A Batalha Final
A voz de Belatriz Lestrange ecoou na cabeça de Harry.
"Nunca usou uma Maldição Imperdoável antes, não é menino? É preciso querer usa-las, Potter! É preciso realmente querer causar dor, ter prazer nisso."
"Não," ele falou em voz alta "Eu não tenho prazer, não tenho a habilidade. Mas ele tem. Voldemort possui sentimentos dentro dele que apenas Dumbledore foi capaz de entender, sentimentos estes que são terríveis demais para qualquer alma humana." ele parou de falar e começou a andar de um lado para o outro, pensando rápido. "Nenhuma alma humana comum poderia suporta-los... mas eu posso."
"Mas Harry, como...?"
"Eu sei, Hermione, porque eu já senti. Ele esteve em mim." E foi só então, quando Harry disse essas palavras, que a idéia o atingiu e ele parou de repente de caminhar, um sorriso quase maligno iluminando seu rosto ferido. "É isso! Como eu não pensei antes? É tão óbvio... ele não esteve, ele está em mim! Você não entende? Esse tempo todo, a ligação, os sentimentos, as visões... "
"Harry, do que é que você está falando!" perguntou Hermione aflita.
"Sou eu!" gritou Harry "A última Horcrux, a que estava faltando!"
Ao ouvir isso, Hermione cambaleou, a cor subitamente deixou seu rosto e Harry teve que segura-la pelos ombros para que ela não caísse no chão.
"Não, Harry, não! Não pode ser, não faz... não pode fazer sentido..." A garota estava inconsolável. Soltando-se dos braços que a seguravam, ela começou a balançar a cabeça negativamente com horror aparente em sua face.
Entretanto, Harry não podia desperdiçar um minuto ali, tentando acalma-la. Seu tempo estava se esgotando depressa.
"Hermione," ele segurou o rosto da amiga e forçou-a a encara-lo "Me escute, e preste atenção. Não há tempo para lamentar, não há o que fazer. Corra para o campo, explique a eles o que você acha que deve ser explicado. Diga para não se preocuparem comigo."
Então, sem mais nem menos, ele a abraçou com força.
Foi um abraço demorado e desesperado, pois Harry sabia que, desta vez, gastar tempo não era importante. Porém, assim que se soltaram, ele não esperou nenhum segundo para sair correndo em disparada, indo em direção às explosões de luz verde que a cada segundo iluminavam a noite sem produzir som algum.
Aproximou-se devagar da terrível batalha de luzes e gritos. Não podia entrar agora, precisava pensar. Escondeu-se atrás de uma grande pedra acinzentada e procurou esfriar a cabeça, mas teve seus pensamentos interrompidos por uma voz tão cheia de raiva que fez com que os cabelos de sua nuca se eriçassem.
"Com medo, Potter?"
Harry quase não a reconheceu. Seu rosto estava deformado por cicatrizes e o brilho frio e apaixonado de seus olhos havia dado lugar a um tremor medonho de quem foi torturado de forma descomunal.
"Um mestre bastante impiedoso o seu. Sinto dizer que nunca no mundo Voldemort será capaz de retribuir essa sua paixão doentia por ele, Lestrange." Harry falou, levantando-se e segurando com firmeza sua varinha.
Belatriz soltou um urro de raiva e lançou um jato vermelho que partiu em direção ao peito do garoto, mas um corpo colocou-se à frente de Harry e berrou "Impedimenta" antes que a maldição pudesse abate-lo.
"Ah!" exclamou Belatriz, mudando sua voz para um tom de puro contentamento e excitação. "Longbottom!". Por um momento, o antigo brilho iluminou o olhar da Comensal da Morte e um sorriso horrendo entortou seu rosto. "Você me lembra tanto seus pais..."
"Crucio!"
Era mais do que aparente que Lestrange não estava esperando uma maldição, pois uma sombra de terror trespassou sua face antes que ela caísse no chão, gritando e se contorcendo, enquanto Neville a assistia, com uma expressão fria de convicção que Harry nunca imaginara que chegaria a ver nas faces arredondadas e amigáveis que ele tanto conhecia.
Um forte estampido vindo da batalha fez com que despertasse e ele soube que precisava agir rápido. Deu um pulo por cima da pedra que escondia uma Belatriz em meio a uma dor angustiante e, com a varinha firme em sua mão, correu por entre jatos de luz até avistar Voldemort em meio a eles. Voldemort sorriu ao avistar o garoto e parou de lutar.
"Perfugium!" berrou Harry. O que saiu da ponta de sua varinha, porém, não foi um jato, mas um globo de luz azulada que começou a crescer com uma rapidez incrível e, em questão de segundos, havia envolvido o garoto e seu adversário dentro de uma espécie de campo de força azul. Vistos de dentro do campo, todos que estavam lá fora eram meros vultos escuros, mas Harry pôde reparar que todos eles pararam também de lutar.
"Ora, ora, Potter... quem diria que você teria conhecimento sobre tão antiga e poderosa magia..." murmurou Voldemort.
O bruxinho encarou aquela cara ofídica pálida e ossuda e mirou os olhos vermelhos de pupilas verticais que tanto assombravam seus sonhos. Para sua própria surpresa, ele não sentiu medo, ou até mesmo raiva. Pelo contrário, Harry sentiu-se calmo como há muito não se sentia, e uma enorme sensação de bem estar o preencheu.
Ele fechou os olhos e respirou fundo, mas sua tranqüilidade pareceu incomodar Voldemort, que lançou uma maldição muda na direção do garoto, mas este a bloqueou com uma facilidade impressionante.
"Não, Tom. Ainda não" Harry falou com uma voz que não era a dele.
O rosto medonho de Voldemort torceu-se de ódio. "Fique quieto, Potter! Eu não tenho mais nada a lhe dizer, você já me aborreceu o suficiente." mais uma vez ele amaldiçoou Harry, mas desta vez seu feitiço não foi bloqueado e o garoto caiu para trás, batendo as costas com força na parede de luz que os cercava. Ainda assim, ele levantou-se e voltou a encarar Voldemort com firmeza.
"'Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver'" Harry disse baixinho "Mas você não pode morrer enquanto parte de você estiver viva em mim." Levantando a varinha acima da cabeça, ele murmurou "Supremum Vale" e, antes que Voldemort pudesse reagir, o feitiço do Último Adeus fez efeito.
O abrigo mágico se desfez e, com um grito agudo preso na garganta, todos puderam ver dois corpos tombando no chão simultaneamente com um baque surdo.
Tudo estava acabado.
ps.: Perfugium significa "refúgio, abrigo" em latim, e Supremum Vale significa mesmo "Último Adeus".
