Capítulo 8

Dia 5 de Setembro de 2782
É noite na colônia espacial Raccoon. Grande parte de seus habitantes já repousam em suas camas, embora o mesmo não possa ser dito de um homem que guia um dos mais atuais carros voadores da época. Possuindo grande estatura e trajando sobretudo e chapéu, esse policial dirigia-se para casa na tentativa de encontrar o filho um pouco mais cedo. Seus planos foram frustrados há várias horas, quando foi notificado de que um roubo ocorreria na loja de eletrônicos Techno Raccoon, algo que o não deixou muito contente.
Há algum tempo à espreita, o homem finalmente visualiza um caminhão muito grande estacionando em frente à loja. Minutos depois, dois homens suspeitos saem do veículo e entram pelos fundos do estabelecimento. Não é preciso de mais dicas: o oficial sai de seu carro esverdeado e se aproxima calmamente do caminhão, tranqüilo e com as mãos nos bolsos de seu traje.
Não demora e as portas principais, constituídas de um vidro reforçado resistente a laser, se abrem sozinhas. Os criminosos de algum modo quebraram a segurança da trava da porta dos fundos e re-ativaram a entrada, devem ser muito experientes. Assim que saem carregando algumas caixas em direção ao grande veículo, eles são parados pelo barulho do saque de uma arma: o policial mira a cabeça de um dos homens com sua pistola ML-15, padrão da policia de Raccoon.
Um dos homens reconhece o rosto do oficial e suas pernas instantaneamente tremem como vara verde. Jogando as caixas ao alto e correndo como se fugisse do demônio, ele grita em desespero:
?-?-? - AHHHHHH! É O MR. Z! CORRE!
O criminoso não vai muito longe: é derrubado por um tiro na perna que atravessa a área de seu joelho. O policial que atende pelo apelido de Mr. Z é conhecido por seus métodos brutais, algo que explica o medo do sujeito. Não conhecendo o oficial por ser novo na cidade, o companheiro do homem derrubado não pensa antes de tirar seu canivete a laser do bolso e tentar golpear a garganta de Mr. Z. Ele segura o pulso do ladrão e bate em sua face várias vezes com a pistola, até ele não ter coordenação suficiente para se manter em pé e desabar ao chão.
Mr. Z - Hnfe... Verme.

Dia 7 de Julho de 2799
O agente Z e Sayla executam uma cuidadosa caminhada pelos corredores da nave, procurando a chave que dará acesso ao tal de "Tyrant V¹". A cada passo, Z apenas pensa se devia mesmo ter feito a trégua com Kyron, já que é uma das pessoas que ele mais odeia, aquele acabou com sua vida. Sayla, por outro lado, só consegue pensar em tudo que perdeu nessa nave, escondendo sua dor através de uma expressão neutra no rosto. Nenhum deles sabe, mas o caminho que tomam diminuirá as chances de sobrevivência drasticamente.
Os passos os levam a um salão bastante amplo. Uma das características mais marcantes desse novo local é a parede de uma das salas, totalmente destruída, como se tivesse sido explodida por dentro. Avistando alguns corpos totalmente carbonizados, Z deduz o óbvio: É o local onde ele ativou a bomba para chamar a atenção da segurança e escapar da prisão. O agente vai adentrando com passos cautelosos na sala detonada, querendo saber o que tinha ali. Examinando o local rapidamente, Z não vê algo muito tranqüilizante: Vários frascos de vidro destruídos, em alguns sendo possível ler o nome de seu conteúdo, o T-Virus.
Z - Droga... Então aqui é o foco da contaminação...
Temendo mutações piores, o agente segura a cientista pelo pulso e sai da localidade em passos acelerados. A desgraça de ambos não poderia ser pior: um dos corpos carbonizados volta à vida e segura a perna de Sayla, derrubando-a e tentando arrastá-la para perto e assim poder se alimentar. Ela grita em desespero e chuta o rosto do zumbi várias vezes na tentativa de se liberar, mas o morto não cede tão facilmente.
Ao término dos consecutivos disparos vindos da pistola de Z, o zumbi deita seu rosto no chão e aparentemente volta ao mundo dos mortos para deixar a cientista em paz. Aliviada, Sayla repousa para poder respirar um pouco, o susto foi muito forte. Porém, susto bem maior está para atingi-la: o corpo carbonizado começa a tremer intensamente e liberar ruídos estranhos enquanto suas unhas vão crescendo até poderem ser chamadas de garras. A moça imediatamente se levanta e corre para trás de Z, o agente apontando sua arma enquanto lentamente recua em receio. Quando a transformação se completa, caracterizada pelas garras e um rosto tão deformado quanto seu corpo mutilado, Z abre fogo na tentativa de derrubar a criatura. Para a infelicidade do agente, a munição acaba e o inimigo foi incapaz de sentir qualquer disparo, provavelmente sua pele ganhou uma resistência fora do comum. Irritada com os tiros, a criatura avança furiosamente na direção deles.
Eles correm o máximo possível, mas a besta, que inclusive consegue se locomover pelo teto para persegui-los, é tão rápida quanto letal. Vendo a doutora a atingir o limite de suas pernas e começar a mancar, Z não vê outra escolha senão chutar a porta mais próxima para se abrigarem. A entrada então é trancada, mas irá ceder em pouco tempo aos violentos golpes desferidos pelas garras do monstro, que vão lentamente rasgando o metal. Encostando-se na parede e agachando em exaustão, Sayla procura algumas explicações.
Sayla - O que é essa coisa..?
Z - Nós estávamos em uma área onde a contaminação foi muito maior. Essa mutação deve ser o resultado disso.
Sayla - O que nós vamos fazer? A porta vai cair e você está sem armas!
Z - Eu... Ainda não sei.
É a primeira vez que não tem idéia do que fazer para sobreviver, mas mesmo assim não desiste. Lutando contra o tempo para pensar em uma saída, Z nota que a sala está na parte mais externa da nave e possui uma janela de vidro larga o suficiente para puxá-los para fora se for quebrada. É tudo que eles precisam.
Z - Eu consegui.
Sayla - Huh?
Z - Eu vou abrir a porta e atraí-lo... Saia assim que puder.
Aproximando-se da porta e desativando sua trava eletrônica, ela é imediatamente aberta pelos golpes da besta, que imediatamente salta para dentro do local e olha quase sorrindo os dois humanos. Se afastando e chamando a atenção da mutação com alguns gritos e gestos agressivos, Z em seguida desvia de uma investida e corre com Sayla o mais rápido que pode para fora da sala. O salto do monstro foi tão forte que ele se esbarra contra o vidro, quebrando-o e sendo puxado para fora do enorme veículo espacial. Antes que Z e Sayla possam partir para uma área mais segura, outra criatura idêntica salta do teto para o chão e empurra a cientista com a cabeça, jogando-a para dentro novamente. Apoiando-se com toda força na parede, o agente segura a mão da doutora para que ela também não seja jogada para fora, enquanto encara o monstro que o olha do outro lado rosnando. Quando as coisas parecem incapazes de piorarem, mais três monstros da mesma espécie surgem andando lentamente pelas paredes, movendo-se como se quisessem brincar com a presa antes de desmembrá-la. Em pensamentos, Z começa a se despedir de sua vida.