Capítulo 9

Dia 7 de Julho
A língua da criatura, toda gosmenta, vai se aproximando lentamente do rosto de Z. A saliva vai escorrendo e caindo, poucos centímetros à frente do rosto do agente, que se esforça para não soltar a Dra. Lightfellow. Ele ainda não sabe se pode confiar nela, mas algo estranho o fez simpatizar com a moça, embora não demonstre. O grupo de aberrações continua sorrindo, se divertindo profundamente com a situação. Não parecem tão irracionais assim. Sayla, vendo que não tem mais salvação e que ele vai ser atacado a qualquer momento, vira o rosto em hesitação e usa toda sua voz para tentar salvar pelo menos um deles, odiaria ver mais alguém morrer por sua causa.
Sayla – Z me solte! Assim você também vai morrer!
Z – Ghh... Não posso
Sayla – Z!
Z – Isso não seria nada... Ghhh... Educado...
Sayla – AGORA, POR FAVOR!
Fechando os olhos com força ao ver as garras de uma das criaturas se aproximando e sendo pressionado ao ser atingido pelos gritos de sua companheira, Z se prepara para soltar-lhe a mão. Antes que o faça, porém, uma voz familiar o impede. Seu maior inimigo.
Kyron – Espere Z!
Segurando dois rifles, um em cada mão, Kyron salta e aperta o gatilho, mirando a cabeça da coisa que aproxima as garras do rosto do agente. Um raio de plasma atravessa o corredor e também a cabeça da criatura, explodindo-a. O disparo continua sua trajetória, passando próximo ao rosto de Z. O doutor em seguida arremessa um dos rifles para ele, que no mesmo segundo em que pega a arma já a aponta contra uma aberração localizada no teto. Um disparo e o monstro é partido em pedaços. A penúltima ameaça é derrubada por outro disparo de Kyron, sobrando apenas um. Este, com medo e se afastando dos dois homens, sem perceber se posiciona a frente da entrada da sala com o vidro quebrado. De imediato a criatura é puxada, mas, para a desgraça de todos, se segura no pé da garota com a língua.
Z até que tem bastante força física, mas não suportará o peso adicional por tanto tempo: Pouco a pouco, vai sendo arrastado. Kyron mira, mas, antes que um tiro certeiro possa ser executado, Z cede e é levado pelos outros dois, forçando o agente a largar sua arma para se segurar na borda da entrada. O doutor não pode mais mirar a criatura sem ser arrastado para fora da nave, mas, para compensar, o improvável acontece: a arma de Z é segurada pela cientista. Com uma mira surpreendentemente precisa, ela pressiona o gatilho e destrói o monstro. Infelizmente o perigo ainda não acabou: Eles estão prestes a serem sugados para fora da nave. Sayla, observando um botão na parede protegido por uma camada de vidro, aponta o rifle. Dois disparos, um para quebrar a proteção, outro para ativar e destruir o botão. Imediatamente uma chapa de metal cobre o buraco do vidro quebrado, salvando a todos. Após se recuperarem do susto, Kyron comenta, olhando a doutora com certa ironia.
Kyron – Você teve uma ótima mira e segurou o rifle com bastante firmeza. Atira muito bem, Dra. Lightfellow. Onde aprendeu?
A moça hesita, desviando o olhar, mas por fim responde.
Sayla – Eu... Já tive algumas aulas.
Isso desperta certa desconfiança da parte de Z, mas ele finge não ligar para o ocorrido, apenas muda de assunto questionando as ações de seu inimigo. Como sempre, a resposta vai ser a esperada.
Z – Por que nos salvou? Seria mais fácil para você se morrêssemos.
Kyron – Eu preciso de vocês para uma coisinha.
Z – Já imaginava... O que é?
Kyron – Eu encontrei essas armas na cabine dos pilotos. Algum idiota foi atacado e destruiu os controles sem querer. A nave chegará a Raccoon no dia 11 de julho.
Z – Daqui a quatro dias...
Kyron – Se a nave infectada chegar a Raccoon, a colônia se infectará e a Umbrella ficará em uma situação complicada.
Sayla – E onde é que nós entramos?
Kyron – Destruindo os geradores. A nave não terá mais força para continuar o caminho. Nós teremos que destruir os três no mesmo instante, do contrário, os que sobrarem automaticamente ativarão um escudo eletromagnético. É um sistema de emergência. Os geradores ficam no final dos corredores principais A B e C.
Z – Como espera que sincronizemos os disparos?
Sorrindo como sempre, o doutor puxa do bolso do jaleco dois relógios, jogando-os na direção de ambos. Sayla e Z os pegam no ar e encaixam em seus pulsos, ainda olhando Kyron.
Kyron Usem esses relógios, toquem-no e ele exibirá as horas. Daqui a 30 minutos iremos destruí-los. Exatamente às 23h40min. Z, a Dra. Lightfellow poderá lhe mostrar o caminho. Eu vou na frente.
Kyron então novamente vai embora pelo corredor e logo desaparece da vista deles. Enquanto se afasta em seus passos descontraídos, oculta um sorriso diabólico. Minutos se passam e é a vez da doutora e do agente partirem, Z sendo guiado por Sayla e ainda não fazendo perguntas. Está esperando o momento certo. Eles, porém, não caminham muito: ruídos começam a ser escutados de uma das paredes, cada vez mais altos. Um chute derruba a mesma, uma perna metálica atravessa a nova abertura.