Tempestade
Capítulo 5
I know I've felt like this before
But now I'm feeling it even more
Because it came from you
And then I open up and see
The person falling here is me
A different way to be
And now I tell you openly
You have my heart so don't hurt me
You're what I couldn't find
A totally amazing mind
So understanding and so kind
You're everything to me
Dreams, Cramberries
Respirou fundo, entre o despertar e a sonolência, remexendo-se na cama. Sua mão estava sobre uma pele macia, a cintura de alguém, que acariciou no meio do sono, dando um meio sorriso e esfregando a cabeça no travesseiro. Então abriu os olhos, mirando a direção da porta aberta. Imediatamente pulou sentado na cama, alarmado, o lençol descobrindo seu corpo nu.
"Camus?"
O francês de longos cabelos azulados estava contra os raios do sol que saía das janelas, de pé e de braços cruzados diante do peito, dando a impressão de ter luz própria. Um semideus de pele pálida, contrastando com as madeixas escuras emoldurando o rosto longo e delicado. Ficou estático, contemplando aquela visão divina que lhe aparecia logo ao despertar. Só então percebeu sua cara de poucos amigos e saiu do transe em que se encontrava, acompanhando o olhar reprovador do cavaleiro de gelo. Levou um susto, tinha uma garota nua deitada do seu lado, despertando também, se esfregando na cama. Sorriu ao ver-lhe e levantou-se para abraçá-lo, mas logo percebeu a presença do outro cavaleiro no quarto, e soltou um gritinho, se cobrindo com o lençol.
Camus revirou os olhos. "Que patético", murmurou. Milo ficou olhando da garota para o francês, tentando concatenar as idéias, tentando lembrar o que acontecera. Porque tinha uma garota na sua cama? Não deveria ter exagerado na bebida de novo! Aquário virou as costas e saiu, fechando a porta com força. No mesmo instante, Escorpião saltou da cama, pegando a calça do chão e colocando-a de pé, enquanto se dirigia a porta, chamando por Camus.
- Ei! Aonde você vai?
- Hã? – Olhou para a moça na sua cama, voltou, pegou suas roupas e as jogou para ela – Aqui estão suas coisas, não pode ficar aqui! – deu uma piscadela para a moça.
- Mas... – antes que dissesse mais uma palavra, deparou-se com a porta cerrada. – Ora seu...
Ouviu-a chutar a porta com raiva. Apenas de calças, Milo conseguiu alcançar Camus descendo as escadarias, este virou ao seu chamado, com a cara fechada.
- Não é o que você esta pensando!
- Está cheirando a álcool, Milo.
- Eu sei... - gemeu – Eu nem sei como aquela garota foi parar na minha cama.
- Pois eu sei. Ficou bêbado e trouxe uma qualquer para sua casa. Milo, você tem o que na cabeça?
- Não começa! – gemeu de novo, esfregando as têmporas, sua cabeça doía – Quando chegou da Sibéria?
- Ontem à noite, mas parece que estava ocupado em algum bar da cidade.
Virou-se de novo para continuar a descer as escadas, Milo o seguiu, sua cabeça parecia que ia explodir. Odiava receber broncas, mas sabia que merecia. Com apenas dezesseis anos, se alguém o pegasse bebendo e freqüentando os lugares que tinha frequentado, estava ferrado. Mas Camus ficara fora por alguns meses, e sem o amigo para controlar... Por Athena, o que andava fazendo? E que falha, nunca trazia uma garota para dormir na sua casa, afinal, eram só aventuras de uma noite.
- Ontem? Porque não avisou que vinha?
- Eu avisei. – virou o rosto para trás, com uma sobrancelha erguida. – Mandei um telegrama para Afrodite. – olhou para baixo, de esguelha – E sua calça está aberta, seu tarado.
Ruborizou e olhou para a braguilha aberta, fechando-a. Ah, maldito Afrodite! No mínimo o garoto esquecera de avisar, uma cabeça de vento que só se importava com o espelho.
- Eu não sou um tarado!
