicárdica demais para o meu gosto. Vocês dois- ele apontou o dedo para dois enfermeiros que estavam perto da janela- vão buscar álcool, esparadrapo, tudo o que for necessário para fechar esta ferida. Provavelmente teremos que colocar alguns pontos. Rápido!
Todos se moveram no instante em que ele terminou de falar. Os três correram para a enfermaria daquele mesmo andar, e quando eles chegaram ao seu destino final, cada um tomou um certo rumo. Sango correu para o armário contendo os medicamentos, enquanto que os outros dois abriram um outro armário, de onde retiraram algodão, um rolo de esparadrapoálcool e luvas não esterilizadas de tamanho médio. Sango, por sua vez, retirou um vidro marrom e uma seringa esterilizada que ainda estava dentro do pacote.
- Mário, você poderia me pegar mais um par de luvas, por favor?
Mário assentiu com a cabeça, e retirou as luvas de uma caixa.
- Aqui estão.
- Obrigada.
Os dois enfermeiros saíram para o quarto 133, deixando Sango sozinha. Ela calçou as luvas, e abriu o pacote contendo a seringa. Ela virou o vidro contendo adrenérgico de ponta cabeça, e enfiou o bico da seringa. Ela puxou o êmbolo, e o líquido marrom começou a encher o fino e delicado objeto nas suas mãos. Ela fez o cálculo de cabeça sobre o quanto deveria ser injetado em Kagome. Quando ela ficou satisfeita com o volume, ela parou de puxar o êmbulo, recolocou o adrenérgico no armário, e caminhou resoluta para o quarto de Kagome. Ela abriu a porta com um pontapé, e corou quando Miroku arqueou uma sobrancelha.
Ela caminhou para o lado da garota ainda desfalecida, e virou o braço dela. Ela sorriu quando viu uma veia grande e fácil de se espetar. Com dedos ágeis, ela puxou um pouco de pele para cima, passou um pouco de álcool que Mário lhe emprestou, e injetou o adrenérgico.
Kagome não reagiu.
Sango levantou os olhos para o rosto desta garota. Ela estava com esparadrapos brancos envolvendo sua testa, e o sangue continuava a manchar a brancura do tecido. Ela suspirou, e pousou uma mão sobre seu ombro. Ela quase pulou de susto quando ela sentiu um bafo quente sobre seu pescoço. Ela virou seu rosto, e seu nariz quase tocou o de Miroku. Ela enrubesceu.
Ele sorriu.
- Ela vai ficar bem, não se preocupe.
Sango abaixou seus olhos, e assentiu com a cabeça. Suas mãos ficaram duras repentinamente, e seu corpo todo parecia feito de chumbo. Ela se sentia fraca interiormente, porém, e mordendo o beiço, ela se virou para sair do local sufocante. Uma mão agarrou seu pulso, e ela arregalou os olhos. Miroku aproximou seu rosto de sua orelha, seus lábios encostaram sua pele sensível. Ela tremeu, e ele se aproximou ainda mais dela. Ela tentou, em vão, andar, mas sua mão em volta de seu pulso era forte, dominante...
- O quê...
A porta se abriu subitamente.
Kikyou arregalou os olhos.
Sango empurrou Miroku para o lado, e saiu correndo pela porta. Kikyou apenas sentiu um vento ao seu lado, e num piscar de olhos, Miroku estava sozinho. Ele estava com o rosto vermelho, com um pouco de suor na testa, e cabelos bagunçados. Ele passou uma mão sobre a testa, soprou para cima, e sua franja voou por alguns instantes, até cair no seu lugar usual.
- Kikyou.
Kikyou olhou-o de esguelha.
- Miroku.
Ela andou até Kagome, colocou uma mão na sua testa, checou seus sinais vitais, e balançou a cabeça. Sem se virar, ela se dirigiu a Miroku:
- O que vocês fizeram durante a minha ausência?
Miroku empertigou-se, e reclinou-se sobre a parede, cruzando os braços sobre seu peito. Ele fechou os olhos, e recontou os eventos da noite. Kikyou ouvia tudo de olhos semicerrados, balançando a cabeça, murmurando sua opinião somente para si. Ela encheu um copo de vidro que estava do lado da cama com água, e abriu os lábios de Kagome com delicadeza. Kagome bebia inconscienteente o líquido, e murmurava de vez em quando, engasgando quando a água vinha rápido demais para dentro de sua garganta.
