Capítulo 10
Dia 7 de Julho
Sayla e Z observam o rombo na parede, abismados. Pode haver todo tipo de criatura na nave, mas com certeza nenhum poderia derrubar a parede com tanta facilidade. Barulhos mecânicos vão saindo das juntas da perna metálica, que continua se movendo para que todo o corpo do indivíduo adentre no corredor. Literalmente de boca aberta ao verem a figura de dois metros e meio, os dois precisam erguer os rostos para que a visão alcance sua face mal-encarada. O mais assustador, no entanto, não é o seu tamanho, e sim o fato de mais da metade do corpo ser inorgânico, além de sua pele em decomposição facilitar a dedução de que ele foi infectado pelo vírus.
Sem qualquer aviso, o gigante corre rumo ao agente, derrubando-o com um violento tapa, antes mesmo que pudesse ter qualquer reação. Caído, Z quer muito se levantar para escapar da criatura, mas sua cabeça girando não coopera. Ele é erguido pelo pescoço e pressionado com força contra a parede do corredor, agonizando ao ser afundado lentamente contra o metal. O ciborgue abre a boca, mostrando seus horríveis dentes podres, e vai aproximando-a da face do agente. Saliva escorre dos lábios da besta, agora levar uma mordida é inevitável e mortal. Ou quase, já que a Dra. Lightfellow está livre.
Segundos antes da mordida, um raio de plasma atravessa o corredor e colide com o ombro da aberração, estourando-o e jorrando muito sangue. Pelo impacto e por ainda sentir alguma dor, a besta metálica solta o agente, que não vacila: Salta na direção do rifle derrubado, deslizando no chão para apanhar a arma. Assim que o faz, gira o corpo em 180º e pressiona o gatilho várias vezes enquanto ganha distância do novo inimigo. Ele é atingido por todos os disparos, mas parece já não se incomodar: continua avançando enquanto sua mão é guardada dentro do braço e dá origem a uma assustadora serra de metal.
Z – Doutora apresse-se! Eu vou cuidar do grandão aqui!
Sayla fica relutante por alguns segundos, mas obedece e corre rumo a uma porta no final do corredor, atravessando-a. Para Z não há tempo de fazer o mesmo, então ele rapidamente se levanta e corre para porta mais próxima, que se encontra trancada. Sem tempo para arrombá-la, o agente tem que recorrer à saída mais arriscada possível: fazer com que o ciborgue abra-a para ele. A criatura puxa a serra e desfere um golpe para decepar a cabeça de Z, este abaixa e o ataque atinge a porta, destrancando-a. Sem perder tempo, ele se joga para dentro do novo local, logo se deparando com mais um corredor. Nada mais há a fazer, apenas correr até o limite.
Alguns minutos de corrida se passam, Z continua firme, é uma questão de vida ou morte. De súbito, o agente escuta o barulho de metal se desdobrando vindo da máquina. Ele dá uma rápida observada de canto de olho, o suficiente para que fique boquiaberto: um disparador se monta no braço que não é ocupado pela serra. É um compacto canhão de partículas. Assim que a carga da arma vai se concentrando, Z dá a sorte de alcançar uma divisão no corredor e se derruba para dentro da mesma, escapando por muito pouco de ser estourado pelo disparo. Colocando-se de pé, o agente volta a fugir, ignorando o barulho estrondo do tiro que se choca contra a parede.
Consideravelmente longe dali, a cientista caminha cautelosamente pelo chão ensangüentado, segurando o rifle em uma posição conveniente para mirar qualquer coisa que apareça. Quanto mais ela avança rumo aos corredores principais, mais um estranho ruído se torna audível. São barulhos de passos que grudam levemente no chão, algo sujo ou gosmento, provavelmente. E então a origem do som se revela, caminhando lentamente por um caminho mal iluminado: uma figura apresentando um rosto humano totalmente deformado, pele destruída, corpo lavado por sangue já coagulando e apoiada sobre o chão com os quatro membros. Não restam dúvidas, é mais uma das aberrações que atacaram ela e Z anteriormente. Sem nenhuma piedade, ela mira o rifle direto na testa e joga um olhar de pura frieza enquanto pressiona o gatilho, várias e várias vezes. Não é mais possível identificar o que está no chão.
A doutora volta a caminhar, pisando no corpo da criatura e olhando com um raio de desprezo. Ela com certeza não parece a garota assustada de antes. Cinco minutos de silêncio e passos parecidos são ouvidos, porém, nitidamente se percebe que agora se trata de um grupo. E o momento chega: quatro bestas idênticas à anterior surgem correndo pelo teto e paredes, obviamente querendo brincar um pouco com Lightfellow. Ela fica parada, esperando cautelosamente. As criaturas, impacientes ao extremo, não fazem cerimônias antes de pularem na direção da moça, que se joga para frente e escapa da morte certa. Levantando após um rolamento, ela aponta o rifle. Barulhos de carne estourando eclodem no corredor.
Sayla finalmente chega ao seu destino: dois corredores, com suas respectivas letras estampadas no caminho. A e B, mas não existe um C. Kyron os enganou, mas ela não tem muita escolha: segue pelo corredor A, jogando seu jaleco no chão para que Z saiba por onde seguir.
Z continua sendo perseguido pelo ciborgue zumbi. O caminho pelo qual ele já percorreu agora não passa de uma série de corredores despedaçados, vítimas da poderosa arma da criatura. Agora o agente atravessa um grande salão, um laboratório, com todo seu conteúdo espalhado pelo chão. O inimigo aponta seu canhão de partículas para as costas da presa. Z para, pisando sobre vários tubos de ensaio em uma gosma estranha, olhando a máquina e preparando-se para esquivar. Eis que uma palavra surge piscando na cabeça do ciborgue: OVERLOAD. O tiro não sai, a arma apenas libera um ruído seco. O agente aproveita a chance e retoma a sua corrida, chutando a próxima porta e avançando.
Por milagre, Z chega ao local em que deveria estar: os corredores que levam aos geradores. Ele percebe muito bem a inexistência do corredor C, contorcendo os olhos em fúria. Mas não há escolha, ele segue pelo corredor principal B, tendo notado o jaleco estirado no caminho A.
Assim que continua através da porta no final, Z se depara com o grande gerador: uma máquina de grandes proporções e apresentando forma cilíndrica. Assim que se aproxima mais, seu coração quase cai para a mão: a porta do local é chutada fora e voa na direção dele. Rolando ao lado para não ser morto pelo impacto, Z vê que não conseguiu despistar o enorme cirborgue, que continua em sua cola. A munição do rifle está escassa, mesmo que destrua o gerador, não poderá sobreviver. É então que duas das palavras de Kyron passam por sua cabeça: "Escudo eletromagnético". Ele olha para o relógio em seu pulso, faltam 2 minutos para o momento em que eles devem disparar contra o gerador.
Z – Vamos lá Sayla, não erre o tiro!
Enquanto isso, no local do gerador do corredor A, Sayla encosta-se à parede, ofegante e derramando gotas de suor pelo rosto. Mais inimigos estão lá dentro andando pelas paredes e observando, com um olhar de divertimento, a doutora. Ela olha o relógio, crendo que talvez não dê tempo para destruir a máquina.
