Capítulo 7

Dia 6 de Julho
Após o disparo uma nuvem de puro silêncio invade o local. Será o som inaudível da morte sorrindo e levando consigo uma nova alma? Improvável, já que o ser que acaba de perecer teve sua alma roubada há muito tempo por uma ferramenta criada pelo homem: trata-se de mais um dos caninos cujos restos acabam de serem pregados na parede pelo tiro recém-disparado. O Agente Z mantém uma face neutra, olhando seu inimigo humano com uma calma que chega até a assustar, como se desde o início do encontro soubesse que Kyron não tinha a mínima intenção de disparar contra ele. O doutor, por outro lado, ri descontroladamente ao notar a percepção de seu oponente.
Kyron - Ha ha ha ha... Se eu não estivesse aqui você estaria sendo devorado, sabe disso?
Z - Pois é... Mas eu sei que esse destino não seria mau, comparado a ser salvo por um inimigo.
Z vai abaixando, ainda com calma inalterável, sua pistola: nesse exato momento apontar uma arma completamente descarregada para o inimigo se tornou um ato inútil. Kyron vai se recuperando aos poucos do ataque de riso enquanto coloca devagar no bolso de seu jaleco a mão que segura sua pistola, soltando e guardando-a. Se recompondo, ele olha Z com uma extrema expressão cínica, parecendo estar tramando algo, e sorri de leve antes de novamente usar sua voz.
Kyron - Eu quero lhe fazer uma proposta bastante interessante. Que tal "pausarmos" nosso joguinho? Parece óbvio que precisaremos cooperar para sobreviver.
Z - Você quer me usar para obter o vírus não é? Que seja, mas deve estar ciente de que morrerá se tentar me emboscar.
Kyron - Claro que sim, eu te conheço há tanto tempo... Hehe...
O homem trajando jaleco tira do bolso da vestimenta uma espécie de cilindro metálico aparentando ausência de peso e o arremessa, descontraído, para o agente. Kyron esperava que Z se assustasse com o gesto, mas os olhos deste não deixam escapar nenhum detalhe: já tendo rapidamente reconhecido o objeto, ele estende o braço esquerdo e apanha o item com leveza, não deixando de apontar o olhar para a face do doutor.
Kyron - Você precisa de munição.
Z, confiante, dá as costas à Kyron e sai andando com calma pelo corredor mais próximo do andar atual, enquanto saca sua pistola G-3 e coloca o cilindro que recebera em uma abertura na parte superior da arma, recebendo logo em seguida um curto som agudo indicando que a arma está totalmente recarregada. Dr. Kyron persegue Z com o olhar e o questiona antes que suma de vista.
Kyron - Aonde você vai?
Z - Há uma sobrevivente nesse andar.
Kyron - Desde quando se preocupa com alguém nessa nave?
Z - É de meu conhecimento que cerca de 90 da tripulação não sabia nada sobre os verdadeiros resultados do vírus.
O doutor, após um longo suspiro, sai de sua posição e segue Z, em minutos chegando ao corredor da porta 244. Eles param logo que avistam um grupo de seis zumbis desferindo golpes contra a porta eletrônica, cujo metal aparenta restar alguma resistência, porém podendo ceder a qualquer momento. Antes que isso aconteça o agente ergue sua arma e em instantes sua precisão se mostra absoluta: Um tiro de laser muito maior e veloz rasga o corredor rumo à cabeça de uma das criaturas, que desaparece em uma explosão logo após o contato. De que iria acertar Z tinha certeza, mas não sabia que o disparo iria ser tão potente e veloz, fato que o faz ficar secretamente espantado.
Z - Você deu um cilindro de recarga de uma pistola ML-34 para a minha G3. Está maluco?
Kyron - A história de que a arma explode é apenas uma lenda criada por leigos.
Z - Gostei.
Enquanto "conversam", os dois se mantém abrindo fogo contra os mortos-vivos, eventualmente limpando o corredor antes que a porta 244 fosse derrubada. Aproximando-se da entrada enquanto olha os infectados com certo nojo, Z desfere um chute contra a porta e a derruba sem dificuldade alguma: Mais um pouco e a cientista estaria perdida.
Ao adentrarem na sala, Z e Kyron se deparam com um ambiente bastante assustador: O local, coberto por sangue e escuridão, abriga uma mulher possuidora de longos e brilhantes cabelos negros sentada no centro, de cabeça baixa e encarando em absoluto silêncio um jaleco banhado em sangue. É impossível saber se ela ainda está no mundo dos vivos, mas mesmo assim Z se aproxima da moça, acompanhado de sua confiança inabalável.
Z - Você está bem?
Ela ergue o rosto para olhar o agente, consequentemente mostrando sua face totalmente abatida pelo horror e cansaço, porém ainda possuindo vida a ser refletida pelos seus bonitos olhos castanhos. Aliviado, Z estende sua mão direita oferecendo-lhe ajuda. Faltando energia para se levantar sozinha, a cientista segura a mão dele para se levantar enquanto responde.
?-?-? - Eu acho que vou sobreviver... Obrigada...
Ela em seguida nota a presença de Kyron, demonstrando uma expressão de alívio e correndo na direção do mesmo ao ver que ele está bem: Embora Z não saiba, eles são amigos muito próximos. No entanto, ela obviamente pede explicações sobre as criaturas, tendo ficado desconfiada da Umbrella quando falou com Z pela primeira vez.
?-?-? - Dr. Kyron, o que é que está acontecendo aqui? Todos se transformaram nessas coisas! Eu tive que... O...
A cientista foi forçada a matar seu namorado infectado, mas a dor é desamasiada grande para que ela consiga lhes contar. Kyron imediatamente deduz o que aconteceu e tenta dar uma desculpa para explicar o ocorrido sem se entregar.
Kyron - Isso foi um ataque terr...
Antes que termine, Z rapidamente se coloca entre os dois e empurra o doutor contra a parede, fitando-o com um olhar de desprezo.
Z - Você devia contar a ela que foi o SEU vírus que vazou e contaminou a nave. E também que essa nave foi ocupada ilegalmente.
?-?-? - O que? Mas você disse que o T-Virus apenas...
Tendo sido colocado em uma situação nada agradável, Kyron ri levemente e suspira, não tendo escolha a não ser contar-lhe a verdade. Fitando-a com um olhar sério, ele começa a falar.
Kyron - É verdade. Isso é obra do T-Vírus. Ele nunca iria ser utilizado para a medicina, mas para a produção de armas biológicas. Esses mortos vivos são apenas uma amostra do que ele pode fazer.
É instantâneo: lágrimas de pura tristeza escorrem pelo rosto da cientista, que olha Kyron com visível frustração e o condena com uma voz mais alta e agressiva:
?-?-? - VOCÊ NÃO É DIFERENTE DESSAS COISAS! OLHE O QUE VOCÊ TROUXE A TODOS NÓS!
Kyron - Você tem razão. Z, eu vou me retirar antes que ela atraia mais monstros.
No fundo não dando a mínima para ela, Kyron desencosta da parede e sai andando da sala em passos acelerados, sumindo no corredor em poucos segundos. Z apenas olha, encostando-se na parede e cruzando os braços, esperando calmamente a doutora se recuperar do choque e do desgaste.
Z - Qual o seu nome?
?-?-? - Sayla... Sayla Lightfellow.
Z - Eu não sei se isso foi uma encenação ou não. Se for, você vai morrer. De qualquer modo, fique de olho nele.
Sayla - Ele está planejando algo não é?
Z - Exato. Ele quer me usar para se safar com sua criação. Ele quer levar o vírus.