- Muito bem. Agradeço seu esforço, mas sempre que for minha paciente, por favor, não interfira.
Miroku enrijeceu-se. Ele abriu os olhos, e fitou sua colega de trabalho.
- Eu não sabia quando você iria chegar. Não podia deixar a garota como estava, ou poderia?
Kikyou segurou o copo com força. Sua mão estava branca como papel.
- Ela é minha responsabilidade.
Miroku balançou a cabeça, exasperado.
- E eu sou um médico. Eu jurei ajudar as pessoas.
Kikyou cerrou os dentes, porém nada mais disse. Ela pousou o copo sobre a cabeceira, arrumou o cobertor sobre Kagome, e dirigiu-se para a porta. Miroku seguiu-a até o corredor.
- Olhe, desculpe por interferir, mas eu tinha que fazer alguma coisa, entende?
Kikyou recostou-se na parede e contou até dez.
- Entendo, mas agora, estou lhe devendo uma.
- E você odeia ficar devendo para as pessoas, estou certo? – Miroku sorriu ao terminar de formular sua pergunta. Ele notou como ela ficou desconfortável com suas palavras, e sorriu ainda mais.
- Olhe, não vou cobrar nada por isso. Foi apenas meu dever. Além disso- ele lambeu os lábios- se você concordar em ter um filho meu...
Kikyou abanou a cabeça, e começou a andar de volta para a sua sala. Miroku suspirou. Ele não tinha sorte mesmo com as mulheres.
Ele começou a andar em direção do elevador, e quando se virou, franziu a testa, perplexo. Ele olhou o ambiente ao seu redor, e deixou de assobiar para ouvir qualquer som suspeito. Nada. Ele tremeu subitamente, passando a mão sobre seus braços, sentindo seus pêlos ficarem de pé. Ele levantou o rosto, e inspirou profundamente. Era cheiro de álcool.
Ele abanou a cabeça algum tempo depois.
- Acho que estou ficando maluco...
As portas do elevador se abriram, e Miroku entrou. Ele continuou a tremer mesmo muito tempo depois.
Uma figura abriu e fechou a porta com delicadeza. O vento da janela balançou a cortina momentaneamente, e um facho de luar entremeou pela escuridão, destruiu as trevas, e cintilou a corrente em volta do pescoço do estranho. A luz se esvaiu com o tempo, e Kagome e ele ficaram sozinhos no quarto. Ele se aproximou dela com calma, porém, de vez em quando, suas pernas batiam contra alguma cadeira ou mesa em volta. Suas pernas estavam bambas, sem muito controle, e ele xingava para si mesmo em voz baixa. Ele rosnou quando sua perna bateu na perna da cama. Ao lado da cabeceira, ele acariciou a face dela com uma mão fria. Kagome remexeu-se, mas não abriu os olhos. Ele ficou a fitíla com olhos embaçados, como se de vidros, com uma estranha emoção fulgurando do centro de suas íris.
E o tempo passou.
Segundos, minutos, horas, séculos, a eternidade poderia ter passado diante daquele momento, e os dois não teriam notado sequer a diferença. Aquele momento estava congelado na sua memória.
Ele pousou uma mão sobre sua testa, que estava quente. Ele se abaixou, e ajoelhou-se do lado da cama. Ficou a fitar a garota dormindo por um longo momento, até que ele ouviu passos fora do quarto. Ele se levantou, com esforço, e reclinou-se sobre ela. Seus lábios ficaram a pairar sobre a pele dela, mas não se dignava a tocíla. Seu bafo quente e cheirando a algo químico condensava diante de sua pele. A corrente em volta de seu pescoço balançou, e contentou-se a descansar sobre o pescoço dela, que era branca, fina, e muito frágil. Ela remexeu-se mais uma vez na cama, e levantou uma mão para tocar seu pescoço. Ele se afastou, mas não a tempo de esquivar-se da mão rápida de Kagome. Esta tocou sua face, e seus dedos roçaram suavemente sobre sua pele.
Ele estremeceu.
O estranho se endireitou, e com um leve toque de sua mão, despediu-se dela. Ele cruzou o quarto, abriu a porta, olhou para a sua direita e esquerda, e saiu. A porta se fechou, e as trevas englobaram qualquer resquício de ternura que havia surgido.