- Aham, vou me lembrar disso no seu enterro. – parou de andar e sua voz passou de indiferente a furiosa – Tem que parar com essa conduta, Milo! Parar de sair em lugares duvidosos e sair com quem não conhece...aquela...aquela garota na sua cama, Milo! Quem era ela?
- Não faço a mínima idéia. – disse envergonhado, mas depois sorriu malicioso – Porque? Ficou com ciúmes?
Camus ficou boquiaberto e ruborizado, e depois virou de costas, furioso, descendo as escadas com mais velocidade, dificultando que Milo o seguisse, com a ressaca que estava. Sempre o mesmo, zombando e brincando mesmo em situações sérias, porque não mudava? Escorpião o alcançou e abraçou seus ombros, fazendo-o parar, rindo.
- Eu estava brincando! – então sua voz soou triste – Eu não posso evitar, Camus. Sem você eu me sinto sozinho, muito sozinho.
Passou os braços pela cintura de Camus, abraçando-o por trás, encostando o queixo na sua nuca. O francês continuou parado, fitando o chão, silencioso.
- É o meu melhor amigo, meu único amigo. Só você me ouve, me entende...não foi justo ter ido tão abruptamente para a Sibéria e me deixar, a gente vive grudado!
- Isso não é desculpa.
- Aaaah! Mas tu voltou mais amargo que antes, hein? Sabe o que te falta? Garotas!
O outro bateu na testa, balançando a cabeça, aquilo não tinha jeito. Escorpião o soltou e pôs-se a falar sem parar, para seu desespero. Ficou procurando alguma pedra pra atacar nele, uma bem grande.
- Que tal sair com uma bela mulher, ahn? Eu arranjo uma bem linda. Ei! Mas não precisa, vive cercado de moças bonitas que suspiram por você!
- Ouça bem, Milo. Não tenho tempo, nem paciência para desmioladas românticas, deu para entender?
- O que você comeu na casa do seu mestre, pimenta?
Com uma veia saltando na testa, Camus fechou os olhos, trincou os dentes e contou até dez, antes de deixar Milo falando sozinho. O cavaleiro tinha um péssimo dom de tirar ele do sério, era o único que conseguia essa façanha, podia até irritar um monge como Shaka. Quando Milo percebeu, bateu o pé e bufou zangado, que desaforo, o havia deixado falando sozinho de novo! Mas decidiu voltar para o seu templo e colocar uma roupa decente, só esperava que a tal moça não estivesse lá ainda.
oOo
Naquela mesma noite, o Mestre promovia um banquete no Templo de Atena. O cavaleiro de Escorpião ajeitava a túnica nos ombros, jogando uma toga por cima de um deles. Braceletes de ouro para enfeitar-lhe os braços, sandálias de couro rico e macio nos pés, a farta cabeleira brilhante caindo em cachos pelas costas. No amplo salão, havia uma mesa enorme posta no meio, carregada de comida e vinho.
Logo que chegou, avistou Afrodite passar. Ah, ele ia pagar por não tê-lo informado pela chegada do amigo, uma audácia, tinha o direito de ser o primeiro a saber! Decidiu ir atrás do garoto, quando parou ao se deparar com uma visão deslumbrante. Camus remexia-se incomodado, tentando ajeitar a túnica, alguém havia lhe dado um número maior, ela escorregava toda hora dos ombros. Mas para Milo parecia um anjo, o pano aveludado descia até os pés, escondendo as sandálias, o corpo esbelto e de estatura alta, conferia-lhe elegância e graça. O cabelo liso e escuro emoldurava o pescoço e o rosto.
Esqueceu o garoto e dirigiu-se até ele, pegando seu braço e o arrastando até dois lugares na mesa. O francês protestava, tentando arrumar a maldita roupa, ainda matava quem havia lhe dado aquilo, provavelmente alguma costureira iniciante. O amigo riu e pôs-se a ajeitá-la, dando um jeito de segurá-la. E depois o desastrado era ele. O mestre do Santuário iniciou o banquete com um brinde, levantando uma taça de vinho, saudando os jovens cavaleiros. Depois retirou-se, com a desculpa de que estava velho demais para celebrações.
Milo conversava animado e comia como um esfomeado. Pelo tom de voz, Camus notou que já estava meio alto. Apenas balançou a cabeça, conformado, e continuou a comer tranquilamente, apesar da bagunça a sua volta. Quando se acalmou e virou-se para o francês, o grego percebeu uma das moças que serviam o vinho, vestida como as outras, com túnicas brancas e curtas, deixando o farto colo a vista e toda enfeitada de ouro, com os cabelos castanhos claros presos num coque no alto da cabeça. Uma bela garota, mas que olhava com muita atenção para seu amigo estrangeiro. Fechou a cara, atenção demais para o seu gosto.
A moça olhou para o copo vazio e estendeu os lábios vermelhos num sorriso, se aproximando com a jarra de vinho. Se adiantando, Milo pegou a jarra do seu lado e encheu a taça, olhando maldosamente para a moça, que encolheu os ombros e se retirou cabisbaixa. Abraçou satisfeito os ombros do francês, que o olhou sem entender, já que comia distraído. O fitava interrogativo, e então se perdeu naqueles dois olhos azuis e alongados, lindos o bastante para enlouquecer qualquer ser humano. Camus franziu as sobrancelhas escuras e se afastou um pouco, estranhando o olhar de Milo, que acordou do seu transe e o soltou, rindo para descontrair e relaxá-lo. O francês balançou a cabeça, tsc, tsc, estava bêbado...
O que diabos estava fazendo? Só agora percebia o que acabara de fazer, sentira ciúmes. Ao invés de deixar a moça se aproximar e encorajar Camus, ele a havia repudiado, desgostando profundamente da idéia de alguém se insinuar para ele. Esfregou a cabeça, desalinhando um pouco a farta franja, pegando inconscientemente a taça na sua frente. Parou a meio caminho da boca, depositando-a sobre a mesa. Chega. Já tinha bebido demais, e acabara de ter a prova disso. Máscara da Morte chamou sua atenção, perguntando se participaria da homenagem a Dionísio.
- Mas é claro, celebrar a prosperidade das nossas vinhas, que estão produzindo como nunca!
- E nos divertir até nos acabarmos! – completou Câncer, levantando a taça.
Todos riram, começando uma discussão animada sobre a festa que estava por vir, Camus permaneceu no seu canto, olhando-os de esguelha. Quando Afrodite enfiou a cabeça entre o francês e Milo, piscando seus grandes olhos azuis claros e exibindo um largo sorriso infantil nos seus lábios rosados.
- Eu também vou participar!
Os dois engasgaram com a bebida, batendo no próprio peito, para se refazer do susto. O belo cavaleiro de Peixes sorria de expectativa. Recuperado, Milo se levantou, agarrando a orelha de Afrodite e o levando dali.
- Sem chance, mocinho! E venha aqui que temos um assunto a tratar!
- Aiaiaiai! Mas... mas...O que foi que eu fiz?
A tal festa em questão se tratava de um bacanal, ou seja, orgias se realizavam nela. Camus sabia que Milo nunca deixaria Afrodite participar de algo assim, era uma criança para ele. Uma criança bonita e sensual, que despertava desejo em vários homens daquele Santuário, mas tudo que fazia era em sua inocência e ingenuidade. Ficou pensando na reação de Escorpião se quem resolvesse participar fosse ele, "provavelmente me jogaria para a primeira bacante que aparecesse na frente".
- Hahaha. Milo só está adiando o inevitável, não demorará muito para que algum cavaleiro mais velho inicie Afrodite. – sentenciou Máscara da Morte, num tom de escárnio. – Candidatos é que não faltam.
- Ele parece mais um irmão mais velho, tentando proteger a irmãzinha virgem. – Shura zombou.