Escrito em janeiro e fevereiro
Notas da Autora: estou pensando em criar um novo arquivo que contenha as cenas que não estão nesta fic, mas que sejam engraçadas, ou simplesmente interessantes de serem lidas. Por exemplo: eu poderia escrever a cena da luta da Sango contra o Miroku. Não senti a necessidade de escrever uma cena só para a luta, mas se vocês estiverem realmente curiosos para lerem o que aconteceu, posso pensar e escrever separadamente e postílo depois. É apenas uma idéia. Deixem seus comentários!
Resposta dos Reviews:
Lady Higurashi: Estou feliz que você esteja adorando esta fic, e sim, coitadinha da Kagome, mas as coisas vão melhorar, eu prometo. Sim, eu amo este casal, e dou uma lida nesta fic quando eu puder. Até adicionei na minha lista de fics favoritas para não esquecer. Eu lerei, eu prometo!
Brass-dono: Puxa, fico feliz que minha atualização tenha lhe deixado feliz. Eu gostaria de trabalhar mais nas minhas fics, mas a faculdade não é brincadeira, não. Especialmente medicina. Ai ai... bom, deixando esta tristeza de lado, estarei esperando você lá na faculdade! Primeiro ano? Nossa, curta bastante, o colegial é um tempo maravilhoso!
Srta Kinomoto: Oi, obrigada pelo review. Sim, a Kagome vai ficar com o Sesshoumaru, mas somente após muitos capítulos e vários acontecimentos depois. Estou tentando escrever o máximo possível dentre minhas limitações, mas me esforçarei para trazer um capítulo a cada mês. Será difícil, mas tentarei. É só uma questão de tempo.
Lila: Nossa, descrever esta fic como linda é um exagero, Lila. Não precisava, mas fico lisongeada com suas palavras. Também amo todas estas personagens que você citou, e por um acaso você não gosta da Kagome? Nossa, eu adoro ela, ela é simplesmente muito fofa. Hehe. Bom, se você tivesse uma editoraé claro que eu escreveria um livro para você. Hmm, estive lendo as bios de outros autores, e por que não? Se você quiser que eu escreva uma fic para você, eu escrevo. É só me dizer de qual anime, qual o casal principal e o que você quer que aconteça na história, ou simplesmente um tema e pronto. Não garanto que a fic saia logo, considerando que seria eu quem estaria escrevendo, mas pelo menos, você teria uma fic dedicada unicamente para você.
MaHn: Oi MaHn, tudo bem com você? Fico feliz que tenha adorado este capítulo, e é verdade, adoro descrever cenas, acho que é um defeito/qualidade (?) minha, e tenho que dizer que concordo com você: faltou Kagome e Sesshoumaru. No entanto, eu tinha que trabalhar com Inuyasha e Kikyou, assim como tive que trabalhar com Sango e Miroku neste capítulo. Você me perdoa? Ah, pelo menos, tivemos um pouquinho de Kagome aqui, não muito, mas tivemos. O Sesshoumaru? Hmm, quem sabe no próximo capítulo? Não sei quando Inuyasha irá conhecer Kagome, mas farei com que seja inesquecível. Isto pode significar uma coisa boa ou má. Hehe. A Kikyou está muito fofa mesmo, né? Eu a adoro, tanto aqui quanto no anime, se bem que eu a odiava no começo... como as coisas mudam! Hmm, por que a Kagome estava histérica? Bem, não foi por causa do Sesshoumaru, diferentemente do que aconteceria conosco se víssemos ele em pessoa, mas foi por problemas médicos. Explicarei no próximo capítulo, não se preocupe. Ah, imaginar é um dos seus melhores traços, querida. Não o considere como um defeito, porque imaginar simplesmente não é. Bom, aqui está o próximo capítulo, espero que goste. Ah, e com uma pitada de mistério.
Marcella: Olá Estou feliz que esteja gostando desta fic, e sim, Kagome e Sesshoumaru são muito fofos juntos. Eu já li vários fics dos dois juntos em inglês, mas, em português, há uma quantidade bem menor. Leia alguns fics da Brass-dono, ela tem fics com este casal. Ah, sim, teremos Sango e Miroku, em especial, neste capítulo. Eu não diria que terá cenas kawaii, mas com certeza, trabalharei para que os dois acabem juntos, e que tenha muito amor e romance no ar. Espero que goste deste capótulo, que contém seu casal favorito. Acho que você vai gostar, especialmente quando a Kikyou os encontrar juntos. Hehe.