Aquário permaneceu quieto, ouvindo a conversa, com o olhar vazio vagando pela mesa. Tratavam aquilo naturalmente, porque para eles era normal, mais uma das várias tradições gregas que seguiam. Uma questão de honra um adolescente ser escolhido por um homem mais maduro para iniciá-lo nos prazeres sexuais. Milo nunca mencionara, mas sabia perfeitamente quem o havia iniciado... Saga. Sem perceber entortava o garfo com o polegar, distraído. O estranho era que com ele, o cavaleiro de Gêmeos nunca tomara esse tipo de liberdade, suas agradáveis tardes eram preenchidas por livros e histórias fantásticas. Nunca o tocara, a não ser para afagar-lhe a cabeça quando achava graça do que dizia.
Mas o estrago que fizera em Milo quando partiu... Que permanecesse longe, que nunca voltasse. Não precisava dele. Pulou de susto quando o garfo em sua mão quebrou, fazendo um som metálico. Shaka se virou na sua direção, com uma sobrancelha erguida, e com os olhos que agora sempre mantinha cerrados.
- Não virá dessa vez, Camus?
- Sabe que não ligo para tradições idiotas... – disse friamente. – Com licença.
Levantou-se da mesa, precisava de ar, sua cabeça rodava e seus ouvidos doíam com toda aquela agitação. Talvez se fosse para a cama mais cedo. Dirigiu-se como um autômato até sua casa, e sem se preocupar em tirar a roupa desabou na cama, suspirando cansado. Abraçou o travesseiro contra o rosto, lembrando-se da última festa em homenagem a Dionísio. Os boatos de que Milo parecia ser possuído por Adônis, seduzindo vários rapazes. Que era sedutor não havia dúvidas, a quantidade de moças com as quais via flertar era impressionante. Se além delas houvesse rapazes, nunca o soube.
Balançou a cabeça, estava pensando coisas demais, besteiras demais. Não era da sua conta o que seu amigo fazia ou deixava de fazer. Enfiou o nariz no travesseiro e cerrou os olhos com força.
oOo
Com as mãos nos bolsos, Milo perambulava pensativo pela área das arenas. Era de tarde, o sol ainda a pino, esquentando a terra. Na noite anterior, não encontrara Camus quando voltara à mesa, depois de passar um belo sermão em Afrodite, pelo telegrama esquecido. Nunca pensou que faria isso, mas sentiu alívio por não encontrá-lo. Estava extremamente confuso com sua atitude, ainda que tivesse a desculpa da embriaguez, mas não se embebedara o bastante até aquele momento, estava muito bem consciente do que fazia.
Sorte que Camus era distraído e cego e não enxergava um palmo diante do nariz, ou a situação seria mais constrangedora ainda. Inconscientemente, se viu andando até algumas árvores grandes e de copas largas, onde o francês costumava ficar lendo algo sozinho e sossegado. E lá estava ele, mas deitado e dormindo, com o livro aberto sobre o peito, uma das pernas levemente flexionada, o rosto pueril virado para cima, com a boca entreaberta.
Vestia as roupas de treinamento, muito parecidas com as suas, o tecido gasto de algodão branco meio sujo, a túnica de manga curta que vinha até o meio das coxas com a tira fina desamarrada na gola aberta, revelando o começo do peito pálido, presa na cintura por um pedaço de pano preto, faixas cobriam os pulsos e tornozelos. Estava descalço, as sandálias, as ombreiras e joelheiras colocadas do lado cuidadosamente.
Com um longo suspiro, Milo deixa-se cair de joelhos ao lado do corpo, sem deixar de olhar o rosto sereno. O peito subia e descia com a respiração lenta e profunda, que emitia apenas um chiado do ar saindo pela sua boca. O cabelo liso e escuro estava espalhado ao redor da cabeça, em um manto sedoso. Um anjo caído, apenas faltava-lhe as asas de plumas brancas e macias.
Num ímpeto, não resistiu e acariciou uma das faces com os nós dos dedos. Com o toque, Camus apertou as pálpebras e respirou fundo, antes de abrir os olhos. Sorriu e os esfregou ao vê-lo, espreguiçando-se deliciosamente, fazendo um som parecido com um ronronar.
- Acho que dormi...
- Acha?
Caíram na risada, dissipando as preocupações que ocupavam a mente de Milo. Ver o sorriso de Camus era tão raro, um conforto para sua alma. E se estivesse mesmo gostando do seu amigo de uma forma diferente? Eram inseparáveis e tinham muita intimidade, e que era possessivo com ele não era nenhuma novidade. O único detalhe é que agora tinha algo a mais. Algo que deixara de sentir alguns anos atrás, e que achou que nunca seria capaz de sentir de novo.
Parou de rir e admirou quieto o rosto que se iluminava com o sorriso descontraído, até que Camus franziu as sobrancelhas estranhando a expressão dele, como fizera na noite passada. Escorpião apenas se inclinou sobre si, depositando um beijo nele, não mais que um roçar de lábios. Ao se afastar, viu o francês piscar confuso, mas não assustado.
- Lembra de quando brincávamos de nos beijar?
- Lembro. Na verdade, era você que vinha com essas brincadeiras. – apontou acusador para Milo, depois ficou brincando com uma mecha de cabelo – Já faz uns dois anos, ou melhor, desde que começou a se engraçar por aí.
O grego pôs a mão na boca e riu baixinho da cara que ele fez, recebendo um puxão no cabelo em resposta. Gemeu, mas continuou rindo, vendo-o ficar mais aborrecido ainda e cruzar os braços. Como era divertido tirá-lo do sério. Tirou o livro de cima dele, fechando-o e depositando-o do lado, junto com os outros pertences. Depois pegou os pulsos dele e descruzou seus braços, debruçando-se sobre o francês. Aquário fechou os olhos instintivamente, vendo a cabeça de Milo se aproximar mais e mais, até que sentiu a familiar pressão nos seus lábios.
Percebeu que estava tranqüilo, como antigamente, deixando-se ser beijado. Com um pouco mais de coragem, começou a mover os lábios sobre os dele, tão macios. Então Camus, sobressaltou-se, sentindo sua boca ser aberta e a língua quente e serpeante de Milo entrar e explorar seu interior. Uma corrente elétrica trespassou seu corpo e sentiu-se sufocar, empurrou-o com violência, obrigando-o a separar-se de si. Ofegante, mirou o grego com fúria, como se fosse matá-lo a qualquer momento.
- Quer me matar sufocado, é?
Arregalou os olhos e caiu na risada, deixando-o nervoso de novo, com as faces afogueadas de raiva por ser motivo de riso. O outro balançou a cabeça ainda rindo.
- Eu esqueci que você ainda é virgem e inexperiente...hahaha...desculpa, Camus.
E continuou a gargalhar, Camus enrubesceu até a raiz dos cabelos, boquiaberto, sentindo-se despeitado. Fumegando de ódio, pulou em cima de Milo, começando a socá-lo.
- Eu não sou virgem!
Milo parou de rir e o olhou incrédulo, cruzando os braços com uma expressão zombeteira, divertindo-se com a falta de jeito com que deixou seu elegante amigo. Aquário sentiu as faces quentes e começou a gaguejar, nervoso.
- Ora! Eu posso muito bem ter uma garota na Sibéria e nunca ter lhe contado!
- Camus, presta atenção. – colocou as mãos nos ombros do outro, com uma expressão séria – Acho que esqueceu que não há ninguém que te conheça melhor do que eu, nem mesmo você. – apertou as bochechas vermelhas dele.
Vencido, deixou seus braços caírem ao longo do corpo e encostou a cabeça no ombro do grego, gemendo de frustração. Milo revirou os olhos e deu alguns tapinhas nas costas do amigo, tentando confortá-lo.
- Nada tema, meu querido Camus, pois aqui está Milo garanhão para ajudá-lo!
Desencostou a cabeça do seu ombro e o olhou – Milo o quê? – balançou a cabeça, não acreditando no que ouvia – Sinceramente. Cada vez que eu volto da Sibéria, te encontro pior do que antes.
- Eu tô falando sério! Saca só, vou te ensinar tudo que você precisa fazer para enlouquecer uma garota!
- O quê?
- Relaxa...é só confiar em mim.
- É exatamente disso que eu tenho medo...
Com um sorriso, Milo o fez deitar-se na grama, enquanto fazia o mesmo, cobrindo seu corpo com o seu. As pernas dele também estavam nuas, o contato da pele quente com a sua o fez estremecer. Estranho, não o deveria afetar, mas sentia-se como se estivesse fazendo aquilo pela primeira vez. Ficar tão perto do corpo de Camus o fazia ficar trêmulo e inseguro, fechou os olhos, devia ser só impressão. Ia passar. Tomou a boca dele como fez alguns minutos atrás, pedindo que se acalmasse, ou não ia conseguir respirar mesmo.
Ah, tão doce e quente. Aos poucos o francês ia passando do estado passivo para imitá-lo, movendo a boca e enlaçando a língua na sua. Se continuasse se insinuando assim não ia responder pelo que poderia acontecer! Sua mão foi deslizando pelo pescoço longo até o peito, sentindo-o arfar em resposta, sob o tecido áspero e rude, o mamilo intumescido pelos apertões que dava nele. Desceu mais, esquecido completamente do que fazia.
Um pequeno gemido abafado pela boca possessiva o encorajou, descendo a mão pelas costas, sentindo-o vergá-las com o toque e aproximar mais seus quadris. Sugou a língua com mais fome, enquanto seus dedos deslizavam pelas coxas nuas até encontrar o pequeno volume entre elas, tocando-o com cuidado.
Nesse momento, Camus acordou de um transe, percebendo o que estava fazendo e então empurrando Milo para longe de si. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, recebeu um tapa do francês, sentindo a face arder e esquentar. Olhou estupefato o cavaleiro, de joelhos, com os cabelos desalinhados e as faces afogueadas, ofegante, olhando-o com fúria. Tão selvagem, lindo e perigoso, tão maravilhoso quanto sua estátua fria e indiferente. Porque ainda sentia vontade de tomá-lo nos braços e beijá-lo, mesmo sabendo que lhe arrancaria os olhos se o fizesse?
- Você não tem limites, não é mesmo? – rosnou numa fúria incontida.
Com a palma da mão na face atingida, o viu recolher suas coisas e ir embora, sem ao menos olhar para trás. Abaixou a cabeça e seus olhos começam a lacrimejar, então com um grito socou a árvore atrás de si, abrindo um rombo no tronco grosso e forte, uma chuva de folhas e pétalas caiu sobre si. Não, não tinha limites, não quando queria muito algo. E não adiantava se enganar, sabia muito bem o que seu corpo queria, e não só seu corpo. E, por Athena, iria tê-lo!
Camus andou afobado sem olhar para onde ia, apenas querendo se afastar o mais rápido e longe possível daquele lugar. Descalço, não se importava se seus pés eram feridos pelas pedrinhas do chão áspero e quente, pegando seus pertences que caíam a toda hora com seus passos desajeitados. Chegou aliviado ao Templo de Aquário, largando tudo displicentemente no chão de mármore, enquanto se encostava em uma coluna, respirando ofegante com a mão no peito, sentindo o coração disparado, como se quisesse saltar pela boca.
Era um completo idiota, conhecendo Milo como conhecia tão bem, como pôde se deixar levar? Se seduzir? Quase caiu na sua teia, sendo mais umas das conquistas fáceis dele. Sentou no chão, acalmando-se. A culpa não era só dele, esteve prestes a se entregar mesmo, estava querendo aquilo, e o estava provocando. Constatou frustrado e bateu a cabeça na coluna atrás de si, como para se punir por sua conduta vergonhosa.
"Ele é seu melhor amigo e sabe muito bem que tipo de sedutor ele é, porque foi esquecer isso e deixar ele te confundir de novo? Você é um tonto, Camus! Tonto, tonto, tonto!", pensava enquanto batia a cabeça no mármore frio. Passou as mãos nas faces, continuava quente, se virou e encostou a testa na pedra fria, suspirando cansado.
Porque diabos sentia seu corpo e sua boca arderem de febre, e seu peito doer como se o apertassem até a morte?
CONTINUA...
Abril/2003
